Com a chegada de novembro, a Universidade Federal de Goiás (UFG) encontrou motivos para celebrar um ano de adversidades e desafios. A divulgação da lista de classificação mundial de pesquisadores de impacto, baseada na base de dados Scopus, revelou que um grupo de docentes da instituição ocupa lugar de destaque na produção científica. A partir de quase 7 milhões de autores de artigos científicos, foram selecionados 2% daqueles com maior pontuação em diferentes áreas do conhecimento. A partir da combinação de diferentes métricas de citação dos artigos e padrões de autoria, foi calculado o total de dados do pesquisador ao longo da carreira e também apenas no ano de 2019. Dos 600 brasileiros que são citados como destaque no total carreira, quatro são da UFG: José Alexandre Felizola Diniz Filho e Luís Mauricio Bini, ambos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB); Carlos Estrela, da Faculdade de Odontologia (FO), e José Realino de Paula, da Faculdade de Farmácia (FF). Na lista aparece também Arthur Anker, professor visitante por quatro anos do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal (PPGBAN) do ICB.Entre os destaques da produção científica no ano passado, a lista traz os professores José Alexandre Felizola Diniz Filho (ICB), Luis Mauricio Bini (ICB), Rafael Loyola, Thiago Rangel e Paulo de Marco, todos do Departamento de Ecologia (ICB), Carlos Estrela (FO), Arthur Anker (PGBAN) e Wendell Coltro, do Instituto de Química (IQ). Também aparecem Adriano S. Melo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Joaquin Hortal, do Museu Nacional de Ciências Naturais, de Madri (Espanha), professores associados ao PPG em Ecologia & Evolução da UFG.Os professores José Alexandre Felizola Diniz Filho e Luis Mauricio Bini ocupam, respectivamente, as posições 513 e 1.259 do total de pouco mais de 48 mil pesquisadores da subárea de Ecologia. O professor Carlos Estrela a posição 695 de mais de 55 mil pesquisadores da subárea de Odontologia e o professor José Realino de Paula a posição 1.144 de mais de 80 mil pesquisadores da subárea de Química Médica. Na lista dos 600 brasileiros, os pesquisadores da UFG ocupam as posições 40, 199, 334 e 488, respectivamente.Pró-reitor de pós-graduação da UFG, Laerte Ferreira lembra que a Scopus é uma base de dados robusta, o que reafirma a importância das universidades no universo da pesquisa. “No Brasil, fundamentalmente, as universidades públicas. Os colegas estão se destacando de forma merecida”, ressalta. Para o professor, a produção científica está vinculada de forma majoritária à pós-graduação, daí a importância das bolsas de formação e fomento à pesquisa. “Bolsa é investimento que traz retorno.”A UFG conta hoje com 1.800 bolsistas, a maioria faz ciência com dinheiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). Há algumas poucas pagas com orçamento da instituição. Alunos de mestrado recebem bolsa de R$ 1,5 mil, de doutorado, R$ 2,2 mil, e de pós-doutorado, R$ 4,4 mil. “Em média a UFG recebe R$ 50 milhões anuais para pesquisa. É um valor muito pequeno para o retorno que a ciência de qualidade pode oferecer. O sistema de pós-graduação da UFG está mostrando sua relevância.”Em média, a UFG publica 2.200 artigos por ano em revistas de relevância científica, dentro e fora do País. O ranking que acaba de ser divulgado mostra a influência desses artigos no trabalho de outros pesquisadores pelo número de citações. Vários dos docentes que integram a classificação são vinculados à pós-graduação do curso de Ecologia e Evolução, que possui nota 7, atribuição máxima da Capes pelo nível de excelência, o único do Centro-Oeste nesta condição. “Todos os estudantes são bolsistas e isso determina a qualidade da pesquisa produzida. Precisamos lutar para que as bolsas não sejam descontinuadas”, afirma Laerte Ferreira.Com 25 anos de carreira acadêmica, com trabalho reconhecido no exterior, o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, o melhor classificado da UFG no ranking, comemora. “Além da satisfação pessoal de ter meu trabalho reconhecido como pesquisador, estou feliz pela lista mostrar a força do grupo da Ecologia e Evolução porque uma das coisas que nos caracteriza é a produção em conjunto.” José Alexandre recebeu nota 2 (a segunda maior) na subárea de Ecologia no Brasil.Bolsas Embora seja um pesquisador que atua em ciência mais abstrata, ao lado de Thiago Rangel, também da Ecologia, e de Cristiana Toscano, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), José Alexandre está na linha de frente da modelagem que revela o avanço da Covid-19 em Goiás, trabalho que auxilia o serviço público na tomada de decisões. Ele lamenta as dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira e os cortes orçamentários. “Em um momento como o que estamos enfrentando, uma pandemia, é a universidade pública que resolve.”Tanto Laerte Ferreira quanto José Alexandre temem pelo futuro da ciência no Brasil. “Se a proposta de orçamento passar no Congresso Nacional conforme foi enviado, vamos ter dificuldades em 2021”, afirma o pró-reitor de pós-graduação da UFG. José Alexandre lamenta que 18 alunos do Departamento de Ecologia tenham perdido suas bolsas no último ano, apesar da alta produção científica. “Estamos falando de jovens, um bônus demográfico que estamos jogando no lixo”, afirma Laerte Ferreira. Scopus é o maior banco de dados de resumos e citações da literatura científica do mundo. É uma solução oferecida pela Elsevier, empresa global de informações analíticas. Pela Scopus é possível monitorar, analisar e visualizar pesquisas realizadas em escala global. Com ela é possível quantificar a produtividade e o impacto de pesquisas individuais ou em grupos baseando-se nos artigos – papers, no meio acadêmico - mais citados.