Nova vistoria no aterro sanitário de Goiânia, feita pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) em agosto, constatou que houve avanços “pontuais” e “insuficientes” em relação aos problemas constatados pela pasta em visita realizada seis meses antes e que “as principais deficiências estruturais, operacionais e de monitoramento ambiental permanecem inalteradas”. O aterro sanitário está sem licença ambiental desde 2011 e perdeu uma licença provisória em dezembro de 2024. Nesta semana, o local foi alvo de uma inspeção judicial em um processo que pede o fechamento do local.O documento da Semad, de 58 páginas, afirma que são necessárias “adequações imediatas”, pois a situação tende a piorar com o início do período chuvoso daqui a dois meses. “A aproximação do período de maior pluviosidade compromete diretamente a execução de obras e intervenções em campo, especialmente aquelas relacionadas a movimentação de solo, drenagem superficial, reconformação de taludes e implantação de sistemas de controle ambiental. A não execução prévia das ações corretivas pode agravar os riscos ambientais e operacionais já identificados”, afirmam os seis técnicos que assinam o relatório. Tanto no primeiro relatório, concluído em maio após vistorias em janeiro e abril deste ano, como no segundo, com data de 16 de agosto, a Semad reclama da ausência de projetos executivos ou estudos ambientais que corroborem as informações verbais repassadas pelos servidores do aterro e da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) presentes durante a vistoria. O relatório aponta que a Prefeitura afirmou que diversas intervenções estariam em andamento ou em fase de contratação, mas que até o momento não foi entregue nada que comprovasse a afirmação, “tampouco um cronograma atualizado das intervenções previstas”.Na terça-feira (2), o aterro sanitário foi alvo de uma inspeção judicial realizada pelo desembargador Maurício Porfírio Rosa, da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). Maurício analisa um recurso da Prefeitura de Goiânia contra uma decisão temporariamente suspensa da Justiça que determinou o fechamento do aterro até que se consiga regularizar a situação do licenciamento junto à Semad. A administração municipal diz que está tomando providências para cumprir os condicionantes para obter a licença, mas que só dará entrada no processo junto à pasta estadual quando atender a todas as exigências, o que não há prazo para ocorrer.ProblemasOs técnicos da Semad destacam que nas vistorias de fevereiro e de agosto foram identificadas “diversas situações que comprometem ou podem comprometer a estabilidade do aterro”, como: a ausência de compactação adequada do maciço, “essencial para garantir a resistência e coesão dos resíduos dispostos”; a existência de processos erosivos, “tanto na base quanto ao longo de toda a extensão do aterro”, o que indica falhas na “drenagem superficial e na proteção das superfícies expostas”; deficiências no controle da geração e coleta do chorume, “sem evidência de automação, individualização ou monitoramento efetivo de vazão e volume”.O relatório aponta 24 medidas que haviam sido acordadas entre a Semad e a Prefeitura neste ano, mas que não foram cumpridas ou para as quais não houve provas de que estavam sendo atendidas. Segundo os técnicos da secretaria, a administração do aterro não faz o recobrimento diário dos resíduos recebidos; não instalou dispositivos eficazes para espantar aves; não apresentou sistema de controle contra moscas e baratas; não implementou um programa de monitoramento da queima de gases; não deu início a ações e projetos para avaliação da estabilidade do aterro; e não entregou um estudo técnico que avalie a eficiência da frota atual disponível.A presença considerada “significativa” de urubus e carcarás chamou a atenção dos técnicos. Segundo eles, as aves aparecem em toda a área do aterro e em seu entorno. O relatório afirma que são usados rojões para espantar os animais, porém é uma medida que se mostrou ineficaz, “dada a grande quantidade de pássaros no local”. A situação estaria agravada pelo problema da falta de recobrimento diário do lixo que chega ao aterro. O relatório aponta que uma área com lixo que estava descoberta em fevereiro seguia na mesma situação seis meses depois. “A frente de trabalho aberta é extensa e, pelas suas dimensões, aparentemente não está sendo recoberta diariamente.”A Semad explica que o recobrimento diário é uma prática que segue normas técnicas vigentes, mas que a informação repassada pelos responsáveis do aterro é de que a cobertura sobre o lixo recebido vai ocorrer apenas ao final do encerramento da célula aberta, o que deveria ser providenciado de 30 a 60 dias. Além de atrair aves, os técnicos alertam para outros problemas que essa situação pode acarretar, como a proliferação de pragas, a geração de odores desagradáveis, o aumento do risco de incêndios e a infiltração de água da chuva, elevando a produção de chorume e o risco de contaminação do solo, entre outros.Ainda sobre a estabilidade do aterro, os técnicos reclamam que não tiveram acesso formal a nenhum projeto executivo, estudo de estabilidade, memorial descritivo ou dados de monitoramento geotécnico. “Os responsáveis pelo empreendimento informaram que o laudo de estabilidade e a instalação de novos instrumentos estão em fase de contratação da empresa responsável.” Nesta semana, durante a inspeção judicial, o prefeito Sandro Mabel (UB) anunciou a instalação de piezômetros, usados para medir a pressão interna do maciço. Presentes na visita do desembargador, servidores da Semad lembraram a necessidade de um projeto para a instalação do equipamento.Foi destacado no relatório que, uma semana antes da nova inspeção, realizada em 4 de agosto, a Prefeitura colocou para funcionar no aterro uma balança de fosso com capacidade para 90 toneladas e 18 metros de comprimento. A anterior, com capacidade de 40 toneladas e 9 metros, não era compatível com todos os tipos de veículos utilizados para o transporte dos resíduos. Também foi identificado que os poços de monitoramento de água subterrânea não possuem identificação visível nem de advertência sobre acesso. Além disso, foi informado que as análises da água subterrânea não estão sendo realizadas desde 2023. NotificaçãoAo POPULAR, a Semad informou que vai notificar a Prefeitura acerca dos apontamentos feitos no relatório e das medidas que a gestão atual “deveria ter tomado e não tomou” e explicou que as vistorias fazem parte de um procedimento de fiscalização que a pasta deu início no começo do ano, “preocupada com os riscos operacionais decorrentes da operação inadequada do empreendimento”. “Sempre é bom lembrar que esse procedimento (a notificação) não vai ocorrer no âmbito do licenciamento ambiental, porque não há pedido de licença da Prefeitura em tramitação.” Ainda segundo a Semad, até o momento não há intenção de encaminhar o documento à Justiça.A Seinfra, pasta municipal responsável pelo aterro, informou ao jornal que não recebeu o relatório. A Semad argumenta que não existe nenhum pedido por parte da Prefeitura em tramitação na secretaria que demande o encaminhamento do documento e cita, como exemplo, uma hipotética solicitação de licença ambiental. “Ainda assim, será feita uma notificação à Prefeitura nos próximos dias para informar o município do parecer produzido. A Prefeitura também pode solicitar o parecer à Semad, se quiser.” Nesta quinta-feira (4), a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), que é responsável pela gestão do aterro subordinada à Seinfra, encaminhou um informe com mais detalhes sobre os piezômetros, dizendo que o novo sistema de monitoramento geotécnico tem como objetivo “controlar as condições de estabilidade física e o comportamento do maciço de resíduos depositados no local”. Nesta etapa inicial, serão instalados 50 marcos superficiais e 4 piezômetros. “O novo sistema visa avaliar a redução volumétrica causada pela decomposição da matéria orgânica, a eliminação da água e a acomodação física dos resíduos.”