Gabriela Lima

Goiás marcará presença na COP30, em Belém (PA). A partir de segunda-feira (10), data a abertura oficial da conferência da ONU para mudanças climáticas, pesquisadores, gestores públicos, empresários, políticos, sociedade civil e o próprio governador Ronaldo Caiado (UB) vão passar pelas estruturas montadas no Hangar Centro de Convenções da Amazônia e o Porto Futuro, construídos especialmente para o maior encontro global de meio ambiente. O jornal O POPULAR também vai acompanhar de perto as principais dicussões durante as duas semanas de evento.

O clima é de expectativa entre as integrantes da iniciativa Embaixadores do Meio Ponte, realizada pela ONG É Com Amor. Do grupo de 15 jovens que fazem parte da proposta que estimula o protagonismo juvenil e das mulheres, 10 foram selecionados, mediante critérios de participação, liderança e engajamento social, para apresentar o projeto em Belém, juntamente com duas responsáveis pela ação.

Para custear as despesas da viagem para 12 pessoas, a inicitiva recebeu recursos de um edital do Fundo Casa Ambiental e recursos internos da própria instituição. Também contou com emenda impositiva da vereadora Kátia Maria (PT).

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/que-a-gente-possa-discutir-mais-desenvolvimento-e-menos-imposic-es-diz-daniel-vilela-sobre-cop30-1.3300273" style="color: rgb(0, 85, 128); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; outline: 0px;" target="_self">"Que a gente possa discutir mais desenvolvimento e menos imposições", diz Daniel Vilela sobre COP30</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/obras-da-cop30-revelam-tesouros-arqueologicos-1.3285287" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Obras da COP30 revelam tesouros arqueológicos</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/goianos-se-preparam-para-participar-da-cop-30-1.3274661" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Goianos se preparam para participar da COP 30</a></div>

A palavra de ordem para os dia do evento é engajamento. “Os Embaixadores irão participar de atividades da sociedade civil na Zona Verde e de eventos paralelos de discussão sobre segurança hídrica, justiça climática, gênero e juventudes”, diz Jordana Oliveira, diretora-executiva do Instituto Ecomamor.

“Duas de nós iremos participar da Zona Azul, acompanhando as negociações oficiais como parte da delegação oficial brasileira. Também irei participar de um painel no Pavilhão da Youth Climate Leaders (YCL) sobre como formar e engajar a juventude para a ação climática. E estaremos nos revezando entre muitas atividades na Zona Verde, no estande do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e eventos paralelos à COP, como a Cúpula dos Povos”, explica.

Pelo terceiro ano consecutivo, Kátia irá representar a Câmara Municipal de Goiânia em uma Conferência do Clima da ONU em Belém (PA). Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade, a petista diz que a participação na agenda climática global reforça o compromisso com a discussão de políticas públicas sustentáveis. A vereadora terá acesso à Blue Zone, área mais restrita da conferência — palco das negociações oficiais, da Cúpula de Líderes e dos pavilhões nacionais.

<h2>Pesquisadores</h2>

A mobilização também é intensa entre os pesquisadores da Universidade Federal de Goiás. A UFG levará para a COP 30 a experiência do Programa Nacional de Formação para Assentamentos de Reforma Agrária e Contribuições para a Agenda 2030 (Profor-EXT). Coordenado nacionalmente pela professora da Escola de Agronomia da UFG Graciella Corcioli, o Profor-EXT foi selecionado para integrar a programação oficial da AgriZone.

A secretária de Inclusão da UFG, Luciana Dias, será delegada do Brasil no evento. Como integrante da delegação brasileira, ela terá acesso à Zona Azul. Para a universidade, a participação de Luciana reforça a importância da construção de uma agenda climática mais inclusiva e representativa.

O diretor-executivo do Cempa-Cerrado, professor Manuel Ferreira, participará como representante da UFG/Cempa no âmbito da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em painéis focados na preparação dos municípios goianos frente aos riscos advindos das mudanças climáticas. O professor Angel Domínguez Chovert do Instituto de Física (IF/Cempa-Cerrado) acompanhará o professor Manuel na delegação. O foco de sua participação será apresentar material e informações vinculadas à previsão ambiental e ao monitoramento meteorológico no Estado.

