Melhoria do raciocínio lógico, resolução de conflitos, trabalho em equipe e ainda aumento nos desempenhos de matérias como matemática e física. Estes são apenas alguns dos benefícios das aulas de robótica para crianças e adolescentes que estão ganhando as escolas particulares, estaduais e também municipais. A expectativa é que a metodologia seja um complemento das tarefas executadas em salas de aula, além da possibilidade de inspirar jovens a seguirem carreiras nos ramos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Parece brincadeira, mas é coisa séria!Daniel Vieira, de 32 anos, é engenheiro da computação e desde 2011 decidiu que trabalharia com o público infantil. Fundou uma empresa educacional e começou a prestar serviços para escolas particulares de Goiânia. Atualmente são quase 10 escolas com cursos de robótica estrutural, robótica programável e cursos de Stretch e Sketchup, com foco em matemática, geometria e 3D. Ele afirma ainda que muitas escolas procuram os cursos devido a alunos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e também com autismo. “A robótica é importante por inúmeros motivos. Os alunos aprendem a organizar as próprias ideias, precisam de muita matemática e física, aprendem a trabalhar em grupo. O feedback que recebemos das cordenações é que as melhorias acontecem também fora dos laboratórios”, completa.Alice Coelho, de 10 anos, cursa o 5º ano no Colégio Degraus, na Vila Alpes, em Goiânia, uma das escolas que tem a empresa como parceira. Empolgada com a aula, ela monta os projetos de forma muito ágil e sem pedir muito auxílio, termina antes dos colegas. Os colegas da aula, Elcom e Leonardo também exibem os materiais com orgulho. Concentrados e atentos, eles trabalham como gente grande.A mãe de Alice, Eunice Coelho, conta que tinha o sonho de ver a filha tocando um instrumento e chegou a comprar um violão, mas não havia interesse. Depois, pagou aulas de inglês, mas também não era uma paixão. Até que Alice conheceu a robótica. “Ela tinha muita dificuldade nas aulas de matemática. Fazer tarefas de casa era trabalhoso e as notas não eram tão boas. Ela começou a robótica no ano passado e deslanchou na escola. Agora, a média é 9,8 e quando vai mal, um 9,5. Se eu pudesse dar um conselho para os pais, diria pra investirem na robótica. Aqui melhorou por exemplo, raciocínio e concentração”, afirma Eunice.Daniel, que hoje tem uma equipe de quatro professores, explica que geralmente, para alunos de até 6 anos utiliza a robótica estrutural e, a partir de 7 anos começa a inserir a robótica estrutural motorizada. Enquanto as crianças menores criam objetos mais planos, os maiores conseguem fazer carrinhos que se movimentam, motociletas, cataventos, e outros inúmeros modelos com as peças de uma marca estrangeira.A partir do 4º ano, os alunos começam a trabalhar com robótica programável e também utilizam kits de engenharia mecatrônica. A partir do 6º ano entram os cursos de Stretch e Sketchup. Para o Ensino Médio, ainda não oferta aulas e explica a diferença de unidades como o Sesi, que acabam conseguindo participar de campeonatos. “Trabalhamos com uma aula mais lúdica, uma vez na semana, que tem outro foco. Para competir, por exemplo, é preciso formar times e determinar um tempo maior de trabalho diário”, finaliza.Projeto de escola pública é referênciaHá pouco mais de um ano e meio, uma professora de geografia do Colégio Estadual de Período Integral (Cepi) Dr. Antônio Raimundo Gomes da Frota iniciou uma vaquinha virtual para custear o projeto de robótica da escola. O objetivo era ampliar o olhar sobre as formas de estudar e auxiliar no ensino das demais disciplinas. Entre os desafios: dinheiro para aquisição dos materiais e ampliação do conhecimento dos professores. Em 2018, o colégio participou do Campeonato do Sesi, foi eleito revelação entre as escolas do Centro-Oeste e agora está compartilhando conhecimento com outras unidades de educação da rede estadual.Diretor da unidade, Werciley Silva explica que inicialmente foram em busca da parceria do Sesi Planalto, que já tinha uma estrutura sólida além de profissionais da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) que tinham conhecimento. “Precisávamos de material para o projeto, os kits pedagógicos, maletas, computadores. O Sesi cedeu duas maletas emprestadas e a escola conseguiu fazer a aquisição de uma terceira. Foi feita também parceria com empresas para levantar mais recursos e o sistema de vaquinhas online, que também gerou uma quantia para ser aplicado”, explica.A professora não está mais na unidade. Thamires Olimpia Franklin era contratada temporariamente. Apesar disso, seu desejo foi realizado e o projeto alcança hoje voos maiores. O diretor Werciley Silva afirma que desde que o projeto começou alunos e professores passaram a ampliar as formas de estudar e trabalhar em grupo. “Houve mudança no comprometimento. Os que estão na robótica têm maior desempenho em todas as disciplinas, na vida escolar e na própria vida. Existe um sentimento de pertencimento e responsabilidade. Na robótica só dá certo se o trabalho for feito em equipe”, completa.Atualmente, a escola é sempre procurada pelo desempenho no projeto. Estão apresentando a trajetória de sucesso com outras escolas, palestrando e mostrando as boas práticas utilizadas. No total são quatro turmas de 25 alunos no Núcleo Diversificado e dois times de 12 alunos que participam dos campeonatos. Os alunos que estão no grupo de eletivas praticam por 2 horas por semana. Já o time tem uma carga horária de 15 horas semanais. A secretaria também tem contribuído para a formação dos professores que atuam na Robótica.Apesar disso, Werciley conta que os desafios continuam e que a meta agora é: ampliar o espaço físico, comprar mais três maletas, um tapete mais atualizado e 10 novos computadores. “Também queremos participar da Olímpiada Brasileira de Robótica (OBR); do Campeonato First Lego League (organizado pelo Sesi nacional)”, finaliza.Rede municipal vai ofertar aulasNa última quarta-feira (10), a Prefeitura de Goiânia lançou o projeto Makers, com o objetivo de capacitar e oferecer suporte para professores da Rede Municipal de Ensino na inserção de atividades de robótica nas escolas. O primeiro curso de formação será com duas turmas, de 16 alunos cada, incluindo professores e apoio técnico. Na sequência, 14 escolas serão contempladas.O projeto é uma parceria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec); Secretaria Municipal de Educação E Esporte (SME); Instituto Federal de Goiás (IFG); Universidade Federal de Goiás (UFG) e Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe-GO). Presidente do Sepe-GO, Flávio Roberto de Castro explica que o Sindicato doou vários kits e a Sedetec fez a capacitação dos professores.Desde o ano passado, alunos da Escola Municipal Francisco Rafael Campos, de Aparecida de Goiânia, passaram a ter aulas de robótica na escola por meio de uma parceria com o Sesi. O objetivo é estender o projeto a outras unidades da rede.