Até o dia 1º de agosto deste ano, 29,2% das gestantes que foram infectadas com coronavírus Sars-Cov-2 em Goiás precisaram ser hospitalizadas. A taxa é quatro vezes maior do que a da população em geral que, até a mesma data, teve apenas 6,6% dos casos confirmados internados. No Estado, apenas uma unidade de saúde, o Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), é referência para o tratamento de gestantes infectadas com a Covid-19 e os leitos na unidade são escassos. O infectologista Boaventura Braz explica que no início da pandemia houve uma preocupação grande com o efeito da doença nas gestantes. “Entretanto, percebemos que elas têm tido uma boa resposta no combate à doença. Elas não têm se comportado como grupo de risco”, pontua.Segundo ele, o índice elevado de internações pode ser interpretado como uma medida preventiva. “Elas são um grupo diferenciado que precisa de mais atenção e cuidado”, esclarece. Os dados sobre internação em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) corroboram a afirmação de que as grávidas se comportam de forma parecida com a população no geral em relação à Covid-19. Até o dia 1º de agosto, 26,8% das grávidas hospitalizadas precisaram dos leitos mais complexos, enquanto do total de infectados hospitalizados em Goiás, 39,2% precisaram de uma UTI. O ginecologista e obstetra do Hospital Materno Infantil (HMI) João Lino Franco Borges, reforça que as gestantes não fazem parte do grupo de risco. “Elas não têm nenhuma condição que faça com que elas tenham um risco aumentado de contrair a doença, nem de desenvolver quadros mais graves”, diz. Sobre o alto índice de internações, ele esclarece que pelo fato da Covid-19 se tratar de uma doença respiratória, existe a probabilidade de evoluir para quadros mais complexos rapidamente. “Por conta disso, o médico acaba sendo mais permissivo na internação. Elas se tratam de pessoas com um perfil diferenciados”, pondera. LeitosO HC, unidade que cuida das gestantes de Goiás com quadros mais graves da doença são tratadas, é um dos poucos locais do Estado que possuem uma maternidade de alta complexidade. “Mesmo antes da Covid-19 nós já cuidávamos de gestantes com comorbidades e com gravidez de alto risco”, explica o diretor da unidade, José Garcia Neto, que afirma que o hospital, muitas vezes, não consegue suprir toda a demanda de solicitação de atendimentos por conta dos leitos, que são escassos. “Elas ficam na enfermaria e caso precisem ir para UTI temos apenas dez leitos especiais, que são divididos entre elas e outros doentes com alto grau de complexidade que atendemos aqui também”, pontua.Entretanto, tanto a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), quanto o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), afirmam que, por hora, não têm recebido informações de que o sistema enfrenta um estrangulamento. Em nota, a SES-GO informou que as gestantes são pacientes com perfil distinto dos demais internados e que, por conta disso, ficou acordado com o HC que pelo fato dele ser uma unidade de alta complexidade com centro cirúrgico, a unidade de saúde ficaria responsável pelo atendimento dessa parte da população. A pasta comunicou ainda que tem monitorada a demanda por internação das gestantes e que “também avalia, de acordo com a demanda, a possibilidade de oferecer mais vagas para gestantes, como alternativa para ampliar o atendimento na rede pública”.Regulação é feita por GoiâniaA regulação de pacientes gestantes com quadros mais agravados da Covid-19 é feita por Goiânia, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). A superintendente de Regulação e Políticas de Saúde do município, Andréia Alcântara, esclarece que na capital nenhuma grávida ficou sem atendimento até agora. O fluxo de atendimento acontece da seguinte maneira: a gestante com sintomas vai até uma unidade de saúde e é atendida por um médico; caso o profissional avalie que ela precisa de internação de qualquer tipo, estando com suspeita ou positivada para a doença, ela é regulada ou para o Hospital Maternidade Célia Câmara (HMCC) ou para o HC. “Para HMCC só vão gestantes com até 20 semanas, que não estejam em trabalho de parto e também não sejam de alta complexidade, pois lá não possui centro cirúrgico”, explica Andréia.A superintendente ressalta ainda que, em alguns casos, como o de uma mulher que teve um bebê no HMI, estava com suspeita da Covid-19 e não foi transferida para o HC, são exceções. “É importante frisar que essa paciente não havia sido regulada para o HMI por estar com o coronavírus. Ela chegou até o hospital, que é uma unidade de portas abertas, por outros motivos e lá acabou desenvolvendo os sintomas e levantando a suspeita”, ressalta. De acordo com ela, não havia a necessidade de a mulher ir para a HC. “Ela estava bem, dentro de uma unidade de saúde que tem estrutura para acolhê-la, visto que o HMC tem que uma área de isolamento para Covid-19, não existia necessidade de levá-la para o HC e, quem sabe, tirar a vaga de uma outra paciente com quadro mais complexo, que poderia precisar muito mais da vaga e estar em uma unidade muito mais básica”, esclarece.Em nota, o HMI informou que frequentemente as pacientes com suspeita ou confirmação da Covid-19 são reguladas para outras unidades de saúde por conta da limitação de leitos no local e que “as outras unidades têm sido parceiras e sempre que solicitadas, havendo disponibilidade de vagas e de acordo com o perfil, as pacientes são reguladas”. Sobre a paciente em questão, o hospital reforçou que ela já recebeu a alta médica e está em casa com seu bebê. Hospital das Clínicas tem tratamento especializado As gestantes que chegam até o Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), infectadas com o coronavírus e com a necessidade de internação em enfermaria ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI), não são levadas para a maternidade de alta complexidade do local. “Elas ficam longe das outras mulheres grávidas, porque não podemos correr o risco de infectá-las”, explica diretor da unidade de saúde que é referência para o tratamento de gestante com a Covid-19 no Estado, José Garcia Neto. Por conta disso, essas mulheres têm um espaço destinado para o tratamento delas na enfermaria que cuida dos pacientes com a Covid-19. Lá, elas são monitoradas pelos mesmos médicos que atendem na maternidade. “Essas grávidas são mulheres com condições especiais como, por exemplo, problemas cardíacos, neurológicos ou com fetos malformados”, explica Neto. Caso necessário, essas mulheres são levadas para UTIs especializadas e o atendimento dado a elas é diferenciado. “Elas são acompanhadas por médicos que estão preparados para lidar com casos complexos e passam por terapias diferentes para manter tanto elas, quanto os fetos saudáveis até o momento do parto”, diz. De acordo com ele, caso a mulher grávida e infectada com a Covid-19 precise fazer uma cesariana, existe um protocolo diferente do habitual a ser seguido. “Ela é levada para um centro cirúrgico normal e não para um centro cirúrgico da obstetrícia. No centro normal, temos uma equipe e equipamentos mais complexos que podem prestar a assistência necessária caso aconteça alguma coisa fora do programado”, pontua Neto. Depois do parto, o hospital garante que tem toda a estrutura para prestar assistência a mulher que passa pelo puerpério e para o bebê. “Nós temos uma equipe e uma estrutura hospitalar preparada para que caso a gestante internada venha a ter o bebê, ela faça isso de forma segura”, finaliza o diretor do HC.