Dos negócios do médium João Teixeira de Faria, de 77 anos, o João de Deus, a mineração é atividade de pelo menos quatro décadas e que o ajudou a construir patrimônio milionário. Há pouca informação oficial sobre essa fonte de dinheiro do médium, mas ele mesmo sempre repetia em entrevistas ao longo dos anos que era garimpeiro e inclusive foi um dos primeiros a chegar a Serra Pelada, no Pará, o maior garimpo a céu aberto do mundo.Só que sua atividade nesse ramo não é transparente como fazia parecer. Há informações desencontradas de assessores e de pessoas que o conhecem ou atuam no setor de que ele teve minas de ouro e de esmeralda em várias cidades de Goiás e em outros Estados. Hoje, teria ao menos um garimpo de pedras preciosas em Nova Era (MG).Porém, na Agência Nacional da Mineração (ANM), órgão federal responsável por controlar e fiscalizar o exercício das atividades de mineração no País, não há qualquer lavra registrada no nome dele ou no de familiares. Isso porque, segundo fontes do setor que acompanham os negócios de João de Deus, esses locais estariam no nome de laranjas, ele teria “sócios” na exploração mineral.A atividade garimpeira seria informal, baseada na confiança e até mesmo no medo. Para explorar os garimpos, utilizaria Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). O que permite o desenvolvimento de pequenas atividades. Em garimpos de João de Deus, galerias seriam abertas de forma simples ou mesmo rudimentares, segundo relatos, o que levaria a condições questionáveis de trabalho.Investidores da área, que não quiseram se identificar, afirmam que John of God, como também é conhecido, há muitos anos viveria de especulação de áreas de direitos minérios. Com contratos de gaveta com os sócios, ele investiria e os parceiros na empreitada repassariam parte dos ganhos. Por causa dos trabalhos de cura, muitos acreditavam que com os poderes paranormais ele descobriria veios de minérios. A mediunidade era utilizada para encontrar locais propícios para exploração e essa era parte de sua contribuição.“O que a gente sabe de ouvir falar é que trabalhou muito na mineração de ouro. Começou há 45 anos, quando descobriu o dom da mediunidade”, explica o minerador Cézar Pereira de Souza. Ele conta que ficou boquiaberto com as notícias sobre as acusações de abuso sexual por conhecê-lo pessoalmente. Sobre mineração, informa que é comum nesse meio investimento com grupos de parceiros e que funcionam “na base da confiança”. A PLG facilitaria para agilizar documentação e as exigências seriam menores.Em terras mineiras, há informação de que possui mina de esmeralda, exploração que estaria parada há cerca de seis meses por questões legais, pela cassação da PLG. Já em Goiás, nesse mesmo sistema de trabalho, as informações são de que teria tido mina de ouro em Crixás, de esmeralda em Campos Verdes e Santa Terezinha, além de pedras preciosas em Cristalina e ao menos tentativas de garimpo em Pirenópolis e Pilar de Goiás.Em Santa Terezinha, o prefeito Marcos Cabral (DEM) explica que as atividades de mineração ficaram em Campos Verdes após a separação dos municípios, no fim da década de 1980. O presidente da Câmara de Campos Verdes, Emídio Vicente de Sousa (MDB), diz que João de Deus já teria explorado minérios na cidade em uma mina arrendada há cerca de 15 anos. “Mas deve ter vencido o arrendamento dela.”Em Crixás, onde teria se destacado em garimpos de ouro, também já não haveria mais sinais da atividade, bem como em Pírenópolis. O prefeito de Cristalina, Daniel Sabino (PSB), conta que na cidade ouvem falar que o médium adquire pedras no local, mas não teria garimpo. Enquanto isso, em Pilar, o prefeito Sávio Rodrigues (MDB) diz desconhecer algum tipo de negócio envolvendo João de Deus. Segundo ele, na cidade uma empresa realiza a exploração de ouro e alguns “poucos garimpeiros que vão para a beira do rio para garimpar”.Em Abadiânia, cidade em que João de Deus possui a Casa Dom Inácio e comércio de pedras preciosas, semipreciosas e cristais, há registros de dois requerimentos de pesquisa no nome do médium na ANM. Ambos de 2002. Porém, um era para extração de areia, que venceu dois anos depois, e o outro para água mineral, em região próxima, mas que não prosperou, sendo dado baixa em 2005. Como não há outro registro acredita-se que a desistência foi por não haver condições favoráveis.A reportagem entrou em contato com a assessoria e advogados do médium para falar sobre os negócios na mineração, mas não obteve retorno. Um dos filhos, José Valdivino Teixeira, informou que sabia do que se tratava, mas “não é o momento de falar sobre isso”.-Imagem (1.1690828)