Campinas já é um bairro muito movimentado, cheio de gente andando de um lado para o outro, de carros indo e vindo nas ruas. Na manhã desta sexta-feira (6), com a solenidade de transferência simbólica da capital em comemoração aos 208 anos do bairro, esse movimento foi intensificado e dividiu a opinião de quem trabalha ou precisava parar por ali. De um lado, os que reclamavam do congestionamento e, do outro, os que ficam felizes todas as vezes que a região recebe destaque pela data.A funcionária de uma loja especializada em noivas na Rua José Hermano, Camila Simiema de Souza, de 37 anos, estava preocupada com as clientes que estavam por chegar para buscar as roupas locadas. “Como hoje (sexta-feira) tem jogo do Brasil mais tarde e vamos fechar mais cedo, tenho medo de atrasar e depois virar bagunça aqui na loja”, disse. O comerciante José Carlos Araújo Gomes, de 45, discorda da transferência. “Só gera transtorno. A gente só lembra porque tem esse tumulto aqui na porta”, criticou.Apesar de algumas críticas, tem muita gente que agrada desta mudança, promovida há dez anos. “Acho importante porque Campinas foi o berço dessa cidade tão boa de se viver, apesar dos problemas das cidades grandes”, disse o aposentado Carlos Caetano Silva, de 72, que foi ao Colégio Santa Clara participar da solenidade de transferência simbólica da capital. “A gente fica feliz porque ainda se importam com as raízes, tradições. Quem critica deveria pensar que é só por algumas horas”, pondera.A dona de casa Maria Aparecida de Souza Gomes, de 68, foi ao colégio, que recebe a administração municipal por algumas horas para ver a movimentação. Ela frequenta o Santuário Basílica Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Matriz de Campinas e concorda com a transferência. “Não muda nada para quem mora em outro lugar, para quem não tem relação com Campinas. Mas para quem está aqui, vive a região, é muito gratificante. É uma pena ser tão pouco divulgado”, lamenta.Durante a solenidade, no auditório do Colégio Santa Clara, que se torna a sede da administração provisória por conta da comemoração, o prefeito Iris Rezende disse que fica feliz em poder realizar esta ação. Ele se lembrou de histórias de sua mocidade e de quando iniciou sua carreira política. Ele citou as mudanças no bairro, que cresceu absurdamente, e também falou que vai buscar incentivos para que o comércio da região seja intensificado e se fortaleça como referência em todas as áreas, mas com a preocupação de preservar a história de Campinas.O prefeito ainda disse que tem grande paixão por Campinas, porque sua história se confunde com a do bairro. “Foi aqui que tudo começou e eu não poderia deixar de prestar essa homenagem a esse bairro que me deu a oportunidade de ser quem sou hoje”, destacou. Além do prefeito, participaram o presidente da Câmara Municipal, Andrey Azeredo, o ex-prefeito de Aparecida e ex-governador Maguito Vilela, o pároco da Basílica, João Otávio Martins e outras autoridades, como secretários e vereadores.Iris ainda destacou as ações de limpeza urbana e revitalização de seis praças na região, além da operação tapa-buracos, limpeza de bueiros e recuperação de sinalização, executadas pela prefeitura. Outro ponto que marcou o aniversário do bairro foi a criação da ala pediátrica no Cais de Campinas, com capacidade para atender 300 crianças por dia e aplicar 11 mil vacinas por mês. O Cais também recebeu melhoria na estrutura.Família de Joaquim Lúcio mantém hábitosTetraneta do coronel que dá nome a uma das praças mais conhecidas da capital, a Praça Joaquim Lúcio, em Campinas, a advogada Desirée Peñalba, de 30 anos, ficou emocionada ao falar da família na manhã desta sexta-feira, enquanto acontecia a solenidade de transferência simbólica da capital para Campinas. Ela diz ter uma preocupação grande com a preservação da história, especialmente porque tem uma relação de amor com o bairro.Ela se lembra que a avó herdou de seus bisavós e tataravós o hábito de se reunirem diariamente para conversar e fazerem refeições juntos. “Nós chegamos a nos mudar daqui de Campinas para o Setor Marista por alguns anos, mas vínhamos todos os dias para jantar na casa da minha avó”, se lembra. Desirée diz que voltou a morar no bairro quando a avó adoeceu.Desde que voltou para Campinas, ela diz ter reencontrado uma realidade distante. “Aqui em Campinas ainda existe aquela aproximação com os vizinhos, contato, preocupação. É muito bom”, diz. Ela diz gostar tanto da região que fez questão de continuar morando no bairro depois de seu casamento, em dezembro passado. “É um bairro com muita vida, com movimento, com história”, enfatiza.Além de tetraneta de Joaquim Lúcio, Desirée é bisneta de Cândida de Morais e de Urias Magalhães, que dão nomes a bairros importantes da Capital. Ela diz que sabe que seu tataravô morou em frente à praça, que mais tarde recebeu seu nome. “A mãe dele era muito rica e eles vieram da antiga Santa Luzia, hoje Luziânia, e compraram muitas terras aqui, que hoje são esses bairros”, diz.