As duas famílias que tiveram os bebês trocados no Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin) vivem momentos de tensão e estão morando juntas na casa de Genésio Vieira de Souza e Pauliana Maciel Aguiar de Souza, no Setor Monte Sinai, em Trindade. Os casais contam que está sendo difícil lidar com a ansiedade e a tristeza diante do episódio. “É um sofrimento sem fim. Já pegamos afeto pelo bebê que veio com a gente da maternidade, acostumamos com o cheiro dele, o jeitinho, sabemos reconhecer cada choro e será muito dolorosa a hora da troca”, afirma Genésio, o primeiro a procurar ajuda com a suspeita do erro.Genésio relata também que o outro filho do casal, de 1 ano e 5 meses, já criou um laço afetivo com o bebê que eles saíram da maternidade. “Ele já reconhece como irmão, mesmo não sendo parecido e não sei como será de agora em diante”, lamenta. Ele diz que o maior medo é que o bebê que está com o outro casal também não seja o deles.“Só esperamos que tudo se resolva logo agora e que justiça seja feita. Um erro como este jamais deveria acontecer e queremos que os responsáveis sejam identificados. Eles precisam colocar funcionários responsáveis e capazes”, garante. “Eu nunca imaginei que uma coisa desta poderia acontecer na vida real, e precisamos saber a verdade do que houve naquele dia”, acrescenta.O pai do outro bebê, Murillo Praxedes Lobo, conta que ele e a esposa também estão abalados e mal dormem aguardando o resultado. “Estamos vivendo todos juntos e nos receberam muito bem, mas é uma situação constrangedora e triste”, confessa. Ele conta que desde o início percebeu que havia algo de errado, pelo tom da pele, mas que sua esposa passou mal após o parto e preferiu esperar. “Apesar de achar estranho porque somos bem branquinhos, todos me diziam que ele havia puxado meu pai, que é moreno. Então permaneci com a dúvida guardada e não quis arriscar agravar a situação da minha mulher”, relata.Aline Alves, esposa de Murillo, conta que logo que percebeu a pele mais morena do bebê que recebeu e foi questionada pela mãe alegou que acreditava que com os dias iria clarear. “É meu primeiro filho, pensei que estava mais vermelho e moreno e fosse mudando com o passar dos dias, o que não aconteceu”, afirma.Pauliana diz que está buscando não criar nenhum tipo de expectativa até que tudo seja confirmado. Já Aline, relata emoção distinta. “Tentei segurar, mas não consigo, só penso no momento da troca. Quando chega a noite é o momento mais difícil pra mim”, revela emocionada.As duas estão amamentando os bebês que vieram do hospital com cada uma, e relatam que todos ajudam nos cuidados. Aline disse ainda que independente do resultado, todos já se tornaram uma grande família.AuxílioPara dar um apoio, a Polícia Civil enviou, na última terça-feira, um psicólogo para conversar com as famílias na casa de Genésio e Paula. Nesta quarta-feira (31), a pedido dos advogados, Murillo, Aline e Paula foram até o Hutrin e tiveram uma consulta com um profissional de psicologia do local. Segundo as famílias não há novas consultas agendadas. “Cada um aqui dorme com o neném que veio do hospital com a gente, se criou um sentimento muito forte, que mesmo com as diferenças físicas o coração tem medo de aceitar o que tudo indica”, frisa Murillo.Depois que esta etapa for resolvida, os advogados das famílias estudam pedir reparação para o hospital pelos danos causados. “O laboratório nos deu um código de acesso para vermos pela internet o resultado do DNA, porém enquanto não houver esta resposta, aguardaremos para tomarmos providências”, esclarece Alaor Mendanha, advogado de Genésio.Os pais das crianças trocadas contaram ao POPULAR que não acompanharam os partos das esposas por normas da maternidade que não autorizou a entrada. Funcionárias negam erro em depoimento à políciaQuatro funcionárias do Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin) prestaram depoimento nesta quinta-feira (31) sobre a troca de dois recém-nascidos descoberta na semana passada. As enfermeiras e técnicas em enfermagem negam as acusações das famílias de que elas fizeram o equívoco, conforme relata a delegada responsável pela investigação, Renata Vieira, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Também foram ouvidas nesta quinta-feira outras duas mulheres que ficaram no mesmo quarto da enfermaria durante o período em que houve a falha.A delegada explica que aguardará o resultado do exame DNA, previsto para esta quinta-feira (1º), para tomar novas providências em relação ao caso, mas que pretende ouvir novamente as mães e avós dos bebês. Ela ainda revela que a investigação aponta a probabilidade dos recém-nascidos estarem com as pulseiras corretas no dia do nascimento, mas que foram colocados ao lado das mães em posições trocadas e vestidos com as roupas invertidas após o banho.As investigações apontam que as pulseiras dos bebês se soltaram e uma delas teria caído no chão. Segundo a delegada, a mãe de uma das mulheres viu que o nome escrito na identificação achada perto do suposto neto não era o da filha e sim da outra paciente. A avó informou à polícia, segundo a delegada, em depoimento que chamou uma funcionária da maternidade para avisar que achou estranho as pulseiras estarem invertidas. Já as enfermeiras do Hutrin, negam também esta informação.PenalidadeRenata Vieira, afirma que até o momento trabalha com a investigação baseada no Art. 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê penalidade para quem não identificar corretamente o bebê e a mãe após o parto.“Trabalhamos com a hipótese de ter sido culposa a troca (quando não há intenção). Após a conclusão da investigação, vamos enviar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) sobre o caso à Justiça”, disse Renata, explicando que o TCO é um “registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo”.A delegada também esperava analisar imagens de câmeras. Porém, na última terça-feira (30), ela recebeu a informação do Hutrin que as imagens de câmeras da maternidade não estão mais disponíveis, já que ficaram armazenadas por 10 dias e foram automaticamente apagadas. O Hutrin afirma que as funcionárias não poderão ser afastadas por falta de equipe.-Imagem (Image_1.1854396)