Um dos mais antigos espaços de lazer de Goiânia, o Parque Lago das Rosas, no Setor Oeste, é uma das áreas que está na mira da administração municipal para ser gerida pela iniciativa privada via concessão. Anúncio nesse sentido foi feito pelo prefeito Sandro Mabel (UB) no dia 19 de agosto, durante a reativação da fonte do Parque Sulivan Silvestre (Vaca Brava). A proposta, inspirada em iniciativas vigentes em outras grandes cidades brasileiras, passa por estudo técnico na Secretaria Municipal de Gestão de Negócios (Segen) e não há previsão para entrar em vigor. Antes disso, porém, o Lago das Rosas será revitalizado.&nbsp;

Enquanto não há definição sobre o modelo concessionado de gestão nas áreas de lazer da capital, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) executa os detalhes finais de um plano para revitalizar o Lago das Rosas. Promessa nesse sentido foi feita no final de março às dirigentes da Associação dos Moradores e Frequentadores do Lago das Rosas (Alagro) pelo titular da Segen, Flávio Rosa. Na ocasião, ele disse em vídeo que o parque seria revitalizado com uma verba de R$ 2,5 milhões, fruto de compensação ambiental definida em um termo de ajustamento de conduta (TAC) com construtoras.

Presidente da Amma, Zilma Percussor Campos Peixoto preferiu não antecipar detalhes do projeto, mas confirmou que ele está sendo finalizado. Em nota, o órgão ambiental responsável pelos parques de Goiânia, explicou que uma primeira vistoria foi realizada no parque para definir as necessidades prioritárias e os pontos que serão trabalhados. Presidente da Alagro, a médica Maria Helena Tavares Vilela também esteve em audiência com Zilma Peixoto. “Ouvimos dela que a revitalização não vai demorar e esperamos que seja assim, porque há muito a ser feito. Estamos em compasso de espera.”

<img attr-cid="policy:1.3309133" attr-version="policy:1.3309133:1757122988" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309133/Vida Urbana - lagorosas mulher.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Presidente da Alagro, Maria Helena Vilela, em frente ao castelinho: “Há muito a ser feito. Estamos à espera” (Wesley Costa / O Popular)

O Lago das Rosas abriga emblemas patrimoniais e históricos importantes para a cidade. Tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o trampolim encravado no lago central, e a mureta de 150 metros que cerca a parte frontal, trazem elementos em art déco, característica arquitetônica presente nas construções da Goiânia embrionária. Ambos precisam de cuidados. O POPULAR apurou que por diversas vezes, na gestão de Rogério Cruz, a Prefeitura de Goiânia foi comunicada pelo Iphan da necessidade de executar reparações, em especial na mureta, mas não foi atendido. O dinheiro da compensação ambiental, além de recuperar os bens tombados, também será empregado para melhorar as condições do parque.

“Em setembro de 2024, o Iphan emitiu um auto de infração em face da Prefeitura de Goiânia, garantindo os direitos constitucionais ao contraditório e à ampla defesa, assim como disponibilizou a opção de firmação de um termo de compromisso para realização das reparações no bem. No momento, o processo administrativo está em fase recursal”, informou, em nota, a coordenação-geral de comunicação institucional do Iphan. A Amma não comentou o fato, mas o titular da Segen, Flávio Rassi, ressaltou que os recursos dessa compensação ambiental serão utilizados pela atual gestão para resolver “um problema que é histórico”. Por serem bens tombados, a revitalização da mureta e do trampolim do Lago das Rosas precisa ser acompanhada por técnicos do Iphan.

