Desde 2018, Goiás registra média de 220 acidentes de trânsito por dia (veja quadro). Neste mesmo período, pelo menos quatro pessoas morreram depois de colisões, capotamentos, entre outras ocorrências do tipo. Os números causam preocupação das autoridades que, mais uma vez, estabelecem metas para que estas estatísticas tenham redução de 50%. Desta vez, a expectativa é de que os dados apresentem queda para evitar pelo menos 86 mil mortes no Brasil entre 2018 e 2028.O antigo prazo definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) era 2020 e os dados do Observatório Nacional de Segurança Viária mostram que desde 2015, a média de óbitos nestas situações se manteve. Em 2018, o governo federal criou uma lei nacional sobre o assunto. Na época, foi informado que o programa havia sido reforçado e incorporados conceitos que partem do princípio de que a responsabilidade por evitar mortes e feridos no trânsito é compartilhada entre quem utiliza, projeta, constrói e fiscaliza os veículos e as vias públicas. O prazo dado para a redução dos números de violência no trânsito foi de dez anos e, por isso, o limite para que os estados e municípios intensifiquem ações para chegar ao objetivo é em 2028.Algumas cidades e municípios já desenvolvem atividades, mas a mestre em geografia urbana Camila Souza Dantas Mota entende que, apesar de muitas iniciativas, muito ainda precisa ser feito e que não é apenas assinar e anunciar a adesão ao plano. “O novo prazo estabelecido para cumprimento da meta até 2028, está atrelado a uma nova estratégia estruturante, que traz planilhas de plano mensal e anual, com o compromisso de divulgação de meta, dos resultados e medidas a serem adotadas a cada período indicando órgão responsável.”Camila Mota explica que o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) é o documento que traz toda esta organização com o objetivo de reduzir no mínimo à metade o índice nacional de mortos no trânsito por grupo de veículos e o índice nacional de mortos no trânsito. No entanto, a especialista diz que o que mais dificulta para a redução de acidentes é a integração e cooperação dos órgãos de trânsito de todos os municípios e estados para atuar em prol de ações eficientes para esta redução.A especialista em geografia urbana entende que, o fato de algumas cidades não terem um órgão de trânsito ou de que alguns precisam de uma ação de atualização e entendimento com a nova proposta. Que requer uma capacitação e um esforço de vontade para envolver todos os integrantes na área de fiscalização, engenharia e educação.Titular da Secretaria Municipal de Mobilidade de Goiânia, Horácio Mello destaca que a pasta tem desenvolvido ações para redução destes números. Uma delas é a implantação de motobox nos semáforos. Ele ainda reforçou outros projetos, como campanhas para respeito às faixas de pedestres não semaforizadas e trabalho de educação de trânsito. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME), a pasta implantará em breve outro projeto, o “Educação e Mobilidade”. “Não há outra forma de mudar o trânsito, que não passe pela mudança de comportamento.”José Carlos Sobrinho, de 32 anos, sofreu um acidente de trânsito em 2018. Ele trabalhava como mototaxista e foi colhido por um veículo quando voltava para casa. “Eu já tinha habilitação de moto havia seis anos, nunca tinha me acidentado. Sempre me considerei bom condutor, respeitei as regras, mas um dia estava indo para casa e parei em um cruzamento. O sinal estava verde pra mim e um carro veio do meu lado esquerdo, furando o sinal e me pegou. Na rua a gente chama isso de roletar, mas ele estava de carro e não sofreu nada. Eu estou tentando me recuperar até hoje.”Ele defende a inclusão da educação no trânsito em disciplinas das escolas. “Vai ter quem vai continuar com essas imprudências, mas acredito que são caminhos para conseguirmos pessoas mais conscientes sobre esse assunto. O que não dá é para ficar sem fazer nada.”Outra pessoa teve um desfecho mais grave que o do motociclista. Ela estava em um caminhão que colidiu em outro veículo do tipo, no último dia 13, na BR-060, em Guapó, e morreu.Um caso recente da violência no trânsito de Goiás é o da menina Beatriz Santana Lopes, de 8 anos. Ela foi atropelada na noite do domingo (14), na Vila Mutirão, em Goiânia.Beatriz estava com a família na porta de casa comemorando o aniversário