Um dos pesquisadores que atuou na modelagem que testou o sistema de 14 dias com as atividades econômicas fechadas seguidos por outro período igual de funcionamento, o biólogo Thiago Rangel, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que as decisões dos gestores quanto à pandemia de Covid-19 deve levar em consideração a forma de contágio da doença. “Há muita confusão sobre isso de fechar o comércio, mas esse não deve ser o caso, porque o vírus não passa de comércio para comércio e sim de pessoa para pessoa. O motivo do isolamento não é fechar comércio, mas impedir que uma pessoa que está transmitindo o vírus encontre outra que está suscetível”, diz.Neste sentido, Rangel esclarece que a ideia de utilizar o método 14 por 14 foi justamente para encontrar um meio termo entre o isolamento total, que seria o ideal do ponto de vista epidemiológico, e a reabertura econômica. O professor explica que o período de 14 dias é o mesmo de incubação e manifestação da doença e por isso foi utilizado. Assim, em tese, nos dias de isolamento seria quando haveria mais demanda por leitos hospitalares e a necessidade de reduzir a incidência da doença. Teoricamente, seria possível, com esse sistema de rodízio por período, impedir o colapso no sistema de saúde, ao fazer o controle da doença. Rangel conta que os professores da UFG chegaram a pensar em fazer a modelagem adotando o sistema de 10 dias sem atividades econômicas não essenciais com 4 dias de funcionamento, mas houve o entendimento de que a resistência dos empresários seria ainda maior. Isso porque, neste caso, em um grupo de 28 dias, só haveria abertura em 8 dias. Esse modelo foi o primeiro de isolamento intermitente a ser projetado no mundo, ocorrendo a partir de Israel, mas em um momento em que todos os países ainda adotavam o lockdown, quando há proibição de qualquer movimentação das pessoas, ou seja, é necessária autorização do gestor público para visitar a família ou fazer uma caminhada.“Esse modelo 10 por 4 talvez até tenha mais vantagens, mas não chegamos a testá-lo com os dados de Goiás em nossa simulação. Testamos o 14 por 14 que é a metade entre o mínimo de óbitos que podem ocorrer e o máximo que estimamos, que seria no caso de ninguém fazer nada para conter a pandemia”, diz o biólogo, ao explicar que não se trata apenas de promover a abertura completa das atividades econômicas, mas também não seguir qualquer outra recomendação das autoridades de saúde. Para ele, a questão não é o que está abrindo ou fechando, mas o fato das pessoas continuarem se movimentando. “A questão é as pessoas ficarem em casa, justamente para impedir que um infectado transmita e é por isso também que propusemos o rastreamento de contato.” Com este rastreamento, seria possível acompanhar os casos de transmissão intradomiciliar, por exemplo. Ou seja, caso a pessoa seja confirmada como infectada, as autoridades sanitárias verificam a situação de com quem ela mora ou trabalha, fazendo o rastreamento e possibilitando o isolamento destes pacientes, impedindo a continuidade da cadeia de transmissão do coronavírus.Rangel reforça que só é possível conter a pandemia com a interrupção da transmissão, o que ocorre quando pessoas contaminadas não estão próximas de pessoas suscetíveis, e que esta deve ser a premissa de qualquer modelo adotado pelos gestores. O estudo da UFG utiliza o índice de isolamento social para verificar se isto é cumprido, identificando que números acima de 50% são considerados positivos para a contenção. ComparaçãoAnalisando os dados de isolamento social da plataforma In Loco, que é utilizada pelo Estado e pela UFG, verifica-se, no entanto, que o escalonamento regional adotado em Aparecida de Goiânia ainda não contribuiu para que os índices melhorassem. Observando apenas nas quartas-feiras, em maio o índice ficou entre 34% e 36%. Já em junho, com o modelo regional a variação ficou entre 32% e 34%. No dia 3 de junho Aparecida tinha 600 casos confirmados e 13 óbitos, enquanto que no dia 1 de julho o número de confirmações era de 3.033 e 51 pessoas haviam morrido por Covid-19.O secretário municipal de Saúde, Alessandro Magalhães, explica que a plataforma utilizada tem pouca prevalência no município e, por isso, não é utilizada nos estudos municipais. “Aqui nós fazemos uma relação sobre a incidência de casos e os leitos hospitalares, que vamos chegar a 90 de UTI na semana que vem. Nesse momento, a gente confia nesse modelo regional.” Por outro lado, para se ter uma ideia, em Goiânia, em que o comércio ficou oficialmente fechado, apesar de ter ocorrido descumprimento pela população, o índice de isolamento em maio esteve entre 36% e 37% e em junho entre 33% e 35%.