O descuido com esses elementos históricos é visível. Em toda a extensão da antiga balaustrada do balneário da Goiânia de antigamente, plantas estão nascendo. Mesmo em meio à estiagem, o verde insiste em surgir nas colunas de concreto. O tráfego intenso na Avenida Anhanguera contribui para o processo de deterioração do bem em razão da vibração. Em alguns pontos da mureta, o revestimento está caindo. O mesmo ocorre com o trampolim que, ao lado da mureta, integra o acervo arquitetônico art déco da capital, um dos mais significativos do País.&nbsp;

<h2>Associação aponta problemas da área</h2>

Desde que surgiu em 2020, a Alagro passou a apontar os principais problemas do Parque Lago das Rosas, uma das áreas de lazer mais frequentadas de Goiânia por estar ligada ao Zoológico. Juntas, as duas áreas somam 315 mil metros quadrados (m²) e são cercadas por uma pista de caminhada bastante utilizada. “Na região há muitas pessoas idosas e as quedas são frequentes”, afirma a presidente da entidade, a médica Maria Helena Vilela. Revestida com pavers – blocos pré-fabricados de concreto que permitem a passagem da água de chuva –, a pista apresenta irregularidades, como falhas e afundamentos.

Por estar numa área de topografia mais baixa, em local onde nasce o Córrego Capim Puba, o Lago das Rosas costuma receber um imenso volume de água em dias de chuva forte. Os estragos são comuns e, historicamente, a recuperação não tem celeridade. Para a presidente da Alagro, a ausência de vigilância constante contribui para os frequentes atos de vandalismo, como pichações em placas informativas e no Castelinho, outra construção antológica do parque, além de danos em bancos, lixeiras e postes, prejudicando a iluminação. “Aqui é muito escuro”, reclama um vendedor ambulante que trabalha no parque há mais de dez anos.

<img attr-cid="policy:1.3309134" attr-version="policy:1.3309134:1757122988" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309134/Vida Urbana - lagorosas picha.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Pichações são frequentes em estruturas do parque (Wesley Costa / O Popular)

Para a presidente da Alagro, o parque deveria ser mais bem cuidado não somente por ser o mais antigo de Goiânia, mas pelo número de frequentadores. Muitos se beneficiam do transporte coletivo do Eixo Anhanguera, que fica ao lado. “As lixeiras são poucas e pequenas para receber o tanto de lixo produzido aos fins de semana. Também precisamos de banheiros”, afirma Maria Helena. De passagem pelo parque esta semana, a diarista Maria Sebastiana observava os pássaros e sacos de lixo dentro do lago. “Tinham dois homens limpando tudo aqui, mas nesta época o vento não perdoa, leva o lixo para longe e pode prejudicar as aves”, comentou.

<h2>Modelo de gestão está em estudo pela Segen</h2>

Flávio Rassi, à frente da Segen, disse ao POPULAR que sua equipe está debruçada no projeto que poderá garantir à iniciativa privada a gestão de alguns dos parques de Goiânia. “Estamos fazendo o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental, respeitando dois pilares: a não cobrança de ingresso e a melhoria do ponto de vista ambiental. O ente privado vai usar o espaço público de acordo com as normas estabelecidas. Acredito que todos vão sair ganhando.” O secretário cita o exemplo de estragos na pista de caminhada. “Para consertar, a gestão pública terá de fazer um processo licitatório. O gestor privado compra o pavimento e resolve o problema com rapidez.”

Somente após a conclusão do estudo de viabilidade técnica, a Segen vai propor um modelo de gestão. Flávio Rassi acredita que a administração municipal poderá usar a Lei nº 9.548, de 2015, que estabelece o Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas, evitando que a proposta tenha de ser apreciada pelos vereadores. “Ainda não sabemos como será, mas é certo que tudo será feito de forma compartilhada”, garantiu o titular da Segen. É o que espera a presidente da Alagro. “É uma ideia que precisa ser muito bem discutida, por isso sugerimos uma audiência pública. Pode funcionar bem, desde que observadas regras rígidas.”

