Pesquisadora da UFG estuda 'bolha' que pode dar mais segurança a médicos
Estudo sobre o uso de espécie de câmara é coordenado por doutora em Química. Estrutura possibilita processo menos invasivo para a ventilação em vítimas da Covid-19
Catherine Moraes

Maria Carolina Di Medeiros da UFG faz pesquisa sobre bolha protetora (Arquivo pessoal)
Uma bolha que funciona como isolamento para pacientes de Covid-19 e é capaz de diminuir o número de intubações, bem como a necessidade de respiradores mecânicos e, ao mesmo tempo, precisa garantir segurança aos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus (Sars-CoV-2). Esta é a linha de uma pesquisa que conta com a coordenação da doutora em Química pela Universidade Federal de Goiás (UFG) Maria Carolina Di Medeiros e do médico oncologista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Cláudio Quadros.
O estudo gira em torno de um sistema de isolamento plástico que é acoplado a uma bomba de aspiração com filtragem de partículas. O interior do sistema que fica com pressão negativa, impede a disseminação do vírus por meio da aerossolização.
O sistema de isolamento já está sendo comercializado. O projeto foi desenvolvido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) nos departamentos de Química e Fisioterapia, com apoio da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos e da empresa Bhiosupply. O protótipo final da bolha foi desenhado e confeccionado pela equipe de engenharia da empresa e simulações realizadas em ambiente hospitalar. Por fim, uma nota técnica foi encaminha à indústria, que está produzindo o material e conduzindo os trâmites junto aos órgãos reguladores. Um artigo foi escrito e submetido a uma revista internacional de medicina. Agora, o grupo de pesquisadores aguarda o resultado da submissão.
Maria Carolina participa do estudo analisando a eficácia do isolamento por meio de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), área em que se especializou no doutorado. Ela explica que pacientes que testam positivo para a Covid-19 e que evoluem para casos mais graves da doença, apresentam hipoxemia, que são os baixos níveis de saturação de oxigênio no sangue. Nestes casos, geralmente ocorre a intubação com a necessidade de respiradores mecânicos que, além de contarem com preços elevados, estão em falta no mercado mundial.
"Em muitos casos, a ventilação não invasiva seria indicada, no entanto não pode ser administrada em função do alto risco de contaminação que ela provoca, uma vez que a expiração do paciente fluiria pra o ambiente. Este é um dos motivos que levam a equipe médica a realizar o que chamamos de intubação orotraqueal precoce. Existem vários trabalhos ao redor do mundo, propondo sistemas de isolamento, que, aliás, não são inovadores. Não estamos reinventando a roda, estamos colocando-a pra rodar. A diferença é que estamos fazendo isso dentro do rigor científico", completa a pesquisadora.
A doutora afirma que, muitos pacientes acometidos por síndromes respiratórias agudas como na epidemia da Sars de 2003 e da H1N1 de 2009 e que receberam ventilação não invasiva apresentaram menor tempo de internação e taxas inferiores de mortalidade. Apesar disso, aponta que o maior problema na prática deste tipo de isolamento está relacionado à confiança dos profissionais que não podem diminuir os cuidados. "Caso ele falhe, isso potencializa o contágio muito mais do que se o paciente não estivesse isolado, porque a falsa sensação de segurança diminui a vigilância".<
O grupo coordenado por Maria Carolina Di Medeiros e Cláudio Quadros é composto por outros seis pesquisadores do departamento de Fisioterapia da UFSCar e do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac).
Cláudio Quadros, que também coordena o estudo, explica que a ventilação não invasiva poderia ser a opção para alguns pacientes, mas não está sendo indicada devido ao risco de contaminação com o aerossol. "É neste aerossol, formado na expiração, que o vírus se encontra. É este o principal mecanismo de contágio de doenças virais da natureza que é a Covid-19", completa Maria Carolina.
O professor da Uneb acredita que a intubação não invasiva é melhor para os pacientes e para o sistema de Saúde. "Demanda menos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), menos ventiladores mecânicos e é mais barato porque manter uma pessoa em ventilação mecânica na UTI é muito caro", explica Quadros.
Testes
A ideia inicial partiu do professor Cláudio Quadros, que acionou o professor e doutor do curso de Medicina do Uniceplac, Carlos Almeida Baptista. O primeiro contato foi em 19 de abril e ele falou que gostaria de criar um sistema de isolamento com o apoio da Bhiosupply. No dia seguinte, Carlos solicitou apoio de Maria Carolina e ela compartilhou suas ideias com o Doutor Antonio Gilberto Ferreira, do departamento de Química UFSCar.
Para realizar os testes e avaliar a eficácia do sistema, uma solução de cafeína foi aplicada na forma de aerossol dentro da bolha. Os pesquisadores colocaram sensores com capacidade de absorver as moléculas, para o caso de escaparem da bolha. Os discos foram analisados por "espectroscopia de ressonância magnética nuclear", uma técnica capaz de observar a presença das moléculas a um limite de 1 ppm (partes por milhão).
"A técnica é capaz de detectar traços da cafeína caso ela escapasse, com uma excelente margem de confiança para este experimento. Os resultados foram muito favoráveis e não encontramos vazamentos, mesmo em pontos de frágeis do sistema, que são as entradas e saídas de tubos e fios de monitoramento do paciente.", finaliza a doutora em Química.
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