Karla Jaime

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Em seu primeiro dia de mandato, o presidente dos Estados Unidos, <a href="https://opopular.com.br/mundo/saiba-o-que-trump-anunciou-no-discurso-da-posse-1.3221976" target="_blank">Donald Trump</a>, dispensou a diplomacia ao ser questionado sobre as relações com o Brasil e a América Latina: “É ótima. Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles. Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós”.&nbsp;

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; outline: 0px; outline-offset: -2px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Embora tais afirmações reforcem a retórica “EUA fisrt” do republicano, elas não correspondem ao atual cenário da geopolítica e das relações econômicas internacionais, apontam analistas em entrevistas ao POPULAR: Jeferson de Castro Vieira, economista, consultor de negócios e professor universitário, e Carlos Stuart Palma Júnior, professor universitário, mestre em Direito Econômico e consultor em Comércio Exterior e Relações Internacionais da Fieg (Federação das Indústrias do Estados de Goiás).

Ambos observam que o Brasil e especificamente Goiás, que se destaca no agronegócio e desponta no setor mineral e em produção de energia limpa, podem se beneficiar com a abertura de novos mercados e o fortalecimento de blocos como Mercosul e Brics, caso os EUA endureçam medidas tarifárias.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/mundo/dolar-fica-abaixo-de-r-6-pelo-terceiro-dia-seguido-e-atinge-r-5-86-apos-trump-falar-em-acordo-com-a-china-1.3223553" target="_blank">Dólar fica abaixo de R$ 6 pelo terceiro dia seguido e atinge R$ 5,86 após Trump falar em acordo com a China</a> 
<a href="https://opopular.com.br/mundo/justica-bloqueia-ordem-de-trump-que-restringe-cidadania-por-nascimento-nos-eua-1.3223200" target="_blank">Justiça bloqueia ordem de Trump que restringe cidadania por nascimento nos EUA</a> 
<a href="https://opopular.com.br/mundo/saiba-o-que-trump-anunciou-no-discurso-da-posse-1.3221976" target="_blank">Saiba o que Trump anunciou no discurso da posse</a></div>

Na avaliação dos especialistas, não só o impacto de ampla revisão da política comercial americana, buscando práticas comerciais desleais de parceiros dos EUA, com provável taxação de produtos importados pelo país, tende a ser menor para os alvos da retaliação tarifária, como pode se converter em oportunidades.&nbsp;

Trump deve receber os relatórios sobre importação e exportação em 1º de abril, o que sinaliza um “gradualismo” na adoção de medidas econômicas. Isso já foi suficiente para tranquilizar os mercados, com reflexos, por exemplo, em recuo na <a href="https://opopular.com.br/mundo/dolar-fica-abaixo-de-r-6-pelo-terceiro-dia-seguido-e-atinge-r-5-86-apos-trump-falar-em-acordo-com-a-china-1.3223553" target="_blank">valorização do dólar</a> ante o real e outras moedas de países emergentes.&nbsp;

<div attr-cid="policy:1.3221997" attr-version="policy:1.3221997:1737408819" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3221997" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3221997', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3221997">Webstories (1.3221997)</a></div>

De volta à Casa Branca, o republicano também não taxou importações de países vizinhos, México e Canadá, em até 25% no primeiro dia, mas disse que isso pode acontecer em 1º de fevereiro. Promessa de campanha, a adoção de medidas tarifárias em relação à China ainda não se efetivou, e o mandatário americano tem mantido conversas com o presidente chinês Ji Xiping.&nbsp;

Mas Trump já decretou estado de emergência energética, o que permite aumentar a exploração de petróleo e permitir novas perfurações no Alasca e Oceano Ártico. Isso pode favorecer mais investimentos em energia limpa no Brasil, veem os especialistas.

Confira as análises sobre perspectivas de negócios a partir de medidas que Trump sinaliza adotar. Entre elas tarifas de 100% sobre membros do Brics caso estes não se comprometam a abandonar planos de substituir o dólar por moedas locais em negócios do bloco, criado por Brasil, Rússia, China e Índia, ao qual se juntou a África do Sul e que vem ampliando seus membros.

<h2>Cautela nas tarifas</h2>

Jeferson de Castro -O gradualismo (na adoção de tarifas à importação pelos EUA) permite ao mercado se antecipar e reagir progressivamente às mudanças, o que evita choques imediatos. Trump começou falando em medidas fortes e depois, na mesma semana, ele foi saindo de um discurso político para uma realidade que é diferente. No caso específico do Brasil, esse gradualismo pode mitigar impactos drásticos no curto prazo, por exemplo, na questão do dólar e na confiança dos investidores, e nas decisões de comércio exterior.&nbsp;

Carlos Stuart - Até para atender a seus eleitores, é muito provável que Trump aumente as tarifas, mas devem ser menos agressivas e generalizadas do que nas promessas de campanha.

<h3>Mercado diversificado</h3>

Jeferson de Castro - Caso os EUA de fato aumentem tarifas sobre produtos brasileiros, para Goiás, que é um estado exportador forte de soja, carnes e outros produtos agrícolas, seria particularmente desafiador. A elevação de tarifas poderia reduzir a competitividade dos produtos goianos nos EUA, obrigando o estado a buscar novos mercados. Nesse contexto, uma aproximação do Brasil com a União Europeia, a partir de um acordo do Mercosul, pode ser bom ao mercado brasileiro, são mais de 25 países com possibilidade de comprar produtos brasileiros, e goianos, do agro. E uma aproximação maior, dentro dos Brics, com os países que estão entrando no bloco. Uma oportunidade de Goiás aumentar exportação, diversificando parceiros comerciais e reduzindo a dependência do dólar. Mas, particularmente, eu não acredito na retórica de Trump de retaliação a produtos brasileiros.

