A procura por testes de Covid-19 segue em crescimento nos municípios goianos. Mesmo com ampliação da oferta por iniciativas municipais e do Estado, a disponibilidade de exames se mostra abaixo da demanda. Em Goiânia, apesar do acréscimo de dois novos postos em menos de uma semana, os locais permanecem lotados, com registro de desrespeito a protocolos básicos como o uso de máscaras. Para médicos infectologistas, a situação impõe riscos e mostra necessidade de adaptações.Em cinco dias, Goiânia aplicou 10.113 testes apenas nos postos de testagem ampliada. Diante do aumento da demanda, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) adotou adaptações de estratégias durante esta semana. Entre segunda e quarta-feira a pasta alternou os locais disponíveis entre o formato tenda para pedestres e drive thru para veículos. Com reclamações de grandes filas, a gestão municipal anunciou a ampliação para dois pontos na quinta-feira e três para esta sexta-feira (7). Mesmo assim, os postos seguiram lotados.Para o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, a recomendação de que as pessoas com sintomas gripais procurem postos de saúde não pode dialogar com locais lotados. O médico destaca que a identificação da infecção por teste tem importância na condução de tratamentos, mas que no momento do exame devem ser feito cumprindo todos os protocolos sanitários. “Não é justo a pessoa procurar o exame para ver a doença que tem, e imagine se ela não tiver nenhuma e contrair, nesse ambiente, a gripe e também a Covid-19?”, Ribeiro.O secretário municipal de Saúde de Goiânia, Durval Pedroso, afirma que a estratégia estabelecida para as próximas semanas inclui quatro postos, o que garante disponibilidade de ao menos 5 mil testes por dia. Sobre os registros de locais lotados, o gestor diz que, como a demanda está alta, mesmo com a disponibilidade de agendamento, a minoria está optando pelo agendamento e indo aos postos por demanda espontânea. “Não acredito que abrir vários pontos mudaria a questão da sobrecarga”, avalia Pedroso.Conforme afirma Pedroso, os postos de testagem irão passar por adaptações e devem receber investimentos para evitar situações de aglomerações. “Usar o agendamento é a melhor estratégia. A organização está tendo incremento de pessoal. Estamos ajustando diante do aumento repentino da procura”, diz o secretário.A superintendente em substituição Cristina Laval, da Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa) da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), diz que o controle do Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen) contabiliza aumento tanto na quantidade de amostras recebidas como dos resultados positivos. Entre outubro e dezembro as amostras giravam entre 300 e 600 semanais. Já na primeira semana deste mês foram mais de 1,8 mil.A taxa de positivo praticamente triplicou, saindo de 8% em novembro, passando para 14% em dezembro e chegando a 23% na primeira semana deste mês. Perguntada se o cenário indica que o Estado já estaria em uma quarta onda da pandemia de Covid-19, Laval diz que a questão é envolta de muitas variáveis. “Independente se é chamado de onda ou não, o que observamos é que saímos de uma situação confortável de e agora assistimos a um aumento”, pondera a superintendente.Demanda por medidas Apesar do aumento de casos positivos de Covid-19, tanto a SES como a SMS de Goiânia ainda não avaliam a necessidade de adoção de medidas sanitárias mais duras como a suspensão de eventos. Para Laval, da SES, diferente de outros momentos da pandemia, a variante predominante, a ômicron, se mostra menos agressiva ao organismo. Os efeitos atenuados estariam sendo somados à vacinação já em estágio avançado.“Podemos ter aumento de internações e óbitos, pela característica da variante, de ser mais transmissível. Mas em um nível muito menor pelo fato de hoje termos um cenário diferente, também com avanço da vacinação”, sustenta a representante da SES.Em Goiânia, apesar do aumento exponencial de testes positivos nas últimas semanas, há uma estabilidade nas ocupações de leitos de UTI exclusivas para pacientes da Covid-19. No dia 5 de dezembro, 40 leitos estavam ocupados. Em 5 de janeiro a ocupação chegou a 39 leitos. Por conta disso, o secretário Durval diz não haver necessidade de mobilização de novas vagas.“O raciocínio é que, a partir do momento que eu tenho mais casos positivos, mas não tenho sobrecarga do sistema de saúde do ponto de vista de internações e óbitos, eu entendo que a transmissão daquela doença está agravada, mas sem impactos de danos”, diz Durval.“A positividade vem aumentando já há um certo período e nós não estamos observando aumento de solicitação de internações de pacientes de Covid-19”, avalia o secretário. Sobre a capacidade de mobilizar novos leitos, o secretário afirma que a Prefeitura conta com reserva técnica de aparelhos e de funcionários. Estoque de exame é preocupaçãoPara o infectologista Jose David Urbaez, as aglomerações nos postos são sintomas da pouca quantidade de testes disponíveis. O especialista afirma que desde o começo da pandemia e, ainda hoje, não há ampla disponibilidade de exames no País. “É só olhar o que está acontecendo até mesmo na rede privada”, diz o infectologista ao se referir às queixas da falta de testes em cidades como Curitiba e Florianópolis.Apesar de considerar o agendamento uma boa opção, Urbaez diz que, com a limitação a poucos postos, a estratégia se mostra mais como uma necessidade. “São poucos os testes e limitando você consegue distribuir”, afirma o especialista. Para o médico, a alta procura é esperada diante do momento vivido, em que há disseminação também de doenças como a influenza, que apresenta sintomas parecidos.Conforme publicação feita nesta sexta-feira (7) pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), só as farmácias e drogarias realizaram 283,8 mil testagens entre 27 de dezembro e 2 de janeiro, contra cerca de 140 do dia 20 ao 26 de dezembro. Por conta disso, a entidade sinaliza risco de falta de estoque.O médico infectologista Marcelo Daher afirma que o ideal seria a descentralização dos locais de testes de Covid-19. Entre as medidas para buscar segurança nos ambientes de testagem está a manutenção do distanciamento e o uso de máscaras “se forem de boa qualidade”, conforme alerta Daher.A recomendação atual é de que, para ambientes abertos com aglomerações, o mais adequado são as máscaras cirúrgicas reforçadas com máscaras de pano. “Hoje a máscara de pano não tem poder suficiente para barrar o vírus”, destaca Urbaez. Segundo o infectologista, para ambientes fechados a recomendação é pelo uso da PFF2.-Imagem (1.2383437)