<img attr-cid="policy:1.3309132" attr-version="policy:1.3309132:1757122987" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309132/Vida Urbana - lagorosas pedalinhos.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Pedalinhos também são marca registrada do espaço (Wesley Costa / O Popular)

Flávio Rassi antecipou que uma das ideias em discussão é de que o gestor privado interessado em uma área de grande viabilidade econômica assuma também um parque menos viável. “Temos a preocupação de cuidar também da região periférica. Os aparelhos de lazer público são mais relevantes para a população de baixa renda, temos de melhorar esses espaços para ela. Aqueles que vivem em regiões mais nobres têm mais opção de lazer. Toda a cidade precisa de cuidados e temos de olhar também para a periferia.” O prefeito Sandro Mabel espera que, ao explorar economicamente as áreas públicas, a iniciativa privada possa assumir os custos de manutenção.&nbsp;

No dia 19 de agosto, quando anunciou a possibilidade de conceder à iniciativa privada a gestão dos parques de Goiânia, Sandro Mabel “reinaugurava” a fonte do Parque Vaca Brava, ponto nobre do Setor Bueno. Mais tarde foi descoberto que o mecanismo pertencia ao Parque da Lagoa, no Setor Parque Industrial João Braz, região norte da capital. A Amma chegou a informar ao POPULAR que a fonte pertencia anteriormente ao Vaca Brava e que foi retirada indevidamente, mas não comprovou a informação. Flávio Rassi garantiu que o parque do bairro periférico terá sua fonte de volta funcionando.&nbsp;

<h2>Áreas em estudo para serem geridas pela iniciativa privada*</h2>

1 - Parque Flamboyant – Jardim Goiás

2 - Parque Beija-Flor – Setor Jaó

3 - Parque Boa Vista – Bairro Boa Vista (região noroeste)

4 - Parque Fonte Nova – Jardim Fonte Nova (região noroeste)

5 - Parque da Lagoa – Parque Industrial João Braz (região oeste)

6 - Parque Carmo Bernardes – entre os bairros Parque Atheneu e Jardim Mariliza&nbsp; (Região Sudeste)

7 - Parque Cascavel – Jardim Atlântico e região Macambira-Anicuns

8 - Parque Areião – entre os setores Marista, Pedro Ludovico e Bela Vista

9 - Parque Sulivan Silvestre (Vaca Brava) – Setor Bueno

10 - Jardim Botânico – entre os setores Pedro Ludovico e Jardim Santo Antônio

11 - Bosque dos Buritis – confluência do Centro e Setor Oeste

12 - Parque Bernardo Élis – entre os setores Celina Park e Novo Horizonte

13 - Parque Botafogo – divisa entre a Vila Nova e o Centro

* Segundo a Segen

<h2>Lugar é marco dos primórdios da capital</h2>

Entre os anos 1940 e início da década de 1960, o Lago das Rosas era um atraente ponto de lazer da capital. Era ali, entre o núcleo original de Goiânia e a então Campininha das Flores, em meio ao acúmulo de águas límpidas do Córrego Capim Puba e um jardim de rosas, que as moças se exibiam, que as crianças se refrescavam, que os encontros fortaleciam os laços amorosos e de amizade. Os dois marcos históricos – o trampolim e a mureta – que remetem àquele tempo começaram a ser construídos em 1940, sete anos após a fundação da nova capital, e foram entregues à população em 1942.

<img attr-cid="policy:1.3309135" attr-version="policy:1.3309135:1757122988" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309135/Vida Urbana - lagorosas mureta.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Falta de manutenção tira beleza da mureta do Lago das Rosas, com detalhes em art déco, como a flor de xixá (Wesley Costa / O Popular)

Nos primórdios de Goiânia, a área onde se encontram o Zoológico e o Lago das Rosas era coberta por densa vegetação, que protegia nascentes do Córrego Capim Puba. O terreno foi uma doação ao poder público feita pelo fazendeiro Urias Magalhães com o objetivo de criar um ponto de ligação entre a nova capital e Campinas, então uma cidade. Nasceu assim o balneário, que perdeu sua função original no começo dos anos de 1960. A garotada destemida se arriscava no trampolim e os acidentes eram frequentes. Após a proibição do uso do lago para banhos, o local se tornou ponto de contemplação, hoje Parque Lago das Rosas.