Carlos Stuart - Nossa pauta de exportações para os EUA em 2024 bateu os 40 bilhões de dólares. Os setores de maior importância são produtos industrializados, como aeronaves, petróleo, café, carne bovina, celulose. Tarifas sobre os nossos produtos industrializados poderiam ser muito danosas para setores da indústria brasileira. No contexto do agro, embora carne e o café tenham tido grande expressão, o grande mercado da agroindústria brasileira, e de Goiás por consequência, é a China, cuja demanda tende a aumentar. Na hipótese de uma escalada de uma “guerra fiscal” entre americanos e chineses - em particular em contratos de compra de milho, soja e carne – o agro brasileiro seria substituto mais provável para atender essa demanda chinesa. É uma aposta razoável cravar que quanto maior e mais ampla for a majoração tarifária dos americanos contra produtos chineses, maior poderá ser a disposição deles em retaliar e, entre outras medidas, substituir os produtos agrícolas produzidos pelos EUA pela produção brasileira. Assim, poderemos rapidamente ocupar o lugar dos EUA fornecendo ainda em maior quantidade, principalmente milho, soja e proteínas animais. Também relacionado a eventuais retaliações por parte de chineses, seria possível restrição da exportação de terras raras (mercado hoje predominantemente dominado pela China) para o mercado americano ou a suas empresas. Nesse caso, outra oportunidade para o Brasil, em particular para Goiás, que tem reservas desses minérios estratégicos não exploradas e minas em operação e já exportando.

<h3>México e Canadá</h3>

Jeferson de Castro - Brasil e Goiás podem se beneficiar não só em commodities do agro, mas em outras, minerais. Em ambas Goiás exporta bem e esses países da América do Norte podem ser uma alternativa, caso ocorram imposições de tarifas a eles pelos EUA, porque os produtos brasileiros se tornarão mais competitivos nesses mercados. No caso do México e Canadá, parceiros muito próximos dos EUA, vide o Nafta, o Brasil pode se beneficiar da exportação de itens, e aí entra Goiás, como carnes, soja e milho. Seria oportunidade de expandir nossa base de exportações. 
Carlos Stuart - Caso se concretizem as medidas de escalada tarifária na sua proporção mais extrema, podemos estar diante de um período de reorganização das relações comerciais internacionais, com abertura de novos mercados tanto para importação quanto para exportação de produtos e serviços. O Brasil e o México já têm uma pauta bastante interessante de comércio exterior, envolvendo agropecuária, indústria extrativa, alimentos processados, mas também autopeças e outros importantes produtos industriais de ambos os lados. Entre os dois países o comércio bilateral cresceu mais de 140% nos últimos dez anos, chegando a 8,6 bilhões de dólares em 2023. Há um interesse mútuo para ampliar o comércio bilateral, e uma escalada das tarifas americanas pode ser um fator de aceleração de um movimento que já está em curso. Quanto ao Canadá, números da balança comercial ultrapassam a casa de 5,7 bilhões de dólares em 2024, o nono colocado entre os destinos das exportações brasileiras, também neste caso os dois governos buscam incrementar a relação comercial. Nos dois casos há uma infinidade de oportunidades para Goiás que devem ser ampliadas em caso de reajuste tarifário estadunidense.

<h3>Dólar</h3>

Jeferson de Castro -Valorização do dólar depende de fatores como a política monetária americana, perspectiva de aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve (FED), desempenho global e questões internas do Brasil. Com relação aos EUA, os dados divulgados sobre seguro-desemprego e inflação mostram uma perspectiva de redução de taxas de juros. O mercado global tem reagido de uma forma positiva, por enquanto, assim, no curto prazo está favorável ao Brasil, com tendência de desvalorização do dólar em países emergentes. O dólar forte impacta diretamente na inflação, pelo encarecimento de produtos importados. Isso torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo, mas aumenta os custos da dívida externa e pode limitar investimentos estrangeiros. E há a preocupação com as contas públicas no Brasil, que influenciam o dólar, que teve forte alta em dezembro, mas já se percebe alívio. Dados do Banco Central indicam maior entrada de investimentos estrangeiros diretos, ou seja, de mais dólares no Brasil, tanto no setor produtivo quanto no mercado financeiro. Com isso, a tendência é de uma valorização do real.

Carlos Stuart - A chegada de Donal Trump à Casa Branca está longe de ser um fator de estabilidade para os mercados. Sua administração promete chacoalhar a política internacional e consequentemente os mercados. Essa incerteza por si só já é um fator de valorização do dólar, não somente no Brasil, mas nos mercados internacionais, dada a posição e crença no dólar como a divisa mais segura.

<h3>Retaliação aos Brics</h3>

Jeferson de Castro - Essas ameaças de tarifas unilaterais dos EUA aos Brics podem levar a dois cenários. Um, de recuo de alguns países do bloco no uso de moedas locais para evitar conflitos comerciais com os EUA, o que de certa forma já vem acontecendo, e outro, e mais provável, de fortalecimento do bloco, que já está se ampliando e consolidando. Pressões externas podem acelerar a implementação de alternativas ao dólar, já existem muitas negociações bilaterais, como entre China e Rússia, nas próprias moedas. Iniciativas no próprio Mercosul, inclusive entre Argentina e China, sem uso do dólar. Essa movimentação faz parte da nova geopolítica e geoeconomia mundial, e isso não tem volta.