A professora Laís Tomaz, de Relações Internacionais, que atualmente está licenciada da UFG para compor a equipe do Ministério das Minas e Energias, fará uma palestra na COP30 em um painel do MME. Laís pesquisa combustíveis sustentáveis para a aviação.

<h3>Projetos do Estado serão apresentados na conferência</h3>

Goiás é um dos poucos Estados com mesa na Blue Zone, a área principal da COP30, e apresentará, de 11 a 21 de novembro, uma gama de ações e projetos que têm como objetivo a sustentabilidade. Titular da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), Andréa Vulcanis leva uma delegação de técnicos para apresentar os principais resultados da pasta. “Temos várias novidades. Uma delas é um estudo recente que estamos levando, o qual aponta que Goiás já atingiu a positividade em carbono. Isso significa que não somos mais um Estado emissor”, disse em entrevista ao POPULAR.

A secretária explica a importância da divulgação dos feitos alcançados. “É importante mostrarmos que Goiás está sob controle, que nossas licenças são efetivas e que não emitimos mais gases, inclusive para quebrar os bloqueios econômicos que estão sendo impostos.”

Outra ação destacada pela secretária é o projeto Juntos Pelo Araguaia. “O projeto já restaurou 1,2 mil hectares, partindo do zero, e é importante ressaltar que foi sem o uso de recursos públicos. São empresas que fazem doações ou compensação ambiental. A bacia é enorme, são milhões de hectares, centenas de propriedades que já foram beneficiadas com restauração efetiva. O projeto segue e já estamos com oito lotes. É caro, mas tem um esforço enorme para fazer essa restauração, que já ganhou prêmio e tem reconhecimento internacional.”

Entre os dados importantes a serem apresentados está o fato de Goiás ter sido o Estado que mais reduziu o desmatamento em 2024. De acordo com dados divulgados pela rede Mapbiomas, a queda na supressão de vegetação nativa em território goiano foi de 71,9% em comparação ao ano anterior. Em números absolutos, o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2024) mostra que os alertas de desmatamento relativos a Goiás caíram de 3.519 em 2023 para 659 no ano passado, com a área alcançada regredindo de 69,3 mil hectares para 19,4 mil hectares no período seguinte.

Vulcanis também pretende destacar na conferência os resultados obtidos com pagamentos por serviços ambientais e o fato de o Estado ter zerado a fila de espera por licenciamento, feito que, de acordo com a secretária, é “inédito no Brasil”.

<h3>Governador</h3>

O governador Ronaldo Caiado (UB) tem viagem marcada para Belém na terça-feira, 11 de novembro. Ele foi convidado para dois eventos promovidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) dentro da COP30. No dia 11, às 12 horas, o chefe do Executivo goiano é aguardado para a solenidade de abertura do estande da CNI na conferência. Na quarta-feira (12), Caiado deve participar do evento “Diálogos para uma Economia de Baixo Carbono”. Trata-se de um evento paralelo, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará.

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O que as delegações de Goiás levarão para a COP30

