
Casal estava solto após decisão de ministra do STJ (Reprodução/Rede social e PC-GO)
O casal investigado por deformar pacientes em clínica de estética, em Goiânia, contratou advogados para orientar funcionários a ficarem em silêncio durante depoimentos, revelou a Polícia Civil de Goiás (PC-GO). Isso e novos crimes, de acordo com o delegado Daniel José de Oliveira, motivou novo pedido de [prisão preventiva de Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, de 44](http://Casal dono de clínica investigado por deformar pacientes volta a ser preso) , que aconteceu na quarta-feira (12), em Goiânia. Ao POPULAR , o advogado dos investigados, Tito Amaral, classificou essa situação como "absurda" (veja íntegra da nota ao final desta reportagem) .
São apenas falácias, versões e narrativas que estão induzindo a erro o Ministério Público e o Poder Judiciário. Nós já estamos trabalhando, elaborando os recursos e iremos a todas as instâncias. Vamos pedir, em primeiro lugar, ao Tribunal de Justiça, para que essa prisão absolutamente ilegal seja imediatamente revogada", destacou a defesa do casal.
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Segundo o delegado, o novo pedido foi feito por três motivos: uso de substâncias de maior risco aos pacientes, como óleo de silicone; subcontratação de advogados para orientar os outros investigados; e a continuação da comercialização das atividades estéticas, apesar da proibição judicial.
As provas indicam que os investigados Karine e Paulo utilizaram diversas manobras para embaraçar as investigações, como a subcontratação de advogados para acompanhar e manipular as declarações dos demais investigados", salientou Oliveira.
O delegado cita que além disso houve descumprimento pelo "grupo empresário investigado às decisões judiciais anteriores, tendo sido indicado que por meio da internet houve o prosseguimento para a venda de medicamentos mesmo após determinação judicial para o fim das atividades
O casal Karine e Paulo foram presos pela primeira vez em 18 de dezembro do ano passado. Aos dois, a ministra do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Daniela Teixeira concedeu liberdade com medidas cautelares, em 8 de fevereiro. Na decisão do STJ, eles estavam proibidos de manter contato com os funcionários das clínicas e fazer qualquer divulgação na internet sobre procedimentos estéticos.

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)
Em 22 de janeiro deste ano, a segunda fase da operação Face Oculta revelou que a empresa seguiu comercializando os produtos proibidos mesmo no decorrer das investigações. Na ocasião, houve a prorrogação da prisão preventiva do casal e na prisão de sete pessoas ligadas à clínica de estética de Karina Gouveia , em Goiânia. Como os nomes dos sete suspeitos não foram divulgados, O POPULAR não conseguiu localizar as defesas deles até a última atualização desta reportagem.
A gente identificou um esquema de distribuição clandestina de remédios, principalmente manipulados, que eram requeridos de indústrias farmacêuticas por meio do uso de receitas falsificadas em nome de pessoas que não eram os destinatários finais da compra desses medicamentos", justificou Oliveira, na época.
Conforme o delegado, o grupo empresarial adquiria os medicamentos, por meio de receitas falsas, depois armazenavam os produtos em uma sala que não tinha nenhuma identificação. De lá, eram destinados à revenda e uso na própria clínica de Karine Gouveia. Oliveira destacou que as receitas eram preenchidas pelos próprios funcionários do casal investigado.
Entenda o caso
Em dezembro de 2024, a PC prendeu preventivamente Karine Gouveia e o seu esposo, Paulo César, proprietários da clínica Karine Gouveia Estética (KGG), localizada na capital. A prisão, realizada pela 4ª Delegacia de Polícia de Goiânia, foi decretada pela 1ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia, sob graves acusações de crimes relacionados a procedimentos estéticos e cirúrgicos realizados na clínica.
