Atualizada às 10h49.Morreu nesta terça-feira (8), o pós-doutor e professor aposentado de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), Noé Freire Sandes, de 59 anos. O educador era do departamento de História da UFG até há três anos quando precisou se aposentar após ser diagnosticado com uma doença congênita degenerativa.&nbsp;Considerado uma mente brilhante por seus ex-alunos, Noé Freire formou várias gerações de historiadores. Ele chegou a Goiás nos anos 90 após deixar a cadeira de docente do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Ele escreveu vários livros como Memória e Região, A Invenção da Nação: Entre a Monarquia e a República e Nação, Políticas de Saúde e Identidade (1920-1960).Noé era graduado em Licenciatura plena em História pela Universidade de Brasília, mestre em História Política do Brasil pela Universidade de Brasília, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e concluiu em 2008 o pós-doutorado CPDOC/ FGV.Divorciado, Noé deixa os filhos: Clara, Vitor e Isadora. Seu corpo será velado no Cemitério Vale do Cerrado, das 10h30 às 14h30, onde será sepultado.Em nota, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) lamentou profundamente o falecimento do associado professor Noé Freire Sandes ontem em Goiânia. Professor da UFG é um brilhante e conceituado historiador. À família o nosso conforto. “Goiás e o Brasil perderam um grande escritor e um brilhante pesquisador. Que Deus lhe dê o lugar de destaque ao seu lado”, escreveu o presidente do Instituto, Geraldo Coelho Vaz.Também por meio de nota, a UFG lamentou a morte de Noé. No comunicado, a Faculdade de História destacou o legado deixado por ele seja como professor, pesquisador e intelectual. "É sem dúvidas uma perda inestimável do nosso querido colega e ex-diretor", lamentou o atual diretor da FH/UFG, Eugênio Rezende de Carvalho.Morte de educador comove ex-alunos, amigos nas redes sociaisA notícia da morte do Noé Freire Sandes comoveu ex-alunos e amigos que postaram em suas redes sociais homenagens ao professor.<div attr-cid="policy:1.2116266" attr-version="policy:1.2116266" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.2116266" data-onecms-type="image" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.2116266', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.2116266">Imagem (1.2116266)</a></div><div attr-cid="policy:1.2116265" attr-version="policy:1.2116265" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.2116265" data-onecms-type="image" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.2116265', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.2116265">Imagem (1.2116265)</a></div><div attr-cid="policy:1.2116264" attr-version="policy:1.2116264" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.2116264" data-onecms-type="image" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.2116264', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.2116264">Imagem (1.2116264)</a></div>

Professor da UFG Noé Freire Sandes morre aos 59 anos

Cidades

Cidades - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Cidades

Este texto não foi escrito por uma IA, ok! Hoje em dia, é sempre bom avisar, uma vez que a Inteligência Artificial já se mostra onipresente nos mais variados campos de atuação, dando continuidade a um processo que não é recente, mas que demonstra ser cada vez mais predominante: o domínio da técnica na sociedade contemporânea. Nesse “admirável mundo novo”, para parafrasear Aldous Huxley – aposto que alguém vai ao ChatGPT perguntar quem é esse sujeito –, muitos dilemas, inumeráveis incertezas e até mesmo alguns medos quanto a um possível tempo distópico vêm surgindo e nada melhor do que parar, pensar e debater a respeito de todos esses desafios. Essa é a proposta da 28ª Semana de Filosofia e 23ª Semana de Integração Graduação/Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia da UFG.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

O evento, que começa na terça-feira (29) e vai até 1º de novembro nos prédios das Humanidades 1 e 2, no Câmpus Samambaia, da UFG, contará com a participação de pesquisadores de instituições de diversas partes do País. “Nos empenhamos em conceber uma programação que contemplasse as frentes de pesquisa que existem na faculdade, na graduação e na pós. Essas frentes são: Metafísica e Teoria do Conhecimento, Ética e Política, Ensino de Filosofia, Lógica e Filosofia da Linguagem, Estética e Filosofia da Arte”, explica Cristiano Novaes de Rezende, professor da UFG e coordenador desta edição da Semana de Filosofia. “Tentamos trazer docentes altamente qualificados, cujas pesquisas tocassem essas áreas ou regiões de intersecção entre elas.”