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Cúpula do Clima

Em evento realizado em Vitória (ES), nesta quinta-feira (6), o governador Ronaldo Caiado (UB) destacou dois pilares de sustentação de seus governos, o da responsabilidade fiscal e o da segurança pública. Ao lado do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), ele observou que houve queda em todas as estatísticas criminais, no comparativo de 2025 com 2018, entre elas 90% em roubos e 60% em homicídios. Sobre a gestão fiscal, Caiado disse ter um fundo de estabilização econômica de R$ 4 bilhões “para qualquer adversidade”. Só que esse pilar fiscal apresentou um fio desencapado. Em prestação de contas na Assembleia Legislativa, na terça-feira (4), o secretário de Economia, Francisco Sérvulo, confirmou que o Estado fechou o quarto bimestre (julho e agosto) de 2025 com déficit orçamentário de R$ 1,54 bilhão. Segundo ele, as despesas com a folha de pagamento e com a saúde foram as que mais cresceram. A Constituição determina que estados e o DF invistam pelo menos 12% de sua receita corrente líquida em saúde. Em Goiás essa proporção subiu nos últimos anos. Em 2022, o comprometimento da receita chegou a 13,46%; passou para 14,95% em 2023, ficou em 14,42% em 2024 e bateu 15,35% em 2025. Cada ponto porcentual a mais, informou o secretário de Saúde, Rasível Santos, nesta quarta-feira (5), também na Assembleia, representa custo de R$ 300 milhões. Em outras palavras, os 3,35 pontos porcentuais além dos 12% constitucionais já gastos em 2025 custaram ao erário estadual R$ 1 bilhão. Dado que explica por que o governo entrou com ação no STF cobrando do Ministério da Saúde “prejuízo” acumulado de R$ 1,2 bilhão no financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás. Voltando ao déficit, o custo da saúde não explica tudo. Há outro dado relevante para o surgimento desse fio desencapado. De acordo com informações dos Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária (RREOs), disponíveis no portal da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), as receitas estaduais cresceram 8,04% nestesegundo quadrimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Já as despesas subiram 25,12%, três vezes a mais. Goiás foi campeão no aumento de gastos. O Espírito Santo, para ficar no Estado onde o governador falou dos dois pilares de sua gestão, registrou aumento de 13,22% na receita e de 7,57% nas despesas. No final do primeiro mandato de Caiado houve uma discussão na equipe sobre a continuidade ou não da política fiscalista e sobre gastar a poupança de R$ 10 bilhões que havia na época, conforme registrei na coluna de 24 de dezembro de 2022. A então secretária de Economia, Cristiane Schmidt, até admitia gastar mais com investimentos, como desejava outra parte do governo, mas insistia em manter o controle das despesas.A secretária ficou na equipe apenas até abril de 2023 e, agora, a discussão é mais espinhosa, ou seja, cobrir o déficit. E isso acontece sem que os investimentos tenham crescido substancialmente, haja vista a dificuldade do governo de gastar até mesmo os recursos do Fundeinfra. Análises feitas por especialistas em contas públicas nos RREOs e em seus anexos indicam que essas despesas podem não ter sido de boa qualidade. Os documentos registram crescimento de R$ 5 bilhões em despesas correntes pagas, dos quais R$ 1,87 bilhão com pessoal e R$ 3,04 bilhões de custeio. Poderia ser custeio da saúde? Poderia. Só que na comparação por subfunção, descobre-se aumento de R$ 413 milhões em saúde (custeio e investimento) e de R$ 1,9 bilhão em investimento. O que parece ter havido foi aumento no custeio de modo geral.Depois de quase 8 anos de mandato gozando do benefício de não pagar integralmente o serviço da dívida, pela adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal, o governador se vê diante do desafio de recuperar o equilíbrio fiscal até abril, quando deixará o cargo para ser candidato a presidente da República. E não apenas para deixar as contas redondas para seu sucessor, o vice-governador Daniel Vilela (MDB), mas, principalmente, para manter em pé os dois pilares que exibe em suas pregações de pré-campanha eleitoral.

Luz amarela na gestão fiscal

Opinião

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Cileide Alves

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Na COP30, os olhos do mundo se voltam à Amazônia, local da conferência, mas a discussão do <a href="https://opopular.com.br/cidades/goias-e-5-entre-estados-brasileiros-no-ranking-de-aquecimento-mais-acelerado-1.3334235" target="_self">futuro climático do Brasil precisa ter em conta o cenário do Cerrado</a>, com situação considerada crítica por especialistas da área. O efeito mais sentido na região é o aumento da temperatura, realidade que impulsiona um ciclo progressivo de calor e seca, com consequências que formam uma triste reação em cadeia: aquecimento regional, queda da umidade, alteração no ciclo de chuvas, prolongamento da estação de seca, favorecimento das queimadas, redução exponencial da vazão dos rios, impacto sobre a biodiversidade.