O trampolim e a mureta são exemplares característicos do estilo art déco. O primeiro possui frisos escalonados em seus contornos e corrimão em ferro fundido. Toda a estrutura é de concreto armado com ornamentos em formas geométricas. Já a mureta possui pilares com ornamentos em massa que apresentam um motivo floral, identificado como a flor do xixá (Sterculia striata), árvore presente na paisagem do Cerrado. Ao centro, se destacam os pontos cardeais e colaterais, numa referência à rosa dos ventos. Segundo Renata Barros, doutora em Engenharia Civil, ambos os elementos urbanos revelam “uma art déco genuinamente goianiense”. Ou seja, contribuíram para dar uma identidade própria ao estilo arquitetônico em Goiânia.

Zoológico

Anexo ao Parque Lago das Rosas, o Zoológico de Goiânia começou a tomar forma em 1937. Naquele ano, diretores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em visita à cidade que nascia, sugeriram a criação de um horto florestal. Inicialmente, o espaço foi ocupado por hortaliças que abasteciam hospitais, como a Santa Casa. Saturnino Maciel de Carvalho, que cuidava do local, conheceu em 1953 o ornitólogo húngaro José Hidasi, que já morava em Goiânia. Foi ele que doou os primeiros animais para o horto, onde já existia um aquário, um atrativo e tanto para os moradores da cidade na época, que logo souberam da novidade.&nbsp;

Há 69 anos, em 1956, o Zoológico de Goiânia foi oficialmente inaugurado. José Hidasi criou no interior dele o Museu de Ornitologia de Goiânia, em 1968, aplicando a técnica da taxidermia – empalhamento de animais mortos –, possibilitando a preservação da história da fauna local. José Hidasi morreu em 2021, aos 95 anos.

Parque Lago das Rosas aguarda reforma; passo seguinte é concessão

Cidades

Cidades - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Cidades

Urbanismo

VÍDEO: Incêndio em prédio

GALERIA: Incêndio em prédio na Cila dos Alpes

<div attr-cid="policy:1.3309051" attr-version="policy:1.3309051:1757115337" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3309051" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3309051', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3309051">VÍDEO: Incêndio em prédio (1.3309051)</a></div>

Um incêndio atingiu o 10º andar de um prédio na Vila dos Alpes, em Goiânia, no início da noite desta sexta-feira (5). O Corpo de Bombeiros evacuou o edifício e segue no combate às chamas. Quatro pessoas foram encaminhadas ao pronto-socorro por inalação de fumaça, mas não há registro de feridos graves.

Segundo o major Emerson Cristiano, do Corpo de Bombeiros, em entrevista ao POPULAR, o fogo começou em um apartamento do 10º andar, mas alastrou para o andar de cima. De acordo com ele, ainda não se sabe o que causou o incêndio. A área vai passar por perícia.&nbsp;

<div attr-cid="policy:1.3309074" attr-version="policy:1.3309074:1757118085" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3309074" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3309074', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3309074">GALERIA: Incêndio em prédio na Cila dos Alpes (1.3309074)</a></div>

O prédio foi evacuado, mas algumas pessoas chegaram a inalar fumaça do local, dentre elas idosos que moram no prédio.&nbsp;

<cite>A equipe teve um trabalho grande de evacuação do local. Algumas pessoas tiveram sintomas de intoxicação por inalação de fumaça, sendo encaminhadas ao pronto-socorro. Algumas outras pessoas foram atendidas ali pelos médicos da equipe”, afirmou o major.&nbsp;</cite>

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/incendio-fecha-acesso-para-visitantes-em-regi-o-de-cachoeiras-em-pirenopolis-1.3307208" target="_self">Incêndio fecha acesso para visitantes em região de cachoeiras em Pirenópolis</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/mais-de-10-mil-focos-de-incendio-s-o-registrados-em-goias-neste-ano-1.3307124" target="_self">Mais de 10 mil focos de incêndio são registrados em Goiás neste ano</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/incendio-destroi-espaco-de-eventos-no-setor-jao-video-1.3306855" target="_self">Incêndio destrói espaço de eventos no Setor Jaó; vídeo</a></div>

Moradores foram retirados às pressas e aguardaram de fora enquanto os bombeiros trabalhavam com o rescaldo da área. Segundo o major Cristiano, ainda não há uma previsão de retorno dos moradores aos seus apartamentos.&nbsp;&nbsp;