 
Carlos Stuart - Sobre a busca de meios de pagamentos internacionais alternativos ao “Sistema do Dólar”, não é descabido afirmar que esse “é um trem que já saiu da estação”, não há mais volta. Sob a presidência do Brasil, a discussão sobre a desdolarização é pauta garantida na próxima reunião dos Brics. Uma série argumentos motivam a discussão. Um deles seria reação de membros do grupo - mas também de muitos outros países fora dele – a utilização do dólar e do sistema de pagamentos internacionais “Swift” como meio de retaliação e sanções, por exemplo, o caso da Rússia, em resposta a Guerra da Ucrânia, o que “desnatura” o caráter “neutro” da reserva de valor que deve ter a moeda para trocas internacionais. Mas, na realidade, o motivo mais importante é o simples fato pragmático de que as relações comerciais entre os membros dos Brics é cada vez mais relevante para os membros do grupo e para fora dele também. Além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco conta com membros permanentes, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, com o acréscimo há poucos dias da Indonésia, que sozinha tem uma população de quase 300 milhões de habitantes e sustenta uma das maiores taxas de crescimento econômico do mundo. Os Brics já representam de longe a maior população do mundo e grande parte do seu PIB. Não parece muito realista, em termos econômicos, que os americanos – ainda que seja para proteger o dólar - apliquem uma sanção dessa envergadura ao grupo como um todo. Dentro do grupo dos Brics têm grandes exportadores industriais (China, Índia, Brasil) que abastessem o mercado americano de uma infinidade de produtos e serviços, além de matérias-primas fundamentais, e destaca-se que são membros do grupo alguns dos grandes fornecedores de petróleo dos EUA (Emirados Árabes, Arábia Saudita, e mesmo Brasil).

<h3>Energia limpa</h3>

Jeferson de Castro - Trata-se de uma grande oportunidade para o Brasil. Existe uma política de power shoring em que há uma preocupação com a energia limpa, e o Brasil, como também Goiás, se posiciona como líder. Embora o foco do decreto de Trump seja a exploração de combustíveis fósseis, como petróleo e gás, isso pode abrir mais espaço para o Brasil se posicionar como líder em energia limpa. O republicano tem que atender eleitores dele, produtores de petróleo e gás, e é uma alternativa que ele está encontrando para reduzir o preço dos combustíveis e a inflação nos EUA. Entretanto, essa postura tem gerado crítica globais, como no Fórum Econômico de Davos. Isso reforça cada vez mais a busca por fontes alternativas, no caso de Brasil e Goiás, como etanol, biocombustível, energia solar, em que já temos destaque. Em Goiás, o setor agrícola forte pode impulsionar o mercado de biocombustíveis, como os de segunda geração, com reaproveitamento de produtos, não poluente e ligado a crédito de carbono, além de investimentos crescentes em energia fotovoltaica. A narrativa do Brasil como potência verde pode atrair investidores que buscam alternativas sustentáveis. A aposta do Brasil tem que ser na economia sustentável, na economia verde.&nbsp;

Carlos Stuart - Embora não tenha sido surpresa para ninguém a retirada dos EUA do Acordo de Paris, a questão climática é talvez a mais controversa dos posicionamentos da nova administração Trump. Projetos de descarbonização e energias renováveis têm sido objeto de fartos recursos dos demais países signatários do acordo, entidades e agências de fomento internacionais (como Banco Inter Americano de Desenvolvimento - BID, por exemplo). Assim, a ausência americana é um fator suplementar que pode auxiliar, mas o que de fato pode converter a oferta de fundos internacionais em projetos realizados no Brasil, e em Goiás em particular, é o empenho de setores públicos e privados no desenvolvimento e submissão, em maior quantidade, de projetos sustentáveis mais técnicos e consistentes a financiadores internacionais.

Ameaças de Trump podem ser oportunidades, dizem analistas

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Conteúdo investigado: <a href="https://projetocomprova.com.br/wp-content/uploads/2025/04/null-16.png" target="_blank">Post</a> afirma que, “pela primeira vez na história, o PIB per capita do Brasil é inferior à média mundial”, que o país ocupa atualmente a 81º posição neste ranking e que “o Brasil de Lula está mais pobre perante o mundo”.

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Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de um post no X que usa dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicados na Wikipédia para afirmar que, pela primeira vez na história, o PIB per capita do Brasil é menor do que a média mundial.

A publicação compartilha o print de parte de uma tabela da Wikipedia em que o Brasil ocupa, supostamente, a 81ª posição no ranking, com estimativa de PIB per capita para 2025 de US$ 10.816, valor menor do que a média mundial para o período, de US$ 14.450 per capita. Os valores são os mesmos estimados pelo FMI, embora haja uma ligeira imprecisão na posição no ranking – o Brasil está na 79ª posição (leia mais abaixo).

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/comprova/lula-tem-aposentadoria-especial-como-anistiado-e-dilma-recebeu-pagamento-unico-entenda-1.3249007">Lula tem aposentadoria especial como anistiado e Dilma recebeu pagamento único; entenda</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/video-que-elogia-lula-com-falas-de-premie-japones-e-falso-n-o-ha-registros-das-declarac-es-1.3248162">Vídeo que elogia Lula com falas de premiê japonês é falso; não há registros das declarações</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/video-mostra-show-de-artista-em-marcha-transmasculina-como-se-fosse-ato-contra-a-anistia-na-avenida-paulista-1.3248062">Vídeo mostra show de artista em Marcha Transmasculina como se fosse ato contra a anistia na Avenida Paulista&nbsp;</a></div>

Não é verdade, no entanto, que esta seja a primeira vez na história que o Brasil fica atrás da média mundial. De acordo com <a href="https://www.imf.org/external/datamapper/NGDPDPC@WEO/OEMDC/ADVEC/WEOWORLD" target="_blank">dados do próprio FMI, desde 1980</a>, o Brasil sempre esteve atrás da média mundial – exceto nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).