As evidências de uma tendência generalizada de aquecimento na região foram foco do painel “Ciência no calor do Cerrado: a mudança do clima e o bioma mais ameaçado do Brasil”, realizado na quarta-feira (5) no 22º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conpeex) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Moderado pela reitora Angelita Pereira de Lima, o evento teve pesquisadores de diversas áreas para debater os impactos das mudanças climáticas no bioma e as estratégias necessárias para mitigação e adaptação.

Um dos destaques da programação, o doutor em Ecologia e Geografia Gabriel Selbach Hofmann, pesquisador da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Pictis/Portugal) e especialista em mudanças climáticas no Cerrado, mostrou três modelos científicos diferentes que mostram não só o aumento da temperatura, mas suas consequências.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/planeta-vai-superar-limite-de-1-5-c-para-aquecimento-diz-lider-da-onu-1.3328346" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Planeta vai superar limite de 1,5º C para aquecimento, diz líder da ONU</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/goiania-e-o-desafio-da-crise-climatica-1.3327647" style="color: rgb(0, 85, 128); outline: 0px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Goiânia e o desafio da crise climática</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/em-24h-chove-mais-da-metade-da-media-do-mes-em-goiania-1.3332019" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Em 24h, chove mais da metade da média do mês em Goiânia</a></div>

“A comparação entre períodos de 30 anos – padrão usado para estabelecer a média climatológica – aponta aumento consistente e simultâneo nas temperaturas máximas, médias e mínimas para a região, revelando um aquecimento regional que se intensificou. O Cerrado está se tornando mais quente e mais seco”, diz o pesquisador, que mora em Portugal e acompanha a situação do bioma nos estudos.

Quem mora no Cerrado já percebeu que esse cenário não é algo futuro. São impactos que a população já sente no presente, com destaque para as consecutivas ondas de calor dos últimos três anos. Sensação que é confirmada pela ciência. Entre as análises apresentadas por Hoffman para demonstrar o impacto do aquecimento no Cerrado está uma comparação das temperaturas máximas na Bacia do Rio Araguaia, com dados registrados desde 1960 em três estações meteorológicas: Aragarças, cidade de Goiás e Conceição do Araguaia (PA). Em Aragarças, o recorde histórico ocorreu em 9 de outubro de 2020, com 44,3 °C. A segunda maior máxima se deu no dia anterior, 8 de outubro, com 43,3 °C, temperatura que se repetiu em 3 de outubro de 2024.

<h2>Umidade</h2>

Essa elevação térmica tem consequência direta e alarmante em outra característica climática muito sentida pelos habitantes cerratenses: a queda na umidade. O aquecimento expande o que os cientistas chamam de déficit da pressão de vapor. Basicamente, a cada grau de temperatura que a coluna de ar ganha, sua capacidade de reter vapor aumenta. Essa expansão da “capacidade de armazenamento” do ar causa a queda da umidade relativa do ar.

Com umidade que beira a de áreas desérticas, na casa dos 10% nos períodos críticos, o resultado é o impacto também na saúde pública: em eventos de extremo calor e tempo seco, as emergências dos hospitais ficam cheias, principalmente com crianças e idosos. “A mudança climática no Cerrado existe e o sintoma mais importante dela é uma intensificação e um prolongamento da estação seca,” diz Hofmann. “A estação seca, que no tempo dos nossos avós começava em metade de maio e terminava em setembro, hoje está sendo empurrada para o fim de outubro, início de novembro.”

Como tudo em clima está interligado, a redução da umidade aliada ao prolongamento da estiagem impacta diretamente no regime de chuvas. Um estudo que analisou 70 pontos de estações pluviométricas constatou que 54 delas têm tendência clara de decaimento. O Cerrado sofre a redução da chuva anual, com fenômeno mais intenso nas regiões central e norte do bioma. Há, ainda, uma preocupante redução das chuvas nos meses do verão, fator que atinge em cheio a principal atividade econômica da região: o agronegócio.