Até o momento, as chamas foram contidas e posteriormente técnicos da corporação devem iniciar uma perícia.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3309049" attr-version="policy:1.3309049:1757115582" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309049/WhatsApp Image 2025-09-05 at 20.14.00.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Incêndio em apartamento na Vila dos Alpes (Arquivo Pessoal / Marcos Souza)

Apartamento pega fogo em Goiânia; vídeo

VILA DOS ALPES

As rachaduras, manchas de infiltração e as tintas carcomidas pelo tempo revelam a atual situação da Igreja Museu de Arte Sacra da Boa Morte. O mesmo pode ser visto nas imagens de santos e outros símbolos católicos que carecem de restauro. Localizada no coração da cidade de Goiás, a igreja reúne o maior conjunto de peças do escultor Veiga Valle e é um dos principais espaços museológicos da antiga capital, tombada como Patrimônio Mundial pela Unesco.

A Igreja da Boa Morte pertence à Diocese de Goiás, mas encontra-se sob responsabilidade compartilhada com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do Governo Federal. A última reforma do prédio foi há 10 anos, quando ganhou uma nova pintura em sua fachada e interiores. Desde então, pequenos reparos foram feitos, mas o templo enfrenta problemas estruturais, como rachaduras, infiltrações, cupins, instalações elétricas precárias que comprometem sua conservação e segurança, segundo a própria Diocese.

“Enquanto proprietária do imóvel, a Diocese não dispõe de recursos financeiros para realizar um restauro de grande porte”, explica o bispo Dom Jeová Elias. De acordo com ele, existe uma intenção urgente de formar parcerias com o Governo do Estado, instituições federais, como Iphan e Ibram, entidades da sociedade civil e iniciativa privada para viabilizar um projeto de restauro completo. “Sem essas parcerias, é impossível arcar com os custos e a complexidade técnica que a restauração exige”, completa.

<img attr-cid="policy:1.3309038" attr-version="policy:1.3309038:1757114105" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309038/Magazine1.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Na fachada, é possível ver a tinta carcomida pelo tempo e problemas nas janelas (Fábio Lima/O Popular)

Mesmo com o caráter emergencial do restauro completo do prédio, o museu segue aberto à população. Na última quinta-feira (4), enquanto a reportagem estava no local, uma turma escolar fazia uma visita guiada pelas instalações da igreja. Atualmente, o museu dispõe de nove funcionários, entre limpeza, segurança e guias. É aberto de terça-feira a sábado, das 8 às 12 horas e 13 às 17 horas, e aos domingos e feriados das 8 às 12 horas.

“Entendemos que o espaço precisa de uma reforma completa em sua estrutura. O fato é que instituições como o Ibram passaram por mudanças ao longo dos últimos anos, principalmente no governo Temer e, depois, com Bolsonaro. Agora é que as políticas públicas para patrimônio e cultura estão sendo repensadas”, explica a educadora museal Ruth Vaz, do Instituto dos Museus. “O local reúne o maior número de obras de arte sacra de Goiás. É preciso uma atenção redobrada em seu acervo”, reflete.

<img attr-cid="policy:1.3309022" attr-version="policy:1.3309022:1757113507" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309022/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
A sineira está comprometida e não foi reformada no último restauro que o museu passou, em 2015 (Fábio Lima / O Popular)

Desde 1969 a igreja sedia o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, com uma exposição fixa que apresenta obras de santos e personagens católicos, como Jesus Cristo, além de artigos históricos, como a prataria e objetos para a celebração das missas. A maior parte expográfica se concentra na ‘nave’ da igreja, principal área da edificação. Por lá é possível ver santos faltando dedos das mãos, alguns com tintas carcomidas pelo tempo e outros com rachaduras. Na parte externa, a sineira também está comprometida.

“O museu vai muito além da parte de exposições. Há toda uma programação educativa e formativa. Fizemos, por exemplo, uma oficina sobre polimento de prataria, onde aplicamos um restauro no candelabro principal da igreja”, comenta Ruth. Algumas outras esculturas também foram restauradas, como a imagem de Santa Ana Mestra com a Virgem Maria, que está guardada sob um vidro. “O desejo é de que possamos criar uma nova expografia para o museu no próximo ano”, salienta a educadora.

