Ao contrário do que afirma um&nbsp;vídeo&nbsp;do YouTube, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não cancelou compromissos na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, para impedir uma suposta delação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O homem que fez a publicação mistura uma entrevista do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, com comentários da jornalista Daniela Lima e opiniões pessoais para fazer alegações sem provas.

Além disso, diferentemente do que o vídeo verificado afirma, Lula não cancelou compromissos na COP30 para ir à 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e da União Europeia, em Santa Marta, na Colômbia, informação também destacada no comunicado da Secom. De acordo com matéria da&nbsp;Band, a agenda do presidente não previa presença na cúpula, mas ela foi alterada uma semana antes do encontro, conforme noticiado pela&nbsp;CBN&nbsp;e pela&nbsp;Folha de Pernambuco. Ele participaria, na programação original, de um evento ambiental em Fernando de Noronha, nos dias 8 e 9 de novembro. No mesmo dia da CELAC, Lula retornou a Belém, conforme a&nbsp;agenda presidencial.

O vídeo menciona a viagem de Lula em 9 de novembro, durante a COP30, para participar da CELAC. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou,&nbsp;em nota, que a presença do presidente no evento teve como objetivo “reafirmar a prioridade da integração regional na política externa brasileira” e “fortalecer o diálogo na busca por soluções conjuntas globais”.

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A pasta também repudiou a “divulgação de boatos falsos, com objetivos políticos, que visam única e exclusivamente desinformar a população, enfraquecer instituições e manipular a opinião pública”.

Dias antes do evento, Mauro Vieira afirmou, em&nbsp;coletiva de imprensa, que Lula iria destacar “apoio” e “solidariedade regional” à Venezuela em seu discurso na CELAC, em meio à presença militar dos Estados Unidos nos mares do Caribe nos últimos meses. “O presidente repetidamente já disse, e é a posição da nossa política externa, que a América Latina e, sobretudo, a América do Sul, onde nós estamos, é uma região de paz e cooperação”, afirmou o ministro.

No discurso, Lula não mencionou diretamente o conflito entre a Venezuela e os Estados Unidos, mas disse que “democracias não combatem o crime violando o direito internacional”. “A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais”, ressaltou.

Já Maduro não participou da cúpula, mas mandou uma carta aos presidentes da região, pedindo que os países instalem mecanismos de defesa coletiva do Caribe, conforme publicou a&nbsp;CNN. Não há evidências de que ele tenha feito uma delação.

<h2>Vídeo de jornalista não comprova delação</h2>

O vídeo também exibe um comentário da jornalista Daniela Lima, no programa “UOL News”, transmitido no YouTube em 5 de novembro. Ela contestou a decisão de Lula de prestar solidariedade à Venezuela, após o discurso do governo de “manter uma distância regulamentar” da crise entre Maduro e Trump, e afirmou que o posicionamento causou desconforto entre integrantes da comitiva à COP30. No entanto, Daniela não menciona nenhuma delação de Maduro contra Lula.

<h3>Entenda o que é a CELAC</h3>

A&nbsp;CELAC&nbsp;é um grupo de diálogo composto por 33 países da América Latina e do Caribe. Ele foi&nbsp;criado em 2011&nbsp;e tem como objetivo promover a cooperação para o desenvolvimento. A organização promove reuniões ministeriais sobre temas de interesse dos países da região, como educação, cultura, transportes, infraestrutura, energia, segurança alimentar e nutricional, agricultura familiar, ciência, tecnologia, entre outros.

<h3>Cronologia do conflito entre Estados Unidos e Venezuela</h3>

A escalada da tensão entre Estados Unidos e Venezuela se iniciou em&nbsp;2 de setembro, quando as forças militares norte-americanas atiraram contra uma embarcação venezuelana no Caribe que, segundo Donald Trump, transportava drogas e era comandada pela gangue Tren de Aragua. Desde então, foram registrados pelo menos&nbsp;18 ataques a barcos na região, que provocaram a morte de 75 pessoas.

Em 11 de novembro, o maior navio de guerra do mundo, o USS Gerald Ford, dos Estados Unidos,&nbsp;chegou às águas da América Latina. Ele se juntou a outros navios de guerra, a um submarino nuclear e a caças F-35 que estão operando na região nas últimas semanas.

