A região da Rua 44, no Setor Norte Ferroviário, é o principal destino dos usuários de aplicativos de carona paga, como Uber e 99, de acordo com dados repassados pelas empresas. O foco, no entanto, não é apenas dos clientes de compras do setor de vestuário, mas também o Araguaia Shopping e, especialmente, a Rodoviária. Em seguida, há um grande número de chamadas do Aeroporto de Goiânia. Os goianienses também demandam motoristas para locais públicos como os parques Vaca Brava e Flamboyant e as praças Cívica e Universitária.Os shoppings Passeio das Águas e Buriti, este em Aparecida de Goiânia, também são bastante procurados, fechando a lista dos espaços turísticos da região metropolitana como principais polos geradores de tráfego. As informações mostram parte das predileções dos habitantes da capital na movimentação da cidade, já que a capital não possui um Plano de Mobilidade e a última pesquisa de origem e destino, responsável por mostrar o fluxo de pessoas, foi realizada no ano 2000, o que pode auxiliar no planejamento urbano.Para a arquiteta e urbanista e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Kneib, a predileção pela região da Rua 44 pode ser entendida de duas maneiras. Uma demanda seria dos viajantes para a Rodoviária, o que explicaria o uso dos aplicativos devido às malas e bagagens, assim como a falta de veículo próprio na cidade. O outro caso seria as pessoas que vão à região para compras ou serviços e usam os motoristas por aplicativo devido à dificuldade de acesso e estacionamentos.“Acho essa informação muito interessante. Significa que as pessoas estão se habituando e procurando outros modos para chegar à região, além do seu veículo motorizado individual.”A posição é semelhante à do secretário da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), Fernando Santana, para quem a situação mostra que os goianienses estão se adaptando à região, que de fato apresenta problemas com a movimentação de veículos. “Mostra que tem atendido aos nossos apelos, buscando um entendimento aos problemas. A gente observa a região da 44 e consegue identificar que estão deixando de ir de carro próprio”, diz Santana.Presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativos de Goiás (Amago), Leidson Alves confirma que a região da Rua 44, de fato, tem grande procura dos usuários, mas que há muitos casos em que se tem um uso misto dentre os elencados pela urbanista. Isso porque há passageiros que utilizam o transporte por aplicativo para ir até a Rodoviária realizar o movimento migratório diário para outras cidades próximas, como Inhumas ou Anápolis, onde não há atendimento direto do sistema de transporte coletivo.Segundo Alves, estes passageiros realizam o trajeto mais curto, dentro de Goiânia, via aplicativo, por considerar mais barato e cômodo do que os ônibus, mas terminam o trajeto com o transporte intermunicipal. “É a questão financeira mesmo. Nesta semana peguei uma passageira que ia para Inhumas, até perguntei se não queria que eu levasse até lá, terminasse a viagem, mas falou que ia ficar caro demais, que compensava mais ir até a Rodoviária mesmo”, conta o presidente da Amago. Para ele, estes vários tipos de uso é o que torna a região da Rua 44 como a de maior demanda por passageiros.DisputaA Rodoviária é um dos locais que motoristas por aplicativos discutem para que se tenha a liberação de conseguir um ponto fixo, até pela quantidade de viagens na região e a dificuldade de ter um espaço onde ficar parado esperando passageiros. O outro ponto é justamente o Aeroporto, que possui a segunda maior demanda na capital e onde uma fila de motoristas se forma em uma rua próxima à área, o que é contra as regras dos próprios aplicativos e tem sido fiscalizado pela SMT, segundo Santana. Na Rua 44, no entanto, a demanda é por espaço na área da Rodoviária, justamente pela falta de local nos arredores.Para Erika, as viagens poderiam sinalizar para a Prefeitura e gestores públicos que existe uma demanda que usa os aplicativos e poderia migrar para o transporte coletivo, e também a “possibilidade de organizar o espaço viário da Rua 44, reduzindo o espaço para os automóveis, uma vez que hoje as pessoas já procuram outros modos para acessar a região que não seu próprio veículo”. “Isso pode sinalizar que, se o espaço da 44 for reduzido para os carros e melhorado para os pedestres (consumidores), isso só favorecerá o comércio, uma vez que hoje as pessoas já não usam mais preferencialmente seu próprio carro para ir à região.”Santana lembra que existe projeto para a região desde 2017, realizado com os comerciantes. “Era para ter sido implantado, mas vamos fazer uma parceria público-privada. Os comerciantes estão terminando o projeto urbanístico para fazer e queremos terminar ainda neste ano.” O espaço para pedestres será aumentado nas vias perpendiculares à Rua 44 e a Alameda do Contorno, ficando apenas uma faixa de rolagem, em sentido único, para entrada nos hotéis e carga e descarga. Na 44, serão quatro faixas para os carros e uma para transporte de passageiros (aplicativos, táxis e ônibus), em sentido único. A Alameda do Contorno também terá sentido único, mas inverso ao da Rua 44.Aplicativos são usados para integraçãoOs dados das empresas operadoras de aplicativos Uber e 99 também indicam um uso significativo das plataformas como integração com o transporte coletivo. Pelas informações, três terminais que integram com o Eixo Anhanguera e outros três em Aparecida de Goiânia são os mais utilizados pelos usuários de aplicativos. Em Goiânia, os terminais Praça da Bíblia, Praça A e Padre Pelágio são os que possuem mais passageiros que chegam por esse tipo de transporte. Já em Aparecida, a demanda é maior para os terminais Cruzeiro, Araguaia e Garavelo.Para