Quem é morador da Região Metropolitana de Goiânia tem notado uma maior presença de periquitos, papagaios e araras nos céus e parques das cidades. E não é apenas impressão: especialistas ouvidos pelo POPULAR confirmam que membros da família dos psitacídeos estão sendo observados em maior número há algum tempo. Os motivos e consequências ainda não são precisos, mas algumas pistas indicam respostas.Atraídos por árvores frutíferas, os grupos de pássaros se misturam no ambiente urbano. No canteiro central da Avenida Goiás, no centro de Goiânia, os coqueiros ganham sons de diversas entonações. As populares maritacas dividem espaços com espécies da mesma família – desde os menores, como os periquitos-verdes, até a arara-canindé, maior e mais imponente.Entretanto, o convívio das espécies em área urbana causa dúvidas, já que a presença na cidade pode oferecer riscos aos animais. Dados da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia (Amma) mostram que as ocorrências de resgate aos psitacídeos na capital estão aumentando nos últimos anos. Em 2017 foram 276 notificações, passando para 373 em 2018, outros 416 em 2019 e o número chegou a 484 neste ano. Possíveis motivos Entre os especialistas que observam o aumento estão os professores Arthur Bispo e Carlos Bianchi, do Laboratório de Etnobiologia e Biodiversidade da Universidade Federal de Goiás (UFG). Os professores afirmam que tanto os pesquisadores como observadores independentes estão relatando o possível aumento.Algumas espécies se adaptam com certa facilidade ao ambiente urbano, mesmo sendo diferente das áreas naturais, se houver algum atrativo, tipo de alimento e abrigo. Consequentemente há um aumento das populações nessas áreas, explicam os professores.Os especialistas, no entanto, dizem que é necessário observar a dinâmica da biodiversidade. Nessa consideração os professores afirmam que o aumento ou redução das populações variam conforme mudanças. “Aquilo que às vezes interpretamos como um aumento muitas vezes pode ser apenas uma maior percepção dessas espécies por estarem mais ativas”, ponderam.Riscos e alertas Há, porém, indicativos negativos. Para Luciana Batalha, que é professora do curso de Veterinária da UFG, além das áreas verdes das cidades, outros elementos estão ligados ao aumento da população das aves em área urbana. “O crescimento acelerado de condomínios de chácaras, perto de represas ou em locais isolados avança em espaços de ocupação de animais silvestres”, aponta a professora.Para Luciana Batalha há um risco oculto no caso de as aves estarem se aglomerando nas cidades. A preocupação de Batalha é sobre o enfraquecimento genético dos animais. Ela explica que, por estarem mais próximas, as aves acabam cruzando entre famílias, significando menor resistência às doenças. “A cidade é feita para seres humanos, os animais acabam vindo por déficit de moradias nas regiões periféricas e de Cerrado aberto”, afirmou Luciana.Sobre o risco de haver uma superpopulação das aves, os professores Arthur Bispo e Carlos Bianchi dizem que é necessário que haja uma análise mais aprofundada. Para saber se alguma espécie está em desequilíbrio, é preciso fazer uma estimativa inicial seguida de acompanhamento ao longo do tempo. O mais comum é que haja flutuação das populações, o que depende dos recursos existentes no ambiente, explicaram os especialistas.(Luiz Phillipe Araújo é estagiário do GJC em convênio com a UFG)-Imagem (1.2150404)-Imagem (1.2150402)-Imagem (1.2150399)-Imagem (1.2150406)-Imagem (1.2150403)-Imagem (1.2150401)-Imagem (1.2150398)