Além dos ataques, em 16 de outubro, Trump autorizou operações da Central Intelligence Agency (CIA), a agência de inteligência norte-americana, na Venezuela, segundo a&nbsp;Reuters. Em agosto, o governo dos Estados Unidos ofereceu uma&nbsp;recompensa de US$ 50 milhões&nbsp;por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro por tráfico de drogas.

<h3>Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova</h3>

O vídeo verificado, que acumula cerca de 534 mil visualizações até a publicação deste texto, foi criado por um youtuber cujo canal tem mais de 1,3 milhão de inscritos, além de quase 230 mil seguidores no Instagram. Ele faz publicações em seu canal sobre acontecimentos políticos, com viés de direita e abordagem crítica a figuras como Lula e Alexandre de Moraes.

O Comprova tentou contato com ele, mas não recebeu retorno.

<h3>Por que as pessoas podem ter acreditado</h3>

O título do vídeo verificado é enganoso e induz o espectador a acreditar que Lula saiu da COP30 para impedir uma delação de Maduro, uma insinuação sem evidências. Ele também utiliza a palavra “Urgente”, criando uma sensação de alarmismo, e, em suas falas, mistura opiniões e informações falsas com vídeos de entrevistas e comentários de jornalistas, o que pode conferir credibilidade ao conteúdo.

A recompensa oferecida pelo governo dos Estados Unidos por informações que levem à prisão de Maduro levou desinformadores a criarem teorias da conspiração associando-o a Lula e indicando que o petista teria relação com possíveis crimes cometidos pelo presidente venezuelano, já que ambos se identificam com a esquerda.

O boato de que a Venezuela financia partidos de esquerda de forma ilegal na América do Sul e na Europa foi impulsionado pela delação do ex-general de inteligência venezuelano Hugo Carvajal, feita na Espanha em 2021. As acusações, no entanto, nunca foram comprovadas e o processo acabou arquivado, conforme demonstrado pelo&nbsp;Estadão Verifica.

Fontes que consultamos: Secretaria de Comunicação da Presidência, Governo Federal [1][2],&nbsp;Departamento de Estado dos Estados Unidos,&nbsp;G1,&nbsp;Band,&nbsp;CNN Brasil&nbsp;e&nbsp;Reuters.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo&nbsp;WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já realizou outras checagens sobre a Venezuela, desmentindo um&nbsp;vídeo criado por inteligência artificial em que o assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim, abraça Maduro&nbsp;e explicando um&nbsp;exercício militar de soldados venezuelanos na fronteira com o Brasil.

Lula não desmarcou compromissos da COP30 para impedir susposta delação de Maduro

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Comprova 

A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) vai receber R$ 55 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Fundo Amazônia, para aprimorar os <a href="https://opopular.com.br/cidades/de-emissor-para-sequestrador-de-gases-estufa-goias-se-consolida-como-estado-carbono-positivo-1.3335237" target="_self">sistemas nacionais de monitoramento da floresta tropical</a> e fortalecer capacidades técnicas para a prevenção e o controle do desmatamento e da degradação florestal.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (13), durante uma atividade na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. Os membros da OTCA são Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

“A Amazônia é um vasto sistema, um bioma e, como qualquer quebra-cabeça, danificar uma peça danifica outra. Tudo é importante, cada árvore é importante. Precisamos de monitoramento para poder agir de forma preventiva ou curativa, dependendo de sua situação”, apontou o etnólogo colombiano Martin von Hildebrand, secretário-geral da entidade.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/de-emissor-para-sequestrador-de-gases-estufa-goias-se-consolida-como-estado-carbono-positivo-1.3335237" target="_self">De emissor para sequestrador de gases estufa, Goiás se consolida como Estado 'carbono positivo'</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/onu-cobra-cumprimento-de-deveres-por-paises-e-alerta-contra-lobby-na-cop30-1.3335196" target="_self">ONU cobra cumprimento de deveres por países e alerta contra lobby na COP30</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/na-cop30-goianos-buscam-atrair-investimentos-para-projetos-no-cerrado-1.3336289" target="_self">Na COP30, goianos buscam atrair investimentos para projetos no Cerrado</a></div>