De acordo com a polícia, a investigação foi iniciada em fevereiro de 2024, quando foi revelado que a clínica KGG realizava procedimentos de alto risco, como rinoplastias, lipoaspirações, aplicações de botox e preenchimentos faciais, sem a devida autorização e com o uso de substâncias proibidas, como o (PMMA), e agora a apuração indica também a utilização de óleo de silicone.
O delegado apontou que a clínica funcionava de forma organizada e hierárquica, com estratégias de marketing agressivas e a participação de profissionais sem a qualificação necessária. Além disso, a clínica comercializava medicamentos manipulados de forma irregular, incluindo substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)
Oliveira pontua que essas substâncias podem causar deformidades permanentes, necroses, infecções graves e outras complicações de saúde. Ao todo, mais de 70 pessoas procuraram a delegacia como vítimas dos investigados .
Nessa nova fase das investigações, a polícia suspeita que o número de vítimas chegue a 954, com base nos atendimentos realizados também entre março de 2028 e março de 2019. Para o delegado, esses pacientes podem ter sido submetidos a aplicação de óleo de silicone durante procedimentos estéticos, o que pode causar inflamações, deformidades e outros danos à saúde.
Diante de riscos à saúde, o delegado recomenda que os pacientes da clínica KGG procurem um médico com urgência e solicitem um exame de ultrassom dermatológico com doppler. Esse exame, segundo o investigador, pode detectar substâncias não absorvíveis pelo corpo, como o óleo de silicone. E, se o resultado der positivo, a pessoa é orientada a procurar a 4ª Delegacia Distrital de Goiânia para prestar depoimento e colaborar com as investigações.
Acusações contra os proprietários da clínica:
Formação de organização criminosa
Falsificação de produtos terapêuticos
Lesões corporais gravíssimas
Exercício ilegal da medicina
Estelionato
Tráfico de medicamentos

Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)
Íntegras das notas da defesa do casal
Essa renovação da prisão preventiva é uma decisão absurda, o próprio STJ, através da ministra Daniela, já disse que essa prisão é desproporcional e desnecessária. Eles estavam sob medidas cautelares diversas da prisão. O que está havendo é uma série de coisas inventadas pelo delegado, sem nenhum documento, sem nenhuma prova, são apenas versões falácias da prisão.
São apenas falácias, versões e narrativas que estão induzindo a erro o Ministério Público e o Poder Judiciário. Nós já estamos trabalhando, elaborando os recursos e iremos a todas as instâncias. Faremos uma reclamação ao STJ e, se for o caso, até o STF.
Vamos pedir, em primeiro lugar, ao Tribunal de Justiça, para que essa prisão absolutamente ilegal seja imediatamente revogada. Apesar da lei determinar expressamente que a mãe de um filho de menos de 12 anos não fique presa, a polícia levou os dois, e ficou uma criança de 7 anos sozinha chorando em casa. Se fosse calcado em fatos reais, em provas, em documentos, ok. Mas é uma fantasia que a polícia está criando.
Advogado Tito Amaral
A defesa de Karine Gouveia discorda absolutamente da decisão que foi decretada a sua prisão preventiva, isso porque se valeu de narrativas falsas e da repugnante criminalização da advocacia para tentar impedir o direito constitucional de defesa, evidenciando práticas de lawfare.
Ressalta que muito embora tenha profundo respeito por todas as investigações, não se pode tolerar no Estado de Direito a criação mental para manipular o Ministério Público e o Poder Judiciário, em uma tentativa desesperada de salvar uma investigação cheia de vícios e que nunca foi submetida ao Poder Judiciário para controle de legalidade.
Recentemente o Superior Tribunal de Justiça entendeu que a prisão é absolutamente desnecessária, daí porque seriam suficientes as medidas cautelares que foram impostas, as quais estão sendo cumpridas à risca por Karine.
Portanto, a sua liberdade será requerida se valendo de todos os meios legais, como sempre o fez, inclusive buscando todas as instâncias do Poder Judiciário, se preciso for.