Após um ano e quatro meses de silêncio, o padre Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, voltou a se manifestar em público, pelas redes sociais. Ele usou contas no Facebook e no Instagram para divulgar um canal criado no Youtube com vídeos em que aparece dando bênçãos pela manhã e à noite. No Facebook, a primeira postagem foi feita na tarde de sábado (18) e já foram seis publicações desde então. Já no Instagram foi apenas uma até o momento, feita na noite de domingo (19).Apesar de não fazer referências diretas às investigações das quais é alvo do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e da Polícia Federal, o padre fala nos vídeos sobre perdão e julgamentos alheios. Na bênção publicada na noite de domingo, Robson cita o relato bíblico da história de Maria e José para tratar sobre acontecimentos que podem surpreender e levar a avaliações equivocadas.“Muitas vezes, meu irmão, minha irmã, nós também não compreendemos os desígnios de Deus para nossa vida, as ações do Senhor em nossa vida. Muitas vezes não entendemos e ficamos até perdidos diante de alguns acontecimentos e fatos que nós não compreendemos, não conseguimos nem mesmo racionalizar e, portanto, ficamos perdidos. Coisas acontecem em nossas vidas e acabam criando marcas, acabam deixando surpresas, acabam nos pegando de surpresa”, falou o religioso no vídeo dominical.A fala é parecida com o que está no Instagram junto d a publicação em que divulga o canal no Youtube: “Por vezes, acabamos não compreendendo os desígnios de Deus em nossa vida! Muitas vezes, ficamos até perdidos diante dos acontecimentos e dos fatos que não compreendemos, que não entendemos. É preciso aprender com São José a submissão a Deus na oração e no silêncio da escuta.”Ao todo já foram publicados no Youtube seis vídeos, nenhum cita o processo, mas em dois deles há a hashtag #voltapadrerobson. O canal foi criado no dia 25 de agosto deste ano, mas o primeiro vídeo foi publicado apenas em 17 de dezembro. A primeira oração divulgada aparece com a seguinte mensagem: “Esta é uma bênção especial para todos aqueles que amam a Deus e buscam servi-lo com coração sincero. Espero que goste! Deixe seu like e inscreva-se no canal. Bênçãos sobre você e sua família!”A reportagem ouviu todos os vídeos. Neles o padre só aparece em fotos. Não é possível saber se os áudios foram gravados recentemente. Não há identificação do autor do canal.Em um dos textos que acompanham um dos vídeos, o autor do canal fala sobre avaliações injustas que as pessoas podem fazer sobre terceiros.“Regra de ouro da vida! Jesus está nos dizendo o que não podemos nos esquecer: com a medida que nós medirmos os outros é com essa medida que Deus vai nos medir. É essa a justiça de Deus. A verdade é que nós quase nunca sabemos nos colocar no lugar do outro, pois sempre nos colocamos ou olhamos a partir de nós, das coisas e situações à nossa maneira e acabamos julgando muitas vezes de modo injusto. Peçamos, hoje, pela força da Palavra de Deus, que Ele nos conceda a justa medida para sabermos medir uns aos outros como Deus nos mede. Deus abençoe você!”, aparece escrito em uma das publicações no Youtube.A última publicação, em sua conta no Instagram, havia sido feita no dia 23 de agosto de 2020, logo no começo da Operação Vendilhões, quando foi revelada uma investigação iniciada ainda em 2018 pelo MP-GO contra o religioso, suspeito de liderar um grupo que desviava recursos oriundos de doações de fieis para a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade criada e presidida, até então, pelo padre. Religioso é alvo de duas investigaçõesPadre Robson é alvo de duas investigações. Uma delas, a do MP-GO, se encontra em uma disputa no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre questões formais de prosseguimento entre defesa e promotores do caso. A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) trancou em outubro de 2020 o processo, acatando a tese da defesa de que o MP-GO não teria competência legal para este tipo de investigação. Em decisão mais recente, o STJ manteve o bloqueio. Para a defesa, o processo que resultou na Operação Vendilhões já está arquivado.Já no primeiro semestre de 2021, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) apuram por determinação do STJ a suspeita de propina paga pelo religioso a magistrados goianos para favorecê-lo em um processo que tramitava no Judiciário goiano envolvendo a compra de uma fazenda pela Afipe quando ainda era presidida pelo padre. A PF chegou a pedir a prisão do padre em novembro deste ano e, segundo a defesa, o pedido foi negado. A reportagem procurou a defesa do padre, que até o fechamento desta edição não se manifestou. A Afipe também foi procurada, mas informou que o padre não integra mais o quadro da entidade e que não tem conhecimento sobre o uso que ele faz de suas redes sociais. A Arquidiocese de Goiânia recomendou que fossem procurados os missionários redentoristas.A Congregação Redentorista informou que não existe proibição quanto ao uso de redes sociais e que nada foi dialogado com o religioso antes que ele retomasse o uso de suas contas pessoais.