Uma das temáticas que mais chamam a atenção é exatamente quanto às mudanças potenciais que a IA traz com seu desenvolvimento. “IA, como toda nova tecnologia, é ou supervalorizada ou demonizada”, afirma o professor Bernardo Alonso, da Universidade Federal de Mato Grosso, que vai proferir, na quinta-feira (31), a conferência Informação, Desinformação e Alucinação Artificial. “Todo desenvolvimento tecnológico pode acarretar efeitos destrutivos. Entretanto, a questão de ter medo ou não de tais efeitos pouco colabora para uma relação equilibrada com a técnica”, reforça a professora Veronica Ferreira Bahr Calazans, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que fará a conferência de abertura do evento sobre o ensino de Filosofia na educação técnica e tecnológica.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/maria-eugenia-e-historias-creuza-arrais-apresentam-projeto-prosas-musicais-ii-1.3191121" target="_blank">Maria Eugênia e histórias Creuza Arrais apresentam Projeto Prosas Musicais II</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/famosos-lamentam-a-morte-de-antonio-cicero-1.3190533" target="_blank">Famosos lamentam a morte de Antonio Cicero</a></div>

Os dois convidados trazem olhares que escapam da dicotomia bom e mau, benéfico e maléfico para o atual momento de avanços tecnológicos acelerados que vivemos. Ambos estimulam abordagens menos superficiais das discussões que movimentam a sociedade atualmente, como o da desinformação. “Apresento a noção de Informação Semântica, estabelecida pelo filósofo italiano Luciano Floridi, minimamente adequada para comportar uma outra noção, cara à Filosofia da Informação (e em certa medida também à Filosofia da Linguagem), a saber, uma noção de Desinformação que seja suficientemente robusta, que possa dissipar a confusão de traduções automatizadas”, explica Bernardo, enfatizando “as sutilezas conceituais entre os termos disinformation, misinformation e malinformation”.

“Isso feito, tento identificar algumas das causas da fé quase inabalável sobre a ideia, por vezes ambígua, de Inteligência Artificial utilizada ordinariamente”, acrescenta, para embasar o que chama de “alucinação artificial” ou “ilusão artificial”. “Tangencialmente se relacionam com a noção técnica de AI Hallucination, esta última que faz uma analogia vaga com a psicologia humana, onde a alucinação normalmente envolve falsas percepções. No entanto, há uma diferença fundamental: a alucinação da IA está associada a respostas erradas e não a experiências perceptivas”, esclarece. O professor Bernardo reforça que essas “respostas erradas” fornecidas pela IA “podem causar distorções contextuais, comportamentais e na agência coletiva”, trazendo um debate ético para o tema.

“A Ética da Inteligência Artificial e Robótica é um campo prolífico. Se consideramos as questões éticas que surgem com sistemas de IA quando considerados como objetos, ou seja, ferramentas utilizadas por agentes naturais (humanos), então assuntos espinhosos como manipulação, privacidade e preconceito tornam-se salientes. Em contrapartida, se consideramos agentes artificiais (IA) como sujeitos, assuntos como ética e exploração das máquinas e agência moral artificial devem ser considerados”, compara. “Desde o célebre HAL 9000 de 2001: Uma Odisseia no Espaço’, de (Stanley) Kubrick, o assunto mexe com a nossa imaginação.” As repercussões de todas essas transformações são numerosas e complexas, obrigando que outras dimensões sejam contempladas.

“Concordo com a concepção que assume a não neutralidade ética dos objetos técnicos. Assumo que os frutos da tecnologia carregam valores sociais e políticos. No entanto, cabe destacar que tais valores são valores humanos; e os humanos que produzem tais objetos se tornam imputáveis por seus efeitos, destrutivos ou não”, pondera a professora Veronica. “Porém, é comum que essa questão seja formulada de outra forma. Por vezes, pergunta-se se a técnica desumaniza. Essa formulação é perigosa, pois promove o apagamento do único elemento que, legitimamente, pode ser imputado: o humano. Se atribuímos à técnica a responsabilidade pelos seus efeitos destrutivos, colaboramos para tornar invisíveis os usos intencionais da técnica para exercer o poder de uns sobre os outros.”

A professora argumenta também que é preciso inserir os debates sobre as tecnologias nas relações de poder da sociedade. “Em tese, os processos de transformação que vivemos hoje, no que diz respeito à tecnologia, podem nos desumanizar ou colaborar para melhorar nossa relação com o conhecimento. De fato, o que ocorre é mais complexo. Essas transformações ocorrem em meio a relações de poder sociais e econômicos que não necessariamente são pautadas pelos critérios de desenvolvimento técnico, mas pelos interesses que permeiam tais relações”, enfatiza. “Novamente, a tomada de consciência a respeito da realidade técnica e seu funcionamento é necessária se temos alguma esperança de combater ou resistir aos efeitos destrutivos da tecnologia.”

“Ao nos perguntarmos pelos trabalhos que podem desaparecer pelo desenvolvimento das novas tecnologias, devemos nos perguntar: tais trabalhos só não eram feitos por máquinas porque ainda não havia máquinas para fazê-los?”, questiona Cristiano Novaes, da UFG. “E se a resposta for afirmativa, então isso significa que já se tratava de um trabalho mecânico sendo realizado por um humano apenas por uma contingência? Qual a fronteira entre uma existência humana, uma existência não humana e uma existência desumana? Quais as implicações éticas, políticas e estéticas do estabelecimento de parâmetros não-humanos para uma sociedade humana? Qual a diferença entre a potência construtiva ou destrutiva de uma máquina e o uso destrutivo ou construtivo dessa máquina?”, pondera.

