Jovens com idade entre 20 anos e 29 anos compõem o maior contingente de moradores de Goiânia que não tomaram uma dose sequer das vacinas contra a Covid-19. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 74,1 mil pessoas nesta faixa etária não deram as caras em nenhum dos postos de saúde da capital, o que representa 37% do total de 198,7 mil moradores que não iniciaram o calendário vacinal. O absenteísmo vacinal também é grande na faixa etária que vai dos 30 aos 34 anos: 28,4 mil dos não vacinados estão neste recorte.A SMS busca compreender este comportamento. “São pessoas que se expõem mais, vão às baladas. Os mais velhos tinham mais medo da doença, por isso, aderiram mais (à vacinação)”, diz a diretora de Vigilância Epidemiológica da SMS, Grécia Pessoni. A secretaria exemplifica com os dados dos idosos (a partir de 60 anos): de acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta população seria de 127,7 mil, mas 262,9 mil pessoas desta faixa etária foram imunizadas em Goiânia. “Muita gente veio do interior”, explica Pessoni.Os motivos para o alto número de não vacinados entre os mais jovens também passam pela tentativa de escolha da vacina. As equipes da SMS, conforme a diretora de Vigilância Epidemiológica, já perceberam que muita gente que procura os postos de vacinação desistem quando sabem que o imunizante disponível é a Coronavac, produzido pela parceria entre o Butantan e o laboratório chinês Sinovac. Isso ocorre porque as vacinas da Pfizer/Biontech estão sendo direcionadas para os adolescentes e para a dose de reforço, pois é o único fármaco liberado para esses dois públicos.Pessoni acredita, ainda, que os mais jovens, entre 20 anos e 34 anos, estão começando no mercado de trabalho, e que muitas empresas não incentivam a vacinação ou não liberam os trabalhadores para se vacinarem. Ela lembra que muitas vacinas são obrigatórias em grandes empresas, como a hepatite B, febre amarela e outras. “O Ministério do Trabalho fiscaliza e, se os trabalhadores não estiverem vacinados, aplica multa. Isso não ocorre com a Covid-19”, diz.Ainda que haja uma maior oferta de Pfizer para a primeira dose, Pessoni não acredita que a aplicação da primeira dose avance muito nos grupos que não se vacinaram até agora. “Já fizemos de tudo: ampliamos os postos, retiramos o agendamento, fizemos busca ativa”, cita. Até agora, 983,4 mil pessoas receberam a primeira dose em Goiânia, o que corresponde a 84% - patamar que tem se mantido há aproximadamente um mês.Por isso, de acordo com Pessoni, não há discussão pela flexibilização do uso de máscaras na capital. “Estamos consultando especialistas, inclusive da Organização Municipal de Saúde (OMS), para definir os parâmetros”, afirma. Conforme ela, não há estudos definitivos sobre qual porcentual de cobertura tornaria segura a desobrigação de máscaras em ambientes abertos, por exemplo.Tampouco a Prefeitura discute a possibilidade de adoção de um passaporte sanitário para acesso a determinados estabelecimentos. Por enquanto, segundo Pessoni, a exigência será mantida em grandes eventos, como shows e jogos de futebol – aliada a testes.A negligência de um grande público em relação à vacinação preocupa, mesmo com um cenário favorável. De acordo com Pessoni, a média diária de mortes por Covid-19 em Goiânia está abaixo de duas, e os pedidos de internações estão por volta de três. “Há um bolsão de pessoas suscetíveis (à infecção pelo coronavírus). Aquelas que não se vacinam se transformam em um risco para elas e para outras”, alerta. Outro perigo é que este exército de não vacinados pode favorecer o surgimento de novas variantes do coronavírus Sars-CoV-2, que podem escapar da proteção oferecida pelas vacinas atualmente disponíveis.Análise por faixa etária mostra que Goiânia tem 286.758 pessoas em falta com a vacinação contra a Covid-19. Do total, 87.990 não retornaram para tomar a segunda dose e 198.768 não apareceram para receber a primeira dose.A maioria das pessoas que não retornou na data prevista para tomar a segunda dose tem