Imbróglios

Em junho deste ano, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) notificou oficialmente o Ibram quanto à necessidade urgente de manutenção da Igreja da Boa Morte. Segundo Gilvane Felipe, superintendente de Goiás, apesar de ser um bem tombado, o museu não pertence ao Iphan. “Por ser um bem tombado, cabe ao Instituto sua fiscalização, assim sendo, cumprindo a atribuição legal que nos cabe, fizemos a notificamos no dia 6 de junho”, destaca.

A atenção redobrada aos bens históricos está em alerta desde o episódio da Igreja de São Francisco de Assis, em Salvador, quando um desabamento no teto causou a morte de uma turista e deixou cinco feridos. Para o empresário Marco Antonio Veiga, defensor do patrimônio vilaboense e autor de projetos como o do resgate do Palácio da Instrução, a reforma que o Museu da Boa Morte passou em 2015 foi superficial e custou R$ 500 mil.

“Não podemos esperar o pior, é preciso agir agora. Muito além da história que a Igreja da Boa Morte guarda, há todo um rico acervo de Veiga Valle que está ali e que pode sofrer sérios danos”, reflete o goiano. “Veiga Valle é meu tetravô, meus parentes, como avós, se casaram naquela igreja. Tem todo um valor afetivo embutido em suas paredes. A história é contada ali”, continua.

Em 2001, durante o processo de tombamento da cidade de Goiás como Patrimônio Mundial pela Unesco, Marco Antonio representou a antiga Vila Boa em Helsinque, capital da Finlândia. Em agosto, o empresário chegou a mandar uma denúncia formal para Marlova Johelhovith Noleto, representante da Unesco no Brasil. “Gostaria de solicitar oficialmente uma visita técnica da Unesco em Goiás e faço questão de acompanhá-los para mostrar cada ponto”, completa.

<img attr-cid="policy:1.3309040" attr-version="policy:1.3309040:1757114194" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309040/Magazine5.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
A ‘nave’ da igreja guarda exemplares únicos da arte sacra goiana (Fábio Lima/O Popular)

Relicário da memória

No Museu da Boa Morte, cada imagem, cada douramento e cada traço do barroco parecem sussurrar histórias de um tempo em que a fé se confundia com arte. Entre relíquias e altares, repousam esculturas que atravessaram séculos, como Sant’Ana ensinando a pequena Maria, oratórios minuciosos e paramentos bordados que ainda guardam o brilho das procissões. O espaço, mais que museu, é relicário: um lugar onde a memória espiritual se veste de beleza.

A igreja é um símbolo cultural e religioso fundamental para entender as dicotomias, culturalidades e modos de vida do Brasil Central a partir do século 18. Reconhecida como patrimônio federal tombado pelo Iphan desde 1950, ela integra o sítio histórico da cidade de Goiás, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO. Seu acervo sacro, que inclui peças raras e obras de Veiga Valle, é testemunho da riqueza artística e da história colonial goiana. Além disso, a igreja é parte vital da identidade da comunidade, abrigando tradições como a Procissão do Fogaréu.

O acervo do Museu da Boa Morte revela não apenas a riqueza estética do barroco e do rococó, mas também a devoção cotidiana de gerações. São imagens talhadas em madeira, cuidadosamente policromadas, que retratam santos, anjos e cenas bíblicas; cálices e custódias de uso litúrgico; além de paramentos bordados à mão que preservam a delicadeza do trabalho artesanal religioso. “Cada peça, em sua singularidade, compõe um mosaico da espiritualidade goiana, testemunhando a íntima relação entre arte, fé e memória”, reflete a educadora museal Ruth Vaz.

O museu também é o espaço detentor das obras de Veiga Valle, um dos grandes nomes da escultura sacra brasileira. “Suas peças em madeira, cheias de detalhes delicados e expressões marcantes, revelam a devoção e o talento que marcaram sua trajetória no século 19”, reflete Marco Antonio Veiga. Caminhar pelo museu é como viajar no tempo: cada imagem transmite a força da religiosidade da época e mostra porque o escultor se tornou um símbolo da arte e da cultura goiana.