De acordo com o economista Luciano Nakabashi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador da área de crescimento e desenvolvimento econômico, o Brasil teve um crescimento considerável entre os anos 1930 e 1980, se aproximando dos países ricos. De lá para cá, contudo, o país se manteve bastante próximo da média mundial.

Depois, voltou a crescer nos últimos quatro anos, embora o crescimento não seja sustentável. “Tirando 2021, que foi a recuperação da crise lá da pandemia, a gente teve um crescimento em torno de 3% em 2022, 2023 e 2024, o que é um bom crescimento. Não é extraordinário, mas é bom. Só que eu acho que a gente está crescendo de uma forma não sustentável, porque há um aumento da dívida”, explica.

O autor do conteúdo não permite o envio de mensagens no X para não seguidores.

<a href="https://projetocomprova.com.br/about/" target="_blank">Enganoso</a>, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até a tarde de 4 de abril de 2025, o post tinha mais de 62 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, o Comprova acessou dados do PIB per capita do Brasil calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o banco de dados de PIB per capita do FMI e entrevistou o economista Luciano Nakabashi, da USP.

<h2>O que é o PIB per capita e qual a posição atual do Brasil no ranking mundial?</h2>

O PIB per capita, explica o economista Luciano Nakabashi, é o Produto Interno Bruto total de um país – ou seja, tudo aquilo que o país conseguiu produzir em um determinado intervalo de tempo – dividido pelo número de habitantes. Além de ser uma medida de capacidade produtiva, também serve para medir o consumo, já que, como num ciclo, a produção, seja de bens ou de serviços, é demandada pelas pessoas.

<cite>Tudo que é produzido remunera o trabalho, gera renda e essa renda é utilizada para consumir o que se produziu. Então, quanto maior o PIB per capita, maior o poder de compra das pessoas”, afirma Nakabashi.</cite>

Cada país calcula seu PIB per capita em moeda corrente – ou seja, em reais, no caso do Brasil. Mas, é comum que entidades internacionais façam estimativas de valores em dólares americanos, como uma forma de fazer uma comparação desse poder de compra entre pessoas de diferentes países.

O FMI é uma dessas entidades e foram os dados do Fundo que serviram de fonte para o artigo na Wikipedia utilizado pelo autor do post. Há também estimativas feitas do Banco Mundial e da Universidade da Pensilvânia, por exemplo, mas os números são menos atualizados. Embora considerados bastante confiáveis pelos economistas, os dados mais recentes da Universidade Pensilvânia são de 2019.

No caso do FMI, foi feita uma estimativa para 2025, <a href="https://www.imf.org/en/Publications/WEO/weo-database/2024/October/weo-report?c=512,914,612,171,614,311,213,911,314,193,122,912,313,419,513,316,913,124,339,638,514,218,963,616,223,516,918,748,618,624,522,622,156,626,628,228,924,233,632,636,634,238,662,960,423,935,128,611,321,243,248,469,253,642,643,939,734,644,819,172,132,646,648,915,134,652,174,328,258,656,654,336,263,268,532,944,176,534,536,429,433,178,436,136,343,158,439,916,664,826,542,967,443,917,544,941,446,666,668,672,946,137,546,674,676,548,556,678,181,867,682,684,273,868,921,948,943,686,688,518,728,836,558,138,196,278,692,694,962,142,449,564,565,283,853,288,293,566,964,182,359,453,968,922,714,862,135,716,456,722,942,718,724,576,936,961,813,726,199,733,184,524,361,362,364,732,366,144,146,463,528,923,738,578,537,742,866,369,744,186,925,869,746,926,466,112,111,298,927,846,299,582,487,474,754,698,&amp;s=NGDPDPC,&amp;sy=2022&amp;ey=2029&amp;ssm=0&amp;scsm=1&amp;scc=0&amp;ssd=1&amp;ssc=0&amp;sic=0&amp;sort=country&amp;ds=.&amp;br=1" target="_blank">divulgada em outubro de 2024</a>. Segundo ela, o Brasil deve ter um PIB per capita este ano de US$ 10.816, cerca de US$ 3,6 mil a menos do que a média mundial estimada, de US$ 14.450. Apesar de a tabela do post verificado apontar o Brasil na 81ª colocação no ranking, o país aparece em 79º lugar, segundo dados do FMI. Isso porque o artigo levou em conta no ranking as Ilhas Cook e Cuba, para quem o FMI não tem estimativa para 2025.

No caso do Brasil, o PIB é calculado pelo IBGE e ainda não há dados para este ano. O <a href="https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/42774-pib-cresce-3-4-em-2024-e-fecha-o-ano-em-r-11-7-trilhoes#:~:text=Em%20valores%20correntes%2C%20o%20PIB,16%2C4%25%20em%202023." target="_blank">PIB per capita de 2024 foi de R$ 55.247,45</a>, com um crescimento real de 3% com relação ao ano anterior. Se o valor fosse convertido em dólares americanos hoje, o PIB per capita de 2024 teria sido de US$ 9.562,18, de acordo com o <a href="https://www.bcb.gov.br/conversao" target="_blank">conversor de moedas do Banco Central</a>.

