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PM que moveu corpo em conflito simulado no Jaó não foi preso

Policial do serviço de inteligência estava na ação policial que resultou na morte de dois homens. O nome dele não aparece no registro da ocorrência e a corporação não o informou após pedido do POPULAR. Os outros quatro envolvidos foram detidos sábado

Promotores alegaram que o Código de Processo Penal Militar contraria a Constituição Federal quando classifica homicídios praticados por PMs contra civis como crimes militares.

Promotores alegaram que o Código de Processo Penal Militar contraria a Constituição Federal quando classifica homicídios praticados por PMs contra civis como crimes militares. (Wildes Barbosa/O Popular)

Quatro policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) envolvidos no confronto simulado que resultou em duas mortes no Setor Jaó, em Goiânia, na última segunda-feira (1º), foram presos seis dias após o caso. O quinto policial afastado das funções após ser filmado na ação, que é do serviço de inteligência (PM2), não teve o nome citado no boletim de ocorrência e também não foi detido na ocasião.

Os mandados foram cumpridos na manhã do último sábado (6), pela Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), em ação conjunta com a Corregedoria de Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO). Dentre os presos na manhã do último sábado (6), estão o tenente Wandson Reis dos Santos, os dois sargentos Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira e Wellington Soares Monteiro, e o soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva.

Os três primeiros foram responsáveis pelos 18 disparos que mataram Junio José Aquino Leite, de 40 anos, e Marines Pereira Gonçalves, de 47. Os militares alegaram que houve confronto. Entretanto, imagens registradas pelo aparelho celular de Junio mostram que as duas vítimas não portavam armas e nem tampouco apresentaram reação. Dois policiais também foram filmados implantando armas no local da abordagem.

Dentre os mandados de prisão, dois foram cumpridos em Goiânia, um em Senador Canedo e outro em Anicuns. A informação foi divulgada pela TV Anhanguera no dia da ação conduzida pela DIH. Após a prisão, todos prestaram depoimento. O inquérito conduzido pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) corre sob sigilo. Por isso, nenhuma informação sobre o caso foi divulgada pela corporação até o momento.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) disse, em nota, que os quatro policiais presos foram levados ao Presídio Militar, "onde permanecerão à disposição da Justiça". O POPULAR questionou à pasta se o quinto envolvido na abordagem também deve ser preso, e qual a identidade dele. Descaracterizado, o militar também foi afastado das funções após ser filmado na abordagem. Ele faz parte do serviço de inteligência (PM2).

Na gravação da ação policial feita no celular de Junio, o quinto policial foi visto movendo um dos corpos já baleados. Não é possível dizer se era o de Marines, que estava como motorista e foi morto dentro do carro, ou se foi o de Junio. Este último foi alvejado do lado de fora do veículo. Ao ser atingido, o aparelho celular dele caiu no chão, com a câmera voltada para cima, e registrou toda a abordagem.

Após atirarem contra Junio e Marines, dois militares foram filmados manuseando uma pistola e um revólver, e atirando duas vezes cada. Em seguida, os armamentos foram colocados na cena do confronto simulado e apreendidos junto às vítimas. Após todo o tiroteio, o policial do serviço de inteligência aparece na filmagem.

No registro de atendimento integrado (RAI) consta o nome dos quatro envolvidos, os quais foram presos. Todos estavam fardados no momento da ação. O quinto militar não tem o nome divulgado no RAI, nem tampouco pela PM-GO. O POPULAR cobrou à corporação a identidade do quinto policial na última quarta-feira (3), após a mesma informar que cinco militares foram afastados, e voltou a solicitar na última sexta-feira (5). Não houve resposta.

Conforme o boletim de ocorrência feito pelos próprios policiais, foram efetuados nove disparos de carabina calibre 5.56 pelo sargento Wellington Soares Monteiro. Outros sete tiros foram do tenente Wandson Reis dos Santos, com fuzil calibre 7.62. O armamento é o mesmo do sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, que efetuou dois disparos. O soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva foi o único que não atirou contra os homens.