O projeto contará com parceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que atuará na transferência de tecnologia para os demais países membros. “Uma questão importante que já vinha sendo encaminhada é o painel técnico-científico, voltado ao monitoramento da Amazônia, para servir de base na formulação de políticas públicas, tanto em relação à mudança do clima quanto em relação à biodiversidade, recursos hídricos, recursos pesqueiros”, destacou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

Segundo Marina, os países amazônicos vão montar uma comissão de ministros de meio ambiente para alinhar estratégias comuns de proteção da floresta e combate ao crime organizado transfronteiriço. “Nós queremos sobretudo apostar também numa agenda de desenvolvimento sustentável, na parte de infraestrutura verde e resiliente, na parte de combate à criminalidade e de proteção da biodiversidade, principalmente de ter mecanismos de acesso a recurso genético que não leve à biopirataria e que promova a justa partilha de benefícios.”

Ao todo, a Amazônia tem extensão territorial de 6,7 milhões de quilômetros quadrados (km²), com mais de um milhão de km² de ecossistemas ribeirinhos e uma população de quase 50 milhões de habitantes. Para cuidar desse bioma fundamental para a regulação do clima global – incluindo preservar as correntes de umidade que transportam chuvas para outras partes da América do Sul –, a OTCA funciona como organismo intergovernamental de promoção do desenvolvimento sustentável da região.

Cada país tem metodologias e instrumentos próprios de controle e monitoramento do território, mas a ideia da OTCA é uniformizar e padronizar esses procedimentos. “Se não colocamos a informação de toda a região, de nada nos serve tratar de consertar de um lado e destruir outro”, observou o secretário-geral da entidade, Hildebrand. Um dos instrumentos que podem ser fortalecidos com essa iniciativa é justamente o Observatório Regional da Amazônia (ORA), que já integra diversas bases de informações e disponibiliza dados sobre o bioma em temas como biodiversidade, recursos hídricos, florestas, incêndios, povos indígenas e áreas protegidas, entre outros.

“O projeto vai desenvolver a interoperabilidade. Esse é um processo de construção coletiva. O Brasil não vai impor nada aos países e os países não vão impor nada ao Brasil. Agora, se a gente não unificar a metodologia, o crime organizado sai vencendo”, alertou a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, ao explicar os objetivos do projeto que será financiado pelo banco de desenvolvimento.

<h2>Adaptação da saúde ao clima ganha apoio e verbas</h2>

Cerca de 40 países já manifestaram apoio ao plano lançado pelo governo brasileiro com objetivo de promover a adaptação do setor de saúde às mudanças do clima. Esse é o primeiro documento internacional do tipo e propõe políticas públicas principalmente em relação às populações mais vulneráveis. O Plano de Ação de Belém para a Adaptação do Setor de Saúde às Mudanças Climáticas, antecipado pela Folha de S.Paulo, foi discutido nesta quinta (13) na COP30. Além das declarações de apoio, o plano já reuniu os primeiros recursos concretos para financiar as iniciativas propostas.

Cerca de US$ 300 milhões em financiamento foram anunciados por entidades como a Wellcome Trust, organização filantrópica dedicada à saúde. Sinalizaram apoio instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial. O relatório parte do diagnóstico que as mudanças climáticas já impõem pressão significativa sobre os sistemas de saúde e alteram de forma desproporcional países em desenvolvimento.

Fatores como eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar e alterações nos padrões de chuva intensificam desigualdades e causam consequências como propagação de doenças sensíveis ao clima, mortalidade por calor extremo, deterioração da qualidade do ar e insegurança alimentar e hídrica. Relatório especial divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde aponta que mais de 540 mil pessoas morrem por calor extremo todos os anos e um em cada 12 hospitais do mundo está em risco de paralisação relacionada ao clima.

“A crise climática é uma crise de saúde; não em um futuro distante, mas aqui e agora”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Este relatório especial traz evidências sobre o impacto das mudanças climáticas sobre as pessoas e os sistemas de saúde, e exemplos concretos do que os países podem fazer e já estão fazendo para proteger a saúde e fortalecer seus sistemas.”