<h2>É a primeira vez que o Brasil fica atrás da média mundial?</h2>

Não. A página dedicada a informações sobre PIB per capita do FMI contém dados de 1980 a 2025 e, ao comparar num gráfico os números do Brasil e do mundo, é possível ver que <a href="https://www.imf.org/external/datamapper/NGDPDPC@WEO/WEOWORLD/BRA" target="_blank">apenas entre os anos de 2010 e 2014, o Brasil ultrapassou a média mundial</a>. No restante do tempo, o país se manteve perto da média. Luciano Nakabashi ressalta, portanto, que esta afirmação de que o Brasil fica para trás pela primeira vez na história é falsa.

<cite>O Brasil fica perto da média mundial. A gente é considerado um país de renda média. Não é um país desenvolvido, também não é um país pobre. É um país de renda média, mas com muita desigualdade. Então, a gente está numa situação intermediária”, aponta. Justamente por conta dessas desigualdades, explica, é que seria importante para o Brasil aumentar a capacidade produtiva, para que as pessoas pudessem consumir mais e, assim, melhorar a distribuição de renda.</cite>

<img attr-cid="policy:1.3249094" attr-version="policy:1.3249094:1743804951" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3249094/null-17.png?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
(| Reprodução: FMI)

&nbsp;

Os números do FMI não mostram os resultados de 1930 a 1980 – período que, segundo Nakabashi, o Brasil teve um melhor desempenho na economia. De 1980 para cá, aponta, o crescimento ficou perto da média, o que é considerado fraco. A exceção, aponta, fica entre os anos de 2000 a 2012.

<cite>Os países desenvolvidos, por terem uma série de tecnologias, acabam crescendo mais do que os que estão na fronteira do desenvolvimento. Mas o Brasil, além de não estar diminuindo essa distância (de crescimento), está aumentando. Isso é ruim, porque como a gente tem uma distribuição de renda ruim, tem muita gente ficando ainda mais pra trás do que a média do Brasil”, diz.</cite>

<h2>O que significa a posição do Brasil no ranking do FMI?</h2>

O post investigado critica o fato de o Brasil estar atrás de países como México, Turcomenistão e Nauru, na Oceania, no ranking do PIB per capita, e diz que “o Brasil de Lula está mais pobre perante o mundo”. Mas, não é bem assim. Como mostrado anteriormente, o PIB per capita é importante para medir a capacidade produtiva e o poder de compra das pessoas, o que está diretamente ligado ao bem-estar da população.

No entanto, em termos de economia do país, o PIB total costuma ser um dado mais importante, porque questões políticas também são levadas em conta, explica o professor da USP. Ele cita como exemplo o caso da China, cujo PIB per capita é um pouco maior do que o do Brasil – estimativa para 2025 de US$ 13.873, segundo o FBI, na 69ª posição.

<cite>O PIB per capita deles passou o do Brasil faz pouco tempo, mas eles são a segunda economia do mundo porque eles têm um PIB total maior, e um poder político maior. Se você pegar a Holanda, eles têm um PIB per capita muito maior, mas a importância da Holanda na economia mundial é muito menor do que a da China”, observa. Segundo os dados do FMI, a estimativa para o PIB per capita da Holanda este ano é de US$ 70.606, a 10ª posição.</cite>

Em resumo, em termos políticos e de poderio econômico, o PIB total é uma variável mais importante, enquanto o PIB per capita é mais significativo para medir a qualidade de vida das pessoas, explica Nakabashi. Ele aponta que, apesar da crítica ao atual presidente, o Brasil tem tido um desempenho econômico melhor nos últimos anos, embora o crescimento não seja sustentável por conta da demanda de despesas.

<cite>Nesses últimos três anos, na verdade, o Brasil tem crescido relativamente bem. Tirando 2021, que foi a recuperação da crise da pandemia, a gente teve um crescimento em torno de 3% em 2022, 2023 e 2024, que é um bom crescimento. A gente deve ter parado de ficar cada vez mais para trás em relação aos países desenvolvidos, em relação à média mundial”, diz.</cite>

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo <a href="https://api.whatsapp.com/send?l=pt_pt&amp;phone=5511970454984&amp;text=Quero%20enviar%20um%20conte%C3%BAdo" target="_blank">WhatsApp +55 11 97045-4984</a>.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já publicou ser <a href="https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-usa-dados-falsos-sobre-pib-e-inflacao-e-inventa-fala-de-haddad-sobre-impossibilidade-de-pagar-funcionalismo/" target="_blank">falso um post sobre PIB e inflação que inventava falas do ministro Fernando Haddad sobre pagamento do funcionalismo</a>, e mostrou que a simples <a href="https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/comparacao-entre-pib-e-numero-de-senadores-nao-e-suficiente-para-entender-a-distribuicao-de-recursos-federais/" target="_blank">comparação entre o PIB e o número de senadores não era suficiente para entender a distribuição de recursos federais</a>.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, não foram adicionadas notas da comunidade à publicação investigada.