O POPULAR apurou que também foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão. Os endereços, entretanto, não foram mencionados. Até o fechamento desta matéria, a reportagem também não conseguiu localizar a defesa dos policiais militares presos.

Mortos estiveram no COD antes

No registro de atendimento integrado (RAI) feito logo após a abordagem, na última segunda-feira (1º), no Setor Jaó, em Goiânia, os policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) relataram que procuravam três indivíduos que estavam se passando por policiais civis para cumprir um falso mandado de prisão contra um outro homem, no intuito de sequestrá-lo para que ele pagasse uma dívida.

Ainda conforme a versão oficial, os três teriam ido atrás do outro homem em uma fazenda em Petrolina. No entanto, como não o encontraram, teriam mantido em cárcere privado outras pessoas que estavam na residência para extorqui-las. Em patrulhamento, a equipe do COD teria, então, avistado um carro semelhante ao informado pela suposta vítima e tentado uma abordagem. Teria sido neste momento que se iniciou o confronto.

O boletim aponta ainda que Junio José Aquino Leite, de 40 anos, morreu ainda no local. Já Marines Pereira Gonçalves, de 47, teria sido levado a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), e teve óbito registrado na unidade.

O POPULAR mostrou no último sábado (6) que Junio e Marines estiveram na sede do COD, localizada a cerca de 1,5 quilômetro de distância do local onde ocorreu o confronto simulado. Junio atuava como informante de policiais militares e teria ido naquele dia falar com um policial do serviço de inteligência (PM2), que seria o mesmo filmado movendo um dos corpos das vítimas ao lado do veículo.

A informação repassada naquele dia pelo advogado que representa as famílias de Junio e Marines, Walisson Reis, foi registrada por um sistema no celular de Junio, que era acompanhado por um familiar. Conforme o advogado, Junio já imaginava que poderia ser morto. Após o encontro no COD, o homem e o PM2 teriam marcado de se encontrar em outro local. A abordagem ocorreu em frente ao Centro de Treinamento (CT) do Vila Nova Futebol Clube, onde os dois homens foram mortos.

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Morte de dupla por PMs no Setor Jaó tem nova denúncia

Os policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) acusados de matar dois homens em uma emboscada são alvos de nova denúncia do Ministério Público

PMs simularam situação de confronto inexistente, aponta MPGO

PMs simularam situação de confronto inexistente, aponta MPGO (Reprodução)

Os seis policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) acusados de matar duas pessoas em uma emboscada próxima ao batalhão da unidade em 1º de abril foram alvos de uma nova denúncia pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), desta vez referente ao processo aberto a partir de inquérito da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO). Eles já respondem a um processo na Justiça comum por duplo homicídio.

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O 2º tenente Wandson Reis dos Santos vai responder na Justiça Militar por falsidade ideológica e por modificar a cena do crime, enquanto por este último também estão sendo processados o 1º tenente Allan Kardec Emanuel Franco, o 2º sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, o 3º sargento Wellington Soares Monteiro, e os soldados Pablo Henrique Siqueira e Silva e Diogo Eleutério Ferreira. O crime de homicídio é processado na Justiça comum com agravantes e fraude processual.

Os policiais, parte da equipe operacional e parte do serviço de inteligência do COD, são acusados de matar o autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, e o corretor Marines Pereira Gonçalves, de 42, em uma rua do Setor Jaó, a 1,5 km do batalhão da unidade. O caso foi descoberto após vazar na internet um vídeo do celular de Junio mostrando que ele e o amigo estavam desarmados e os policiais simulando um confronto.

A nova denúncia cita o encontro entre os policiais denunciados flagrado pelas câmeras de segurança do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO), mas sem citar que nas imagens aparecem outros três policiais em trajes civis que não são identificados nos inquéritos da Polícia Civil e da PM-GO.

"(As imagens) dão conta de que o encontro entre os denunciados e as vítimas já estava previamente marcado, e que minutos antes da abordagem policial as equipes caracterizadas e descaracterizadas trocaram informações sobre a operação policial em frente à guarita que dá acesso a entrada de servidores do TCE, fato que ocorreu 20 minutos antes das execuções", explicou a nova denúncia.

