Pela terceira vez, um integrante do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro (Tox In), da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), está entre os premiados do Lush Prize, premiação bianual patrocinada pela empresa de cosméticos britânica Lush.Artur Christian Garcia da Silva, que acaba de defender sua tese de doutorado, está entre os ganhadores na categoria Jovem Cientista. Sua orientadora, a professora e doutora Marize Campos Valadares, ficou entre os finalistas na categoria Lobby. Os vencedores foram anunciados na sexta-feira (18) durante uma cerimônia de premiação online.Em 2017, o então acadêmico Renato Ivan de Ávila Marcelino conquistou a mesma premiação, como Jovem Cientista. No ano seguinte, a professora Marize, coordenadora do Tox In, foi laureada na categoria Treinamento e Educação. O Lush Prize oferece um fundo global de prêmios para apoiar iniciativas que visam extinguir ou substituir testes em animais. Este ano, foram distribuídos 250 mil libras para os vencedores. Artur Silva ganhou 10 mil libras (cerca de R$ 63 mil), dinheiro que ele pretende utilizar na compra de insumos necessários ao projeto que desenvolveu no doutorado e com o qual ganhou o Lush.“Concorri com um modelo que avalia a resposta pulmonar a substâncias químicas inaladas que podem causar asma alérgica”, explica o farmacêutico. Ele utiliza uma tecnologia, em fase de implantação na UFG, os sistemas micro fisiológicos, capaz de recriar in vitro um modelo de asma, sem uso animal. “É como se fosse um pedacinho do pulmão humano que, após inserido num chip, simula respostas após a exposição às substâncias químicas. Depois vamos correlacionar esses resultados aos obtidos em humanos.”Artur Silva, que pretende continuar fazendo pesquisa em 2023 no Tox In, explica que trabalhadores de fábricas de plástico, de polímeros sintéticos e de revestimento sofrem maior risco de contrair esse tipo de doença pulmonar. “Não temos modelos para avaliar o grau de dano que essas substâncias podem causar nos pulmões. Embora existam modelos animais para avaliar esse tipo de composto, não nos permite classificar se essas substâncias são perigosas ou não.”Em 2018, durante o mestrado, também na UFG, Artur Silva desenvolveu uma córnea artificial para substituir os testes de irritação ocular, projeto que deu a ele um prêmio do Ministério da Ciência e Tecnologia. Agora, sente que chegou ao ápice. “O Lush Prize é considerado um Oscar na área de métodos alternativos à experimentação animal. Isso mostra que somos competitivos e estamos ocupando as melhores posições na ciência internacional”. Artur foi o único da América Latina a ficar entre os premiados do Lush em 2022. Entre os finalistas ficaram 65 organizações e indivíduos de 26 países.O Prêmio Lush recompensa iniciativas em toda a ciência e campanhas que trabalham para acabar ou substituir testes em animais, particularmente na área de pesquisa toxicológica. No caso do projeto de Artur Silva, ele lembra que submeter um animal a uma inalação de substância tóxica para medir um dano causa muito sofrimento. Entre 2012 e 2020 o Lush entregou 2,44 milhões de libras para 120 vencedores em 28 países. São cinco categorias de premiação: Lobby, Treinamento, Conscientização Pública, Ciência e Jovens Pesquisadores.Modelo animal perde espaço na pesquisaMarize Campos Valadares, que é reconhecida pelo trabalho que desenvolve no Brasil e na América Latina sobre metodologias in vitro em substituição ao modelo animal, comemora a premiação de mais um pupilo. “O trabalho que o Artur realiza está na fronteira do conhecimento. Ele busca fazer modelagem de doenças usando sistemas in vitro. Ou seja, ele constrói em laboratório um modelo que mais mimetiza as modificações fisiopatológicas que a doença produz no ser humano, no caso do seu trabalho, a asma alérgica”.A docente explica que quando essa modelagem representa o que acontece no humano, é possível prever o efeito de substâncias químicas ou de microrganismos e fazer melhor o diagnóstico e desenvolver novos fármacos para tratar doenças. “Temos inúmeros medicamentos disponíveis no mercado que não conseguem tratar bem as doenças e faltam fármacos para patologias que ainda não têm tratamento. Muito disso é porque a ferramenta utilizada hoje é baseada no modelo animal. Não conhecemos bem a fisiologia humana.”De acordo com a coordenadora do Tox In/UFG, historicamente a utilização de modelos animais na pesquisa foi norteada pela questão ética, que envolve o sofrimento dos bichos. “Mas hoje já sabemos que o modelo animal não é uma boa ferramenta para descobrir novos medicamentos para certos tipos de doença, como o câncer ou males do sistema nervoso central. Ele é muito simples se comparado à complexidade do ser humano.”Leia também:- Goiás integra rede nacional de produção de petróleo sintético para aviação- Programa UFGInclui abre vagas para alunos indígenas e quilombolas -Imagem (Image_1.2564252)