O novo Superintendente LGBTQIA+ de Goiânia, John Maia, de 32 anos, o primeiro transexual a ocupar um cargo de chefia na Prefeitura, encontrou na capital um caminho para abandonar a dependência química e o mundo do crime. Na madrugada fria desta quinta-feira (19), John, que já viveu nas ruas da cracolândia, em São Paulo, participou da força-tarefa de acolhimento das pessoas em situação de rua de Goiânia, que ele chama de "meus filhos de rua".Com a função de coordenar políticas voltadas ao público LGBTQIA+ da capital, John tem uma história de vida que representa o que parte dessa população precisa enfrentar. Em 2015, ele se mudou de Caraguatatuba, no interior de São Paulo, para a capital de Goiás, depois que sua mãe faleceu e ele se viu próximo do retorno à dependência química.Dependência químicaDez anos antes, em meados de 2005, John havia entrado para o crime através do tráfico de drogas. Quando conheceu o crack, ele perdeu tudo e se tornou um dos milhares que vivem na região da cracolândia, na capital paulista. O novo superintendente da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas de Goiânia, contou ao POPULAR que sua vida começou a mudar a partir de 2007."A primeira vez que eu usei, eu usei 100 pedras de crack. É algo pequeno que cabe na palma da sua mão, mas consegue destruir a sua vida, não só a sua vida, mas a vida da sua familia. É algo que faz você perder sua auto-estima, sua dignidade, seu olhar pra si mesmo", relata.Em 2009, ele foi preso por praticar um assalto. John ficou mais de um ano em regime fechado na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru. Ele foi sentenciado a 5 anos e 4 meses de dentenção e cumpriu o restante da pena em regime aberto. Após ser solto, ele não voltou para as ruas de São Paulo e foi morar com sua mãe, em Caraguatatuba, onde ficou até 2015.RecomeçoNesse período no interior paulista, John começou a reconstruir sua vida. Trabalhou como auxiliar de serviços gerais, auxiliar de cozinha e em um lava-rápido, onde foi promovido a gerente. Após a morte de sua mãe, com medo de voltar às ruas, John explicou que escolheu Goiânia por ser uma cidade desconhecida."Eu tinha duas opções, ficar na minha cidade e correr o risco de ter uma recaída ou seguir em frente. Não que Goiânia diminuísse a dor, mas é uma cidade que eu não conhecia ninguém, não saberia onde encontrar, não teria influência", explica.Na capital, ele trabalhou em um lava-rápido e em uma panificadora, até ser contratado por uma empresa de prestações de serviços terceirizados, em setembro de 20105, onde atutou por cinco anos como porteiro. Nesse período, John participou de projetos ligados a população transexual, como o Serviço Especializado do Processo Transexualizador do Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG).Ele conta que foi o primeiro homen trans a realizar o procedimento de mastectomia, retirada das mamas, no hospital. Ele também participa, junto com sua esposa, a enfermeira Dafne Fernanda, de um projeto social de acolhimento da população LGBTQIA+ em situação de vulneralibidade social.OrgulhoEm Goiânia, John também conquistou a retificação de nome e gênero, por decisão judicial, e passou pelo processo de transição de gênero. Há um ano e meio como servidor da Prefeitura, ele considera o feito histórico de chegar a um cargo de chefia como uma conquista de toda a comunidade transexual. "Nós podemos ocupar cargo público, nós podemos ocupar uma chefia de uma empresa privada. Não é ser visto só como população LGBTQIA+, ou profissional do sexo, ou pessoa em situação de rua que trabalha como auxiliar de serviços gerais", afirma. Ele finaliza ressaltando que considera essa sua missão de vida. "Enquanto vida eu tiver, eu vou lutar por essa populacão, que é a minha classe também", completa.Leia também:- Motorista de aplicativo de Goiânia é investigado por transfobia- Respeito à identidade também no título de eleitor-Imagem (1.2449593)