A promotora Adrianni Santos Almeida, da 84ª Promotoria de Justiça de Goiânia, afirma que os policiais denunciados "interferiram e alteraram a cena do crime" quando modificaram o estado em que se encontrava o corpo de Junio, violaram a cena do crime e o manual de procedimentos da PM "ao simularem uma situação de confronto inexistente", retiraram o celular de Junio do lugar em que caiu, "ocasionando o seu extravio", comprometeram a cadeia de custódia das provas "a fim de se eximirem de responsabilização penal" e ocultaram e alteraram, no registro inicial da ocorrência, circunstâncias que posteriormente vieram à tona.

Ainda na denúncia, a promotora chama a ação policial de "assombrosa e arbitrária" e chama a versão dos policiais de "fantasiosa" e "totalmente dissociada da realidade fática". Adrianni foca no momento da abordagem e nas contradições entre o que foi dito pelos policiais na corregedoria e no registro da ocorrência e nas imagens do celular de Junio e posterior perícia. Não avança nas motivações para o crime.

Não é citada na denúncia a pesquisa feita no nome de Marines por um dos policiais denunciados no banco de dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Goiás horas antes da ocorrência. A informação foi mostrada pelo POPULAR com base em relatório que consta no inquérito da Corregedoria.

No processo que tramita na Justiça comum consta que os assassinatos foram uma queima de arquivo devido à relação que Junio tinha com policiais em ações criminosas. No dia em que foi morto, ele teria sido chamado até o batalhão para pegar uma encomenda, como consta em vídeo que foi apresentado à Polícia Civil.

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Policiais militares trocaram os celulares após duplo homicídio

Relatório aponta que acusados de mortes próximo a Batalhão do COD conheciam vítimas e que estavam informados sobre momento da prisão

Imagem de vídeo feito em celular de vítima mostra ação de policial

Imagem de vídeo feito em celular de vítima mostra ação de policial (Reprodução)

Perícia feita nos celulares dos seis policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) acusados de matar dois homens em uma emboscada próxima ao batalhão da unidade, em Goiânia, mostra que eles estavam cientes de que seriam presos e que teriam os aparelhos apreendidos, por isso os descartaram antes e adquiriram novos. Em troca de mensagens com outros policiais e pessoas próximas, os suspeitos são alertados sobre a dimensão que o caso ganhou dentro da corporação e traçam estratégias.

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O autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, e o corretor Marines Pereira Gonçalves, de 42, foram mortos pelos policiais em uma rua perto do Setor Jaó e a 1,5 km do batalhão do COD, na tarde de 1º de abril. Um vídeo feito a partir do celular de Junio no momento da abordagem, mostra o homem chegando no carro em que Marines estava ao volante e pedindo para o amigo abrir porque estava junto com os policiais. Em seguida, nota-se alguns disparos e parte dos seis acusados agindo.

O documento com o laudo foi encaminhado pela Polícia Civil ao Judiciário nesta terça-feira (16). Na conclusão do relatório é dito que "fica evidente" que os acusados já conheciam as vítimas. Apesar de, em depoimentos à corregedoria da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO), os policiais negarem conhecimento da identidade das vítimas até o momento da abordagem, O POPULAR mostrou que o nome de Marines havia sido consultado horas antes por um dos envolvidos no banco de dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO).

Estão respondendo pelo crime o tenente Wandson Reis dos Santos, os sargentos Wellington Soares Monteiro e Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira e o soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva, do serviço operacional do COD; e o tenente Allan Kardec Emanuel Franco e o soldado Diogo Eleuterio Ferreira, do serviço de inteligência do mesmo comando. Para a Polícia Civil e para o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), Junio e Marines prestavam serviços ilegais para policiais e as mortes teriam relação com isso.