A avaliação dos envolvidos é de que destinar recursos suficientes à adaptação em saúde já protegeria bilhões de pessoas e manteria estruturas essenciais funcionando durante choques climáticos, quando a população mais precisa. A mensagem central do relatório é clara: já há evidências para ampliar as ações, com intervenções custo-efetivas, mas as estratégias de adaptação podem fracassar se não abordarem causas profundas da desigualdade em saúde. (Fábio Pupo e Cláudia Collucci / Folhapress)

Países amazônicos anunciam na COP30 que farão monitoramento conjunto da floresta

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Mudanças climáticas

Muito mais que a COP da Amazônia, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, se tornou um espaço estratégico para a conservação do Cerrado. Apresentadas nas diversas zonas da convenção, iniciativas de valorização do bioma têm reunido atores públicos de diferentes espectros políticos, entre gestores, parlamentares e pesquisadores, em torno de um mesmo objetivo: a busca do dinheiro, especialmente o que vem dos organismos internacionais, para ser aplicado em projetos de desenvolvimento sustentável e de enfrentamento às alterações do clima.

Em relação a Goiás, ao menos três iniciativas miram, abertamente, a busca por financiamento internacional: a campanha “O Cerrado Também Importa”, realizada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad); o pedido de inclusão do Cerrado no escopo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), articulado pela vereadora de Goiânia Kátia Maria (PT); e a criação do Fundo Nacional de Proteção e Restauração do Cerrado, apresentado pela também vereadora da capital goiana, Aava Santiago (PSDB). Outra importante frente de divulgação do bioma para o mundo, durante a conferência, é movida por professores e pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), que lutam pela implantação do Instituto Nacional do Cerrado (INC).

Já no primeiro dia da COP30, aberta oficialmente na última segunda-feira (10), a titular da Semad, Andréa Vulcanis, lançou a campanha “O Cerrado Também Importa”. Ao longo da primeira semana de evento, a secretária, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), participa de uma maratona de painéis para apresentar as riquezas do bioma, como sua importância hídrica e a rica biodiversidade, assim como as ações feitas pelo Estado para remunerar produtores que fazem a devida preservação ambiental e frear o desmatamento.

De acordo com a secretária, uma das questões mais difíceis enfrentadas ao longo dos sete anos à frente da Semad é obter financiamento, doações ou investimentos em fundos para a proteção do Cerrado. “O Cerrado é um bioma que é completamente desconhecido e desconsiderado em nível mundial, como se ele fosse um bioma menor ou menos importante, o que não é verdade. É importante dizer que boa parte dos rios da Amazônia nasce no Cerrado. E, entretanto, nosso bioma e todas as ações estratégicas de financiamento não são consideradas. Então, a gente trouxe essa campanha aqui, que é a forma de mostrar, divulgar e dizer que no Cerrado também tem biodiversidade, que nós temos mais de 50% remanescentes de vegetação nativa. Isso precisa ser reconhecido internacionalmente.”

Para Vulcanis, a conferência é uma grande vitrine que pode trazer bons resultados. “À medida que a gente está presente, participa dos painéis, discute, vai chamando atenção para outras demandas. Por isso, Goiás está aqui. É uma forma de a gente dar visibilidade não só para as ações que desenvolvemos, mas mostrando modelos. Acabei de estar com uma comitiva de Angola querendo conhecer como é que estamos fazendo política ambiental em Goiás, para copiar lá”, afirmou.

Território-chave

Participando de sua terceira COP, a vereadora Kátia Maria, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Goiânia, também acredita que a conferência, realizada pela primeira vez no Brasil, é uma grande oportunidade para colocar o Cerrado reconhecido como território-chave para uma transição ecológica justa. Para isso, ela tem articulando junto à presidência da COP e com a equipe do Ministério do Meio Ambiente (MMA) a inclusão explícita do bioma no escopo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado oficialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Cúpula do Clima, na semana passada, em Belém.