“Reconhecemos que houve polêmicas recentes envolvendo o governo estadual, o Iphan e o Ibram sobre a responsabilidade pelo restauro”, sinaliza o bispo Dom Jeová Elias. “A Diocese acredita que a diplomacia e a colaboração são essenciais para superar impasses. Inspirados pelo apelo do Papa Francisco à ‘diplomacia da esperança’, defendemos que o diálogo respeitoso e construtivo com todos os atores – incluindo aqueles com visões diferentes – é o caminho para dissipar conflitos e alcançar soluções práticas”, completa o sacerdote.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3309042" attr-version="policy:1.3309042:1757114277" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3309042/Magazine2.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
As rachaduras aparentes se destacam na edificação histórica ()

Igreja Museu da Boa Morte sofre com rachaduras, infiltrações e ameaça ao acervo histórico

Magazine

Magazine - título

Matéria - Magazine

Santos que choram

Ele está ali, só não dá para ver. Escondido atrás de outdoors e propagandas, o art déco de Goiânia está expresso muito além dos prédios públicos tombados em nível nacional. Nas fachadas de predinhos comerciais de avenidas como Anhanguera e Araguaia, e em residências que mês a mês são derrubadas no Centro da cidade, o patrimônio resiste ao descaso e ao tempo.

Em comemoração ao centenário do art déco no mundo, o POPULAR encerra nesta edição a série especial sobre as influências do movimento arquitetônico em Goiânia. Projetada nos anos 1930, a cidade incorporou o estilo em suas construções públicas e privadas, tornando-se uma das cidades brasileiras com maior número de obras nessa linguagem.

Para a última reportagem da série, as perguntas que se fazem são: qual a realidade das políticas públicas para o patrimônio? Como fazer com que o art déco escondido sob outdoors possa ser descoberto e reverenciado? Como estará o art déco de Goiânia daqui a 100 anos? Para a arquiteta e urbanista Beatriz Otto de Santana, técnica do Iphan, a constituição de um Fundo Municipal de Preservação é um dos primeiros passos para a preservação.

“O Fundo pode garantir a previsão orçamentária para que o município possa atuar no combate ao processo especulativo na região”, explica Beatriz. “O mecanismo também atua para conceder linhas de crédito facilitadas para a execução das obras e serviços de restauro, readequações de uso, limpeza visual das fachadas e requalificação dos espaços urbanos”, completa.

Já a limpeza visual das fachadas, segundo Beatriz, implica em duas frentes de ação: a aplicação da lei de engenhos publicitários do município e o embutimento da fiação aérea. “Já existem estudos para grande parte desses edifícios, por meio da remoção dos engenhos existentes e adoção de novos elementos com dimensões, materiais e cores adequadas. Outros estudos podem ser realizados e ampliados, considerando, por exemplo, parcerias com os cursos de arquitetura. O Fundo poderia viabilizar a execução”, salienta a arquiteta.

<img attr-cid="policy:1.3308993" attr-version="policy:1.3308993:1757110011" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3308993/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Basta olhar com atenção no Centro para perceber detalhes art déco nas fachadas (Diomício Gomes / O Popular)

&nbsp;

O centenário do movimento déco no mundo ajuda a discutir a preservação do patrimônio - e vem em boa hora. Para o guia de turismo Gutto Lemes, diretor do Goiânia Art Déco Festival, é necessário uma mobilização coletiva. “Comemorar os 100 anos do art déco em Goiânia é mais que eventos e celebração. A data pede reflexão e preocupação com a conservação e precariedade do acervo patrimonial e do centro histórico, o que reflete na economia, turismo, cultura e educação, despertando na população maior pertencimento e valorização da sua verdadeira identidade”, reitera.

Série especial&nbsp;

Nos últimos dois meses, a reportagem do POPULAR investigou a atual situação do patrimônio art déco de Goiânia. Foram diversos pesquisadores, arquitetos e urbanistas, defensores do patrimônio, escritores e museólogos que integraram o time de análises relacionadas aos bens públicos tombados no acervo da capital.