No celular apreendido de Wandson, os peritos encontraram mensagens sobre mudanças no comando do batalhão após a ocorrência em 1º de abril e o áudio de um colega de farda dizendo que um oficial comentou que a situação criou complicações para todos, sem especificar se apenas do COD ou da corporação como um todo. Ele também fala sobre limpeza de dados em celulares de colegas e manda mensagens avisando sobre o novo número.

Antes das prisões dos quatro policiais que integravam a equipe operacional, ocorridas no dia 6 de abril, Wandson dá a entender que estava ciente e esperando pelo fato e, no dia anterior, chega a comentar em uma mensagem que ela poderia acontecer logo "para acabar com essa agonia". Conversando com outro policial, o tenente se diz tranquilo, "esperando a tempestade passar" e informa que está "bem orientado e preparado".

"Grupo de zap"

Já no celular de Marcos, também trocado, o laudo da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) mostra que eles criaram um grupo no aplicativo WhatsApp para trocar informações atualizadas sobre o andamento das investigações e, segundo o documento, "combinarem versões e trocar de documentos do caso". Eles também falam no grupo sobre reportagens veiculadas pela imprensa local. No dia da prisão dos operacionais, eles foram avisando no grupo de WhatsApp conforme equipes da Polícia Civil e da corregedoria chegavam aos endereços para prendê-los.

Em um áudio, Marcos avisa os colegas que equipes da corregedoria estão indo até seu endereço para prendê-lo e orienta os outros a acionarem o advogado. A Polícia Civil também encontrou fotos e dados sobre Junio e Marines nos celulares de Marcos e de Allan.

Em uma conversa flagrada pela DIH entre Allan e um advogado, é compartilhado no dia 9 de abril um relatório de inteligência com o nome das cidades em que os policiais afirmam que surgiu uma ocorrência de extorsão no dia 31 de março, que teria dado origem às buscas que culminaram na abordagem a Junio e Marines. Após enviar o documento, o policial comenta que ficou muito bom. O mesmo relatório é compartilhado com outro policial sem relação com a investigação.

Em outro celular, o de Wellington, foi encontrado um áudio em que um dos envolvidos (o relatório não cita qual) pergunta se é certeza que será decretada a prisão deles, porque se for ele adia o pedido de férias.

No celular de Diogo não foi encontrado nada relevante diferente do citado nos outros aparelhos. E no de Pablo Henrique não foi identificado nada relacionado ao caso investigado.

O juiz Antônio Fernandes de Oliveira marcou para 12 de setembro a audiência de instrução e julgamento, etapa anterior à decisão dele se encaminha ou não o caso para o tribunal de júri. Os policiais aguardam em liberdade, após cerca de um mês e meio presos.

Os acusados alegam que estavam atrás de pessoas acusadas de extorquir outra em Trindade e Petrolina e que foram recebidos a tiros na abordagem. No processo, a defesa deles pede a nulidade da denúncia apresentada pelo MPGO alegando que não foram individualizadas as condutas de cada um na acusação e a impossibilidade de se verificar a autenticidade do vídeo usado pela Polícia Civil para sustentar o indiciamento deles por homicídio qualificado.

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Vídeo mostra quando dois PMs envolvidos em suposto confronto que deixou duas mortes são levados à delegacia em Goiânia

Segundo o Delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, foram cumpridos quatro mandados de prisão contra os policiais militares envolvidos na situação

Vídeo gravado por uma das vítimas não mostra reação hostil por parte dos abordados

Vídeo gravado por uma das vítimas não mostra reação hostil por parte dos abordados (Reprodução)

Dois policiais envolvidos em um suposto confronto que deixou duas pessoas mortas no Setor Jaó foram levados para delegacia em Goiânia. Nas imagens é possível ver o momento em que os militares entram na delegacia para prestar depoimento. Em entrevista a TV Anhanguera, o delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, informou que foram cumpridos quatro mandados de prisão contra os policiais militares envolvidos na situação neste sábado (6).

Ainda de acordo com o Alfama, as investigações estão sendo realizadas pela delegacia de homicídios e são conduzidas de forma sigilosa.