da avó quando decidiu atravessar a rua para ir a um campinho de futebol improvisado. Foi neste momento que uma Saveiro branca, que trafegava em alta velocidade pelas ruas estreitas do bairro, bateu na garota atirando-a a uma distância de 17 metros. Beatriz sofreu politraumatismo. Com fraturas no crânio e nas pernas foi submetida a cirurgia.O momento do impacto foi registrado por uma câmera de monitoramento do Colégio Estadual Edmundo Rocha, que fica ao lado da residência da família.Conforme a última atualização do quadro de saúde da menina a que o POPULAR teve acesso, no último sábado (20), ela ainda estava na UTI do Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira.Presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Marcos Roberto Silva informou durante o lançamento do Pnatrans que já foi aprovado em Goiás que o tema seja incluído como disciplina a partir do sexto ano do ensino fundamental. Plano é estruturado em seis pilaresO Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) é dividido em seis pilares e agrupa as ações em iniciativas que destacam as áreas de atuação prioritárias. O primeiro trata de gestão e segurança no trânsito, depois vias seguras, segurança veicular, educação para o trânsito, atendimento às vítimas e normatização e fiscalização.Dentro do primeiro, estão a previsão de gestão integrada do sistema viário, que inclui o tratamento de dados e consolidação do Registro Nacional de Estatística de Trânsito (Renaest). Além disso, o pilar “Vias Seguras” trata da adequação da classificação viária e dos limites de velocidade às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na parte de socorro às vítimas, a intenção é discutir e incluir todos os envolvidos nos atendimentos de urgência porque o tempo de atendimento é definitivo para reduzir o risco de morte ou lesão grave.A mestre em geografia urbana Camila Souza Dantas Mota entende que a proposta do Pnatran é bem estruturada e que os seis pilares estão bem definidos e serão estrategicamente alcançados se as instituições de trânsito estiverem engajadas. “Diria que o que falta é de criar metas de rompimento com a estrutura de cidades que temos hoje em dia que envolve desde o incentivo de circulação de veículo automotor individual em detrimento ao transporte coletivo e o ativo (bicicleta e a pé), estrutura das vias para o compartilhamento, fiscalização e redução da velocidade. Pois o modelo de transporte adotado que temos hoje em dia nas cidades impacta no número de óbitos e também no nível de congestionamentos, custo, o tempo, ruído, impacto no território.”Presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Marcos Roberto Silva reforçou que o programa Sinaliza Goiás, voltado para comunicação visual viária urbana do País, será ampliado no próximo ano. Até o fim de 2021, 127 municípios recebem ações do projeto, que ele garante que chega às 246 cidades do estado até 2022. Ele também destaca que o programa CNH Social visa a trazer principalmente as pessoas que já conduzem veículos, mas ainda sem a carteira de habilitação, regularizem a situação e ainda sejam trazidos para a sala de aula, onde poderão discutir e aprender as regras.Problema custa caro para a SaúdeSecretário de Saúde do Estado de Goiás, Ismael Alexandrino destaca que 30% das atividades dos hospitais goianos são relacionadas ao trauma. “E boa parte desses traumas é de acidentes de trânsito e, boa parte, relacionada a motociclistas.” Ele relembra que, em março, quando foi decretado o primeiro período de isolamento social, foi registrada redução drástica de realização de cirurgias de traumas nos dois hospitais de urgências de Goiás. À época, O POPULAR mostrou que no Hugo, por exemplo, a redução no atendimento de traumas foi calculada em 50%. “Depois que as pessoas voltaram para a rua, voltou à normalidade e estamos com grande pressão de traumas nos nossos hospitais.”Alexandrino diz que o aspecto preventivo é fundamental para, além de salvar vidas reduzir gastos com os atendimentos dos traumatizados do trânsito. “A gente tem estatísticas que mostram que as lesões relacionadas a velocidade acima de 60km/h têm taxa de mortalidade alta. Abaixo disso, tem mais expectativa de vida. Ainda temos muitos acidentes que acontecem na faixa de pedestre. Então a educação no trânsito pode minimizar prejuízos à vida e os gastos da saúde.”-Imagem (1.2358424)