Os casos de tentativa de suicídio em Goiânia aumentaram 470% entre adultos de 2015 a 2020. No mesmo período, os registros de adolescentes que tentaram tirar a própria vida foram ainda mais alarmantes, com 578% neste mesmo período. Os números preocupam e a Secretaria Municipal de Saúde apresentou na última semana, mudanças na forma de acompanhar essas vítimas. A meta é garantir que todas essas pessoas tenham acompanhamento e tratamento multiprofissional adequado.Médica da Gerência de Violências e Acidentes da SMS, Marta Maria Alves da Silva explica que as ações de combate às mortes violentas já existem no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2001 e, especificamente contra o suicídio, desde 2006. Agora, a SMS definiu como deve ser o fluxo de atendimento e acompanhamento destas vítimas. Ela ainda afirma que, caso necessário, os técnicos que atuam com estes pacientes deverão fazer busca ativa para garantir que os tratamentos sejam realizados para, assim, impedir que estas pessoas tentem novamente contra a própria vida.Marta Maria diz que a Linha de Cuidados às Vítimas de Tentativas de Suicídio (Livits) tem seu início a partir do primeiro contato, independentemente do nível de atenção à saúde que o indivíduo acessa no SUS. Ela detalha que, independente se essa pessoa chegou depois de uma tentativa de suicídio e foi parar em uma emergência, se ela procurou a unidade por conta própria para informar sua necessidade de ajuda ou se um familiar a levou para buscar atendimento, os casos devem ser notificados para encaminhamentos de acordo com as gravidades observadas. “O que não pode acontecer é achar que a pessoa está querendo chamar atenção, ou achar que é frescura. Existe uma rede de atenção para estas pessoas e, no caso de quem já tentou, ela pode tentar de novo e de novo. Essa pessoa está sofrendo e a dor e essas tentativas podem ser vistas como pedidos de ajuda.” A médica reforça que o aumento dos casos, especialmente entre jovens e adolescentes, precisam ser vistos com cautela. “Tanto pais, professores, amigos devem estar atentos aos sinais. Se a pessoa está afastada, triste, sem ânimo, dizendo que não quer mais viver, que não vale a pena continuar. Tudo isso é sinal de que ela precisa de ajuda.”A médica da Gerência de Violências e Acidentes ainda diz que os professores são importantes neste momento. “Às vezes um adolescente mudou o comportamento na escola, faz desenhos com temática mórbida, não quer participar das atividades. Isso também pode ser notificado, conversado com os pais para encaminhamento deste adolescente.” A partir daí, a depender de cada caso, o adolescente ou o adulto será encaminhado para um atendimento inicial, chamado de acolhimento e, depois, para a triagem. Na estratégia definida pela SMS, nos casos de tentativas de suicídio, o fluxo dos usuários na rede de saúde vai depender do risco de morte em que se encontra, das características da autoagressão, do estado geral da vítima, do estado psicológico e do perfil da família diante do evento. De acordo com as definições apresentadas pela pasta, nos casos de pacientes que precisam de atendimento de urgências e emergências, em hospitais, UPAs ou Cais, por exemplo, serão atendidos e, após estabilização, os encaminhamentos serão feitos para o atendimento ambulatorial. “Essa pessoa vai sair do hospital ou da unidade, já com o encaminhamento para o retorno. E se não comparecer, vamos buscar essa pessoa, ligar, acionar, fazer o possível para que ela tenha atendimento especializado, multidisciplinar.”Depois do acolhimento e triagem, os atendimentos poderão ser individuais, em grupo e familiar. “Os servidores são capacitados, treinados. Eles têm objetivo de fazer um acolhimento humanizado, com cuidado, mas obedecendo as normas técnicas para lidar com este paciente.” Segundo explica, os casos de suicídio e automutilações podem ter causas diversas e, por isso, é tão importante o acompanhamento por diversos profissionais, além de contar com os demais setores e serviços da Rede de Atenção e Proteção às Pessoas em Situação de Violências de Goiânia, que envolve serviços da assistência social (CRAS, CREAS), da educação (Centro Municipal de Educação Infantil/CMEI, escolas), Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacias, dentre outros.O boletim epidemiológico apresentado na última semana pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia mostra que no município de Goiânia, no período de 2015 a 2020, houve considerável aumento de casos de mortes violentas autoprovocadas. Os dados foram analisados e as propostas apresentadas para contribuir para a compreensão do problema e para a proposição de políticas públicas para a prevenção e enfrentamento ao suicido, tentativas de autoextermínio e de automutilação.Neste período, 3.205 casos de lesões autoprovocadas (LA) foram registradas. O estudo feito pela SMS mostra que, inicialmente, por um recorte do ano de 2020, foram 957 notificações. Entre os adolescentes, o aumento foi de 578%, variando de 41 a 278 notificações durante esses anos, apesar do ciclo mais notificado ser o de adulto, com 114 registros em 2015 e 649 em 2020, com variação de 470%.