Na sala do barracão onde mora, no Setor Asa Branca, Região Norte de Goiânia, a diarista Tereza Lopes da Silva, de 38 anos, guarda a foto do filho Luiz Gabriel, de 15. “Meu menino foi morto degolado há um ano e o corpo dele foi encontrado no Rio Meia Ponte.” Somente este ano outros quatro casos de jovens assassinados ganharam repercussão. Entre 2004 e 2014, 53% (11.674) das vítimas de homicídio no Estado tinham entre 15 e 29 anos de idade, segundo o Atlas da Violência 2016. Nesse mesmo período foram executadas 21.742 pessoas no total em Goiás.Homicídios de jovens representaram mais que o dobro do total registrado entre a população goiana em geral, em 2014. A Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) não forneceu dados mais recentes, solicitados pelo POPULAR. No entanto, o caso do filho de Tereza e os demais ocorridos este ano revelam que os jovens continuam vulneráveis à onda de violência e criminalidade.Presidente do Colegiado dos Conselhos Tutelares de Goiânia, Valdivino Silveira acompanhou Luiz Gabriel, que se envolveu com traficantes. “A violência sofrida ou praticada por jovens só vem aumentando”, assevera ele. “O mais comum é os meninos serem aliciados por traficantes, para se tornarem aviõezinhos, enquanto as meninas são atraídas para o mercado da prostituição.”Silveira ressalta que os jovens de regiões pobres estão mais em risco devido à falta de segurança do Estado. “Na periferia o jovem está mais exposto, por uma série de deficiências e falta de estrutura para ele não se aliar ao crime, enquanto o jovem de classe média e classe alta está mais protegido pelos muros e portarias dos condomínios fechados”, compara o conselheiro tutelar.A onda de criminalidade está além das ruas e atinge até aqueles que cumprem medidas dentro do sistema socioeducativo do Estado. Somente em 2015, cinco adolescentes morreram dentro de centros de internação em Goiás. Foram assassinados pelos próprios rivais, segundo a diretora-geral do Grupo Executivo de Apoio a Crianças e Adolescentes (Gecria), a assistente social Luzia Dora Juliano Silva.Tereza diz que, apesar do envolvimento com traficantes, Luiz Gabriel continuava estudando normalmente. “Era um menino estudioso, mas começou a desandar.” Sem dinheiro, ela não teve condição de pagar nem funerária para fazer o velório. “Levei direto do Instituto Médico Legal para o cemitério”, conta, enquanto passa a mão sobre a foto do menino.