As implicações se estendem para a integridade ecológica do bioma. As mudanças impõem uma forte pressão seletiva sobre a fisiologia das plantas e dos animais, afetando drasticamente a sobrevivência dos indivíduos e pondo em xeque a vasta biodiversidade local. Professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Paulo De Marco exemplificou com o tamanduá-bandeira, que sofre para controlar a temperatura corporal, ou do pau-terra, árvore com floração sincronizada com o início das chuvas, mas que acaba afetada pelas ocorrências irregulares.

Mais dramático ainda é o impacto sobre os recursos hídricos. Popularmente chamado de “berço das águas”, o bioma que é crucial para a formação de grandes bacias tem registrado uma redução exponencial da vazão dos rios. A bacia do Araguaia já teve níveis de menor vazão documentados, diz Hoffman. A água dos rios está “despencando em uma velocidade muito maior do que a redução das chuvas”, um indício de que a diminuição é mais intensa pela captação de água para abastecimento humano e, especialmente, para agricultura.

<h3>Instituto Nacional</h3>

Durante o evento, os especialistas defenderam que o futuro do clima global não pode ser debatido na conferência da ONU sem que essa realidade do Cerrado seja levada em consideração. “Não existe Cerrado sem Amazônia nem existe Amazônia sem Cerrado. Por isso, é urgente que o mundo, na COP30, olhe para o Cerrado. São dois territórios, mas um só futuro”, disse a reitora Angelita Pereira.

Angelita voltou a defender a criação do Instituto Nacional do Cerrado (INC), uma proposta liderada pela UFG e outras universidades do bioma pedindo, desde 2023, a implantação de um centro de excelência, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A proposta, endossada por 26 universidades e institutos de ensino, já foi entregue ao governo federal e também será apresentada no evento em Belém.

“A COP é na Amazônia, mas nós precisamos também falar de Cerrado”, destacou o professor do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig) da UFG Laerte Guimarães. Ele destacou que o INC será capaz de articular o conhecimento e a ciência produzidos nessas instituições, alinhando a preservação com a necessidade de políticas públicas, assim como o desenvolvimento de novas formas de produção e inovação. “Nós precisamos pensar em novos modelos de desenvolvimento. A gente realmente acredita que vamos começar 2026 com o instituto sendo mais que uma promessa”, afirmou.

A conta do aquecimento já chegou para o Cerrado

COP30

Limitar o aquecimento global é o tema central das discussões da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a COP30, que começa oficialmente na segunda-feira (10), em Belém, no Pará. Mas o Brasil ainda olhar para os Estados quando o assunto é o <a href="https://opopular.com.br/cidades/planeta-vai-superar-limite-de-1-5-c-para-aquecimento-diz-lider-da-onu-1.3328346" target="_self">aumento das temperaturas</a>, como mostram os dados compilados pelo MapBiomas Atmosfera, apresentados na quarta-feira (5). De acordo com o estudo divulgado pela plataforma, Goiás não apenas tem sentido de forma intensa os efeitos do aumento das temperaturas como aparece em uma posição de alerta no cenário climático nacional, figurando como o 5º Estado brasileiro no ranking de aquecimento mais acelerado entre 1985 e 2024.

Com uma taxa de elevação da temperatura média de cerca de 0,30 °C por década, nas quatro décadas entre 1985 e 2024, Goiás aparece com uma taxa média de pouco acima da média nacional, que é de 0,29 °C por década. O Estado aparece no ranking atrás de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Piauí e Tocantins, que apresentam taxas entre 0,34°C e 0,40°C por década.

