O aumento de casos de doenças como malária e leishmaniose em Goiás está relacionado com a redução da vegetação de Cerrado nas cidades, conforme um estudo publicado neste mês na Revista Brasileira de Geografia Física. O artigo intitulado “O desmatamento, o uso do solo do Cerrado e a incidência de leishmaniose visceral, malária e febre amarela no Estado de Goiás” demonstrou uma correlação entre a quantidade de notificações de pessoas infectadas com o aumento da área urbana dos municípios ou troca da vegetação nativa por agropecuária ou mineração ao analisar o período de 1985 a 2020.O estudo se baseou em dados de distribuições dos casos notificados de leishmaniose visceral, malária e febre amarela do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), entre 2007 e 2020, que era o mais atual disponível. Para a análise da cobertura do solo, as informações foram adquiridas por meio do MapBiomas versão 5.0 entre os anos de 1985 e 2020. Assim, criou-se um banco de dados com os casos notificados em relação ao seu local de notificação, conforme os limites municipais e estaduais.Leia também:- Saúde prevê aumento de casos de Covid em Goiás em 2023- Falta de remédios para HIV em Goiás preocupaCom isso, os pesquisadores utilizaram um modelo matemático para confirmar a significância estatística de correlação entre os dois levantamentos, ou seja, a relação entre a distribuição dos casos das doenças com a mudança do uso do solo nativo. Essa comparação mostrou que a região metropolitana de Goiânia é a que mais possui casos de doenças vetoriais desde 2007, somando 833 notificações, seguida da região do Entorno do Distrito Federal (DF), como Luziânia e Águas Lindas de Goiás, com 282, e a Região Norte, com Porangatu e Uruaçu, com 146.A compreensão dos estudiosos é que há maior concentração dos casos notificados nas regiões Central e Norte do Estado. Em complemento a isso, “notou-se que o aumento dos casos de malária ia de encontro com a redução do uso do solo de savana”, na análise do período de 1985 a 2020, de acordo com a pesquisa, que confirmou ainda que com o aumento da estrutura urbana houve maior quantitativo de casos da doença. A situação foi semelhante com relação à leishmaniose, com aumento dos casos quando há maior redução do solo de Cerrado e incremento de espaços urbanizados. Já quanto à febre amarela, a análise dos casos e de usos dos solos não notou significância estatística.Segundo a mestranda em Geografia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Brunna Rocha Adorno, que realizou o estudo, é possível estabelecer que quando perde a vegetação nativa do Cerrado e aumenta as áreas urbanas, aumenta a incidência da leishmaniose e da malária. “Os dados que temos são quantitativos, referentes ao aumento ou diminuição ao longo dos anos. Graficamente não geramos quanto foi perdido e sua relação com os casos, mas isso também é calculável”, garante.Mais populosasUm ponto importante a ser salientado é que as regiões com maior incidência das doenças vetoriais são também as mais populosas, o que pode confirmar a situação de ter mais casos. Mas isso não impede que ocorra também pela redução da cobertura vegetal, com a retirada de abrigos naturais dos hospedeiros das doenças. De acordo com Brunna, são fatores indissociáveis na análise e estudo do meio. “Os diferentes usos do solo indicam o direcionamento que se tem dado para aquele local, que pode ter um grande aporte populacional ou não a depender do uso do solo, como o uso do solo urbano por exemplo que tende a ter maiores quantidades de pessoas”, explica.A pesquisadora complementa que, sobre a malária, o aumento de casos em municípios com mais uso de solo para mineração “pode estar relacionado a introdução de um hospedeiro acidental que ao adentrar áreas de mata, antes ocupado pelos vetores, e reservatórios silvestres, promove as condições ideais para o crescimento populacional desses vetores e de propagação do agente etiológico”. Outra opção é que as atividades desempenhadas por carvoarias, por exemplo, causam impactado ambiental que favorece a migração vetorial.Sobre a leishmaniose, Brunna reitera que “os municípios que voltam-se para a atividade agrícola e pecuária acabam por modificar o ambiente, propiciando a migração vetorial, como por exemplo para a área urbana, em busca de condições favoráveis, como maior quantitativo populacional de hospedeiros e maior oferta de áreas úmidas e sombreadas”.-Imagem (1.2584756)