entre 35 anos e 45 anos, 24.560 teriam de tomar a Coronavac, 28.340 a Pfizer e 35.109 a vacina AstraZeneca. Quem tem mais de 61 anos, deu o exemplo, menos de um por cento das faixas etárias a partir desta idade, não retornaram para tomar a vacina. Acima de 91 anos é zero por cento.Já entre os que sequer tomaram a primeira dose, a grande maioria tem entre 20 anos e 34 anos, sendo que: 37.950 têm entre 20 anos e 24 anos; 36.172 entre 25 anos e 29 anos e 28.477 entre 30 anos e 34 anos. Em contrapartida, a partir dos 50 anos, Goiânia vacinou acima da população estimada. Um exemplo são os que estão entre 65 anos e 69 anos, pela população estimada pelo IBGE em 2018, eles seriam pouco mais de 30 mil, mas foram vacinados mais de 84 mil.Segundo a diretora de Vigilância Epidemiológica da SMS, Grécia Pessoni, muitas pessoas com mais de 60 anos vacinadas em Goiânia eram do interior. “Cerca de 30% das pessoas com mais de 60 anos que se vacinaram em Goiânia eram de municípios do interior, isto aconteceu porque Goiânia não exigia agendamento e atendia mediante a apresentação de um comprovante de residência, o que não é difícil conseguir. Mas isso nunca teve muita importância para Goiânia, o importante sempre foi vacinar o maior número possível de pessoas, para combater a pandemia. Entidades pedem passaporteUm ofício enviado para a Universidade Federal de Goiás (UFG), para a Universidade Federal de Jataí (UFJ) e para a Universidade Federal de Catalão (UFCat) pede a implementação imediata do passaporte de vacinação contra a Covid-19 para professores, técnicos e alunos durante o retorno das aulas presenciais.O documento é assinado pelo Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado de Goiás (SINT-IFESgo) e o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Goiás (DCE-UFG).De acordo com as entidades, a imunização deveria ser tratada pelas Instituições como obrigatória, uma vez que a falta de exigência de vacinação poderia “levar a resultados desastrosos, como surtos de contaminação e mesmo a óbitos”.Em entrevista ao POPULAR, o reitor da UFG, Edward Madureira, afirmou que a universidade sempre trabalhou para garantir a segurança das pessoas, “dentro da legalidade”. Ele ressaltou que as atividades serão retomadas no dia 17 de janeiro e, que, até lá, o assunto será analisado dia a dia, a partir das novas ações de enfrentamento da pandemia, para “tomar a melhor medida possível”.Em nota, a UFCat afirmou que uma comissão trabalha no retorno presencial das atividades, “com a maior segurança sanitária possível” e que o passaporte da vacinação será adotado caso este seja o “entendimento da comissão”. (Gabriel Hamon) Queiroga elogia portariaO ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a portaria que proíbe a demissão de funcionários que não se vacinaram. Ele avaliou que essa seria uma atitude muito “drástica”. A declaração foi dada no Supremo Tribunal Federal (STF) após reunião com o presidente da Corte, Luiz Fux.O governo Jair Bolsonaro publicou em 1º de novembro uma portaria que proíbe a demissão ou a não-contratação de funcionários por não apresentação de certificado de vacinação.“Então, nós achamos muito drástico se demitir pessoas porque elas não quiseram se vacinar. Como médico, eu sempre consegui que meus pacientes conseguissem aderir aos tratamentos na base do convencimento”, disse.“Nós queremos criar empregos, sobretudo empregos formais. Então, essa portaria é no sentido de dissuadir demissões em função de o indivíduo ser ou não vacinado. As vacinas as pessoas devem buscar livremente”, avaliou.A norma, assinada pelo ministro Onyx Lorenzoni, considera que é discriminatório exigir que o empregado apresente um comprovante de vacinação para manter seu vínculo com a empresa. O rompimento da relação de trabalho por esse motivo dá ao empregado o direito a reparação por dano moral e a possibilidade de optar entre a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento ou o recebimento, em dobro, da remuneração do mesmo período. (Folhapress)-Imagem (1.2348725)