“Essa dado fala o quão rápido a temperatura está aumentando em cada Estado do Brasil. A gente vê que a temperatura está aumentando no País como um todo, mas a gente vê que os Estados continentais têm apresentado uma taxa de aumento muito maior do que os Estados litorâneos”, constata a professora Luciana Rizzo, do Laboratório de Física Atmosférica da USP, integrante do MapBiomas Atmosfera e uma das responsáveis pelo estudo apresentado na quarta-feira.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/planeta-vai-superar-limite-de-1-5-c-para-aquecimento-diz-lider-da-onu-1.3328346" target="_self">Planeta vai superar limite de 1,5º C para aquecimento, diz líder da ONU</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/goiania-e-o-desafio-da-crise-climatica-1.3327647" target="_self">Goiânia e o desafio da crise climática</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/em-24h-chove-mais-da-metade-da-media-do-mes-em-goiania-1.3332019" target="_self">Em 24h, chove mais da metade da média do mês em Goiânia</a></div>

Parece pouco, mas de acordo com a pesquisadora é um dado preocupante, principalmente se levarmos em conta a tendência de aumento futuros. “Os organismos vivos estão adaptados para viver em certa faixa de temperatura e umidade. Isso inclui os animais, os vegetais e os seres humanos. A temperatura do nosso corpo, por exemplo, funciona bem a 37 graus, mas se aumentarmos apenas 1 grau, a gente estará com febre”, diz .

Quando observado localmente, essa elevação impacta também na economia. “Goiás é um Estado que tem uma ampla produção agrícola e tem apenas 36% da área com vegetação nativa preservada. A presença dessa vegetação possibilita a manutenção do clima, o que é positivo para a produção agropecuária”, aponta.

<h2>Biomas</h2>

Nas quatro décadas entre 1985 e 2024, a temperatura não só aumentou em todo o Brasil, segundo o MapBiomas Atmosfera. Algumas regiões apresentam dados ainda mais preocupantes. É o caso do Pantanal (+ 0,47 °C/década) e do Cerrado (+ 0,31 °C/década) – ambos na parte mais continental do País. A Amazônia, como um todo, permaneceu na média (+ 0,29 °C/década), enquanto os biomas costeiros apresentaram um ritmo menor de aquecimento: Caatinga (+ 0,25°C/década), Mata Atlântica (+ 0,21°C/década) e Pampa (+ 0,14°C/década).

“Cada bioma tem as suas necessidades específicas e isso precisa ser tratado especificamente, porque não existe uma solução que sirva para todos os lugares. Para a gente conseguir reduzir os gases do efeito estufa no Brasil, as discussões precisam ser setorizadas”, avalia.

Para a professora, o aquecimento não será revertido, mas pode e deve ser freado. “Para isso, precisamos reduzir as nossas emissões de gases do efeito estufa. A lição de casa do Brasil é conter os desflorestamentos e as queimadas.”

No sentido de contribuir para que o Brasil faça “a lição de casa”, a rede de mapeamento formada por universidades, ONGs de tecnologia e meio ambiente e startups lançou a plataforma MapBiomas Atmosfera. De acordo com Luciana, a ferramenta busca apresentar as informações de uma forma simples, para que as pessoas tenham acesso aos dados e compreendam que “o clima de fato está mudando, não é algo abstrato”. “Tem gente que diz ‘ah não, é assim mesmo, tem ano mais quente e ano mais frio’. Mas quando a gente olha os dados, a gente vê que a temperatura está crescendo ano a ano. É uma coisa muito sistemática.”

<h3>Limite é atingido na Amazônia e superado no Pantanal em 2024</h3>

Os novos dados apresentados pelo MapBiomas Atmosfera mostram que temperatura média da Amazônia Brasileira em 2024 atingiu a marca de 1,5 °C acima da média do período (1985-2024), uma elevação que alcança o limite ideal estabelecido pelo Acordo de Paris. O cenário é ainda mais crítico no Pantanal, onde a anomalia de temperatura no mesmo ano chegou a 1,8 °C acima da média, superando o teto de segurança global.

Esses dados inéditos, resultado do processamento de imagens de satélite e modelagem climática pelo MapBiomas, evidenciam que o aquecimento já é uma realidade nos dois biomas.