“É interessante como novas situações concretas colocam em evidência a profundidade de filósofos de todos os tempos”, sublinha o professor Cristiano. “Afinal, se alguém formula a pergunta, por exemplo, sobre a possibilidade de que uma máquina pense, é evidente que, antes que se saia a tentar responder que sim ou que não, é necessário ter uma clareza mínima sobre o que está sendo perguntado, no caso, sobre ‘o que é pensar’ e sobre ‘o que exatamente é uma máquina’. E a elaboração de conceitos dessa envergadura é justamente o trabalho da Filosofia.” Um trabalho que mantém sua grande relevância. “Costumo dizer que a filosofia não é útil nem inútil; ela é simplesmente inevitável. Eu digo que estamos fadados a filosofar, custe o que custar, doa a quem doer, quando e onde for”, completa. 
 
Desafios da contemporaneidade

Outro desafio muito sensível da contemporaneidade é a produção e difusão sem controle de informações falsas que levam a consequências que podem ir de agressões individuais nas redes sociais a ameaças de sistemas políticos inteiros. Esse tema também estará nas discussões que a Semana de Filosofia da UFG fará, tendo em perspectiva como esses processos ficaram mais dinâmicos com a chegada de novos instrumentos tecnológicos. “São inúmeras as abordagens filosóficas que poderiam ser evocadas aqui para considerar esse tema tão importante das&nbsp;fake news, do discurso de ódio e da desinformação. Algumas delas nos ajudariam a identificar e definir os parâmetros para classificar uma informação como falsa, distorcida ou verdadeira”, observa a professora Veronica Calazans.

“Sem dúvidas, a humanidade de hoje presencia um ritmo acelerado de desenvolvimento tecnológico nunca visto anteriormente. Mais do que nunca, é preciso destacar que a ética é uma disciplina que se dedica a refletir sobre as condutas humanas, não no sentido de estabelecer dogmaticamente regras singulares que interditam isso ou aquilo”, prossegue a docente da UTFPR, convidada do evento. “A enorme complexidade dos fenômenos relacionados à tecnologia evoca a necessidade de que sejam consideradas múltiplas abordagens filosóficas, sociológicas, psicológicas e, até mesmo, computacionais, na tentativa de compreender, o quanto seja possível, os meandros dessa complexidade. Com a ética não é diferente”, destaca, sempre primando pelo fator humano nessa relação.

“Talvez as Ciências Humanas nunca foram tão importantes para dar sentido a um mundo que cada vez mais se perde em campanhas de desinformação”, defende o professor Bernardo Alonso, da UFMT, outro conferencista da Semana de Filosofia da UFG. “Não acredito em uma sociedade que calcula (ou deixa importantes decisões nas mãos de sistemas automatizados) não é capaz de interpretar minimamente textos, não tem ligação com arte ou curiosidade filosófica. Não acredito em pessoas que colocam dentes luminosos, se endividam para trocar de telefones e carros, que malham em academias como se não houvesse amanhã, mas não têm coragem de terminar uma obra literária ou ajudar o próximo”, afirma.

“A situação atual nos convida a aprimorar nossa capacidade reflexiva, pois não encontraremos respostas completas e definitivas nas obras filosóficas – clássicas ou não – para os dilemas que surgem e ressurgem em novas e mais complexas relações com as tecnologias da atualidade”, ressalta Veronica. “Assim, o propósito de estudar filosofia, mais especificamente a ética, não pode ser reduzido à busca por análises diretamente aplicáveis às novas realidades, mas por um aprofundamento do pensamento reflexivo, capaz de enfrentar os novos dilemas. Os dilemas contemporâneos constituem um vasto material para o ‘espanto’ filosófico, ou seja, para uma atitude inquieta diante da realidade, que não encontra sua realização plena na mera busca por regras preestabelecidas”, conclui.

<h3>Sem medo, sem deslumbre</h3>

A conferência de abertura da Semana de Filosofia da UFG, a cargo da professora Veronica Calazans, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, tem como tema O Ensino de Filosofia na Formação Técnica e Tecnológica: Uma Proposta Simondoniana. “Simondon foi um filósofo francês que viveu de 1924 a 1989 e se dedicou a uma filosofia da técnica centrada no conceito de objeto técnico e sua relação com o homem e o meio no qual ele está inserido”, responde a filósofa. “A proposta de Simondon diz respeito à tomada de consciência a respeito dos modos de existência do objeto técnico, pensado em suas múltiplas relações. Essa tomada de consciência é necessária, segundo o autor, em razão da alienação – desconhecimento – da cultura, em geral, com relação à técnica.” 
 
