O tenente Alex de Siqueira, da Polícia Militar (PM), foi denunciado ontem pelo Ministério Público Estadual (MP) pelos crimes de prevaricação e ameaça. Ele comandou em 3 de março do ano passado uma ação da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) na qual um comboio da tropa tentou intimidar jornalistas do POPULAR, ao contornar a sede da Organização Jaime Câmara (OJC), no Setor Serrinha, em Goiânia, com as sirenes ligadas e em baixa velocidade. Naquela data, reportagem do jornal revelou o modo de atuação dos policiais militares suspeitos de integrar um grupo de extermínio e que foram presos na Operação Sexto Mandamento. A denúncia foi oferecida à Justiça Militar do Estado de Goiás pela promotora Carmem Lúcia Santana de Freitas. Na peça acusatória, ela sustenta que Alex de Siqueira “praticou ato de ofício contra expressa disposição de lei, para satisfazer sentimento e interesse pessoal, quando comandou 36 policiais militares em oito viaturas, utilizando-se de carros oficiais e homens fardados e armados para afrontar e intimidar jornalistas da OJC”. Foram selecionadas seis testemunhas para serem ouvidas, entre elas o secretário de Segurança Pública, João Furtado. Dois jornalistas do POPULAR também prestarão depoimento, na condição de vítimas. De acordo com a promotora, não foi oferecida denúncia contra os 36 membros da Rotam que participaram da ação porque as provas são insuficientes, até o momento. Carmem Lúcia solicitou a fita original com as imagens das câmeras de segurança da OJC para fazer nova perícia. As investigações revelaram que na manhã da ação policial o tenente fez uma reunião de cerca de 30 minutos com a tropa, sem a participação dos estagiários. Na ocasião, Alex de Siqueira compôs as equipes e comandou os trabalhos. O grupo saiu do Setor Aeroviário e veio para o Setor Serrinha. Às 10h20 o comboio de oito viaturas circulou no quarteirão onde fica a sede do POPULAR. Na denúncia, a promotora chama a atenção ao prejuízo causado à administração militar pela atitude da Rotam. “Do fato ocorrido, surgiram comentários negativos em relação à Polícia Militar e especialmente à Rotam, no próprio meio militar e com reflexos no meio civil, denegrindo a imagem da corporação”, escreve. Na época, parte da PM acusou o POPULAR de ter denegrido a corporação com reportagens que expuseram os crimes cometidos por alguns de seus membros. Houve uma campanha organizada por policiais militares na internet e com uso de adesivos em carros dando apoio à tropa. A tentativa de intimidação provocou reações imediatas. No mesmo dia a Rotam teve suas atividades suspensas e foi retirada das ruas para um “processo de reavaliação de atribuições”. O comandante da tropa especializada foi substituído e várias entidades, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Sindicato dos Jornalistas do Estado de Goiás manifestaram indignação com o ato. As reportagens do POPULAR repercutiram em todo o País e foram premiadas nacionalmente. Assessor de comunicação da PM, o tenente coronel Anésio Barbosa afirmou que a denúncia é um desdobramento natural das medidas tomadas. O oficial ressaltou que as medidas administrativas foram tomadas pela corporação, com procedimentos instaurados na corregedoria da polícia. “Qualquer decisão judicial repercutirá na PM. No caso de condenação haverá desdobramentos internos na PM”, disse.-Imagem (Image_1.195096)