A presença da tecnologia, o uso de dados e do auxílio de inteligência artificial na rotina de atendimentos estão cada vez mais recorrentes na área de saúde. Ontem, profissionais e investidores que atuam em Goiás puderam ter contato com inovações que estão sendo desenvolvidas e já adotadas em outros locais. O evento Hint One Experience, organizado pelos médicos Fabiano Zumpano e Maurício Prudente, ocorreu no Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás (UFG).Os dois são sócios, proprietários do Hospital Encore, e se empenharam em trazer para Goiânia um evento que colocasse em pauta o que de mais atual existe em tecnologias que são capazes de tornar mais eficientes o atendimento e o tratamento dado a pacientes. Entre os palestrantes, estavam, por exemplo, o diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Hospital Israelita Albert Einstein, José Cláudio Terra, e o professor da UFG, Anderson Soares, que expôs sobre o tema Inteligência Artificial na Saúde: Uma Revolução em Curso.Maurício e Fabiano reconhecem que a adoção de tecnologias, que podem ser aplicadas desde a maneira como é feito o cadastro do paciente até o atendimento em si, é um caminho necessário e sem volta. Goiânia sempre foi conhecida como uma referência regional na área de saúde, cujos hospitais e clínicas recebem diariamente pacientes não só do Estado, mas de outros locais do País. Nos últimos anos, porém, os investimentos em inovação e adequação das unidades ao surgimento e necessidade de mudanças não conseguiram acompanhar a velocidade do contexto.“Já temos isso de maneira mais presente em alguns locais do País, no Sul, Sudeste e alguns Estados do Nordeste, mas aqui em Goiás ainda está faltando a adoção de um ecossistema mais verticalizado, com foco na tecnologia e inovação na saúde”, diz Fabiano. A involução ao longo do tempo, no que se refere a investimentos em aprimoramento tecnológico, é algo perceptível em Goiânia, na visão de Maurício. “Um dos propósitos é resgatar isso. A primeira solução seria injetar dinheiro, mas não é só isso. A outra é mudar o jeito de fazer, quebrando paradigmas e estimulando o empresariado a pensar diferente, enxergando além, porque o que a gente sabe é que do jeito que está não dá mais”, afirma.StartupsAlém das palestras, com apresentação de exemplos de experiências positivas do uso de tecnologias em saúde, o evento fez uma seleção e competição de healthtechs, que são startups que oferecem soluções tecnológicas em saúde. Ao todo, mais de 100 projetos se inscreveram para entrar na concorrência do evento e cinco foram selecionados para serem analisados por um júri de especialistas, do qual fez parte o secretário de Estado da Saúde, Ismael Alexandrino. O prêmio foi de R$ 50 mil em dinheiro e até US$ 120 mil dólares em créditos para utilizar a plataforma da IBM Watson.Entre as novas tecnologias apresentadas na Hint One Experience, estava o sensor-adesivo Livsen, da empresa Hauttis, uma nova maneira de medir a glicose em pessoas diabéticas. O equipamento consegue fazer a medição através de líquidos da pele, sem precisar furá-la e as informações são repassadas para um aplicativo no celular. “Não é invasivo, é indolor e pode fazer isso inúmeras vezes no dia. Além disso, barateia o processo”, explica o consultor médico da Hauttis, Nelson Rassi. Cada adesivo pode ser utilizado durante cinco dias.3 perguntas para Ismael AlexandrinoSecretário de Estado da Saúde de Goiás participou como jurado dos projetos de startups que se apresentaram no evento focado em inovação e tecnologia na área de saúde e deu sua percepção sobre as possibilidades de uso das tendências que foram apresentadas pelo setor1- Como o senhor avalia esse segmento que apresenta soluções tecnológicas para tornar mais eficiente o atendimento da saúde? Tem ainda muito a avançar?A área da saúde demorou acordar nessa área, mas o potencial dela é o maior potencial mundial. Costumamos dizer que dados, hoje em dia, é o grande petróleo e não dá mais para você fazer em saúde pensando só no indivíduo, aquela coisa no varejo... Nós precisamos olhar a sociedade como um todo e, baseado nisso, ter políticas públicas de saúde que agreguem à população e, a partir da saúde populacional, aí sim você individualizar e personalizar. É um momento muito propício de reflexão, de possibilidades disruptivas. Nós estamos o tempo todo fornecendo dado para o mundo e esse dado precisa ser compilado, analisado, parametrizado e gerar soluções que favoreçam a nossa vida.2 - No serviço público de saúde, como o senhor vê a possibilidade de utilização dos dados? Por exemplo, no monitoramento em larga escala de pacientes crônicos antes que a doença se torne aguda. Um paciente hipertenso ou diabético, por exemplo, se conseguirmos aferir os sinais vitais dele ao longo dos dias, em certo intervalo de tempo e a inteligência artificial analisar alguns comportamentos desse dado é possível predizer quando esse paciente vai complicar ou descompensar. E, a partir disso, podemos intervir e prevenir uma sinistralidade, internação de UTI ou algo do tipo. 3 - Já é possível falar em criação e desenvolvimento de tecnologias desse tipo aqui no Brasil? Ou ainda dependemos do que vem de fora?Acho que não se fala em tecnologia brasileira. Fala-se em tecnologia. A tecnologia é sem fronteira. Temos no Brasil muitas mentes que se despertaram para esse assunto e estão inter-relacionadas no mundo. Tivemos pessoas aqui que estão no Vale do Silício, na Europa, no Brasil... A tecnologia não tem nada que a prende. Agora, as pessoas estão em um momento interessante, também no Brasil, para esse grande despertar. Precisamos direcionar isso, discutir sobre isso sem perder o foco do paciente, do cidadão e saber o que tudo isso pode agregar e fazer diferença na vida do cidadão.