O responsável pelo ato pró-tortura na cidade de Goiás no dia 1º de maio deste ano e que gerou muita repercussão nas redes sociais é um professor de artes visuais. Danilo Bezerra de Souza, de 39 anos, natural do interior de São Paulo ainda não se apresentou à delegacia para prestar depoimento, mas a delegada responsável pela investigação, Amanda Fernandes de Alvarenga já concluiu a apuração e encaminhou o relatório para a justiça.A delegada aponta no inquérito que ele foi responsável por planejar, confeccionar e convidar um andarilho para fazer a manifestação no Largo do Rosário. Mas antes eles passaram por ruas da cidade, passando alguns minutos em frente à Cruz do Anhanguera e na Ponte de Cora. As imagens que circularam nas redes sociais mostram a dupla segurando a faixa que traz dizeres racistas e pró-tortura. Danilo foi indiciado por fazer, publicamente, apologia de crime, cuja detenção varia de três a seis meses, ou multa e incitação ao crime de racismo, que pode render até três anos de prisão.Nas diligências feitas desde o dia da prática, há duas semanas, a Polícia Civil ouviu diversas testemunhas e algumas confirmaram ser Danilo o responsável pelo ato. Uma mulher que prestou depoimento ainda no início das investigações contou que havia visto o indiciado se aproximar de um grupo de andarilhos e oferecer R$ 20 para que um deles pudesse o acompanhar. O único que aceitou a proposta também prestou depoimento e relatou como foi abordado no dia 1º de maio.O andarilho contou que aceitou acompanhar o homem, a quem chamou de cabeludo por sequer saber o nome, porque precisava de dinheiro para complementar o valor de uma passagem para Goiânia. Ele disse que o “cabeludo”, se referindo a Danilo, que usa cabelos compridos, o orientou a seguir até o Mercado Municipal, onde foram se trocar no banheiro. De lá eles saíram para as ruas e algumas pessoas começaram a abordá-los e pedir para tirar fotos. O homem disse em depoimento que Danilo também disse que ele não deveria falar nada e o orientava por onde deveria andar, parar e como segurar o cartaz. Ele se lembra que permaneceu com os trajes acompanhando Danilo por cerca de 20 minutos e que depois voltaram ao mercado, onde retiraram as fantasias e recebeu o valor acordado.Depois de identificar o coordenador do ato, a Polícia Civil foi até a casa dele com mandado para realizar buscas e apreensões de materiais que pudessem ter ligação com o caso. O dono do imóvel locado por Danilo confirmou que ele era o morador do imóvel, mas que ele havia informado que viajaria. A Polícia também identificou a casa da família, em Goiânia, mas ele ainda não foi encontrado. A reportagem tentou contato com Danilo por telefone, mas não conseguiu contato.Presidente da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (OVAT) Rodrigo dos Santos e Silva disse que, independente de quem seja o autor, defende punição para o caso. Ele destaca que não existe motivação artística, política ou cultural que possa respaldar o que foi feito naquele dia. “Se for um estudante, ele sabe muito bem da gravidade do que fez. Mesmo que busque demonstrar em arte, usou uma maneira falha. Todos precisamos responder pelos próprios atos.”RelembreO ato pró-tortura foi realizado no dia 1º de maio, um sábado, e a Polícia Civil da cidade de Goiás iniciou investigação na segunda-feira, dia 3. A apuração que identificou o autor levou 11 dias e apontou Danilo Bezerra de Souza como responsável. No ato, dois homens encapuzados carregaram uma faixa com os dizeres “Deus perdoe os torturadores” pela cidade.Ao POPULAR, Bruno Azevedo e Cláudia Santana, duas das pessoas que fotografaram o ato, contaram que viram a cena e Cláudia, que mora em Goiás, contou que dirigia próximo à Igreja Nossa Senhora do Rosário quando viu os dois homens com vestimenta parecida com as utilizadas na Procissão do Fogaréu, tradição religiosa e cultural do município.“Quando eu cheguei na posição de avistar eles de frente eu vi o que estava escrito”, conta Cláudia. A moradora conta que desceu do carro e perguntou se poderia tirar a foto. Com os homens não havia outras pessoas e ambos permaneciam em silêncio, comunicando apenas entre eles. “Um orientava o outro sobre a posição do cartaz”, relata.“Levei uns minutos tentando compreender”, relembra Bruno, outro que registrou a cena e foi ouvido pela polícia. Nascido na cidade, o publicitário estava apenas de visita. Ao passar de carro pelos homens viu os homens no ato que o deixou estupefado. “Comigo eu levei uma sensação de perplexidade, junto com uma vontade de compreender a incoerência toda”, pontua.No mesmo dia em que os homens foram fotografados com a faixa, um grupo se manifestou em outro ponto da cidade a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em uma rede social, uma das organizadoras, identificada como Helena Damasio, negou que os homens tivessem ligação com o movimento. “O ônus da prova é de quem alega, então eles que provem, porque o pessoal da carreata não tem nada haver com isso”, afirma.