A disparada no custo de adubos e fertilizantes reduziu os investimentos em adubação e correção de pastagens no Centro-Oeste. Com a proximidade do período de seca, muitos pecuaristas estão reduzindo a lotação das fazendas e mandando mais gado para o abate. O confinamento também deve deixar o custo de produção maior que o valor pago atualmente pela arroba do boi. Com o maior abate de matrizes, a expectativa é que faltem bezerros a médio e longo prazo, o que resultará em novos reajustes futuros no preço da carne ao consumidor.O pecuarista Raul Douglas Celestino, de Inhumas, confirma que o alto custo tem impedido a formação de pastagens. Ele lembra que a seca prolongada no Centro-Oeste demanda a produção de milho para silagem. Mas, este ano, por causa do custo, só fez a safra principal.“O certo seria plantar a safrinha e manter o terreno para fazer silagem, mas a semente foi jogada no capim sem adubar. Abrimos um pasto novo bem aquém do que é recomendado para suplementação do solo”, conta.Para Raul, hoje está mais vantajoso se desfazer do animal e vender a silagem para produtores de leite. A silagem é viável para tratar os animais no cocho ao custo de até R$ 120 por tonelada, mas a expectativa é vender a R$ 350 hoje, o que inviabiliza a produção de bezerros. “A saída tem sido reduzir o plantel, mas está difícil até fazer o descarte porque os frigoríficos têm feito manobras mercadológicas para reduzir os preços”, diz. Na opinião dele, hoje está mais lucrativo vender as fêmeas e aplicar na renda fixa. “Antes, conseguíamos vislumbrar um lucro de 4% a 5% no ciclo produtivo. Agora, mal conseguimos 2,5%”, afirma Raul, que pretende vender seu gado nos próximos dias.Ele conta que uma vaca come meia tonelada de silagem por mês, e o custo atual do insumo anula os ganhos. Por isso, muita gente está destruindo pastos para entrar com a produção de soja. “Num estado onde a agropecuária é o carro-chefe da economia, os governos deveriam dar subsídios para reduzir os custos da produção”, cobra.ProdutividadeA escassez de reserva de pasto tende a provocar o descarte de animais que ainda estão em plena produtividade pela falta de comida. A zootecnista Carolinne Mota, especialista da Nutroeste Nutrição Animal, explica que a adubação que deveria ter sido feita nos meses de novembro e dezembro não ocorreu, o que reduziu a disponibilidade de forragens, afetando a produção hoje. Segundo ela, essas pastagens não receberam uma correção com calcário e adubação mineral com fosfato, potássio e ureia adequadas. “Além disso, também há entraves, como a praga da cigarrinha e a diminuição de áreas de pastagem por conta dos arrendamentos para agricultura”, diz.Alguns produtores já não têm mais pastos agora, antes mesmo da chegada do período de seca e estão sendo forçados a vender o gado por um preço menor, pois não terão condições de tratá-lo nos próximos meses, o que aumentou a oferta de animais no mercado. “Mas é preciso lembrar que se o produtor está tirando vacas do pasto agora, por escassez de forragem, nos próximos dois anos teremos falta de bezerros no mercado e aumento grande no preço da carne”, alerta.Carolinne lembra que a tonelada de ureia, que antes custava R$ 3.150, hoje já é vendida por R$ 5 mil. “Hoje, o produtor já nem pensa mais em lucro. Só em reduzir o prejuízo tirando os animais do pasto e ficando só com os mais jovens, que comem menos. Uma vaca come o mesmo que três bezerros”, destaca.Maior oferta pressiona preçosO pecuarista Evandro Vilela, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), reforça que o setor tem passado por um momento difícil por causa da alta de insumos, como adubos e fertilizantes, e dos alimentos componentes da ração, como o milho e a soja.A alta no preço da arroba, que chegou aos R$ 330, mas recuou para os R$ 300, não conseguiu absorver os custos atuais. Uma pressão sobre os preços veio do embargo chinês às exportações da unidade da JBS de Mozarlândia, que aumentou a oferta interna e reduziu os valores de mercado justo num momento de alta dos custos.Por isso, com a chegada do período de seca, quando o pecuarista começa a desovar o gado gordo pronto, hoje também há o descarte de fêmeas. “Há uma pressão de oferta com a entrada da seca e o mercado com tendência de queda”, destaca.Evandro lembra que o cenário para confinamento também não é bom. Isso porque o custo por arroba é estimado entre R$ 317 e R$ 320, para um mercado que paga R$ 300 hoje. Até o travamento na bolsa está desfavorável na relação atual de preços e custos.Com menos investimento em pastagem, a tendência é que o gado perca mais peso que o normal durante a seca. Por isso, hoje o pecuarista vive o dilema de escolher entre fechar o gado no confinamento e esperar o mercado reagir, vender o boi magro ou manter por mais tempo no pasto.“Se não fechar, pode faltar boi gordo no segundo semestre”, alerta. Ainda há esperança de que os custos baixem e o preço da arroba volte a subir.Leia também- Produção agropecuária de Goiás deve chegar a R$108,8 bilhões em 2022- Polvilho é destaque entre ingredientes populares da cozinha goiana