No início de junho, mais de 40% das mortes pelo novo coronavírus em Goiás estavam concentradas na Região de Saúde Central, mais populosa, onde está Goiânia. No entanto, com o avanço da pandemia, a proporção de óbitos por regional começou a ser mais distribuída. O maior aumento desta fatia de vidas perdidas foi na Região Sudoeste I, cuja sede é Rio Verde. Entre o dia 31 de maio e 30 de junho, a região passou de 2 para 71 mortes de Covid-19 e deixou de representar 1,2% desta estatística do Estado para chegar a 12%. Nesse mesmo período, Goiás passou de 172 para 590 mortes.A Regional Sudoeste I também se destaca com a maior taxa de mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes, de 16,9, considerando dados da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO). Na segunda colocação está a Regional Central, com a taxa de 12,2. No Brasil, este índice já é de cerca de 30 mortes a cada 100 mil habitantes. A Regional Sudoeste I tem uma população de cerca de 420 mil habitantes em 18 municípios, sendo que nove já tiveram pelo menos uma morte confirmada por coronavírus. Goiás é dividido em 18 regionais de saúde.O aumento destas mortes na Sudoeste I se deve principalmente a Rio Verde, quarta maior cidade de Goiás. O município tem 59 óbitos por Covid-19 segundo dados da SES-GO e 68 conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade. Considerando as cidades com mais de 100 mil habitantes de Goiás, tem a maior quantidade de óbitos por coronavírus proporcional à população.Médico e coordenador do Centro de Operações de Emergências (COE) municipal de combate ao novo coronavírus, Wellington Carrijo tem duas explicações para este alto número de óbitos em Rio Verde e consequentemente na Regional Sudoeste: maior testagem da população e diferença no tempo epidemiológico de outras cidades do Estado.O POPULAR já mostrou que Rio Verde teve uma testagem em massa de trabalhadores da indústria. Dos mortos por Covid-19 da cidade, um deles era um destes trabalhadores.No entanto, de acordo com Carrijo, o município também tem feito cerca de 50 testes diários terceirizados, além de outros cerca de 50 por dia exclusivos da rede privada. Todos do tipo RT-PCR, considerado padrão ouro da testagem. Esta alta testagem reflete na taxa de mortalidade em Rio Verde, de 1,2% dos casos confirmados. Em Goiás a taxa é de 2,2% e em Goiânia 2,5%.“Quando você testa, você acha. A subnotificação de óbito no Brasil é clara. Todo óbito a gente colhe exame. Isso pode sim ter aumentado”, defende o médico. A epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Silveira, corrobora para esta tese. “Testar mais reduz a subnotificação de casos e de óbitos. O Brasil está com muita subnotificação.”Rio Verde foi o primeiro município a adotar o escalonamento de funcionamento das atividades econômicas, alternando paralisação e abertura do comércio de 14 em 14 dias. Além disso, foi a primeira cidade a abrir um Hospital de Campanha.A cidade do Sudoeste goiano também teve o primeiro caso confirmado de Covid-19 de Goiás, ainda no mês de março, junto com a capital. Carrijo avalia que Rio Verde está em um estágio mais avançado da pandemia, mais próximo do pico de mortes. Isso também explicaria o número alto de óbitos.“Acredito que a gente está na frente do Estado três semanas e a gente está chegando no pico. A gente vai desacelerar óbitos na frente do Estado”, explica. Rede privada recorre às vagas de outras cidadesUma peculiaridade de Rio Verde é que a rede privada de saúde da cidade está mais lotada que a rede pública. Cerca de 80 mil habitantes da cidade possuem plano de saúde, o que representa cerca de 35% da população. Na última sexta-feira (3), os leitos privados de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estavam com ocupação de 94,4%, enquanto os da rede pública tinham ocupação de 41,5%.A situação demandou intervenção do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). No dia 10 de junho, o promotor Márcio Lopes Toledo se reuniu com representantes da Unimed Rio Verde e São Francisco Saúde, principais planos da cidade, para estabelecer um fluxo dos pacientes conveniados e garantir que eles sejam atendidos por seus respectivos planos. Na época, as empresas garantiram que tinham condições de manter o atendimento aos clientes. “Na rede pública trabalham com certa folga, mas é preciso esta folga, porque a demanda é grande e duas semanas podem mudar completamente o quadro. A gente está exigindo que o plano cumpra seu papel, atenda bem seu cliente”, explica o promotor.Com esta lotação da rede privada, pacientes de Rio Verde com plano de saúde têm sido internados em Goiânia, 230 km de distância, e até Ribeirão Preto, em São Paulo, cerca de 600 km. “Gerou um caos na iniciativa privada, porque aqueles que têm plano de saúde não estão podendo mais ser atendidos em Rio Verde. Têm que ser transferidos para outras cidades”, descreve a promotora Renata Dantas, que também acompanha a situação. Ela lembra que a rede pública de Rio Verde aumentou seus leitos e se preparou para o aumento da demanda. Segundo a promotora, as decisões municipais têm sido bem embasadas em pareceres técnicos e por isso ainda não foi necessária uma intervenção do Ministério Público.“Não foi necessária a atuação nossa no sentido de forçar, pedir ou exigir do poder público a tomada de alguma atitude. A atuação do Ministério Público tem sido mais de forma colaborativa. Nós temos acompanhado e as verbas que têm chegado têm sido sim implementadas no combate a Covid-19”, garante. RespostaPor nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás informou que, apesar do aumento no número de casos confirmados da Covid-19 no último mês, a taxa de letalidade em Goiás é uma das menores do Brasil.Além disso, a pasta citou o Decreto Estadual nº 9.685 publicado em 29 de junho que determina medidas de fechamento intermitente de atividades econômicas não essenciais e reforça as orientações de cumprir o distanciamento social das publicações que são feitas desde o início da pandemia.Municípios contabilizam mais mortes que secretariaAs 14 cidades de Goiás com maior população, todas acima de 100 mil habitantes, registraram 34 óbitos a mais por Covid-19 que os computados pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO). No caso de Rio Verde, na noite do último sábado (4), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) contabilizou um total de 68 mortes, enquanto a SES-GO tinha o registro de 59.Por nota, a SES-GO informou que o painel Covid-19 extrai os dados dos sistemas de notificação oficiais, o Sivep Gripe e o E-SUS. Segundo a pasta, estas informações são preenchidas e atualizadas pelos municípios. “Enquanto a cidade não registrar os dados ou atualizar a evolução do caso, as informações não são contabilizadas no sistema. A SES-GO trabalha junto aos municípios para que este monitoramento seja contínuo. Há, inclusive, uma portaria da pasta, que dispõe sobre a necessidade de notificação dos casos”, diz trecho de nota do Estado enviada para a reportagem. Médico e coordenador do Centro de Operações de Emergências (COE) municipal de combate ao novo coronavírus, Wellington Carrijo, explica que como o município testa muito, acaba tendo um tempo entre a divulgação pelo portal da prefeitura e o cadastramento dos dados no sistema. “Como a gente faz testagem em massa, está demorando para processar”, explica.-Imagem (1.2080378)