“Nessas últimas três décadas de negociação, não foi só o clima que mudou: a cobertura e o uso da terra, no Brasil e no mundo, também mudaram. E isso tem impacto direto sobre o clima”, explica Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas. O Brasil tem tido temperaturas acima da média consistentemente desde 2014, tendo 2024 registrado a maior anomalia em 40 anos: 1,2 °C acima da média do período. No Pantanal, o bioma com o maior registro de anomalia em 2024, a elevação de 1,8 °C está intrinsecamente ligada à seca extrema. No mesmo ano, a Bacia do Alto Paraguai, que alimenta o Pantanal, registrou uma precipitação 314 mm abaixo da média, com 205 dias sem chuvas, exacerbando o risco de incêndios e a vulnerabilidade ecológica.

O cientista Paulo Artaxo complementa que a plataforma MapBiomas Atmosfera confirma as tendências de aquecimento e alteração da precipitação já apontadas pelos últimos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). “Esses aumentos de temperatura têm impactos significativos em todos os biomas brasileiros,” alerta. O Cerrado ficou 1 °C acima&nbsp;da média em 2024. O mesmo ocorreu com a Caatinga&nbsp;e o Pampa.

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Goiás é 5º entre Estados brasileiros no ranking de aquecimento mais acelerado

Mudanças climáticas

A Universidade Federal de Goiás (UFG) sedia, neste sábado (8), na Faculdade de Direito, Praça Universitária (Setor Leste Universitário), a mesa-redonda “Justiça climática à luz da COP30”, a partir das 9h30. O evento se insere no <a href="https://opopular.com.br/cidades/forum-para-discutir-mudancas-climaticas-em-goiania-sera-instalado-nesta-4-1.3304840" target="_self">quadro preparatório para a COP30</a> e é promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Direito e Políticas Públicas (PPGDP) e também apoiado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), que se envolve por meio dos programas de pós-graduação em Direito Agrário e em Direitos Humanos.

Como foco da conferência estão temas como redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; financiamento climático para países em desenvolvimento; tecnologias de energia renovável e as soluções de baixo carbono; preservação de florestas e da biodiversidade; justiça climática; e os impactos sociais das mudanças climáticas.

Participarão do evento pesquisadores franceses, vinculados ao Centro Internacional de Direito Ambiental Comparado (CIDCE) e à Universidade de Limoges, na França, que debaterão os temas propostos com docentes da Faculdade de Direito e dos programas de pós-graduação da UFG e da PUC Goiás. Entre os estudiosos franceses que participarão do evento estão Michel Prieur, Julien Prieur e Laurent Vassalo. A Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE) e o Centro de Pesquisas Interdisciplinares em Direito Ambiental, de Ordenamento Territorial e Urbanístico (Crideau) de Limoges destacam-se pelo engajamento em pesquisas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, sendo reconhecidos como centros de referência nesses assuntos, na França e em todo o mundo.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/forum-para-discutir-mudancas-climaticas-em-goiania-sera-instalado-nesta-4-1.3304840" target="_self">Fórum para discutir mudanças climáticas em Goiânia será instalado nesta 4ª</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/que-a-gente-possa-discutir-mais-desenvolvimento-e-menos-imposic-es-diz-daniel-vilela-sobre-cop30-1.3300273" target="_self">"Que a gente possa discutir mais desenvolvimento e menos imposições", diz Daniel Vilela sobre COP30</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/cop30-e-alvo-de-articulac-o-de-governadores-do-sul-e-sudeste-1.3301969" target="_self">COP30 é alvo de articulação de governadores do Sul e Sudeste</a></div>

Entre os docentes anfitriões que animarão o debate estão José Antônio Tietzmann e Silva e Luciane Martins de Araújo, pesquisadores na área do Direito Ambiental, e que já participaram de várias conferências climáticas da ONU, em nome do CIDCE, o qual integram já há vários anos.

O CIDCE é uma organização internacional não governamental (Oing), criada em Limoges, na França, em 1982, como uma associação científica regida por lei francesa. É composto por juristas ambientais de renome internacional e tem como principal missão reunir esses profissionais do mundo inteiro para contribuir com o avanço do direito ambiental, especialmente em reuniões e conferências internacionais e regionais.