Prefeito de Ceres, município do Vale do São Patrício, a 180 km de Goiânia, Edmário Barbosa (Cidadania) decidiu afastar de suas funções a secretária municipal de Saúde, Marjuery Seabra e a coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da pasta, Heloíza Dias Lopes Lago. A informação foi confirmada ao promotor de justiça da cidade, Marcos Rios, que nesta terça-feira (6) cobrou em entrevistas a uma rádio local e à TV Anhanguera, um posicionamento do gestor para que fosse possível a continuidade das investigações sobre pessoas que furaram a fila da vacina contra Covid-19 no município.No início de fevereiro, após receber denúncias de moradores, Marcos Rios recebeu da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Ceres uma lista de 900 pessoas que teriam vacinado em dois hospitais da cidade. Na relação constavam nomes de pessoas aleatórias ao sistema privado de saúde que seriam parentes dos proprietários das unidades de saúde. Para que elas recebessem a vacina, os administradores dos hospitais criaram cargos fictícios, como auxiliar de serviços gerais e auxiliar de coleta. No rol entram pais, sogros, namorada e cunhados dos responsáveis, entre outros.Na ocasião, a responsável pela vacinação no município, Heloisa Lago, disse ao POPULAR que recebeu dos hospitais as listas das pessoas a serem vacinadas encaminhadas à SMS e não confirmou os nomes. “A gente não acredita que um dono de hospital vai expor um parente a uma situação dessas. Avisamos o tempo todo que a lista é pública e que o MP estaria de olho.” Naquele momento o Ministério Público pediu ao prefeito Edmário Barbosa que afastasse as servidoras para que elas não atrapalhassem a investigação, o que não ocorreu.A comunidade local não deixou de cobrar um posicionamento do promotor de justiça Marcos Rios que está na região há cerca de 20 anos. Ele deve se aposentar em 2021. Nesta terça-feira (6), pressionado, ele anunciou que entraria com medidas judiciais contra Edmário Barbosa caso as servidoras não fossem afastadas porque elas estariam atrapalhando as investigações. Marcos Rios disse que desde que a história veio à tona, listas diferentes com os nomes das pessoas que teriam recebido a vacina foram encaminhadas a ele. “Cada semana é uma lista diferente. Eu interpreto isso como uma tentativa de adulteração, por isso pedi ao prefeito que tivesse o bom senso de afastar as duas servidoras até o final da investigação”, afirmou à rádio Legal FM.Até o momento Marcos Rios ouviu apenas informalmente as duas servidoras. Segundo ele, desde que foi decretado o lockdown tem trabalhado de maneira virtual, o que atrapalha as oitivas presenciais. “Com o afastamento das servidoras, creio que podemos avançar muito. Já temos um bom número de nomes. Creio que sem a influência das duas, os próprios servidores da pasta poderão colaborar muito”, afirmou ao POPULAR. Conforme o promotor de Justiça, na lista constam nomes duplicados e de um médico que mora a mais de 300 km de Ceres, além de diversos parentes de administradores hospitalares. Marcos Rios disse que é certo que todas as pessoas, em torno de 20, que encontraram meios fraudulentos de furar a fila da vacina contra Covid-19 vão responder por peculato desvio, o que pode render 17 anos de prisão. “Elas praticamente não terão defesa. Ou será isso ou uma multa de um valor considerável, cerca de R$ 50 mil.” As duas servidoras que autorizaram a vacinação, com imunizante adquirido pelo poder público, poderão responder por improbidade administrativa. “Esses espertalhões podem ser considerados assassinos porque, com essa atitude, algumas pessoas morreram”, afirmou o promotor de Justiça.Em contato com O POPULAR, o prefeito Edmário Barbosa explicou que o afastamento das duas servidoras foi uma decisão conjunta, dele e de ambas, que vinham sendo muito pressionadas. “Para mim elas não praticaram nenhum crime. Eu acredito na idoneidade de ambas. O que houve foi uma falha passível de acontecer em qualquer lugar e com qualquer pessoa. Ninguém do serviço publicou levou vantagem nessa questão, muito menos as duas servidoras.” O prefeito acredita que até o início do próximo mês, quando for concluída uma auditoria interna em andamento, Marjuery e Heloisa estarão de volta aos seus cargos.(Reportagem atualizada às 15h21)