Sessenta famílias, aproximadamente 500 pessoas, estão há 15 dias sem água no povoado Baco Pari, remanescente de quilombo, localizado a 17 quilômetros de Posse, no Nordeste goiano. O grupo, embora tenha decisão judicial a seu favor para que a prefeitura local abasteça as caixas d’água do vilarejo com caminhões pipa, isso não vem ocorrendo. Sem água para necessidades básicas, os quilombolas ameaçam invadir a sede da prefeitura local. O problema é semelhante em outros distritos do município.Presidente da Associação Comunidade Quilombola Baco Pari, Carlos Pereira da Silva conta que o calor escaldante na região tem dificultado a vida da comunidade que vive da agricultura familiar. “Aqui tem muitas crianças, idosos acamados e pessoas portadoras de deficiência que dependem de cadeiras de rodas. Está muito difícil”, conta ele, por vídeo, mostrando as caixas d’água vazias. Sem o abastecimento, o grupo tem buscado água a 3 quilômetros de distância, no Rio da Prata que passa pelo município.“Sabemos que o rio está contaminado com esgoto, mas é melhor do que nada. Com essa sequidão, é a única solução de vida”, reforça Rone Pereira Ramos, morador do Baco Pari. Segundo ele, vencer a distância até o rio não é nada fácil. “Vamos a pé, trazendo essa água na cabeça, ou no lombo do cavalo. Rosa, uma dona de casa mãe de dez filhos com idades entre 3 e 29, diz que sua família “vai vivendo como Deus quer”. As culturas de mamão, banana, feijão, milho, entre outras, também sofrem com a estiagem, refletindo no abastecimento da comunidade. Há mais de seis anos a comunidade a Baco Pari acreditou na possibilidade de ser abastecida por água potável. Estudos realizados pela Saneago, referendados pela gestão municipal da época, por vereadores e pelo Ministério Público Federal (MPF) mostraram que poderia ocorrer a captação de água do Rio da Prata para abastecer vários povoados, entre eles o Baco Pari. Os quilombolas, conforme sua associação, não apenas ajudaram financeiramente como também pegaram no pesado na construção da obra.O projeto não avançou. Uma única caixa d’água foi construída numa propriedade privada à qual os quilombolas não têm acesso. Em ação civil pública protocolada pela comunidade, o juiz federal Eduardo Luiz Rocha Cubas, da comarca de Formosa, decidiu que a Prefeitura de Posse deveria abastecer, pelo menos uma vez por semana, com caminhões pipa, a comunidade. “Além da irregularidade no fornecimento, o caminhão é muito precário”, afirma a advogada Juliana Pimentel de Paula, assistente do MPF.O POPULAR tentou contato com o prefeito de Posse, Wilton Barbosa, mas até o momento não obteve sucesso.