-Imagem (1.2329717)Violação sexual durante um parto, a barganha de uma cirurgia íntima por sexo, propostas de relações sexuais com pacientes por meio de mensagens de texto e até mesmo o toque sem permissão na região íntima de mulheres estão presentes nos depoimentos de pacientes que já se consultaram com o ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos. Os relatos mostram a forma que o médico, suspeito de violência sexual mediante fraude, agia.Somente nesta quarta-feira (29), data em que a operação Sex Fraud foi deflagrada pela Polícia Civil, e quinta-feira (30), a delegada Isabella Joy, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis, ouviu formalmente quase 40 mulheres. Ao todo, cerca de 50 vítimas já entraram em contato com a delegacia para denunciar violações praticadas pelo médico.Uma das vítimas ouvidas nesta quinta foi uma mulher que estava fazendo o uso de um anel vacinal por recomendação do médico. “Ela disse que estava incomodando e perguntou (a ele) se isso não poderia atrapalhar na relação sexual. Ele disse que com a namorada dele nunca teve nenhum problema, mas que se ela quisesse testar com ele, o médico aceitava. Depois ele enviou uma mensagem dizendo que foi brincadeira” relata Isabella.Pelo depoimento das vítimas, pegar o telefone das pacientes era uma prática rotineira do médico. Em setembro de 2020, durante a primeira consulta com uma mulher, de 26 anos, que preferiu não se identificar, o médico pediu o contato da jovem para enviar uma recomendação de leitura. “Na mesma hora, dentro do consultório, ele me enviou. O título era ‘Mulheres boas de cama’. Nessa hora achei que tinha algo errado”, diz.Mesmo assim, a jovem prosseguiu com a consulta. “É difícil questionar um médico. Achei que era coisa da minha cabeça”, revela. A violação sexual ficou evidente quando o médico foi fazer um exame intravaginal. “Ele perguntou se eu sabia onde era meu ‘Ponto G’ e depois começou a me falar dos benefícios do pompoarismo”, relata a jovem.Depois disso, a jovem conta que o médico inseriu o dedo dentro dela quatro vezes e depois tocou diretamente no clitóris dela. “Na hora eu fechei as pernas, me levantei e troquei de roupa. Fiquei paralisada. Muito assustada. Na saída do consultório, ele me disse: ‘Se eu tivesse continuado, você teria gozado em minutos, né (sic)?’”, descreve a jovem.Outra mulher também passou por um questionamento constrangedor feito pelo médico. De acordo com a delegada titular da Deam Anápolis, a vítima relatou que fez a cirurgia de ninfoplastia, que consiste na redução dos pequenos lábios vaginais, com o médico. De acordo com delegada, a vítima disse que o ginecologista teria dito que caso ela fizesse sexo com ele, poderia ser operada de graça. “Ela não aceitou, mas depois (ele) perguntou se poderia testar para ver como ficou o trabalho dele.”A delegada afirma que uma vítima entrou em contato com ela por telefone e disse ter sido violada durante o parto. “Ela conversou comigo aos prantos e vem amanhã (hoje) relatar formalmente o que aconteceu”, conta. De acordo com Isabella, quatro gestantes já foram até a delegacia denunciar o médico. Isabella relata ainda que uma das vítimas chegou a fazer sexo com o médico dentro do consultório. “Ela se sentiu coagida por ele e pelas coisas que ele falava”, aponta. Legalmente, a prática não configura estupro, pois não houve violência física.TraumaA jovem de 26 anos que diz ter sido violada pelo médico afirma que depois do ocorrido compartilhou a história com a amiga que fez a recomendação do médico. “Ela ficou chocada, pois quando ela foi ao ginecologista nada de estranho aconteceu. Entretanto, ela fez a consulta acompanhada.”A mulher relata que também compartilhou o episódio com o noivo. “Foi ele que insistiu para que eu fosse à polícia”, afirma. Ela