No setor de reciclagem, ao menos para as cooperativas, o vidro não vale o quanto pesa. Segundo em volume por quilo, o material é o penúltimo em valores de comercialização. Uma parceria entre a Uniforte (que reúne seis cooperativas de reciclagem), Universidade Federal de Goiás, Ministério Público, Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) e Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape) pretende mudar essa realidade.A parceria está dando vida à primeira unidade de processamento de vidro de Goiás. Em fase final de instalação, a estrutura possibilitará a quebra de até 400 toneladas do produto por mês, aumentando em até três vezes o lucro dos recicladores.Atualmente, as cooperativas de reciclagem recebem o vidro coletado pela Comurg, por meio da Coleta Seletiva, empresas e alguns consumidores. O material é, então, comercializado com uma intermediadora, que faz o trabalho de quebra e de transporte até São Paulo. Assim, para cada quilo de vidro, a cooperativa recebe 5 centavos. No caso do vidro processado, o valor pode subir para 15 centavos ou mais.Somente a Uniforte coletou 405 toneladas de vidro no primeiro semestre deste ano. O volume representa 21,1% de tudo que é comercializado pelas seis cooperativas que compõem o grupo: Cooper-Rama, Seleta, Carrossel, Cooperfarma, Coopermas e Cooprec. Mas, em termos de faturamento, a participação cai para 3% (R$ 132,3 mil).Para a indústria, muitas vezes é mais barato fabricar as garrafas, potes e outros recipientes a partir da matéria-prima que reciclar. Do outro lado da cadeia, sem processamento, o vidro vale pouco nas mãos dos coletores de material reciclado. É essa realidade que a parceria tenta reverter. “O projeto vai agregar valor ao vidro comercializável. Vai ser possível colocar preço”, diz o coordenador da incubadora social da UFG, Fernando Bartholo.Foram investidos R$ 700 mil para aquisição de uma trituradora, desenvolvida em cooperação entre a UFG e a fabricante, uma balança rodoviária e locação do terreno – até que a sede definitiva, que fará parte do polo de inovação social, fique pronta. A balança é item importante: atualmente, as garrafas coletadas são pesadas pela empresa intermediária.Na Uniforte, os trabalhadores começam a aprender a agregar valor ao vidro. Ele tem de ser dividido conforme as cores: branco, âmbar e verde. “Estamos fazendo um treinamento entre nós mesmos”, explica a presidente da cooperativa, Dulce Helena do Vale. Ela acredita que, a partir da unidade de processamento, os catadores de recicláveis podem aumentar a renda – que é paga em diárias e que gira em torno de R$ 1,4 mil quando a pessoa trabalha todos os dias. “Hoje, o vidro tem volume, mas não tem preço”, afirma.Dulce diz que a Uniforte tem conversado com representantes de grandes geradores de vidro, como bares e restaurantes, para serem fornecedores. “Eles pagam para alguém recolher o vidro. Por que não pagar para as cooperativas? Ficam ambientalmente responsáveis e ainda fazem um marketing”, indica.-Imagem (1.2115114)