Kátia defende que, ao tornar o bioma elegível, o texto do novo fundo deve reconhecer suas formações florestais (cerradão, matas ciliares e florestas estacionais) como “tropical forest cover” para fins de cálculo e pagamento. “A criação do TFFF é um grande avanço nas adaptações às mudanças do clima e o objetivo é mostrar que o Cerrado precisa estar no centro das prioridades de financiamento climático”, diz a vereadora.

Atualmente, o desenho inicial do fundo foca principalmente na Amazônia. “Sem o Cerrado não há futuro climático possível para o Brasil, nem para a Amazônia. O Cerrado é o berço das águas, alimenta os principais rios que abastecem o País e o continente, e é essencial para o equilíbrio dos outros biomas. Garantir a priorização do Cerrado é corrigir uma desigualdade histórica nas políticas climáticas e também reconhecer o papel do Centro-Oeste na agenda ambiental mundial. Se o Cerrado é a caixa d’água do Brasil, é preciso priorizar o bioma no financiamento para manter a caixa d’água cheia, irrigando os demais biomas, em especial a Amazônia.”

Outra parlamentar goiana em busca de colocar o Cerrado no orçamento climático global é Aava Santiago, no que ela chama de “movimento multilateral”, aliando meio ambiente, ciência, tecnologia e cultura. A vereadora compilou uma série de reivindicações na “Carta do Cerrado na COP30”, reunindo demandas de gestores municipais, entidades e lideranças goianas da área ambiental que assinam o documento, apresentado como uma contribuição da sociedade goiana para o Pacto Climático do Cerrado e da Amazônia.

Entre os principais eixos e propostas estão a criação do Fundo Nacional de Proteção e Restauração do Cerrado; instituir a Rede Nacional de Apoio Técnico e Capacitação Climática; fomentar a transição agroecológica; e a promoção de políticas urbanas sustentáveis, integrando habitação, saneamento, mobilidade e áreas verdes. A proposta também destaca a importância da criação do Instituto Nacional do Cerrado (INC).

“A gente está fazendo esse movimento multilateral para colocar o Cerrado no orçamento, para criar o Fundo Cerrado, para investir em tecnologia e pesquisa, porque nossas espécies, nossas matas, estão sendo eliminadas, desaparecendo antes de virarem ciência. E isso é desesperador.”

Para a vereadora, os olhos do mundo ainda estão míopes, na medida em que não há uma compreensão profunda de que a Amazônia. “Essa floresta com essa importância para o planeta não sobrevive sem outros biomas que dão esse suporte para que a Amazônia possa existir. E o principal deles, sem dúvida, é o Cerrado.” Ela justifica essa importância pelo fato do bioma abrigar 8 das 12 bacias hidrográficas que hidratam a Amazônia. “Então não é exagero, não é retórica, não é uma afirmação equivocada dizer que não existe Amazônia sem Cerrado. É um fato comprovado.”

Em um momento classificado por Aava como “de extrema felicidade”, o documento foi entregue na noite de quarta-feira (12) ao cantor Gilberto Gil, juntamente com a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, convidando o artista para ser uma espécie de embaixador da defesa do Cerrado. Segundo ela, o cantor topou o desafio. “A gente tem vários cantores, artistas muito interessados na Amazônia, muito interessados em outros biomas, e a defesa do Cerrado ainda não é uma agenda da cultura também.”

<h2>Um instituto para o Cerrado chamar de seu</h2>

O Cerrado não é uma pauta apenas do Estado, mas de todo o Centro-Oeste, como mostra uma iniciativa que promove a união das universidades e institutos de pesquisa inseridos no bioma: a criação do Instituto Nacional do Cerrado (INC). A luta, que teve início com pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) bem antes da conferência, vem ganhando corpo e também aproveitará o momento para uma sensibilização sobre a importância de se conhecer e divulgar melhor as pesquisas sobre a savana mais biodiversa do planeta, além de buscar alternativas para aliar a produção com a conservação.

“Esse movimento começou na UFG em 2024, com um grupo mais ligado às ações ambientais, e rapidamente a nossa reitora, Angelita de Lima, levou essa pauta para as universidades e institutos de pesquisa que estão no bioma. Logo, o movimento tomou grande proporção e já envolve 25 instituições de ensino e pesquisa. Recentemente foi decidida a criação de um comitê, inclusive com uma sede do movimento, um endereço oficial na Universidade de Brasília (UnB)”, explica o professor Manuel Eduardo Ferreira, um dos pesquisadores da UFG que participam da COP.