a arquiteta e urbanista Erika Kneib, a informação “pode revelar um grande potencial de integração do automóvel com o transporte coletivo, o que é pouco aproveitado pelo poder público”. Kneib acredita que “isso pode gerar ações como estacionamentos próximos a terminais para favorecer a integração carro e ônibus, por exemplo”. No entanto, ela lembra que este uso maciço pelos passageiros pode indicar que usar a Uber ou 99 como alimentador é mais rápido do que a viagem por transporte coletivo até os terminais. “Isso também mereceria uma análise mais detalhada.”A Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) informa que o sistema é planejado para direcionar o usuário para três polos de atração: economia, trabalho e educação. Assim, o entendimento é que os terminais “funcionam como distribuidores de demanda para distâncias curtas e longas, entendemos que o usuário, ao longo dos anos e com a transformação das cidades que compõem o sistema, têm buscado utilizar modais diferentes para ter acesso aos terminais e fazer uso mais ágil em seus deslocamentos”. Para a CMTC, o transporte por aplicativo “tem aporte para viagens curtas, justificado pelo plano operacional das linhas alimentadoras”.No caso do Terminal Araguaia, que possui baixa demanda dos usuários do transporte coletivo, a CMTC entende que a planilha das linhas seja o motivo para a ida do usuário ao transporte por aplicativo. “As linhas alimentadoras deste terminal operam com intervalo, aproximado, de uma hora entre cada viagem. O desejo de escolher o horário de viagem pode ser o motivador”, informa. Já quanto aos terminais Cruzeiro e Garavelo a justificativa seria o apelo para deslocamentos de curta distância. “Por ônibus o morador tem a opção de espera entre as viagens entre 15 e 20 minutos, por aplicativo ele pode ir direto para o terminal no horário que ele mesmo escolher.”Segundo Erika, o modelo com transbordo permitido nos terminais acaba por aumentar os tempos de viagem. “Goiânia já experimentou a integração temporal, na qual o usuário podia ‘trocar de ônibus’ em qualquer ponto, pagando apenas uma tarifa. Isso é muito importante, favorece muito o tempo de viagem e a utilização.” Por não haver modo de financiamento extra tarifário, o benefício foi retirado em 2014.Uso é relacionado com estacionamentoA arquiteta e urbanista Erika Kneib acredita que, pelos dados informados pelas empresas 99 e Uber, é possível verificar que a maior demanda se dá para locais em que o estacionamento é um entrave. Isso ocorre, por exemplo, nas praças Universitária e Cívica. “Estamos falando de polos geradores de viagens, com características diferentes. A direção da Praça Universitária certamente atrai viagens destinadas aos edifícios que estão no seu entorno. Indica ainda uma relação interessante: áreas em que há dificuldade para estacionar as pessoas procuram Uber/99, o que faz todo o sentido”, segundo a especialista.Em relação aos parques Vaca Brava e Flamboyant, que também apresentam poucas vagas para estacionamento em relação à demanda da região, Erika lembra que isso pode indicar que as viagens com motivo de lazer utilizam-se bastante do transporte por aplicativo. “Para uma análise mais detalhada seria muito interessante saber os horários e dias da semana”, diz. As empresas, no entanto, não revelam dados mais específicos sobre o uso dos aplicativos.De acordo com o presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativos de Goiás (Amago), Leidson Alves, além dos pontos com mais destinos apontados pelas empresas operadoras 99 e Uber, a experiência dos trabalhadores mostra que a maioria das chamadas são iniciadas por pessoas que estão nos setores Sul ou Marista. “É principalmente no Setor Sul, muita gente lá deixa o carro em casa mesmo e tem andado com a gente. O que percebo são os veículos na garagem mesmo e optando pelos aplicativos para ir ao trabalho, por exemplo.”Para ele, a explicação para o maior uso nestes dois bairros da cidade é mesmo a situação do trânsito na região dos dois bairros da cidade e a dificuldade em encontrar estacionamentos. Segundo a 99, no entanto, mais de 5% das corridas começam em destinos como Buriti Shopping, Estação da Moda (na região da Rua 44), Aeroporto ou Passeio das Águas, na Avenida Perimetral Norte. Por outro lado, mais de 10% das corridas terminam em locais específicos como Araguaia Shopping, Estação da Moda, ambos localizados na região da Rua 44, Buriti Shopping (em Aparecida de Goiânia) ou no Passeio das Águas.Decreto de regulamentação deve ser publicado nos próximos 30 diasO secretário da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), Fernando Santana, lembra que o transporte por aplicativo não é formado para que os motoristas tenham pontos fixos, como é o desejo dos mesmos em locais de alta demanda, como Rodoviária e Aeroporto. A medida proibitiva consta no decreto de regulamentação do serviço em Goiânia, já publicado em 2018 e que está em processo de atualização. No momento, o mesmo está sendo analisado pela Procuradoria Geral do Município (PGM) e deve ser publicado em até 30 dias.O decreto pretende também regularizar as empresas, que pagarão 1% da renda para a Prefeitura, e os motoristas. Até então, duas empresas já se cadastraram, mas não apresentaram a lista dos motoristas. A nova versão do decreto virá com mudanças, especialmente jogando mais responsabilidade para as operadoras, que são quem vão avaliar a capacidade dos condutores, cujos veículos deverão estar identificados com adesivos das empresas para quais operam. Presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativo de Goiás, Leidson Alves afirma ter pedido uma audiência pública sobre a nova versão do decreto para que a mesma seja debatida antes da publicação.-Imagem (1.2005237)