Nessa perspectiva, respostas a problemas causados por uso indevido ou inadequação às tecnologias estão no conhecimento. “A cultura ignora não apenas o funcionamento dos objetos técnicos, mas, igualmente, algo de humano que está aprisionado nesses objetos. Assim, ela considera o objeto técnico como externo – não pertencente à cultura – e se torna empobrecida, incompleta e, principalmente, desequilibrada em sua relação com a técnica. Tal desequilíbrio conduz a duas visões aparentemente contraditórias: a tecnocracia (uso da técnica para exercer o poder) e a tecnofobia (reação de medo irrefletido da técnica)”, analisa a professora. No conhecimento, que inclui educação e reflexão, está a chave para uma relação menos conflituosa e menos manipuladora com as novas tecnologias. 
 
“Ao aderir a uma proposta simondoniana para o ensino de Filosofia, no contexto da formação de técnicos, tecnólogos e engenheiros, para além dos objetivos gerais de uma formação filosófica – tais como desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo –, esperamos alcançar outras duas metas relevantes. Do ponto de vista didático, seguimos o percurso, realizado por Simondon, e iniciamos pelo tratamento ontológico (questões do ser, da existência) e epistemológico (questões a respeito do conhecimento) do objeto técnico para, então encaminhar as questões axiológicas (éticas, por exemplo)”, descreve Veronica. “Ainda que tenhamos convicção dos efeitos nefastos de conteúdos distorcidos, uma cultura alienada, quanto à técnica, não é capaz de enfrentar adequadamente o problema.” 
 
“Platão, há mais de dois mil anos, já refletia sobre as implicações da passagem de uma cultura baseada na oralidade para uma cultura baseada na escrita. Para nós (filhos da escrita) isso não parece uma grande mudança, mas foi algo gigantesco deixar de ter que guardar o saber dentro de si, deixar de armazenar os saberes importantes no ‘coração’ (saber de cor), e passar a&nbsp; depositar esse saber numa mídia externa (mesmo que fossem&nbsp; mídias que nos parecem muito singelas, como tábuas, papiros ou pergaminhos e não um HD ou um celular)”, recorda o professor Cristiano Novaes, da UFG. “Descartes, no século 16, se perguntava como posso saber que um outro ser com quem converso é realmente um ser pensante ou um autômato complexo para simular um comportamento como humano.” 
 
“Essas são questões clássicas da Filosofia. Por outro lado, também devemos nos perguntar pela especificidade com que essas questões são postas para nós hoje”, assinala Cristiano. “No que diz respeito à desumanização, a tarefa é dupla: é preciso pensar o objeto técnico, mas também o que entendemos propriamente por ‘humano’”, salienta Veronica. “Se a chamada ‘Inteligência Artificial’ avança de modo acelerado, nossa capacidade reflexiva precisa enfrentar o imenso trabalho de abordar a complexidade desse avanço, de modo a, nos termos de Simondon, regular as relações entre homem e máquina. A cultura alienada, na concepção de Simondon, é desequilibrada justamente por oscilar entre uma esperança ingênua no progresso técnico e o medo irrefletido desse mesmo progresso”, diz a docente. 
 
Programação – Semana de Filosofia da UFG 
Local: Prédios de Humanidades I e II (Campus Samambaia da UFG) 
 
Dia 29 – 19h 
Conferência de abertura: Profa. Dra. Verônica Ferreira Bahr Calazans (UTFPR) 
O Ensino de Filosofia na Formação Técnica e Tecnológica – Uma Proposta Simondoniana 
 
Dias 30 e 31 – 08h 
Minicurso: Antropofagia, Filosofia Ameríndia e Ensino de Filosofia 
Prof. Dr. Filipe Ceppas (UFRj) 
 
Dias 30 e 31 – 16h15 
Minicurso: Leibniz – O Mais Moderno dos Modernos? 
Profa. Dra. Tessa Lacerda (USP) 
 
Dia 30 – 19h 
Conferência: Prof. Dr. Napoleão Azevedo (UNILA) 
Virtudes e Potências da Alma em Tomás de Aquino 
 
Dia 31 – 10h15 
Conferência: Prof. Dr. Bernardo Alonso (UFMT) 
Informação, Desinformação e Alucinação Artificial 
 
Dia 31 – 12h15 
Conferência: Profa. Dra. Taísa Palhares (UNICAMP) 
Alberto da Veiga Guignard: Modernismo, Nacionalismo e Tradição na Arte Brasileira 
 
Dia 1º – 14h 
Palestra: Vida e morte no DF – O Encontro Inusitado de Adirley Queirós e Berkeley nas quebradas da Ceilândia 
Profa. Dra. Rachel Imanishi (UnB) 
 
Dia 1º – 15h30 
Mesa-Redonda: A revisão do cânone filosófico 
Profas. Dras. Tessa Lacerda (USP), Taisa Palhares (USP), Rachel Imanishi (UnB) e Veronica Ferreira Bahr Calazans (UFTPR) 
&nbsp;

Semana de Filosofia da UFG debate impacto das novas tecnologias na sociedade

Magazine

Magazine - título

Matéria - Magazine

Pensar

O Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) lançou nesta sexta-feira (16), um aplicativo com tecnologia de inteligência artificial visando combater a desinformação e as notícias falsas, as chamadas fake news. A ferramenta, denominada GuaIA, foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e estará apta a analisar publicações em sites da internet e redes sociais, além de vídeos e áudios que possam ter sido manipulados com o intuito de gerar notícias distorcidas e enganosas.

