A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia deve começar ainda neste mês um trabalho de vigilância genômica do coronavírus (Sars-CoV-2) na capital. A princípio foram contratados um máximo de 1.200 exames de sequenciamento do genoma do ácido ribonucleico (RNA), que compõe o vírus que causa a Covid-19. Esta é a primeira vez que a SMS contrata exames para a realização de vigilâncias sanitárias neste nível. Até então, a detecção de variantes da doença na capital era feita a partir de parcerias com laboratórios de pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).O secretário da SMS, Durval Pedroso, explica que a ação de vigilância é importante pois faz com que seja possível estar à frente de um novo surto. “Dá para detectar o aumento de uma variante e tomar alguma atitude, no sentido de mostrar ao poder público a situação e tomar decisões. Em um momento em que estamos ampliando a vacinação e queremos aumentar as vacinas e diminuir as restrições da pandemia, é importante conhecer quais as variantes estão na localidade”, conta. Segundo ele, a descoberta da variante chamada Gamma (P.1) em Goiás se deu justamente a partir do sequenciamento de amostras positivas de Covid-19 em parceria com o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da (UFG).Pedroso esclarece que a licitação para a aquisição dos exames é uma tomada de preços de um pregão eletrônico que permitia até 3 mil testes contratados, mas o pagamento é feito apenas sobre aquilo que é realizado. Neste primeiro momento, foi homologada a contratação de 1.200 exames ao custo de 474 reais, ou seja, o valor total pode chegar a R$ 568.800. A previsão do secretário é que sejam feitos 100 testes por mês, finalizando o contrato de 12 meses com o laboratório com sede em São Paulo, Inside Diagnósticos, Pesquisa e Desenvolvimento S.A., conforme a homologação. Os primeiros testes devem ser realizados ainda neste mês.O titular da SMS relata que ainda faltam trâmites burocráticos para que as ordens de serviço possam começar a serem emitidas. Ele explica que a escolha por contratar um laboratório privado neste momento se deu para que se consiga um maior número de exames e também um resultado mais rápido, embora os testes tenham um prazo normal de até uma semana para a emissão do laudo. “Antes fazíamos com as parcerias com os laboratórios de pesquisa das universidades, mas agora vamos fazer como política pública mesmo, dada a importância que é fazer a vigilância genômica”, diz o secretário municipal de saúde.InícioPedroso explica que os 1.200 exames contratados são uma primeira etapa para a identificação das cepas na capital. Os outros 1.800 testes poderão ser pedidos a partir da necessidade vista pela vigilância em saúde. O secretário explica que a escolha das amostras é feita de maneira aleatória. “A ideia é buscar cepas variantes ou mutantes, a cada tantas amostras positivas se escolhe um tanto para fazer o sequenciamento. Serão até cem por mês, mas queremos abarcar todas as sete regionais de saúde da capital nesse quantitativo”, informa.De acordo com o titular da SMS, a vigilância epidemiológica também adota critérios de escolha em relação à transmissibilidade e também gravidade dos casos. “Quando se faz um grande programa e vigilância é possível entender qual a predominância da variante se tem na cidade. Queremos olhar quaisquer variantes. No coronavírus é mais esperada a variação pela proteína Spike (espícula, em tradução do inglês, que é o elemento do vírus no qual ele se liga a uma célula humana). Com isso podemos analisar qual o perfil daquela cepa”, diz. No entanto, o secretário lembra que nem todas as amostras positivas para Covid-19 podem ser utilizadas para fazer o sequenciamento, já que é necessária uma quantidade básica da quantidade de substância contida no swab (haste utilizada para o teste RT-PCR). “Se não tiver o suficiente essa amostra é perdida, não é possível ser utilizada”, diz. Os exames com resultado positivo devem ser armazenados para a realização do sequenciamento posterior.Em Goiás, a capital será a segunda cidade a ter um programa próprio de sequenciamento do genoma nas amostras positivas de Covid-19. Em abril, Aparecida de Goiânia, na região metropolitana, iniciou seu Programa de Sequenciamento Genômico. A iniciativa se deu ainda em março, por meio de portaria da prefeitura para o sequenciamento total do genoma utilizando sequenciamento de alto desempenho, para detecção de cepas variantes em amostras positivas para Sars-CoV-2, no âmbito do município. A portaria determinava um custo de 750 reais por exame realizado. O Laboratório de Imunologia de Transplantes (HLAGyn), localizado no próprio município é que realiza o sequenciamento das amostras da cidade de Aparecida de Goiânia. Até o fim de junho, 767 amostras já haviam sido sequenciadas, o que dá mais de 250 exames por mês desde o início do programa, ou seja, mais do que o dobro do que o estimado em Goiânia. Quantidade é de 1% de positivos mensaisA quantidade estimada de testes positivos para Covid-19 a terem o sequenciamento genômico para a descoberta das variantes do coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiânia é de apenas 1% do total de casos mensais na cidade. Com base nos dados de casos positivos em maio deste ano, segundo a plataforma on-line da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES_GO), foram 9.316 registros na capital, o que os cem exames mensais para o sequenciamento correspondem a 1,07%.Para se ter uma ideia, Aparecida de Goiânia realiza o sequenciamento genômico em uma média de 6% dos casos positivos do município. Ainda assim, Goiânia teria o seu programa de sequenciamento acima da média nacional. No Brasil, de acordo com a plataforma on-line da iniciativa Gisaid (Global Initiative on Sharing All Influenza Data), que promove o compartilhamento rápido de dados de todos os vírus influenza e do coronavírus causador da Covid-19 de todo o mundo, foram feitos, até então, 20.246 exames para encontrar o genoma do RNA viral, o que corresponde a um total de 0,10% em relação aos casos positivos locais.Essa quantidade, no entanto, faz do Brasil o terceiro país das Américas, em número absoluto, que mais realizou o exame de detecção das variantes. O primeiro lugar é dos Estados Unidos, que já encontrou o genoma de 585.328 casos (1,76% do total de positivos registrados no país), seguido pelo Canadá, com 51.900 exames (3,67% do total registrado no País). Em todo o mundo, o País fica na décima quinta posição.O Brasil demora cerca de 50 dias para informar à plataforma os seus dados. Neste mesmo tempo de atraso, como efeito de comparação, na Austrália o exame foi realizado em 59,4% dos casos positivos, e na Dinamarca o sequenciamento já foi realizado em 39,3%, mas com uma taxa de demora de 23 dias. O patamar de Goiânia ficaria próximo ao que ocorre em Portugal, onde 1,13% dos casos positivos passam pela detecção das variantes locais, e ficaria acima de países como Turquia e Rússia, que apresentam índices próximos a 0,9% do total de casos.VariantesAté então, há predominância em Goiânia da variante Gamma (P.1), que foi registrada pela primeira vez em Manaus. Já a mutação denominada Alpha (B.1.1.7), com origem no Reino Unido, também é encontrada. No fim de junho, o sequenciamento genômico feito na capital em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) encontrou a variante Delta (B.1.617.2), de origem indiana, em uma paciente do sexo feminino na capital, o que não se considerou transmissão comunitária da mesma.De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), existem variantes de interesse ou de preocupação. No primeiro caso, as alterações que sofreu o vírus são fenotípicas em comparação a um isolado de referência do Sars-CoV-2, e a variante pode ser identificada a partir de uma transmissão comunitária ou com múltiplos casos. Já a variante de preocupação é classificada quando causa aumento da transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia; aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença; ou diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde.-Imagem (1.2279516)