registrou a denúncia em 2020, mas só foi receber um retorno da delegacia recentemente. “A delegada me ligou e disse que depois de receber outra denúncia, fez uma busca no sistema e encontrou a minha. Foi quando ela me disse que iria investigá-lo. Quando ela disse isso, comecei a chorar. Finalmente fui ouvida”, explica.A jovem diz que ficou aliviada ao saber que Nicodemos foi preso. Ela ficou com sequelas psicológicas e ainda enfrenta alguns gatilhos emocionais relacionados ao episódio que vivenciou no consultório do ginecologista. “O toque desavisado ainda me provoca sensações muitos ruins. Quando qualquer médico me toca por algum motivo, fico apreensiva e com um certo medo”, finaliza. Caso de adolescente é apuradoO ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, deve ser indiciado por estupro de vulnerável, além do crime de violação sexual mediante fraude. A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis, Isabella Joy, conta que a vítima foi ouvida nesta quinta-feira (30). “Até agora, ela é a única vítima menor de idade que apareceu”, diz. O crime de estupro de vulnerável, que tem pena de até 15 anos de reclusão, teria ocorrido em 2013, com uma menina de 12 anos na época. Kethleen Carneiro, atualmente com 21 anos, relatou os abusos sofridos em entrevista ao POPULAR. Ela contou que o médico chegou a questioná-la se ela sabia onde ficava o ‘Ponto G’ e também mostrou quadrinhos e sites pornográficos para ela. Além disso, a jovem disse que ele chegou a colocar a mão dela sobre o pênis dele.Cada crime de violação sexual mediante fraude tem pena de até 6 anos em regime fechado. Então, o indiciamento do médico vai depender de quantas vítimas tiverem feito denúncias contra ele. Em dois dias, a polícia recebeu cerca de 50 relatos, entre depoimentos formais, telefones e denúncias anônimas de violações sexuais praticadas pelo ginecologista.Já foram recebidos relatos de vítimas de Anápolis, Goiânia, Pirenópolis e Abadiânia. Mulheres do Distrito Federal, Pará e Paraná também já contaram à polícia terem sido violadas pelo médico. Isabella diz ainda que muitas denúncias estão chegando até a delegacia pelo WhatsApp e pelo telefone fixo do local. Ela acredita que o médico possa ter feito incontáveis vítimas pelo Brasil. “Muitas mulheres entram em contato pelo Disque Denúncia, elas até dão o nome, mas dizem que não querem vir até a delegacia prestar depoimento.” CondenaçãoSegundo a delegada do caso, no Distrito Federal (DF) o profissional já foi condenado por violação sexual mediante fraude, mas estava cumprindo apenas medida restritiva de direitos, por ser réu primário. No Paraná, uma vítima registrou ocorrência, também por violação sexual, mas o caso foi arquivado.DefesaA defesa do médico nega que ele tenha cometido qualquer prática sexual com as mulheres que já atendeu. O advogado Carlos Eduardo Martins, que faz a defesa do médico, destacou que Nicodemos é um ginecologista e que qualquer tipo de procedimento feito em pacientes dentro do consultório tiveram fins de diagnóstico e nenhuma conotação sexual.Inquérito está perto do fimO inquérito da operação Sex Fraud, deflagrada pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), na última quarta-feira (29) deve ser concluído até o fim da próxima semana. “A prisão preventiva dele (ginecologista) tem duração de dez dias. Temos até lá para finalizar as investigações”, explica Isabella Joy, titular da Deam de Anápolis.Por isso, de acordo com ela, é importante que o maior número possível de mulheres entrem em contato com a delegacia para que o arcabouço probatório contra o suspeito seja robusto. “Se aparecer novos casos depois, podemos abrir um novo inquérito”, diz. As vítimas podem entrar em contato pelos números: (62) 3328-2731, (62) 9.8531-0086 (WhatsApp) ou por meio do 198.