“Alguns tribunais já implantaram a ferramenta, mas ou elas identificam fake news em textos, ou em áudios. A nossa [ferramenta] é completa, porque identifica [fake news] em texto, áudio e imagem. É o que tem de mais moderno e de ponta na atualidade”, afirmou o desembargador Luiz Cláudio Veiga Braga, presidente do TRE-GO.

<a href="http://opopular.com.br/canal" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Segundo o presidente do TRE-GO, os benefícios da ferramenta para a campanha eleitoral de 2024 são enormes.&nbsp;

“Basta dizer que, vinculado a uma notícia, um vídeo ou um áudio que seria de conteúdo inverídico, imediatamente o juiz com a intervenção e com a segurança que a ferramenta pode dar, pode mandar suspender [o conteúdo] e evitar os danos que são de desigualdade na disputa eleitoral, porque uma notícia falsa pode destruir uma candidatura”, destacou.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/como-funciona-o-teste-de-seguranca-da-urna-1.3163768" target="_blank">Como funciona o teste de segurança da urna?</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/como-funciona-a-apurac-o-dos-votos-nas-eleic-es-1.3157762" target="_blank">Como funciona a apuração dos votos nas eleições?</a></div>

<h2>Uso da ferramenta</h2>

De acordo com o TRE-GO, o aplicativo já será utilizado nas eleições deste ano, entretanto, será restrita aos juízes de 2º grau para apoio às decisões dos desembargadores eleitorais. O TRE-GO disponibilizará um link ao público para a realização de denúncias de conteúdos suspeitos em seu portal.&nbsp;

Eliomar Araújo de Lima, chefe do departamento de Informática da UFG, explica que a ferramenta parte do monitoramento ativo das redes, que, segundo explica, é de onde se originam as fake news e os atos de desinformação.

“Todo o tipo de desinformação que estiver acontecendo nas redes é passível de ser monitorada. A partir daí, uma vez que é detectada uma notícia suspeita, ela é processada por essa ferramenta, e vai passar por esse processo de análise, automatizado, por meio do uso de ferramentas de inteligência artificial”, detalhou.

Segundo Eliomar Araújo, a verificação dos conteúdos ocorre em cinco etapas, sendo elas: extração, classificação, perícia, interpretação e intervenção. Ele destaca que a análise feita pela ferramenta gerará um resultado, que é um score.&nbsp;

“Esse score pode variar de 0 a 100%, sendo que, quanto mais próximo de 100% estiver, significa que há uma grande probabilidade de ser uma fake news ou um conteúdo distorcido”, ressaltou.&nbsp;

<h2>Expansão</h2>

Segundo divulgou o TRE-GO, o projeto piloto do uso do aplicativo terá duração de 14 meses, com execução prevista no período de agosto de 2024 a setembro de 2025. Ao final deste projeto, toda a tecnologia será transferida para o TRE-GO e estará disponível a todos órgãos de Justiça Eleitoral.&nbsp;

O chefe do departamento de Informática da UFG, entretanto, não descarta a expansão do uso da ferramenta para a população em geral, no futuro.&nbsp;

“O uso [do aplicativo] pela população, isso vai acontecer, quem sabe, depois que esse projeto piloto tiver sido implementado nas eleições municipais de 2024. Vai depender muito dos avanços e da evolução desse trabalho. A nossa preocupação, primeiro, é com a segurança e com a integridade, para não gerar qualquer efeito colateral. Então a ferramenta vai ser usada inicialmente pelos magistrados de 2º grau do TRE, e posteriormente, ela vai ser expandida para a Justiça em 1º grau e, em algum momento, a população também vai ter acesso”, completou.&nbsp;

Eleições: TRE-GO lança aplicativo com uso de inteligência artificial para combate às fake news

Política

Política - título

Matéria - Política

Tecnologia 

Pesquisador da UFG descobre dissertação de Pedro Ludovico em Medicina

Memória

De hora em hora, um ônibus, geralmente vazio, sai da frente da Estação Ferroviária da pacata cidade de Bayeux, na Normandia, e começa a percorrer caminhos tortuosos do norte da França, passando por vilarejos, estradas rurais estreitas, atravessando paisagens que denotam imensa paz. Imensa paz hoje, porque 80 anos atrás essa mesma região era o palco daquela que foi a maior mobilização militar anfíbia da História. Na manhã de 6 de junho de 1944, um exército formado por vários países, num total de aproximadamente 155 mil homens, começou a descer em cinco praias da Normandia, depois de cruzar o Canal da Mancha em 7 mil embarcações, apoiados por 11 mil aeronaves, trazendo 50 mil veículos, incluindo mil tanques. Era o Dia D e ele mudou os rumos da Segunda Guerra Mundial.

