O vitiligo, doença lembrada no mês de junho em campanhas, não é contagioso e não traz nenhum mal para a saúde física. Entretanto, a descoloração da pele pela falta de melanina afeta a autoestima do paciente e pode desencadear problemas psicológicos, como a depressão. É uma das doenças dermatológicas mais estudadas no mundo, com diversas opções de tratamento, mas ainda sem o anúncio de uma cura definitiva. Em Goiás, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) aprofundam os estudos sobre transplante de melanócitos, uma das opções terapêuticas para combater a doença.O transplante de melanócitos, técnica criada pelo dermatologista indiano Davinder Parsad, proporciona excelentes resultados, com taxas de repigmentação entre 90% e 100%, em 75% dos casos. O procedimento é adotado no Brasil há mais de dez anos, mas na maioria das vezes em clínicas particulares, o que reduz a possibilidade de beneficiar um maior número de portadores da doença. Por iniciativa do coordenador do Ambulatório de Cirurgia Dermatológica do Hospital das Clínicas (HC) da UFG, Luiz Fernando Froes Fleury Jr., cerca de 50 procedimentos são realizados por mês gratuitamente na unidade.Lilian de Fátima Pereira, 51 anos, é uma das pacientes beneficiadas pela iniciativa. Ela conta que a doença surgiu há 12 anos e atingiu principalmente os braços. “Eu não consigo me expor. Desde então passei a usar somente manga longa”, diz a psicóloga. Após vários tratamentos e com o vitiligo estabilizado, Lilian decidiu buscar o transplante na expectativa de cobrir as manchas que a incomodam. Numa clínica privada, em Brasília (DF), fez o primeiro procedimento. Lá soube que o serviço era oferecido pelo HC da UFG e comemorou. “Na época paguei R$ 4 mil e eu teria de gastar muito mais para melhorar a aparência porque havia previsão de pelo menos oito transplantes.”No Ambulatório de Cirurgia Dermatológica do HC, Lilian já realizou três procedimentos e outros virão. No seu caso os fragmentos de pele para o transplante foram retirados da nuca e da cintura, diferente do que ocorreu com Keyla dos Santos Vieira, 40 anos. Para cobrir manchas no braço direito, a equipe médica pinçou pequenos pedaços de pele do couro cabeludo da dona de casa. O procedimento formatou um estudo de caso que ganhou o segundo lugar na categoria Novas Técnicas no 31º Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, realizado em Goiânia em maio.A decisão dos dermatologistas se baseou no fato de que estudos anteriores já mostraram que o folículo piloso é um importante reservatório de melanócitos e o couro cabeludo se revelou uma potencial área doadora por ser de cicatrização imperceptível. “Um dos problemas do transplante de melanócitos é que há risco de induzir novas lesões de vitiligo no lugar onde o tecido é retirado, por isso decidimos experimentar o couro cabeludo”, explica Luiz Fernando Froes Jr..Keyla está feliz com os resultados e por poder contribuir com a ciência. “Estou amando! Já deu uma melhora e tanto”, conta. Desempregada, ela relata que convive com o vitiligo desde os três anos e já sentiu muito preconceito. “Quando você tem manchas as pessoas te enxergam com outros olhos. Não dá para trabalhar em qualquer lugar. Uma colega do ambulatório, que é cozinheira, me contou que foi dispensada do emprego por ter vitiligo.” Sobre o transplante de melanócito a partir do couro cabeludo, realizado em outubro do ano passado, Keyla diz que em nada a incomodou.A técnicaO transplante de melanócitos - célula que produz a melanina -, também conhecida como microenxertia por punch (cilindro cortante), consiste na retirada de pequenos fragmentos de pele com coloração normal de locais mais escondidos - como o lado posterior da orelha - que são enxertados na mancha branca. Para o procedimento, feito em consultório, sem necessidade de internação, é usada anestesia local ou sedação. A área receptora é preparada com múltiplos orifícios de 0,25 ou 0,5mm, menores do que os enxertos retirados da área doadora, que são de até 1mm para áreas faciais e até 1,2mm para outras regiões.No ponto do enxerto é feito um curativo por uma semana. Após esse período, o paciente é orientado à exposição solar ou à fototerapia (banho de luz com radiação ultravioleta B), medida necessária para induzir a pigmentação. Em média, células enxertadas começam a produzir melanina em dois meses, e em cerca de um ano, a mancha branca ganha coloração. Estudos revelaram que 1mm de área doadora é capaz de pigmentar uma região 25 vezes maior.O procedimento não é indicado para qualquer portador de vitiligo, apenas para aqueles que não respondem a outros tipos de tratamento e mantêm a doença estável. Ou seja, a escolha do paciente para ser submetido ao transplante ocorre após uma análise médica criteriosa porque os resultados diferem muito. “Vitiligo é uma doença estigmatizada”, afirma Froes Jr.Evento gratuito sobre a doençaPara lembrar o Dia Mundial do Vitiligo, 25 de junho, data escolhida em alusão à morte do cantor Michael Jackson, que era portador da doença, a clínica Cório Dermatologia vai realizar na sexta-feira, dia 21, a partir das 8h30, o evento Vitiligo em Pauta, aberto ao público. Médicos, psicólogos e portadores de vitiligo vão discutir os vários aspectos relacionados à doença, como o impacto psicossocial ao ser diagnosticada, o autoconhecimento e os tratamentos possíveis.O evento vai contar com a presença da modelo goiana Eliane Medeiros, 22 anos, a primeira pessoa com vitiligo a aparecer em uma campanha publicitária. Ela aprendeu a aceitar e a conviver com a doença que a acompanha desde a infância. São diversas manchas espalhadas pelo corpo. E é assim, se expondo em campanhas publicitárias, que ela tem tido um papel fundamental na conscientização da sociedade sobre o vitiligo. Ela, como gosta de dizer, ajuda a quebrar "as estruturas de padrões pré-estabelecidos do que é considerado belo e aceitável". Para participar, é preciso se inscrever previamente, sem nenhum custo, através do aplicativo de mensagens Whats App do número (62) 98270-3382. A Cório Dermatologia fica no mezanino do Ed. New York Square, Av. 136, Setor Marista, em Goiânia.