Foi uma operação em conjunto entre a Polícia Civil de Goiás, Delegacia de Homicídios e a Polícia militar. Como a investigação é sigilosa peço a compreensão, pois não posso adiantar muito. Mas certamente a Segurança Pública vai se pronunciar sobre o caso", disse o investigador.

Leia também

  • Quatro policiais do COD envolvidos em suposto confronto que terminou com duas mortes são presos
  • Morto em suposto confronto no Jaó, em Goiânia, teria delatado PMs por extorsão
  • PMs envolvidos em mortes no Jaó tiveram 12 promoções
  • Investigação

    Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), os quatro policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) envolvidos em um suposto confronto que resultou na morte de dois homens, no Setor Jaó, em Goiânia, foram presos na manhã de sábado (6). Em nota, a SSP informou que após os depoimentos os oficiais serão encaminhados ao presídio militar.

    Os policiais são investigados por duas mortes durante uma ação na última segunda-feira (1°) que eles alegam ter existido um suposto confronto. Mas um vídeo gravado por uma das vítimas, antes de ser morta, não mostra reação por parte dos abordados. Nas imagens, um dos policiais é filmado pegando uma arma de uma sacola e colocando na cena do crime (assista abaixo) .

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    No relatório de atendimento integrado (RAI), os militares envolvidos explicaram que receberam a informação de que três indivíduos armados estavam se passando por policiais civis com o intuito de invadir uma fazenda e tentar sequestrar um rapaz para cobrar uma dívida.

    Três dos quatro militares envolvidos na operação teriam realizado aproximadamente 18 disparos. A Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) foi notificada e interrogou o tenente encarregado da ação e ele justificou a reação alegando que um dos supostos suspeitos teria atirado contra os policiais. Além disso, um terceiro homem que estava em outro veículo teria fugido do local.

    Em nota enviada ao POPULAR na última terça-feira (2), a Polícia Militar de Goiás informou que após tomar conhecimento das imagens, agiu prontamente determinando a imediata instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) e o afastamento dos militares das atividades. Ainda segundo a nota, a corporação disse que não compactua com qualquer desvio de conduta praticado por seus membros.

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    PMs envolvidos em mortes no Jaó tiveram 12 promoções

    Sete delas foram por bravura e beneficiaram dois dos policiais que estavam em abordagem filmada. Comandante do COD, Edson Raiado, foi transferido ontem para outra função. Governador afirmou, ao ser perguntado sobre o assunto, que “exceções devem ser tratadas como exceções” e disse que medidas estão sendo tomadas . Militares foram à Corregedoria

    Um dos policiais flagrados em vídeo atirando e simulando confronto

    Um dos policiais flagrados em vídeo atirando e simulando confronto (Reprodução)

    Os três policiais militares que teriam atirado durante a abordagem que **resultou na morte de duas pessoas na tarde de 1º de abril ** nas proximidades do Setor Jaó, em Goiânia, e que, junto com outros dois PMs, foram afastados das funções após vazar um vídeo mostrando aparentemente duas armas sendo colocadas por eles junto aos corpos, foram promovidos 12 vezes ao longo da carreira, sendo que sete destas promoções foram por ato de bravura. Além disso, dez destas promoções ocorreram de 2019 para cá.

    O 2º tenente Wandson Reis dos Santos, de 47 anos, o 2º sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, de 34, e o 3º sargento Wellington Soares Monteiro, de 39, foram afastados das ruas após a morte de Junio José Aquino Leite, de 40, e Marines Pereira Gonçalves, de 42, durante abordagem pela equipe, que faz parte do Comando de Operações de Divisas (COD). O trio teria efetuado nove disparos de fuzil e nove de carabina e alegou inicialmente que os dois mortos atiraram antes.

    Levantamento feito pelo POPULAR mostra que os três ingressaram na Polícia Militar como soldados, sendo que Wandson em agosto de 2000 e os outros no início de 2014. Wandson foi receber a primeira promoção só em novembro de 2014, por ato de bravura, mas a partir de 2018 começou a ganhar uma a cada ano, com exceção de 2022. Destas só a de 2018 foi pro antiguidade, o restante, por bravura. Com isso, ele conseguiu sair da condição de praça e se tornou oficial com a patente de 2º tenente em julho de 2023.