A ideia é fazer uma ampla divulgação do INC na COP30, com a distribuição de folders, bottons e camisetas. O material de divulgação não contém logotipo de nenhuma instituição específica, apenas estampa o apoio à criação do INC. “Também vamos fazer o diálogo, sempre que possível, nos painéis em que estivermos participando, faremos menção à criação do instituto, porque entendemos que ele é um importante veículo para a conservação do Cerrado, para acharmos um equilíbrio entre produção e conservação”, afirmou. A ideia, segundo o professor, conta com o apoio de órgãos do governo federal, com destaque para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além dos reitores das demais instituições. “O Instituto Nacional do Cerrado visa proporcionar um desenvolvimento sustentável no sentido de equilibrar a ecologia com a economia, tecnologia e cultura, tudo isso visando valorizar essa conservação.”

&nbsp;Também tem trazido uma questão muito interessante, que é a integração da Amazônia com o Cerrado no sentido da conservação. A gente tem levantado esse aspecto em todas as oportunidades, ressaltando a importância do Cerrado para a preservação da Amazônia e vice-versa, com troca de espécies da fauna e trocas gênicas da biodiversidade. Também há o aspecto hídrico. A Amazônia fornece umidade que vai se manifestar em chuvas no Cerrado, e o Cerrado vai alimentar os aquíferos, as bacias hidrográficas, os rios que nascerão nele e correrão para a Amazônia. Essa integração é bem reconhecida e a gente precisa trazer esse ponto de vista cada vez mais."

Na COP30, goianos buscam atrair investimentos para projetos no Cerrado

Financiamento

A COP30 em Belém reposiciona o Brasil no centro do debate climático mundial e impõe uma tarefa urgente: transformar compromissos globais em políticas que atuem nas nossas paisagens e cidades. Se a Amazônia simboliza a proteção de florestas, o Cerrado é o bioma estratégico onde se decide a segurança hídrica, a resiliência dos territórios e a sustentabilidade da produção. Proteger o Cerrado é proteger nascentes, aquíferos e a capacidade de abastecer o país.

Mais de 85% da população brasileira vive em cidades, e é nelas que a crise climática se manifesta com maior intensidade: enchentes, ilhas de calor, estiagens e eventos extremos que já integram o cotidiano urbano. O recente tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu (PR), com destruição de bairros e perdas humanas, lembra que adaptação urbana deixou de ser uma agenda futura e virou prioridade imediata.

O governo federal avança em instrumentos para que a agenda climática chegue às ruas. O Novo PAC tem incluído investimentos em drenagem urbana, mobilidade limpa, habitação sustentável e eficiência energética. A iniciativa AdaptaCidades (MMA) apoia municípios na elaboração de planos de adaptação; estudos coordenados por órgãos federais e pelo BNDES identificam 187 projetos de mobilidade urbana e estimam investimento da ordem de R$ 430 bilhões para sistemas coletivos de média e alta capacidade. O Fundo Tropical “Florestas Para Sempre” mobiliza recursos globais, mais de US$ 5 bilhões, captados para conservação e restauração dos biomas tropicais.

A transição energética é central nesta agenda. O Brasil tem condições para ampliar renováveis solar, eólica e bioenergia e para eletrificar o transporte público. Goiás reúne condições para ser exemplo: potencial solar, biomassa e redes urbanas que podem integrar ônibus elétricos e logística de baixa emissão. Articulação entre ministérios, estado e municípios é crucial para transformar potencial em obras e empregos verdes.

Mas a ação climática só será legítima se for justa. As populações mais vulneráveis em encostas, várzeas e periferias sem saneamento sofrem primeiro e mais. Investir em drenagem, saneamento, transporte coletivo de qualidade e habitação segura é política de proteção de vidas e redução de custos de desastre. Integrar agricultura sustentável e restauração no Cerrado reconecta produção com preservação, gerando renda e resiliência.