PIB per capita do Brasil costuma estar atrás da média mundial, diferentemente do que diz post

Matéria - genérica

Comprova

Morreu nesta quinta-feira (3) o ex-presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) e um dos fundadores da Associação do Novilho Precoce Goiás (AGPNP), Gilberto de Sant’Anna Filho, aos 85 anos. A informação foi confirmada pelo atual presidente da SGPA, Gilberto Marques Neto.&nbsp;Segundo a família, a morte foi por causas naturais, devido ao avanço da idade e problemas de saúde anteriores.&nbsp;

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De acordo com o comunicado da SGPA, o velório de Gilberto acontece na manhã desta sexta-feira (4), no Cemitério Jardim das Palmeiras. O sepultamento está previsto para às 11h, no mesmo local.&nbsp;

A morte do ex-presidente da SGPA e AGPNP gerou comoção nas redes sociais. Na nota de pesar publicada pela associação destacou o legado de Gilberto para o agronegócio goiano e sua contribuição para o crescimento e fortalecimento do setor.&nbsp;

<cite>Um nome inesquecível para o agronegócio goiano. Sua visão e dedicação foram pilares para o desenvolvimento da nossa associação e para o fortalecimento da pecuária em Goiás. Gilberto deixa um legado de grandes feitos, marcado pelo seu compromisso com a excelência e pelo seu amor pela terra. Sua paixão pela pecuária inspirou a todos nós e continuará a guiar nossos passos.Agradecemos por tudo, Gilberto. Seu trabalho e sua paixão jamais serão esquecidos. Descanse em paz 🕊️”, escreveu.&nbsp;</cite>

O atual presidente da SGPA também lamentou a morte do agropecuarista e relembrou parte da sua trajetória como representante da classe.&nbsp;&nbsp;

<cite>Todos nós sentimos pela sua perda. Amigo, agropecuarista, presidiu a nossa SGPA e o @fundepecgo [ Fundo Emergencial para a Sanidade Animal de Goiás] Quando iniciei no associativismo, presidindo o Sindicato Rural de Guapó, ele fazia parte da diretoria. Em sua gestão na SGPA eu me tornei sócio, em 2005, começando a fazer parte das diretorias logo que ele saiu. Meus sentimentos a todos os familiares!”, relembrou Gilberto.</cite>

Outros agropecuaristas, ex-colegas e amigos do ex-presidente também lamentaram a morte.&nbsp;

“É lamentável a perda desse grande líder Gilberto Santana Filho, a quem eu tenho gratidão pelos serviços que prestei à SGPA em sua gestão promissora e competente. Os nossos sentimentos de pesar aos familiares e amigos, em especial, aos amigos da SGPA”, lamentou um.&nbsp;

“Meus pêsames a família. Foi uma honra trabalhar com Dr. Gilberto, pessoa de índole inabalável , que sempre tratou todos com respeito e humildade.😢”, destacou outra.&nbsp;

“Perda inestimável e triste para todos nós. Deus o receba nos braços, e dê consolo aos familiares e amigos. 🙌”, escreveu outro.&nbsp;

<h2>Trajetória&nbsp;</h2>

Natural de Piracanjuba, no sul goiano, Gilberto Filho, também conhecido como&nbsp; Betinho, começou a atuar na causa ruralista ainda na juventude e chegou a ser eleito deputado estadual aos 24 anos, o mais jovem goiano a alcançar o cargo na época (1963-1967). Ele chegou a ser reeleito para o cargo nas duas eleições posteriores.&nbsp;

Gilberto também foi presidente da Caixa Econômica do Estado de Goiás e membro do Conselho Deliberativo do Goiás Esporte Clube. Até se dedicar totalmente à causa agropecuarista, com a organização de associações e presidência da SGPA.

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Morre ex-presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura

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LUTO

Ao anunciar a imposição de um <a href="https://opopular.com.br/economia/omc-preve-contrac-o-de-1-do-comercio-global-com-tarifaco-de-trump-1.3248558" target="_blank">tarifaço global</a> a parceiros comerciais dos Estados Unidos, o presidente americano Donald Trump afirmou que as novas taxas praticadas pelo país <a href="https://opopular.com.br/mundo/trump-anuncia-tarifas-reciprocas-sobre-produtos-de-outros-paises-e-taxa-brasil-em-10-1.3248180" target="_blank">seriam recíprocas</a>. Na lógica do republicano, quanto mais um país cobra de imposto sobre produtos americanos, maior será taxa praticada pelos EUA contra ele.

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Os números de Trump, no entanto, foram questionados por alguns economistas, que apontaram que os valores apresentados como as taxas praticadas por cada país estrangeiros contra bens americanos não correspondiam às reais tarifas cobradas por eles.

Durante a apresentação, Trump não detalhou qual foi a metodologia para definir a tarifa cobrada por cada país contra produtos americanos. Disse apenas que o número representava "todas as tarifas combinadas, barreiras não monetárias e outras formas de trapaça". Mas uma possível explicação ganhou força horas depois do anúncio.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/economia/brasil-entra-na-lista-do-tarifaco-de-trump-e-o-que-importa-no-mercado-1.3248392" target="_blank">Brasil entra na lista do tarifaço de Trump e o que importa no mercado</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/mundo/trump-anuncia-tarifas-reciprocas-sobre-produtos-de-outros-paises-e-taxa-brasil-em-10-1.3248180" target="_blank">Trump anuncia tarifas recíprocas sobre produtos de outros países e taxa Brasil em 10%</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/economia/omc-preve-contrac-o-de-1-do-comercio-global-com-tarifaco-de-trump-1.3248558" target="_blank">OMC prevê contração de 1% do comércio global com tarifaço de Trump</a>&nbsp;</div>

O jornalista James Surowiecki, colunista de finanças da New Yorker, foi um dos primeiros nas redes sociais a identificar as inconsistências. Em seu perfil no X (ex-Twitter), afirmou que "as tarifas [apresentadas por Trump] que os países estrangeiros supostamente estão nos cobrando são apenas números inventados", citando casos como o da Coreia do Sul e o da União Europeia, que, na apresentação do governo americano, aparecem com tarifas maiores do que as que realmente praticam contra bens americanos.

