As doses de vacinas contra o coronavírus (Sars-CoV-2) adquiridas por Goiás, em conjunto com outros Estados brasileiros, devem seguir para o Ministério da Saúde para só depois serem distribuídas proporcionalmente para as unidades federativas. Ou seja, para Goiás receber 1 milhão de doses, será necessário que o consórcio adquira 30,3 milhões de unidades. O titular da Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO), Ismael Alexandrino, passou a quinta-feira (25) em Brasília conversando com laboratórios e representantes de órgãos governamentais para tentar avançar a questão.A manobra dos governadores ocorre diante da demora do Ministério da Saúde em distribuir o imunizante em quantidade e velocidade em todo o País. Goiás, por exemplo, recebeu até esta quinta-feira (25) 438 mil doses em seis remessas. Até agora, o Estado aplicou a primeira dose em 168 mil pessoas, apenas 2,4% da população. Questionado sobre como as vacinas adquiridas pelos Estados serão incorporadas ao Plano Nacional de Vacinação, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer que “vai definir essa pauta após decisão do Supremo”.Em live do POPULAR na quinta-feira (25), o governador Ronaldo Caiado (DEM) reafirmou que as doses adquiridas pelo Estado iriam para o Plano Nacional de Imunização (PNI), do governo federal. O mesmo ocorrerá, segundo o governador, com as vacinas eventualmente adquiridas por prefeitos. De acordo com Caiado, Goiás sempre terá 3,3% de todo o imunizante adquirido no País pelo poder público (leia na página 13).Durante a tarde de quinta-feira, porém, a questão não ficou clara. Ao portal G1, o secretário de Saúde Ismael Alexandrino afirmou que Goiás pretende comprar quantidade de doses para vacinar 1 milhão de goianos em “caráter complementar ao PNI e não pegar essas doses e enviar para o PNI distribuir Brasil afora”.Ainda na quinta-feira, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) aprovou definitivamente o projeto de lei que autoriza o governo de Goiás a abrir crédito extraordinário de R$ 60 milhões a fim de comprar doses de vacinas contra a Covid-19. O texto, contudo, não indica qual imunizante será adquirido nem a destinação específica das doses.Porém, o presidente da Assembleia, Lissauer Vieira (PSB), disse que o projeto de lei é muito claro sobre a destinação das vacinas. “Fizemos a nossa parte, que é aprovar o orçamento para a compra de vacinas”, afirmou. Lissauer disse que a logística da distribuição é de competência da Secretaria Estadual de Saúde. “A minha posição, e a posição da Assembleia, é de que as vacinas têm de ficar em Goiás. É uma questão lógica. As vacinas têm de imunizar os goianos”, defende.Laboratórios O governador Ronaldo Caiado (DEM) tem agendada, para a próxima terça-feira (2), uma reunião com a embaixada da Rússia, na fábrica da União Química, em Brasília. O laboratório químico-farmacêutico é representante da vacina russa Sputnik V no Brasil. O imunizante, porém, ainda não foi analisado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Contudo, tramita no Congresso Nacional projeto que obriga a agência a avaliar em sete dias uma vacina já aprovada por órgãos reguladores de outros países - como é o caso da Sputnik V.Além disso, o governo estadual tem conversado com a Pfizer e tem intenção de iniciar tratativas com a farmacêutica Janssen, um braço da Johnson & Johnson que produz vacinas.Em nota, a SES-GO informou que estas iniciativas ainda estão em fase inicial, “portanto ainda não é possível informar quantas doses poderão vir a ser adquiridas pelos governos estaduais ou quando serão entregues”. A pasta confirmou a intenção de adquirir 1 milhão de doses e que “as vacinas serão destinadas ao público que integra os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunizações.”De acordo com números do Painel da Covid-19 desta quinta-feira, da SES-GO, Goiás já vacinou 166 mil pessoas com a primeira dose e 37 mil com a segunda. Com o 1 milhão de doses que o governo estadual pretende comprar, seria possível vacinar 500 mil pessoas. Com a vacinação de cerca de 800 mil de goianos, menos da metade da população prioritária definida pelo Ministério da Saúde em Goiás como 2,4 milhões de pessoas, conseguiria ser imunizada.A reportagem entrou em contato com o Fórum Nacional do Governadores (FNG) para comentar o assunto, mas não obteve resposta. Municípios vão atuar em consórcioA Federação Goiana dos Municípios (FGM) diz que instrui os gestores a aguardarem as ações do Estado, mas afirma que estuda um plano de ação de compra de imunizantes, visto que muitos laboratórios internacionais só vendem acima de 100 mil doses, o que limita uma compra esporádica. Entretanto, ainda não existem tratativas definidas com nenhum laboratório.A assessoria da FGM explica que diversas cidades do Estado estão se organizando para comprar doses de vacina e que alguns municípios goianos, principalmente os menores, estão viabilizando consórcios para a aquisição conjunta. Uma das alternativas é a Sputnik V, que ainda aguarda registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por ainda estar em fase de estudo de viabilidade, a FGM não divulga quais municípios compõem os consórcios. Os quatro municípios goianos mais populosos já comunicaram que iniciaram por conta própria tratativas com laboratórios para a aquisição de vacinas contra a Covid-19. Anápolis negocia, por enquanto, a compra de doses da Sputnik V e do imunizante produzido pela Pfizer. Rio Verde disse ter disponível até R$ 20 milhões para a compra de imunizantes e já começou tratativas com a Pfizer.O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), diz que desde o início da semana já tem feito reuniões e iniciado tratativas a respeito da compra de doses para imunizar os goianienses. “Não posso adiantar detalhes, pois os contratos exigem sigilo. Já temos o dinheiro em caixa e aguardamos apenas a confirmação dos laboratórios de que vão nos entregar as doses”, afirma. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Goiânia também confirmou que o município tem feito tratativas no sentido de adquirir doses de vacinas, mas não informou com quais laboratórios tem mantido diálogo, nem qual será o valor gasto com a aquisição dos imunizantes.