    Marcos e Wellington entraram praticamente juntos na PM, no começo de 2014, e ambos passaram de soldado de 2ª classe para de 1ª após concluir o curso de formação em setembro do mesmo ano. O primeiro, entretanto, conseguiu três promoções por ano consecutivamente a partir de 2021, sendo duas vezes por ato de bravura. Já o outro teve duas promoções em um intervalo de quatro anos, ambas por antiguidade.

    Existem quatro formas de promoção na carreira do policial militar, todas previstas na lei estadual 8.000/1975, no caso dos oficiais, e a 15.704/2006, para os praças. Esta legislação foi atualizada em 2013, 2018, 2020 e 2021. O POPULAR mostrou em julho do ano passado que houve um aumento no número de promoções na atual gestão do governo estadual como forma de aumentar a remuneração da tropa sem ter de reajustar significativamente o saldo inicial de cada patente.

    Em setembro de 2023, em uma publicação no site da PM, o então comandante, coronel André Henrique Avelar de Sousa informou que houve 18.165 promoções desde 2019, primeiro ano de gestão do governador Ronaldo Caiado (UB). A corporação conta com algo em torno de 11 mil policiais. No texto, o coronel afirma que a promoção reflete "o compromisso em oferecer estrutura e incentivar as boas práticas dos policiais".

    Subjetividade

    Além das promoções, dois dos três policiais que efetuaram disparos na abordagem receberam uma série de medalhas de reconhecimento, a maioria nos últimos cinco anos. O 2º sargento também foi reconhecido duas vezes no mesmo ano com indicação de moção de aplauso por dois deputados estaduais.

    Além da promoção por antiguidade, que envolve o tempo do policial na patente, e por merecimento, que abarca uma série de pontuações e reconhecimentos ao longo da carreira, há a por bravura, que apesar de definida na lei tanto para oficiais como para praças, é a que conta com critérios mais subjetivos. Oficialmente, trata-se do reconhecimento de ato de coragem e audácia que ultrapasse os "limites normais do cumprimento do dever".

    No caso de oficiais, a legislação permite apenas uma única promoção por ato de bravura no exercício da função dentro da corporação. Exceção para quando atuar como força auxiliar do Exército, no qual há o limite também de apenas uma promoção. Para os praças, não há essa limitação. Além disso, a legislação para as patentes entre soldados e subtenentes permite que comandantes possam baixar "normas complementares" para estabelecer critérios que definam o que é bravura.

    O POPULAR teve acesso a um relatório com os dados sobre a carreira de Wadson em um dos processos por homicídio que ele responde na Justiça. Neste documento consta que ele tentou por mais de 10 vezes promoções por ato de bravura, entretanto, estes pedidos foram todos frustrados por motivos variados. Nos trechos com as informações sobre as recusas não consta de forma detalhada o que impediu a promoção, mas percebe-se a subjetividade nas conclusões.

    Em 2015, uma promoção por bravura foi recusada para o hoje 2º tenente porque mesmo ele tendo agido "com zelo e interesse, solucionando a ocorrência da melhor forma possível", não houve "excepcionalidade nas ações". O criminoso foi preso na ocasião. No texto é explicado que "a valoração dos atos de bravura não ocorre por meio de elementos meramente objetivos e, sim, de uma análise de elementos subjetivos".

    Entretanto, houve duas ocorrências em que os pareceres dos oficiais foram favoráveis para a promoção de Wandson por ato de bravura. Em ambas, policiais mataram pessoas em abordagens sem testemunhas, uma em um imóvel abandonado e outro em uma casa onde estava só o alvo da ação.

    Em um trecho do parecer pela aprovação de uma destas duas promoções é dito que Wandson e outros policiais "foram diligentes e através da coragem, audácia e perspicácia foram capazes de agir rápido, evitando que um mal maior acontecesse, obtendo um resultado frutífero que trouxe repercussão positiva frente à sociedade".

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