A rede municipal de ensino de Goiânia registrou média de um episódio de conflito entre estudantes por semana desde o início do ano letivo, no dia 19 de janeiro, em que foi necessária a intervenção do Núcleo de Mediação de Conflitos da Secretaria Municipal de Educação (SME). Em 2022, foram 18 episódios de conflitos interpessoais entre alunos. A maioria dos casos é relacionada a bullying e preconceito. Além de atuar nessas situações, a pasta promoveu outras 104 ações de prevenção na rede. Ao todo, 40 unidades educacionais foram atendidas pelo núcleo.“Promovemos um espaço de acolhimento, escuta e reflexão para os envolvidos. Toda reação de uma criança ou adolescente é em razão de uma demanda não atendida”, diz Clédia Pereira, coordenadora do núcleo. Em relação a episódios de violência, além da confusão com uso de spray de pimenta por agentes Guarda Civil Metropolitana (GCM) dentro da Escola Municipal Professora Dalka Leles, no Residencial Orlando de Morais, na última terça-feira (3), a rede registrou mais um caso. Foi em fevereiro, na Escola Municipal Bárbara de Souza Morais, na região Leste. Clédia explica que a SME possui cerca de 70 facilitadores para atuar na mediação de conflitos. Os profissionais são habilitados junto ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). De acordo com ela, o intuito da mediação é resgatar a cultura do diálogo respeitoso no ambiente educacional. “Esse trabalho não extingue conflitos, já que eles são inerentes ao senhor humano, mas faz com que esses estudantes lidem com eles de forma compassiva”, reforça.Para atuar nas escolas, o núcleo precisa ser convidado pela instituição. Nas unidades onde o trabalho é essencialmente de prevenção, eles produzem assembleias, círculos de justiça restaurativa e construção de paz, e reuniões planejadas e estratégicas entre profissionais e estudantes. “Normalmente são cerca de cinco e encontros onde damos espaço para eles trazerem demandas e pensarem como podem contribuir para melhorar a situação. Também podemos fazer círculos relacionados a algum tema que a direção peça como, por exemplo, o bullying.”Já nas situações em que ocorrem conflitos não violentos, eles promovem uma escuta individual dos envolvidos e depois promovem uma mediação entre os pares. De acordo com Clédia, a maioria das situações envolve bullying ou preconceito. “Não damos conselhos. O intuito é levá-los, através de um procedimento imparcial, a um processo reflexivo sobre o ocorrido. Assim, eles conseguem perceber que prejudicaram o colega e chegamos a solução do conflito mais facilmente.”ViolênciaOs casos em que existe violência também são acompanhados pela Gerência de Inclusão, Diversidade e Cidadania, que orienta as unidades educacionais por meio do cumprimento do Plano de Ação dos Vitimizados, um documento elaborado pela SME que permite o registro das ocorrências, com compartilhamento das informações para autoridades competentes, e que garante a proteção dos estudantes. “No auge da fragilidade e no calor da emoção, não trabalhamos. Esperamos um ou dois dias para entrar em contato com esses alunos. Também acionamos a família e promovemos um diálogo com os outros alunos da unidade, que costumam ficar eufóricos com o ocorrido”, explica Clédia. No caso envolvendo a GCM, ocorrido na última terça, o trabalho do núcleo na escola começará na próxima terça-feira (10).Primeiro, o contato será com os gestores, para que eles possam se inteirar do ocorrido e promover o acolhimento dos envolvidos. Depois, para quem tiver interesse, haverá um espaço para escuta ativa individual. Nos primeiros três meses, o núcleo visitará a instituição semanalmente. Depois, o acompanhamento será mais espaçado. “Na instituição, vamos seguir trabalhando no âmbito da prevenção até o final do ano.”