Muito se viu ao longo da série. Enquanto edificações passam por restauros completos, como o Lyceu de Goiânia e o Museu Zoroastro Artiaga, ambos sob administração do Estado, outros estão em situação de abandono, caso do antigo Palace Hotel, em Campinas, que é da Prefeitura de Goiânia, e do Grande Hotel, pertencente ao INSS. Alguns aguardam projetos de reforma e ocupação, como é o caso da mureta e do trampolim do Lago das Rosas.

Muito do que foi falado e apresentado ao longo da série faz conexões com o passado de Goiânia, cidade construída sob conceitos modernos como a ‘capital do futuro’. A história de Goiânia está expressa em seu centro histórico, que tem ganhado cada vez mais pauta a respeito de uma ocupação criativa, cultural e de lazer. Pensar o passado da nem tão ‘nova capital de Goiás, &nbsp;é o mesmo que reverberar o seu futuro rumo aos &nbsp;100 anos.

Centenário do art déco reacende debate sobre preservação e futuro do patrimônio em Goiânia

Especial

<img attr-cid="policy:1.3308891" attr-version="policy:1.3308891:1757098195" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3308891/pexels-mikhail-nilov-8730998.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
(Pexels)

<h2>1) Realizamos uma escritura de compra e venda e, antes de registrá-la, desistimos da negociação. Podemos cancelá-la?</h2>

Sim. Se vocês realizaram uma escritura de compra e venda, mas o negócio não chegou a ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, é possível desfazê-lo. Para isso, as partes devem comparecer ao cartório e assinar uma escritura pública de distrato, que formaliza o cancelamento do negócio, conforme artigo 472 do Código Civil de 2002.

<h2>2) Doei um imóvel à minha filha e assinamos a escritura pública de doação. Porém, agora, em comum acordo, podemos desfazer essa doação?</h2>

Não. A doação não pode ser desfeita por simples acordo entre as partes. A lei permite a revogação da doação apenas em hipóteses específicas, conforme artigo 555 do Código Civil de 2002. Nessas situações, o doador precisa ingressar com ação judicial para obter a revogação. A assinatura da escritura já formaliza a aceitação da liberalidade.

<h2>3) Fiz um testamento, mas agora não quero deixar a herança para as pessoas que indiquei no instrumento. Posso alterá-lo?</h2>

Sim. Você pode modificar ou revogar seu testamento a qualquer momento, desde que esteja em plena capacidade de suas faculdades mentais. Para isso, é necessário comparecer novamente ao cartório e lavrar um novo testamento ou uma escritura de revogação de testamento, conforme os artigos 1.969 e 1.970 do Código Civil de 2002.

<h2>4) Passei uma procuração em cartório, mas agora não quero mais que a pessoa me represente. O que posso fazer?</h2>

Você, como outorgante, pode revogar a procuração a qualquer momento. Para isso, basta comparecer a um cartório e lavrar uma escritura pública de revogação de procuração.

<h2>5) Fui escolhido para ser procurador de alguém e não quero mais ter essa responsabilidade. Posso fazer algo no cartório?</h2>

Sim. O procurador pode renunciar aos poderes que lhe foram concedidos por meio de escritura pública. Contudo, é obrigatório comunicar o outorgante de que não mais o representa, conforme artigo 688 do Código Civil de 2002. 
&nbsp;

<h3>CARTÓRIO DO PRADO</h3>

Rua Geraldo Nery esq. com 24 de Outubro, n. 156 St. Campinas 
Goiânia – Go 
(62) 3233-0055 
Facebook: <a href="https://www.facebook.com/cartorioantoniodopradooficial" target="_blank">/cartorioantoniodopradooficial</a> 
Instagram: <a href="https://www.instagram.com/cartorioantoniodoprado/" target="_blank">@cartorioantoniodoprado</a> 
<a href="http://www.cartorioantoniodoprado.com.br/" target="_blank">www.cartorioantoniodoprado.com.br</a>