Minutos depois, Surowieck publicou a hipótese de que os números apresentados são, na verdade, fruto de uma divisão entre o déficit comercial registrado pelos EUA na relação com o país em questão e o volume exportado por ele ao mercado americano.

Como exemplo, Surowiecki utiliza o caso da Indonésia, país com o qual os EUA registram déficit comercial de US$ 17,9 bilhões e que exporta um total de US$ 28 bilhões ao mercado americano. Dividindo os US$ 17,9 bi pelos US$ 28 bi, chega-se ao resultado de 0,64, ou 64%, número que, na apresentação de Trump, aparece como a carga tarifária praticada pelo país asiático contra os produtos dos EUA.

Depois, o governo Trump teria dividido cada um desses valores pela metade, para, como disse o republicano em seu discurso, reforçar que os EUA não estão cobrando tão alto quanto poderiam.

"Mesmo considerando que é Trump, não acredito que eles [governo] disseram 'vamos apenas dividir o déficit comercial pelas importações e dizer às pessoas que essa é a taxa tarifária'. E então eles decidiram definir nossas tarifas cortando essa taxa totalmente inventada pela metade! Isso é tão idiota e enganoso", afirmou Surowiecki.

A hipótese foi reforçada pelo cientista político Ian Bremmer, fundador do Eurasia Group, que realizou o mesmo cálculo com as tarifas apresentadas pelo governo americano para a União Europeia, a Indonésia, a Índia e o Vietnã. Nos quatro casos, o resultado encontrado foi o mesmo que o utilizado por Trump em sua apresentação.

Em conversa com repórteres antes do anúncio do tarifaço, autoridades da Casa Branca disseram que os números foram calculados por conselheiros do Executivo usando "metodologias bem estabelecidas".

Mais tarde, a Casa Branca publicou em seu site a metodologia utilizada, confirmando que a fórmula para chegar à tarifa recíproca levou em conta o déficit comercial registrado pelos EUA com o país e o valor exportado por esse país para o mercado americano.

"Embora calcular individualmente os efeitos do déficit comercial de dezenas de milhares de tarifas, regulamentos, impostos e outras políticas em cada país seja complexo, senão impossível, seus efeitos combinados podem ser aproximados calculando o nível de tarifa consistente com a eliminação dos déficits comerciais bilaterais. Se os déficits comerciais são persistentes devido a políticas e fundamentos tarifários e não tarifários, então a taxa de tarifa consistente com a compensação dessas políticas e fundamentos é recíproca e justa", diz o documento.

Thomas Sampson, professor associado de economia na London School of Economics, diz que a fórmula era uma forma de disfarçar a "obsessão equivocada de Trump com desequilíbrios comerciais bilaterais" e que não havia "nenhuma justificativa econômica" para as tarifas.

De forma mais ampla, Sampson disse que as tarifas não removeriam o motor macroeconômico subjacente do déficit comercial dos EUA. "Enquanto os EUA não pouparem o suficiente para financiar seu próprio investimento, eles terão que tomar emprestado do resto do mundo. E isso exige que eles tenham um déficit comercial. As tarifas não mudam essa lógica."

Os cálculos também aparentemente ignoram sugestões anteriores da administração de que basearia suas tarifas recíprocas em avaliações aprofundadas de relações comerciais bilaterais, incluindo impostos, regulamentação e outras barreiras não tarifárias ao comércio.

Em vez disso, disse George Saravelos, chefe de pesquisa de câmbio do Deutsche Bank, a decisão de aplicar tarifas maiores em países com maiores déficits comerciais nominais foi "altamente mecânica" e provavelmente levaria a negociações "livres e abertas" com a administração, à medida que os países tentassem barganhar suas tarifas nos próximos meses.

Oleksandr Shepotylo, econometrista da Aston University que recentemente modelou os efeitos de uma guerra comercial global, disse que o uso de fórmulas econômicas apenas deu ao documento "uma sensação de estar vinculado à teoria econômica", mas na verdade estava alheio à realidade da economia comercial.

"A fórmula dá um nível de tarifa que reduziria o déficit comercial bilateral a zero. Este é um objetivo insano. Não há razão econômica para ter um comércio equilibrado com todos os países", disse ele.

"Então, neste sentido, esta política é muito heterodoxa e não pode ser defendida de forma alguma."

O resultado das tarifas, acrescentou John Springford, economista comercial do think-tank Centre for European Reform, não seria eliminar os déficits comerciais, mas infligir dor aos países mais pobres e aos consumidores dos EUA.

Veja como o governo Trump calculou cada taxa do tarifaço global

Mundo

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METODOLOGIA

Chegou o dia do tarifaço e o Brasil entrou na lista, Trump manda chefe do agro para visita em terras tropicais e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (3).

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<h3>Desviamos da flecha?</h3>

Todos os olhos estavam voltados para a Casa Branca enquanto Donald Trump listava as tarifas a serem impostas aos inimigos e aos amigos, “que muitas vezes são até piores no comércio”. Tudo o que queríamos saber estava em uma gigante tabela que o presidente ergueu durante o discurso.

Nela, constava o nome de países, a alíquota estimada de tarifas deles às importações americanas e uma sobretaxa linear a todas as importações daquele país pelos EUA. Um jeito um tanto inusitado de fazer um anúncio dessa proporção.

