Os pacientes transferidos de Manaus, no Amazonas, para Goiânia, em Goiás, devem ser atendidos por equipe médica exclusiva em área isolada, sem contato com os pacientes locais. É o que recomenda nota informativa da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) publicada nesta sexta-feira (15). O objetivo das restrições é evitar a contaminação pela nova variante do coronavírus (Sars-CoV-2), identificada no Amazonas e chamada de P1.Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), com 20 pacientes de Manaus internados com covid-19, pode chegar na capital goiana neste sábado (16). O sistema de saúde da capital amazonense entrou em colapso e unidades de Saúde de lá estão com falta de cilindros de oxigênio. O Ministério da Saúde organiza a transferência emergencial de pessoas internadas em leitos de enfermaria do Amazonas para outros seis Estados, entre eles Goiás, que deve receber um total de 140.A nota informativa da SES-GO recomenda que “seja destinada uma ala, bem como uma equipe assistencial exclusiva para internação e atendimento dos pacientes provenientes de Manaus a fim de evitar a circulação de profissionais em diversos espaços da unidade hospitalar”. O documento também reitera os cuidados necessários que devem ser tomados em casos suspeitos e confirmado de Covid-19 na chegada do paciente, triagem, espera e durante toda a internação.“A implementação de precauções padrão, de contato e respiratória (gotículas e aerossóis) constituem a principal medida de prevenção da transmissão da doença entre pacientes e profissionais de saúde”, diz trecho do documento. A nota também ressalta a importância da vigilância epidemiológica hospitalar no monitoramento dos pacientes de Covid-19 hospitalizados, com o objetivo de quebrar a cadeia de transmissão da doença.Os primeiros 20 pacientes de Manaus a chegarem em Goiânia vão ficar internados na enfermaria do 12º andar do novo prédio do Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), no Setor Universitário. Os pacientes devem desembarcar pelo antigo terminal do aeroporto Santa Genoveva, para não ter risco de contato com outros passageiros.Nova cepaA nova variante do vírus, encontrada no Amazonas, chegou a ser apontada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, como um fator que influenciou na grave crise que acomete a cidade. “Você não tem como prever o que ia acontecer com essa cepa que está ocorrendo em Manaus, totalmente diferente do que tinha acontecido no primeiro semestre”, afirmou Mourão nesta sexta-feira (15).Em entrevista para o Estadão, o epidemiologista Josem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, defendeu que essa nova variante encontrada no Amazonas é a explicação mais plausível para a explosão de casos que ocorreu em Manaus. Ele explicou que a capital do Amazonas já tinha entre 30% e 40% da população exposta ao vírus e que esse aumento rápido das contaminações só pode ser porque essa variante se propaga mais rapidamente que as outras 11 variantes que já circulavam na região. A nova variante do Amazonas foi identificada em turistas japoneses que voltavam da Amazônia.O diretor geral do Hospital das Clínicas, José Garcia Neto, defende que haverá um controle de risco microbiológico muito rígido, o que não vai permitir a disseminação da nova variante do vírus através dos pacientes de Manaus. “Só se ocorrer um acidente, para uma cepa ser transmitida para alguém, o que seria descoberto rapidamente”, avalia.Além disso, Garcia Neto conclui que as novas variantes de Covid-19 estão sendo transmitidas pelas pessoas que não estão internadas, que estão viajando de um local para o outro. “É assim que essas doenças são transmitidas e são disseminadas. Não através de pacientes. Já que sabemos que eles (pacientes) têm, então haverá controle absolutamente rigoroso, vão ser controlados e isolados”, diz. HC pode aumentar em até 150 leitosO novo prédio do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) possui estrutura física e equipamentos para aumentar em até 150 novos leitos de enfermaria para pacientes com Covid-19, segundo o diretor da unidade, José Garcia Neto. No entanto, o hospital precisaria contratar novos profissionais de saúde. O HC deve receber até 140 pacientes de Manaus, no Amazonas, onde houve colapso do sistema de saúde por conta da pandemia do coronavírus. A Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO) deve auxiliar na contratação de recursos humanos. De acordo com Garcia Neto, na próxima semana, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), responsável pela gestão do HC, deve enviar equipe de Saúde para o funcionamento de mais 20 leitos de enfermaria Covid-19. O objetivo é manter as 20 vagas abertas para os pacientes de Goiás. “Não vamos ter prejuízo. Vinte leitos estarão à disposição. Não serão suprimidos”, garante.Em entrevista após a posse do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Podemos), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), informou que os pacientes de Manaus devem chegar de forma gradual no Estado. Ele explicou que as transferências são uma parceria da SES-GO com o HC e a Prefeitura de Goiânia. A Secretaria de Saúde de Goiânia (SMS) informou que vai disponibilizar 17 viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para fazer o transporte dos pacientes entre o aeroporto e o HC. Treze viaturas já estão reservadas. No Twitter, Caiado pregou solidariedade: “Manaus sofre com a falta de oxigênio e de leitos. Os manauaras precisam da nossa ajuda, minha gente.” Durante entrevista para a TV Anhanguera, o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, garantiu que o atendimento aos pacientes de Manaus vai ser feito sem prejudicar a população goiana. Na tarde desta sexta-feira, a rede estadual de Goiás tinha 61 vagas de UTI e 100 de enfermaria, com perfil Covid-19, disponíveis. Caiado aproveitou a entrevista para lembrar dos perigos da pandemia em Goiás Ele lembrou que Goiás passou de 54% para 64% da ocupação dos leitos de internação. “Peço à população que, por favor, nos ajude. Mantenham o uso de máscara e o distanciamento social. Não participem e não promovam aglomerações, já que a vacina está aí, a poucos dias”, declarou. Os primeiros nove pacientes de Manaus chegaram em Teresina, Piauí, na manhã desta sexta. A segunda viagem foi para São Luís, no Maranhão, com pacientes recém-nascidos, segundo o site de notícias G1. O intervalo entre cada viagem demanda uma logística complexa. “A aeronave tem que ir e voltar e abastecer oxigenio”, explicou Ismael.