Os grandes reajustes nos preços de vários produtos e serviços pressionam os custos e dificultam a recuperação para o setor de bares e restaurantes, um dos mais afetados pelas medidas para conter a pandemia. As empresas garantem que não conseguem repassar a disparada nos preços de artigos como carnes, óleo de soja, arroz, gás de cozinha e energia elétrica para os preços cobrados dos clientes e, por isso, tiveram uma severa redução nas margens de lucro. O resultado tem sido o acúmulo de dívidas, fechamento de estabelecimentos e demissões.De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação em Goiânia, alguns produtos e serviços acumulam reajustes pesados nos últimos 12 meses, como o óleo de soja, que subiu 88,5%, o arroz, que ficou 52% mais caro, e a costela, cujo preço já aumentou quase 49%. Mas, segundo os empresários, alguns insumos já subiram mais de 100% no período, como as embalagens e derivados de plástico.O Sindicato dos Bares e Restaurantes de Goiânia (Sindibares) estima que cerca de 3 mil estabelecimentos já tenham sido fechados deste o início da pandemia. Por volta de 10 mil empregos foram perdidos, não apenas pelo fechamento de empresas, mas também pelas restrições de funcionamento, que ainda existem, e pela pressão dos custos. Para o presidente do Sindibares Goiânia, Newton Pereira, é muito preocupante o fato de tantos reajustes ocorrerem justo num momento de tentativa de retomada da economia. “É algo contraditório, que deixa a retomada bem mais difícil”, destaca.Newton lembra que os bares e restaurantes também adicionaram custos extras às planilhas para seguir os protocolos de segurança, como a compra de álcool gel, luvas plásticas para servir no buffet e embalagens individuais para todos os talheres. “Ao mesmo tempo, estamos com nossa capacidade reduzida em 50%, pois o distanciamento entre as mesas dobrou de 1 para 2 metros”, lembra. Ao mesmo tempo, a redução no poder de compra do consumidor dificulta o repasse destes custos para os cardápios.O empresário Daniel Landi, proprietário do Restaurante Danove, conta que seu gasto mensal com a compra de carnes passou de R$ 15 mil para R$ 19,5 mil nos últimos meses. Para tentar reduzir o impacto, começou a investir num cardápio com mais aves e suínos. Ele estima que a alta média de custos tenha passado dos 15%, enquanto o preço que cobra pelo quilo da comida só aumentou 8%. Com a margem de lucro reduzida, os desafios atuais são aumentar as vendas, já que muitos clientes ainda não voltaram por medo da pandemia, e cortar gastos. “Mesmo assim, estamos acumulando dívidas com impostos. É um ano desafiador”, destaca.EquilíbrioPara o empresário Guilherme Cândido Jeremias, proprietário da Simple Burger, está cada dia mais difícil fazer os cálculos e encontrar um equilíbrio entre preços e custos, pois os reajustes em produtos como pão, carnes, queijos e gás são constantes e inesperados. “Estamos tentando evitar um aumento de preços ao máximo para não assustar o cliente, sempre na esperança de uma retração. O resultado é um lucro quase zero e impostos atrasados. Não temos apoio dos governo”, diz. Ele garante que não fez nenhum reajuste este ano, enquanto seus custos subiram cerca de 30%.O empresário Alcides da Penha Machado, do Sarça Restaurante, lembra que, além do gás de cozinha, cujo preço tem subido praticamente todo mês, e dos produtos alimentícios, como carnes, arroz e óleo de soja, os materiais de limpeza também estão bem mais caros e as embalagens hoje custam mais que o dobro de antes. “O pacote de luvas plásticas saltou de R$ 1,80 para R$ 5,60 e o de sacolas foi de R$ 25 para R$ 60”, destaca. Na média, a alta de custos foi de 30%, mas ele diz que só conseguiu subir seu preço em 10%. “O poder aquisitivo da população caiu, muitos clientes ainda não voltaram por medo e alguns até faleceram de Covid, principalmente idosos”, lamenta.O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Goiás (Abrasel-GO), Danillo Ramos, lembra que ainda existe um temor de mais reajustes dos alimentos a partir de setembro ou outubro, inclusive com o risco de escassez. Mesmo num cenário assim, ele ressalta a dificuldade para reajustar os preços dos cardápios, pois o movimento não voltou e o cliente está com o poder de compra reduzido, principalmente das classes média e média baixa.Apesar dos desafios, setor oferece 500 novas vagasMesmo num cenário tão desafiador, muitos bares e restaurantes já começaram a recontratar. O Sindibares Goiânia informa que hoje existem cerca de 500 vagas de emprego abertas no setor. “Se a flexibilização for ampliada, com certeza também vamos ampliar muito a oferta de vagas”, prevê o presidente da entidade, Newton Pereira.A recuperação de empregos é um alento depois de tantas demissões. O sócio proprietário do Empório Saccaria, Ronaldo Reis, lembra que precisou demitir 96 pessoas após os decretos de isolamento social em 2020. Agora, a pressão vem da alta nos custos. Segundo ele, praticamente todas as proteínas tiveram reajuste e a energia elétrica e o gás se tornaram grandes vilões no orçamento. “Enquanto isso, não conseguimos repassar por causa da redução de clientes. Muita gente ainda continua em casa”, destaca. Sem o repasse, a saída deve ser a retirada de itens do cardápio.O resultado, segundo Ronaldo, foi um forte achatamento na margem de lucro. “Dificilmente conseguiremos evitar reajustes por muito mais tempo. Todo mundo já está revendo os custos e verificando a possibilidade de fazer algum repasse”, ressalta. Além disso, o empresário diz que ainda há muita insegurança no mercado, pelo temor de novas medidas restritivas.O presidente da Abrasel-GO, Danillo Ramos, adverte que os empresários devem ficar de olho em suas fichas técnicas usadas para definir os custos e alimentar os preços por unidade. Além disso será preciso tomar algumas medidas para redução de custos, como rever algumas opções de proteínas animais do cardápio. “É difícil porque o goiano gosta muito de carne”, reconhece. Para o presidente do Sindibares, quando não der mais para segurar, é preciso repassar pelo menos uma parte dos reajustes, sob o risco de ter o negócio inviabilizado financeiramente. -Imagem (1.2278961)