O líder da Igreja Tabernáculo da Fé, uma das mais tradicionais de Goiânia, está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e pela Polícia Civil após denúncias de assédio e importunação sexual. Conforme os relatos, o pastor Joaquim Gonçalves Silva, de 85 anos, teria assediado mulheres em momentos de fragilidade e teria praticado o crime reiteradas vezes ao longo das últimas décadas. Uma adolescente de 17 anos está entre as denunciantes. A defesa do pastor nega os crimes e diz que as denúncias são parte de um complô para retirá-lo do comando da igreja.Uma das denunciantes, que não quis se identificar, relatou ao POPULAR que o crime ocorreu em 2015, quando, aos 31 anos, vivia um momento difícil após a morte de um irmão e o término de um relacionamento. Deprimida, ela resolveu buscar refúgio junto ao líder do templo que sempre frequentou, localizada no bairro Ipiranga, na Capital. “Eu era da igreja desde criança. Nunca fui a outra igreja e o enxergava como meu pai na fé e como meu pai carnal, porque não tive pai”, conta. “Eu pensei: ‘quem era melhor que ele para me dar conselho?’” A mulher afirma que foi ao escritório do pastor, na igreja, onde conversaram sozinhos. “Ele deu bons conselhos. Quando terminou, eu ainda estava chorando, e ele falou que ia me dar um abraço. Não vi maldade, porque, olhando na cara dele, você nunca vai imaginar uma coisa dessas”, diz. De acordo a denunciante, o abraço do pastor foi apertado, fora do normal. “Não era paternal”, afirma. Em seguida, Joaquim teria começado a beijar seu rosto, e só não beijou sua boca porque ela se esquivou. O pastor teria, então, passado as mãos por seus braços e seios. “Saí de lá pior que entrei”, relata a mulher.Novas tentativasA mulher afirma que, após o ocorrido, se convenceu de que o assédio teria sido uma invenção de sua cabeça. “Eu falei que era imaginação minha, um pesadelo, e não contei para ninguém”, afirma. A situação, porém, voltaria a acontecer.Satisfeita com os conselhos do pastor e não convencida da maldade dos atos dele, ela voltou à igreja dois meses depois para agradecê-lo. “Dessa vez, ele nem pediu minha permissão. Ele levantou, me abraçou e começou a beijar meu rosto do mesmo jeito. Passar a mão em mim do mesmo jeito. Aí eu vi que aconteceu mesmo, não era coisa da minha cabeça”, ressalta.Mesmo assim, ela optou por manter o silêncio. “Se eu falasse, ninguém acreditaria. Seria tida como doida, como alguém que quer destruir a igreja”, comenta. A coragem de se manifestar começou a surgir há cerca de dois anos, quando uma amiga contou ter passado por situação semelhante com o mesmo pastor. Meses depois, soube de outro caso. “Aí eu vi que não estava sozinha, que agora podia falar”, diz. As mulheres então resolveram denuncia-lo. “Cada uma achava que só tinha acontecido com ela, mas agora não era só mais uma pessoa sozinha, e foram aparecendo outras”, conta a denunciante.Outras denúnciasOutros relatos trazem teor semelhante. Em geral, as vítimas eram assediadas em momentos de fragilidade, quando procuravam o pastor por amparo. Uma mulher, que também não quer se identificar, fala da devoção que tinha ao pastor. “Desde que eu nasci, eu ouvia que Joaquim Gonçalves Silva era o líder nacional [da igreja]. Então eu tinha um amor muito grande, um apreço”, afirma. “Trabalhamos a vida toda ali, ao lado dele, em prol do ministério dele”, frisa.Ela diz que foi assediada pelo pastor há cerca de três anos, aos 35 anos de idade. “Eu passei por um divórcio e fui me aconselhar com ele. Foi quando aconteceu. Ele disse que eu era linda, bonita, falava do meu cabelo. Pediu para passar a mão no meu cabelo e eu confiava muito nele. Não sabia que um senhor daquela idade tinha essas manias”, conta. “Mas não ficou só nisso. Depois ele passou a mão nas minhas costas, nos meus seios.” De acordo com a denunciante, aquele foi o pior acontecimento de sua vida. “A minha fé foi abalada”, afirma.Outra possível vítima comenta que se sentia constrangida de denunciar o caso. “Ele nunca foi agressivo. Sempre vinha com jeitinho, às vezes dava presente, e a gente esquecia o que estava acontecendo. Dava dinheiro, ajudava em casa, aí a gente cala. Mas ‘calou, consentiu’? Não. É que era a pessoa dele. Ele era mais que um pai. Achava que era só comigo, uma fraqueza. Mas soube de mais casos e vi que não era só eu”, diz.A mulher afirma ter conhecimento de outras vítimas, que não pretendem se manifestar sobre os abusos. “Uma delas tem filhos, é casada, e não quer que saibam disso. Tem vergonha. Outra, se sente culpada e chora dia e noite”, destaca. “São várias.”AdolescenteOs casos relatados, por terem ocorrido há mais de seis meses, prescreveram. A denúncia de uma adolescente, porém, está sendo investigada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). O crime contra ela teria ocorrido no início deste ano.O delegado responsável pelo caso, Wesley Silva, informou que a investigação corre em sigilo. Ainda assim, diz que vai se inteirar sobre as demais denúncias – mesmo com os crimes já prescritos - para averiguar se o modus operandi relatado seria o mesmo. O pastor também é investigado pelo MP-GO. O órgão, no entanto, declarou que não vai se manifestar no momento.Defesa negaEm uma nota pública, a defesa de Joaquim afirma que “as acusações de assédio noticiadas contra ele são falsas e mentirosas”. “A campanha injuriosa, difamatória e caluniosa engendrada por um pequeníssimo grupo de pessoas, formado de homens e mulheres, tem por finalidade a tomada da liderança da Igreja Evangélica Cristã - Tabernáculo da Fé -, a qual ele foi fundador e lidera com vigor no auge dos seus 85 anos, sempre na retidão, com conduta moral reconhecidamente ilibada, pública e notória”, diz o texto, assinado pelos advogados Leandro Silva e Osemar Nazareno.Segundo a nota, o pastor tomará providências na Justiça contra o grupo de denunciantes.