Deixando Bayeux, o ônibus urbano vai recolhendo e deixando passageiros que moram nas vilas edificadas naquele litoral que oito décadas atrás presenciou uma verdadeira carnificina nos embates entre Aliados e as tropas nazistas, que reagiram tenazmente à investida dos inimigos. O veículo passa por vilarejos que naquela época foram devastados durante a luta. Seguindo para o nordeste, chega-se à aprazível Arromanches-les-Bains, balneário que hoje abriga o Museu do Desembarque, com direito aos restos de alguns dos navios e pontes móveis usados para a movimentação dos soldados. Ali fica a Praia Gold e nela chegaram, sobretudo, os soldados britânicos. Para o oeste estão as pequenas Saint-Laurent-sur-Mer, Colleville-sur-Mer e Vierville-sur-Mer. Foi ali que uma porta do inferno se abriu naquele dia.

Essas vilas ficam sobre um grande promontório, dezenas de metros acima do mar. O litoral na região é formado por falésias, um terreno acidentado com muitos vales menores, cursos d’água e solo barrento, antes que longas extensões de praias sejam acessíveis. Foi na belíssima Praia de Omaha, que se abre para as frias águas do Canal da Mancha, que a maior parte do contingente dos EUA na operação, ao lado de tropas canadenses, entrou na batalha. Mas à frente havia uma das mais impressionantes construções de guerra já vistas. Batizada de Muralha do Atlântico, essa estrutura foi erigida pelos nazistas em boa parte do litoral da França ocupada, constituindo-se de centenas de bunkers reforçados e armados com metralhadoras poderosas capazes de abater um grande número de inimigos.

Foi exatamente isso o que aconteceu nas areias de Omaha. O desembarque de dezenas de milhares de soldados foi caótico. Segundo o historiador Antony Beevor, um dos maiores especialistas nos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, muito do que foi planejado na Operação Overlord – nome que foi dado à grande mobilização militar do Dia D – não foi cumprido conforme previsto. E os problemas ocorreram, sobretudo, nos bombardeios que deveriam ter enfraquecido a resistência alemã e no momento de os veículos pesados saírem dos barcos e chegarem em terra firme. “Dos 32 tanques, 27 afundaram”, relata o historiador em seu livro Dia D – A Batalha pela Normandia. “As formações de bombardeiros surgiram às 6h05.” O alvo eram os campos minados e as barreiras de arame. Erraram.

“Quando chegaram às praias, a tripulação (dos aviões) esperou alguns segundos antes de soltar as bombas para não atingir nenhuma barcaça de desembarque”, informa Beevor. O resultado foi que as defesas nazistas pouco foram fustigadas e estavam quase intactas para praticar tiro ao alvo com os soldados que desciam como uma multidão na praia. Os nazistas foram alvejados por tiros de canhão disparados dos navios e isso atordoou os alemães num primeiro momento. “Num bunker (...), um cabo da 716ª Infanterie-Division ficou abalado com a imagem que a aurora revelou. ‘A frota de invasão era como uma cidade gigantesca no mar’”, escreve Beevor. Esses desencontros custaram muitas vidas, já que os soldados que chegavam à Normandia naquela praia ficaram totalmente expostos ao fogo inimigo.

Esse drama foi reproduzido de forma impressionante na produção O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, que ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor direção. A luta começou nos primeiros minutos daquela manhã de tempo fechado – a data da operação foi ameaçada por conta do mau tempo na região – e se estendeu por várias horas. “As cenas de caos na praia e no mar tinham melhorado às 9h30. (...) Havia viaturas queimadas e ainda em chamas, cadáveres e equipamentos jogados em todas as direções. Os corpos continuavam a chegar na praia, rolando na espuma como troncos, paralelos à beira d’água”, detalha Beevor. E basta chegar a Omaha para imaginar as cenas de terror que ocorreram ali, já que vestígios daquela longínqua batalha ainda estão muito presentes.

No alto de um promontório daquele cenário sangrento, um memorial foi construído em honra dos soldados das tropas aliadas que combateram no Dia D. No local, um grande cemitério, com mais de 9 mil túmulos, se espalha por várias alamedas. As cruzes brancas trazem os nomes dos soldados, de diferentes nacionalidades – a maioria dos EUA – e são os símbolos maiores de um dia trágico. Estima-se que cerca de 10 mil homens perderam a vida entre os aliados e outros 9 mil entre os alemães apenas naquele 6 de junho. Muitos dos que desembarcaram foram abatidos imediatamente por nazistas que tinham plena visão da praia. Uma rocha na areia, atrás da qual soldados tentaram se esconder, é outro marco. Ali estão gravados os nomes de dezenas de combatentes que tombaram naquele ponto. 
&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3143837" attr-version="policy:1.3143837:1717790745" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3143837/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Um dos muitos bunkers construídos pelos nazistas na praia de Omaha (Rogério Borges)

