A apresentação do Título de Eleitor no momento da matrícula em escolas da rede estadual de Goiás tem sido motivo de discussão. A Secretaria de Estado de Educação (Seduc) afirma que o ato não é obrigatório para menores de idade e que a intenção da pasta é atualizar o cadastro de alunos, facilitando a concessão de benefícios aos estudantes.Porém, O POPULAR teve acesso ao Ofício Circular n° 603/2021, do dia 18 de novembro, da Seduc para as regionais da Educação, para que haja uma atualização das informações, mediante a inclusão de documentos dos estudantes e responsáveis “uma vez que os cadastros se encontram incompletos”. De acordo com o documento, a falta de dados dificultou levantamentos de informações por parte da Seduc para que benefícios fossem entregues durante o período da pandemia da Covid-19.“Nesse sentido, solicita-se que as Coordenações Regionais da Educação orientem as unidades escolares jurisdicionadas para que realizem a atualização/inserção de documentos dos alunos no Sistema de Gestão Escolar - Sige e cobrem, no ato da efetivação da matrícula, toda a documentação exigida, conforme especificação a seguir: comprovante de escolaridade; CPF do estudante; Carteira de Identidade (para alunos menores de 15 anos poderá ser Certidão de Nascimento); Título de Eleitor do Estudante (para alunos menores de 15 anos, deverá ser incluído o número do Título de Eleitor do pai/mãe ou responsável; comprovante de endereço)”, diz trecho do texto.O documento ressalta ainda que as escolas terão o prazo de 60 dias para atualizar a documentação dos estudantes, “incluindo o novo campo destinado ao Título de Eleitor”, destaca o texto do ofício. O POPULAR entrou em contato com colégios de Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Rio Verde e Luziânia para verificar se o Título de Eleitor estava sendo exigido no momento da matrícula. Apenas uma diretora, de uma unidade de ensino de Anápolis, informou que foi orientada pela Seduc a exigir o documento de todos os estudantes ou dos responsáveis no momento da matrícula. Na última terça-feira (23), reportagem da TV Anhanguera mostrou que diversos estudantes entraram em contato com o veículo de comunicação afirmando que o Título de Eleitor estava sendo cobrado como obrigatório durante a matrícula.A titular da Seduc, Fátima Gavioli, explicou que por conta do projeto Bolsa de Estudos, que deve repassar 100 reais a todos os estudantes do ensino médio da rede estadual na tentativa de evitar a evasão escolar. De acordo com a pasta, em dezembro, 217 mil alunos devem ser agraciados. O número deve aumentar para 232 mil pessoas em janeiro de 2021.A secretária explicou que por conta do projeto, a Seduc está buscando atualizar os dados cadastrais dos estudantes. De acordo com ela, existem alunos que não possuem nem mesmo CPF ou RG e, por isso, podem ter dificuldade para receber o benefício, uma vez que isso envolve, por exemplo, transações bancárias. “Estou até pensando em fazer uma parceria com o Vapt Vupt ou a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) por conta da quantidade de pessoas.Questionada, Fátima não explicou qual a importância do Título de Eleitor para fazer com que os estudantes recebam o benefício. Entretanto, ela destacou que é importante que os jovens com idade a partir dos 16 anos tenham o documento como um exercício da cidadania. “O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano (Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil) foi certeiro. Demonstrou como é necessário nos atentarmos a isso.”LegalidadeO presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral (CDPE), Wandir de Oliveira, esclarece que condicionar a matrícula escolar de alguém que sequer está obrigado a votar ou mesmo se inscrever como eleitor não é juridicamente possível. “Não é adequado ele ter a matrícula impedida por isso”, diz. De acordo com o Código Eleitoral, pessoas com 18 anos ou mais que não votaram e não justificaram a ausência ficam impedidos de renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo.O presidente do Conselho Estadual de Educação, Flávio de Castro, informou que não tem conhecimento da exigência do Título de Eleitor para matricular alunos nas escolas estaduais, mas que, caso isso venha acontecer, o Conselho irá analisar e produzir uma deliberação sobre o assunto.