Atualizada às 21h06As chuvas mais abundantes nos primeiros meses deste ano na região metropolitana de Goiânia permitiram um visível maior crescimento da vegetação dos parques estaduais Altamiro de Moura Pacheco (Peamp) e João Leite (PEJol), ambos no entorno do reservatório de abastecimento público, entre a capital e Teresópolis de Goiás. A aparente quantidade maior de massa orgânica faz com que incêndios no local possam provocar prejuízos de maior volume e deixam em alerta o Corpo de Bombeiros.O maior crescimento da vegetação neste ano é visível. O Corpo de Bombeiros também tem essa percepção e o principal motivo foram as chuvas mais abundantes nos primeiros meses deste ano. Em janeiro e fevereiro de 2022, o acumulado foi de 753,2 milímetros (mm) contra 470 mm da média histórica (1981 a 2010), 60% a mais. Com as plantas mais desenvolvidas, março e abril tiveram 61% menos água que o previsto, o que favorece que o verde se vá mais rápido. Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).O tenente Ailton Pinheiro de Araújo, do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO), considera que este ano pode haver uma maior “carga de incêndio” dada a avaliação dele das condições do local. “É uma tendência que isto aconteça após período chuvoso maior, que faz com que a vegetação se desenvolva mais”, diz o tenente. Mestre em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Luíza Virgínia Duarte considera ser difícil afirmar categoricamente que a massa orgânica esteja maior que nos outros anos. “Mas não podemos negar o fato de que, de modo geral, durante os períodos mais úmidos há um maior acúmulo de biomassa, e que essa biomassa seca se transforma em combustível para o fogo nos períodos mais secos.”A reportagem do POPULAR esteve no local na quarta-feira (18). A percepção é que a vegetação se desenvolveu mais que em anos anteriores. Às margens da rodovia, o mato apresenta diferentes graus de sequidão, mas ainda não está totalmente desidratado. Mas há diferenças: as plantas de maior porte preservam mais o verde, embora haja quantidade significativa de folhagem seca no chão em muitos pontos.Risco moderadoA Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), responsável pelas duas unidades de conservação, reconhece o maior volume de chuvas, mas considera que não houve maior produção de biomassa.O monitor do Corpo de Bombeiros exposto em placas ao longo da BR-060 indica grau moderado de risco a incêndios. Ele é o segundo em uma escala de cinco níveis que inicia no reduzido e vai até o máximo. “Para todas as unidades de conservação, o risco de fogo para queima da vegetação utilizado leva em consideração o número de dias sem chuva, tipo de vegetação, temperatura máxima, umidade relativa mínima do ar, elevação topográfica, latitude e presença de fogo na região”, explica a Semad. Neste ano não houve ocorrência de fogo no Peamp nem no PEJoL, conforme o tenente do CBM-GO. Mas Goiás já contabiliza 601 focos de incêndio até a última quinta-feira (19), conforme o Inpe. O número é 20% maior que o do ano passado. Historicamente, o pico do fogo em Goiás ocorre em setembro, com média de 2.351 registros. Em sequência aparecem agosto (1.228) e outubro (1.127).EstiagemA meteorologia prevê que a estiagem dure até pelo menos a primeira quinzena de outubro, como é habitual em Goiás. “Os modelos meteorológicos e os prognósticos no momento estão mostrando esse retorno dentro da climatologia (a partir de outubro). No entanto, nós seguimos acompanhando porque ainda está muito distante”, explica a chefe do Inmet em Goiás, Elizabete Ferreira.O Peamp tem área de 2.132 hectares e o PEJoL 2.838 hectares. Conforme o Plano de Manejo, até 2002, o Peamp registrou incêndios todos os anos. O maior deles consumiu cerca de 90% da área em 1998. A maioria das ocorrências tem relação com as margens da rodovia, seja por tocos de cigarro acesos ou ação de andarilhos, conforme a Semad. Os aceiros começaram a ser implantados em 2002. Também de acordo com o documento, de 2004 a 2020, foram queimados 1.360,9 hectares no Peamp, aproximadamente 1.360 campos de futebol, e 54,4 hectares no PEJoL.PrejuízosLuíza lembra que embora o fogo faça parte do processo de desenvolvimento e existência do Cerrado, há um limite para isto. “Incêndios alteram toda a diversidade biótica, os animais ficam sem lar e comida, o ar fica poluído, muitas vezes a fumaça chega aos centros urbanos, o que também causa sérios problemas respiratórios para a população, além da liberação dos gases que contribuem para o aquecimento do Planeta.”Combate está de plantãoO tenente Ailton Pinheiro de Araújo, do Corpo de Bombeiros de Goiás, afirma que o planejamento do combate ao fogo nas unidades de conservação foi realizado e já está em execução. Sobre os parques estaduais Altamiro de Moura Pacheco e João Leite, ele afirma que há equipes de brigadistas de plantão 24 horas. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirma que são sete pessoas.O trabalho é reforçado por bombeiros que monitoram a região por meio de satélites. O tenente alerta a população para evitar incêndios. “O uso do fogo sem a devida autorização legal constitui crime previsto na Lei de Crimes Ambientais.”A Semad afirma que o trabalho preventivo inclui visitas educativas às propriedades vizinhas às unidades de conservação, controle do capim exótico, contratação de brigada especializada, aquisição de ferramentas. Até o momento, foram realizados 35 km de aceiros nos parques. A meta é concluir 100 km em meados de junho.A Semad diz que os parques possuem ferramentas e maquinário para prevenção e ações de resposta, além de duas carretas-tanque com capacidade combinada para 10 mil litros, duas embarcações e duas viaturas terrestres para transporte de pessoal e equipamentos.Para a mestre em Engenharia Ambiental e Sanitária pela UFG, Luíza Virgínia Duarte, as ações devem ser contínuas. “A ausência desta manutenção é um dos fatores que faz gerar o acúmulo da massa orgânica, que, somado aos fatores climáticos, como seca, altas temperaturas e vento forte, faz com que um pequeno foco se transforme num grande incêndio” Plano de Manejo de parques continua em elaboraçãoApós as críticas sobre a proposta de uso recreativo do Reservatório do Ribeirão João Leite, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) desistiu da ideia, mas mantém a elaboração dos planos de manejo das dos parques que circundam o lago: Altamiro de Moura Pacheco (Peamp) e João Leite (PEJoL).Os serviços são executados pela STCP Engenharia de Projetos, de Curitiba, ao custo de R$ 213,5 mil. “Findado o prazo para envio das contribuições (durante a consulta pública), a secretaria ressalta que equipes técnicas da pasta seguem analisando todos os pontos descritos nas sugestões, como determina o rito das consultas públicas, um mecanismo formal e legal.”O plano de manejo prevê, em uma das zonas, o uso de agrotóxicos “e de espécies exóticas na recuperação ambiental de áreas do Peamp e do PEJoL mediante a autorização por projeto específico aprovado pelo órgão gestor das unidades de conservação”.No entanto, um gestor ambiental ouvido pelo POPULAR afirmou que a prática deve ser evitada. “Ou quando empregada, ver formulações mais biodegradáveis e menos danosas ao ecossistema.” Um dos motivos é a possível elevação nos custos de tratamento do recurso hídrico.