 
Entre as vítimas que ali perderam a vida estavam membros das equipes médicas, baleados enquanto tentavam suturar ferimentos a tiro ou membros destroçados por minas terrestres na praia. Ao mesmo tempo, grupos táticos subiam as falésias – havia grotas que davam acesso à parte de cima dos barrancos – e chegavam às casamatas nazistas, de onde partiam os disparos de metralhadoras. As fortificações eram explodidas e depois granadas e lança-chamas eram usados para matar quem estivesse lá dentro. Essas pequenas fortalezas ainda estão lá e podem ser livremente visitadas por quem chega a Omaha, que também tem um centro de informações sobre os acontecimentos de 80 anos atrás. Em vários locais da área, há pontos específicos onde combates corpo a corpo ocorreram.

Houve ainda cenas de vingança, como fuzilamentos sumários de prisioneiros, trincheiras explodidas e tiros de canhões que nem sempre atingiram os alvos desejados. Houve muitas vítimas por fogo amigo, com bombas que caíram no meio das próprias tropas aliadas. A resistência na praia só foi debelada totalmente no final daquele dia. Apenas às 17h21 houve a comunicação de que o local era seguro para o ingresso de mais tropas terrestres e desembarque de todo o equipamento de guerra que os navios haviam transportado. Os bombardeios das colunas alemãs em fuga também causaram a morte de mais de 3 mil civis franceses nas vilas dos arredores. Números terríveis que se reproduziram, embora em dimensões menores, em outras praias onde também houve desembarque de tropas. 
&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3143853" attr-version="policy:1.3143853:1717792386" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3143853/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Monumentos construídos na praia lembram os aliados que foram vítimas dos nazistas (Rogério Borges)

 
Operação cheia de truques

As táticas de guerra empregadas na preparação e condução do Dia D poderiam ser chamadas de cinematográficas, literalmente falando. Um dos subterfúgios dos Aliados – que na Segunda Guerra Mundial era uma frente composta por Inglaterra, Estados Unidos, União Soviética e França, com auxílio de tropas de dezenas de países, como Canadá, Austrália e Noruega – foi enganar os inimigos do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – sobre onde haveria mais chances de ocorrer o grande ataque ao continente. Era evidente que as tropas terrestres deveriam voltar ao solo francês, de onde haviam sido expulsas e quase dizimadas anos antes, pela região litorânea da França ocupada, separada do Reino Unido pelas águas do Canal da Mancha. Mas em qual ponto, exatamente?

 
Essa dúvida foi explorada com criatividade pelos Aliados, cujas tropas eram comandadas pelo general Dwight Eisenhower, que depois seria eleito duas vezes presidente dos EUA. Um dos oficiais mais polêmicos, extravagantes e um tanto amalucados do Alto Comando do Exército norte-americano, o general George Patton foi chamado para liderar divisões de mentirinha. Ele havia colocado os inimigos do Eixo em polvorosa com suas missões à frente do 3º Exército, realizadas com rapidez e de maneira arrasadora, conseguindo uma vitória acachapante contra as tropas do então imbatível oficial nazista Erwin Rommel e sua temida coluna de tanques no norte da África. Batizada de Fortitude, a operação consistiu em deixar que mensagens supostamente secretas, mas falsas, fossem vazadas para os alemães.

Elas informavam que uma grande mobilização estava sendo realizada no sul da Inglaterra para a invasão da França, certamente via Pas de Calais, que é o ponto do continente mais próximo das ilhas britânicas. Desde as guerras medievais, era por ali que invasões costumavam ocorrer nos conflitos entre Inglaterra e França. Hitler e seus generais, portanto, não tinham dúvidas que o ataque seria feito por ali e mandou deslocar a maior parte de seu arsenal para a região. Aviões espiões nazistas sobrevoaram a Inglaterra em busca dessa confirmação e flagraram um imenso acampamento, com centenas de tanques, no local que imaginavam de onde os Aliados zarpariam rumo a Calais. Mas tudo não passava de encenação. Os tanques eram balões infláveis, fabricados por produtores de Hollywood.

Patton cumpriu um papel diversionista, levando sua fama para uma concentração de tropas que não existiam. Os verdadeiros contingentes saíram de outro ponto, não vigiado pelos nazistas, e chegaram de supetão na Normandia, pegando os alemães desprevenidos. Outro detalhe impressiona. Os Aliados sabiam que Hitler dormia tarde e acordava tarde e que não admitia que ordens importantes fossem dadas por outras pessoas. Quando as tropas começaram a chegar nas praias francesas no início daquela manhã e a maior parte das defesas estavam no lugar errado, os generais quiseram reagir imediatamente, mas não puderam. O fürher (líder), como Hitler era chamado, ainda dormia e estava inacessível e só depois de várias horas, quando acordou, um contra-ataque foi pensado. Era tarde.

