Atualizada às 12h10Com 25 dias de vida e uma doença rara no coração, o pequeno Gadiel Sousa Santos aguarda por um cateterismo para implantação de stent no canal arterial pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas ainda sem previsão. O bebê que foi diagnosticado uma malformação no coração depois do nascimento está internado no Hospital da Criança e corre risco de morte. Agora, a unidade de saúde pede a transferência da criança para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), que está com os 10 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) pediátricas lotados.Elaise da Silva Sousa, de 23 anos, é dona de casa e mãe do pequeno Gadiel. Ela conta que o parto foi normal e realizado na Maternidade Dona Íris. Depois do nascimento, entretanto, o bebê começou a ficar roxo e quando foi para o quarto só dormia e não queria mamar. A pele clareou, mas ele não consegui se manter acordado e a avó pediu que um médico o avaliasse. “Levaram ele para fazer alguns exames e a saturação estava muito baixa. Levaram ele para a UTI e depois dos exames necessários veio o diagnóstico”, completa.O bebê tem uma cardiopatia chamada Atresia Tricúspede com Hipoplasia do Ventrículo Direito, o que significa uma falha na comunicação entre átrio e ventrículos direitos. A mãe conta que na UTI, Gadiel começou a utilizar um medicamento chamado prostin que relaxa os músculos na parede do canal arterial impedindo que ele se feche. “Depois de alguns dias na maternidade ele foi transferido para o Hospital da Criança para fazer cirurgia. Refizeram todos os exames e com 10 dias de vida ele passou pela cirurgia de Blalock-Taussi- cirúrgico foi bem difícil pois ele passou muito mal e chegou a saturar 40, tendo que manter o medicamento prostin e nesse primeiro momento em dose máxima para a idade dele. O estado dele é grave e essa medicação não pode ser prolongada”, acrescenta a mãe.Sem resguardo e se deslocando de ônibusEste é o primeiro filho de Elaise. Ela teve um parto normal seguido de curetagem para retirada de restos de placenta e quase um mês após o nascimento do bebê, conta que não teve resguardo. Ela mora no centro de Aparecida de Goiânia e quase todos os dias visita o filho revezando com o pai, mas conta que vai de ônibus porque não tem condições de pagar outro meio de transporte. “É sofrido ver seu primeiro e único filho passando por isso, sem poder resolver com as próprias mãos, se agarrando na fé, mas como somos humanos não tem como não ter medo e incertezas. Mas a gente acredita em Deus e que ele pode usar pessoas boas para colocar em nosso caminho, pessoas que possam estar nos ajudando.”Tentativa de nova cirurgiaDepois de quatro dias da primeira cirurgia, o recém-nascido quase passou por uma segunda cirurgia. “O próprio médico desistiu desse método por conta da gravidade do caso e dos riscos serem muito altos. Então ele propôs que fosse feito um procedimento por cateterismo, a colocação de stent, que apesar de seus riscos é menos invasivo”, explica Elaise.A criança com cardiopatia em GoiâniaCoordenadora da Associação Amigos do Coração, Martha Camargo afirma que hoje o que é mais difícil é assumir a criança cardiopata e que há um jogo de empurra. “A criança nasce em um Hospital de Goiânia (Hemu, Dona Iris, Nascer Cidadão, Célia Câmara ...), é cardiopata, imediatamente começa a busca pra transferir para o Hugol! Em alguns serviços é até compreensível pela falta de cardiologista pediátrico. Mas, a maioria tem sim cardiologista. O paciente fez o procedimento e ocupa a vaga do Hugol. O ideal seria, a criança fazer cirurgia ou o cateterismo e voltar pra origem visto que tem UTI disponível e serviço clínico pra essa criança em outros locais”.Martha ressalta que o início dos procedimentos e cirurgias cardiopediátricas no Hugol foi um avanço e fala sobre um fluxo que foi montado pela regulação estadual e publicado no último dia 19 de agosto pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO). “O problema é que cirurgias e cateterismo não estão sendo feito porque o leito tá 100% de ocupação! O caminho previsto é: criança com cardiopatia que precisa de atendimento clínico pode ser atendida no Hospital Estadual da Mulher (Hemu) ou Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad). Se precisar de cirurgia, deve ir para o Hugol. Acontece que, o ideal seria fazer a cirurgia ou procedimento no Hugol e retornar para o hospital de origem. A culpa é do serviço que não tem assumido paciente clínico cardiopata! Duas cirurgias por semana estão deixando de ser feitas por conta de falta de vaga de UTI”, acrescenta.Resposta das secretariasO Hospital da Criança é credenciado ao SUS para atendimento de crianças direcionadas por meio da regulação feita pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia. Procurados, o Hospital e a SMS de Goiânia não informaram, até o fechamento desta matéria, se o cateterismo é um procedimento que consta na lista de cobertura via SUS do hospital. Apesar de Gadiel Sousa Santos estar internado na unidade de saúde, a SMS disse, por meio da assessoria de comunicação, que não há solicitação sobre esse paciente na Regulação de Goiânia.Em nota, a SES-GO afirmou que o paciente está sendo acompanhado por equipe médica e multidisciplinar em unidade de saúde de referência habilitada pelo Ministério da Saúde para a realização do atendimento. "No entanto, conforme solicitado ao Complexo Regulador Estadual (CRE), a equipe de regulação segue monitorando e avaliando o caso, realizando busca ativa de vaga 24 horas por dia, na unidade hospitalar da rede estadual, que atende o perfil clínico do paciente", disse a pasta, em nota. O Hugol, por sua vez, foi questionado se todas as crianças que hoje ocupam os leitos de UTI pediátricas da unidade precisariam, necessariamente, estar internados lá ou se poderiam ser remanejadas para outras unidades de saúde a fim de liberar os leitos para novas cirurgias. O POPULAR também perguntou para a unidade de saúde e para a SES-GO se há previsão para realização do procedimento do Gadiel e se seria uma opção a realização no Hugol e o retorno, em seguida, para o Hospital da Criança. "O Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira possui 10 leitos de UTI cardiopediátrica, que no atual momento, estão sendo utilizados em sua capacidade plena por pacientes que precisam de cuidados terapêuticos intensivos. Para que o atendimento do paciente Gadiel Sousa Santos ou qualquer outro do mesmo perfil seja realizado, é necessário a liberação de leitos por meio de alta ou transferência segura, realizada após avaliação da equipe multidisciplinar. O Hugol assiste aos pacientes com foco na qualidade do cuidado embasados em protocolos clínicos na finalidade de promover a segurança de todos", disse, em nota, a unidade. Leia mais: Em Goiás, cerca de 340 crianças nasceram com malformações no coração em 2022Bebê prematuro sobrevive após passar por cirurgia cardiológica inédita em Goiás