A COP30 terá significado apenas se conseguirmos traduzir o debate em obras nas cidades e no Cerrado. Nas praças, nos terminais, nas nascentes recuperadas e nas comunidades protegidas se verá se a transição é real. O Brasil tem conhecimento técnico, recursos e vontade política. Cabe a parlamentos e governos locais tornar compromissos em políticas que protejam o clima e promovam justiça social, começando pelo Cerrado e chegando às cidades.

Sob a liderança do presidente Lula há convergência política para avançar com investimentos que tornem essa agenda realidade.

Rubens Otoni, deputado federal pelo&nbsp;PT de Goiás

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Cerrado, cidades e clima

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Rubens Otoni

O plano defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzir a <a href="https://opopular.com.br/mundo/lula-forma-a-mesa-da-cupula-de-lideres-e-secretario-da-onu-defende-implementac-o-de-medidas-acertadas-1.3333384" target="_self">dependência dos combustíveis fósseis deve enfrentar resistências na COP30</a>, a conferência sobre mudança climática das Nações Unidas. A avaliação de quatro negociadores ouvidos pela Folha de S.Paulo, sob reserva, é de que existe a possibilidade do tema ser tratado formalmente nas negociações do evento, mas sua chance maior de avançar é driblar os caminhos tradicionais.

A transição para um mundo com menos petróleo, carvão e gás é um dos principais pontos do chamado mapa do caminho, documento elaborado pela presidência da COP30 que indica quais devem ser as prioridades a ser debatidas na conferência. Há uma avaliação de que, como o Brasil ocupa o lugar de presidente da cúpula, não está numa posição de propor inclusão de itens na pauta. Por outro lado, o País precisa trabalhar para construir consensos e contemplar as demandas das outras nações que participam das negociações.

Isso passa pela chamada agenda de ação, da qual participam o setor privado, entes da sociedade civil e atores subnacionais (como governos municipais e estaduais), porque ela não precisa ser aprovada por unanimidade, diferentemente da pauta negociada entre os países, que depende da confirmação de todas as nações que participam da cúpula para avançar.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/clima/mudanca-climatica-pode-aumentar-frequencia-e-intensidade-de-tornados-1.3334460" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Mudança climática pode aumentar frequência e intensidade de tornados</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/o-que-as-delegac-es-de-goias-levar-o-para-a-cop30-1.3334255" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">O que as delegações de Goiás levarão para a COP30</a> 
<a href="https://opopular.com.br/mundo/lula-forma-a-mesa-da-cupula-de-lideres-e-secretario-da-onu-defende-implementac-o-de-medidas-acertadas-1.3333384" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Lula forma a mesa da cúpula de líderes, e secretário da ONU defende implementação de medidas acertadas</a></div>

O mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis foi defendido pelo presidente Lula em seus discursos tanto na abertura da conferência quanto na cúpula de líderes que a antecedeu. Antes, a elaboração deste documento já vinha sendo pleiteada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Agora, com o impulso do discurso de Lula, a avaliação é que o assunto ganha importância inédita e é necessário encontrar uma forma de tratá-lo. Um negociador disse à Folha de S.Paulo que, após a declaração do presidente, será necessário achar um jeito de fazer essa pauta avançar.

O principal objetivo é fazer com que seja colocado em prática o “transitioning away from fossil fuels” (“transição para longe dos combustíveis fósseis”, em inglês), que consta no acordo construído na COP28, nos Emirados Árabes, em 2023.

Apesar de o texto ter sido aprovado por todos os países, na prática esse tópico não foi implantado e acabou sendo deixado de lado, sem um debate sobre como essa transição deveria ser feita. A ideia do mapa do caminho é desenhar critérios e dizer qual a melhor forma para o mundo conseguir reduzir e zerar sua dependência de petróleo, gás e carvão – que são combustíveis poluentes –, sem que isso traga prejuízo a economias ou populações mais vulneráveis.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a presidência da COP30 avalia alguns ângulos de abordagem diferentes para essa trajetória, e avalia entre os países qual teria maior adesão. Os negociadores admitem, porém, que é difícil fazer com que essa pauta seja debatida formalmente na conferência. Já na cúpula preparatória da COP, em Brasília, diplomatas da Arábia Saudita se incomodaram ao ver o tema ser mencionado em algumas discussões.