Houve ainda outra estratégia surpreendente. Antes de o grosso do contingente chegar, equipes de sapadores, espiões avançados, em pequenos barcos sem iluminação, foram às praias da Normandia e estudaram o terreno, mapeando as defesas. Esses soldados não foram detectados e colheram dados preciosos. Outros milhares de paraquedistas foram lançados na retaguarda alemã. Eles tinham a missão de minar as defesas e causar tumulto para retardar a reação alemã. Essa ideia teve problemas, com muitos combatentes se perdendo em pântanos e florestas ou caindo no meio dos nazistas, sendo massacrados. Mas a presença desses soldados confundiu os alemães, que achavam que eles já eram o início da invasão, acreditando que ela se daria, primordialmente, pelo ar e não pelo mar.

<img attr-cid="policy:1.3143855" attr-version="policy:1.3143855:1717792466" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3143855/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Tanque de guerra lembra o dia do desembarque na Normandia (Rogério Borges)

 
O grande palco da virada

O Dia D é sempre celebrado, com a existência de muitos monumentos em sua homenagem em todos os países envolvidos naquela operação gigantesca, em razão da importância crucial que teve para o desfecho da Segunda Guerra Mundial. Depois daquele 6 de junho, as tropas Aliadas avançaram rapidamente, com muitas lutas, pela Normandia. O objetivo era libertar Paris, ocupada pelo nazismo desde 1940. No dia seguinte, soldados já entravam na milenar Bayeux, cidade que possui uma das tapeçarias mais raras e belas do mundo e que conta a história de outra guerra, a do domínio da Inglaterra pelo reino da Normandia, em 1066, por Guilherme, o Conquistador, que inclusive virou rei inglês. Em Bayeux há um museu que conta as batalhas que se seguiram ao Dia D e um cemitério de combatentes.

A próxima cidade reconquistada foi Caen, muito maior que a anterior e que foi fortemente bombardeada pelos Aliados durante essas batalhas, matando muitos civis e destruindo parte de seu patrimônio inestimável. A Batalha de Caen, entre junho e agosto de 1944, é frequentemente comparada ao cerco de Stalingrado, na Rússia, já que a população foi igualmente isolada e muitos morreram de fome, uma vez que ali plantou-se uma das mais aguerridas resistências nazistas daquele momento. A capital da Normandia, Rouen, uma das joias da História e da arquitetura francesas, também foi vítima dos combates. Já na ocupação nazista, em 1940, ela foi incendiada. No final da Segunda Guerra, a Real Força Aérea Inglesa não a poupou de intensos bombardeios, danificando seu patrimônio.

O Dia D foi registrado por destemidos jornalistas, que acompanharam o desembarque. Um dos mais famosos é Robert Capa, fotógrafo lendário por ter coberto grandes conflitos e flagrado cenas impressionantes, como na Guerra Civil Espanhola, nos anos 1930. Ele fez várias fotos do momento em que as embarcações eram abertas e os soldados desciam na praia de Omaha. Ele tirou 106 fotos, mas apenas 11 sobreviveram a um acidente no estúdio de revelação da revista Life, em Londres, para onde os negativos foram enviados. Há uma homenagem especial a Capa na cidade de Bayeux, onde existe um memorial com os nomes de jornalistas mortos cumprindo sua função desde a Segunda Guerra Mundial, seja cobrindo conflitos, seja por perseguições de diferentes naturezas.

Aliás, em cada cidade da Normandia – sobretudo nos arredores das praias Omaha, Gold, Utah, Juno e Sword –, há um trauma a ser contado. Um tanque destruído que serve de peça no museu local, diversos cemitérios militares e placas que marcam os locais de escaramuças. A Operação Overlord foi decisiva para a derrota do nazismo. Ela libertou a França e com ela a frente ocidental avançou contra Berlim. Naquele momento, a União Soviética fazia o mesmo a partir do leste, depois que a Alemanha tentou invadir a Rússia, sem conseguir derrubar o ditador comunista Josef Stálin. Aliás, a decisão de realizar o Dia D foi tomada na Conferência de Teerã, no final de 1943, entre Stálin, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt.

Hitler não conseguiu conter o poderio militar de seus inimigos, sobretudo dos EUA, que entraram na Segunda Guerra após o bombardeio japonês de Pearl Harbor, no Havaí, em 1941. “A batalha da Normandia não aconteceu como planejado, mas até os críticos de poltrona jamais questionaram o resultado final, por imperfeito que fosse”, escreve o historiador Antony Beevor, em seu livro sobre aquele fato histórico. A Praia de Omaha, com suas pequenas piscinas naturais e sua areia fina, já esteve encharcada de sangue. Hoje recebe turistas, praticantes de kitesurf e estudantes que visitam seus memoriais. Pequenas propriedades rurais, com cabras e cavalos, também existem nas imediações, assim como restaurantes e cafés. Mas os traços do inferno de 80 anos atrás também continuam lá.

80 anos do Dia D: a data sangrenta que mudou a História

O Popular