Um negociador avalia que em Belém alguns países europeus demonstraram uma abertura maior que o normal para tratar do tema. Paralelamente, organizações da sociedade civil tentam mobilizar países sul-americanos em prol da ideia por meio do G9 – coalisão criada por indígenas da Amazônia para pressionar seus respectivos governos.

Por outro lado, nações em desenvolvimento, com destaque para africanas, se opõem, pelo receio de que a redução dos fósseis traga prejuízos sociais. Um negociador do grupo de países do continente disse à Folha de S.Paulo, em setembro, que em muitos lugares é necessário primeiro garantir o acesso à eletricidade para depois pensar em transição energética.

Na avaliação dos negociadores, cerca de 70 países são muito resistentes à ideia. O grupo inclui países em desenvolvimento da África e de outras regiões. Por isso, provavelmente será mais avançar com o mapa do caminho pela agenda de ação. Uma possibilidade, por exemplo, é a construção de alianças ou coalizões de países em torno deste tema – é, por exemplo, o que o Brasil tem feito com o mercado de carbono ou com os combustíveis renováveis.

Já dentro da agenda formal, não há consenso sobre qual a melhor estratégia a ser adotada. Os negociadores avaliam que uma possibilidade é tentar um acordo para começar um processo de estudo sobre o tema. Outro caminho é debater o assunto dentro do item do balanço global, uma avaliação feita pela ONU acerca de quanto o mundo está avançando para alcançar as metas de redução das emissões de CO2 definidas pelo Acordo de Paris. A ministra Marina lidera a iniciativa para tentar solucionar o impasse .

Pouco antes da COP30, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) autorizou a perfuração da região da foz do Amazonas pela Petrobras, o que abre uma nova fronteira de petróleo no Brasil. Em seus discursos, Lula afirmou que o Brasil vai criar um fundo para que os rendimentos dos combustíveis fósseis financiem a transição energética.

<h2>Protesto em área restrita tumultua e deixa feridos</h2>

Um protesto causou confusão e deixou feridos no início da noite desta terça-feira (11), segundo dia da programação oficial da COP30, realizada em Belém. Os manifestantes tentaram invadir a Blue Zone, área restrita, e foram contidos por seguranças. O incidente teve início por volta das 19 horas. Uma socorrista ouvida pelo POPULAR confirma que pelo menos um segurança precisou ser levado para uma unidade de saúde, depois de sofrer ferimentos.

Funcionário de um estande, Thalys Maues presenciou parte da confusão e diz ter visto duas pessoas sendo socorridas. “Eu estava na área de Portugal quando vi uma correria e comecei também a correr. Eu vi manifestantes que protestavam contra a COP30, uma das faixas era contra a exploração de petróleo na Amazônia. Eles tentaram invadir a Blue Zone e agrediram seguranças. Duas pessoas foram socorridas.” Após o incidente, o evento foi suspenso e houve evacuação nas duas áreas no Parque da Cidade, a Green Zone (aberta ao público) e a Blue Zone (para pessoas credenciadas).

Nesta quarta-feira (12) terá início a Cúpula dos Povos, um dos principais eventos paralelos da COP30. A abertura será com uma barqueata no Rio Guamá, que passa por Belém. Cerca de 150 embarcações, com ambientalistas e líderes tradicionais, estão previstas para o desfile nas águas.&nbsp;(Gabriela Lima, de Belém, enviada à COP30 / O POPULAR)

<h3>Hospedagem é inflacionada com COP</h3>

Os preços da hospedagem na Grande Belém acumularam inflação de 19,17% nos 12 meses encerrados em outubro, segundo dados divulgados nesta terça (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta do serviço nas 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O avanço dos custos na metrópole paraense foi quase o dobro da inflação registrada pela hospedagem no Brasil em igual período (10,33%). A carestia de hotéis e em Belémfoi às vésperas da COP30. O aumento das tarifas provocou reclamações de delegações e foi visto como desafio à organização. (Leonardo Vieceli / Folhapress)

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Plano contra combustível fóssil busca driblar resistência na COP30

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