O Brasil, que temia taxas exageradas, até que saiu tranquilo: foi imposto um encargo de 10% sobre a compra de todos os produtos pelos americanos.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/economia/tarifas-dos-eua-s-o-oportunidades-e-desafios-para-goias-1.3238856" target="_blank">Tarifas dos EUA são oportunidades e desafios para Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/economia/goias-pode-perder-investimentos-em-energia-por-tributos-1.3219285" target="_blank">Goiás pode perder investimentos em energia por tributos</a></div>

<h3>Ilesos?</h3>

Está longe (muito longe) de ser um imposto desprezível, uma vez que pode impactar o comércio brasileiro a nível global. Contudo, dava para ser pior.

- O Cambodja recebeu uma tarifa recíproca de 49%;

- A China, de 34%;

- A Suíça, de 31%;

- O Japão, de 24%;

- A União Europeia, de 20%.

Não ficou claro se as tarifas são cumulativas a outras já anunciadas, como aquelas sobre o aço e o alumínio. Segundo um funcionário da Casa Branca, não deve ser o caso.

No entanto, se ele estiver errado, as coisas começam a se complicar: a alíquota sobre as exportações do Brasil de aço e alumínio seria de 35%.

Alguns itens foram isentos da taxa geral: cobre, medicamentos, semicondutores, barras de ouro, energia e outros minerais que não estão disponíveis nos EUA. Bobos, não são.

Há no decreto um dispositivo que permite o republicano a aumentar as tarifas recém-anunciados caso os sócios comerciais retaliem os EUA. O Brasil aprovou nesta quarta-feira o PL da Reciprocidade no Legislativo, o qual explicamos na edição de ontem da newsletter.

<h3>E agora?</h3>

Trump justifica as medidas tarifárias dizendo que elas impedirão os países de explorar os americanos, o que, em sua opinião, eles vinham fazendo. A ideia é fortalecer a indústria doméstica ao encarecer os produtos vindos do exterior.

O tiro pode sair pela culatra, na opinião de economistas. A tendência é que as empresas demorem algum tempo (talvez anos) para se adaptar a uma nova cadeia de suprimentos –ou seja, os custos da produção vão subir e serão repassados aos consumidores.

<h3>A 'Dama de Ferro' do agro</h3>

Ainda que haja um alívio inicial (justificado ou não?) com o impacto que as tarifas de Trump podem ter no Brasil, a saga aduaneira está longe do fim.

Prova disso é o fato de que a secretária do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Brooke Rollings, tem planos de vir para cá em algum momento dos próximos seis meses. Sua função, conforme relatado por ela própria, é “responsabilizar os parceiros comerciais por sua parte nos acordos”.

<h3>Vazando dinheiro</h3>

Os EUA têm um déficit comercial grande na agricultura: gasta US$ 50 bilhões (R$ 284 bilhões) a mais do que vende em produtos desse setor. Segundo Rollings, o governo anterior tomou “pouca ou nenhuma ação” para resolver o pepino.

Em um relatório, ela referencia o Brasil diretamente, dizendo que os EUA “apresentam déficit de US$ 7 bilhões (R$ 39 bilhões) no comércio agrícola" e que seu departamento “segue comprometido em expandir o acesso a mercados em todo o mundo”.

<h3>Montando o tabuleiro</h3>

Rollins afirma que está colocando suas peças na mesa para negociar com mais mercados importantes para a produção rural americana.

Além daqui, ela deve viajar para a Índia, Japão, Peru, Reino Unido, Vietnã, Costa do Marfim, Hong Kong, México, República Dominicana e Taiwan.

<h3>Ponto sensível</h3>

A relação entre os agronegócios do Brasil e dos EUA poderia virar assunto de terapia. Há muito o que elaborar.

A bancada ruralista brasileira não gostou nada das ameaças de impostos feitas pelo governo americano e já estava chateada com a União Europeia devido à lei antidesmatamento (que você pode entender melhor lendo esta reportagem).

Entre as principais produtos exportados estão o café (responde a 4,7% das nossas vendas para eles) e a carne.

<h3>Telefone sem fio</h3>

Algumas entidades brasileiras ficaram confusas quanto ao impacto do que foi anúnciado por Trump. Há produtos que já têm alíquotas maiores do os 10% divulgados.

A carne paga 26,4%. Há uma cota isenta, mas que acaba logo no início do ano.

A citricultura (cultivo de frutas como a laranja e o limão) tem uma tarifa fixa de US$ 415 (R$ 2.361) por tonelada de suco exportada e um percentual de 11%.

<h3>RJ, a santa das causas impossíveis</h3>

A Polishop ficou conhecida dizendo para o público que para tudo há um jeito –até o que, aparentemente, não precisa ser resolvido. Será que também consegue uma solução para a falência?

<h2>Pedido de socorro</h2>

A transição das vendas na televisão para o e-commerce complicou a vida da empresa, que teve dificuldades em crescer desde 2015. A pandemia piorou tudo, com o varejo nacional entrando em crise. Dali para frente, foi só para trás.

A Polishop chega em 2024 aos trancos e barrancos, devendo cerca de R$ 352 milhões. A companhia já teve 280 lojas físicas, que viraram 58 –17 delas em risco de despejo.

Em maio de 2024, pede recuperação judicial (RJ). Uma parte da efetividade desse processo havia sido aprovada pela Justiça um mês antes.

Os paramédicos colocaram a empresa na ambulância: a ação protegeu-a contra ordens de despejo das lojas físicas, bloqueio de ativos financeiros e a retirada do ecommerce do ar. Sem esses aparelhos, o paciente pararia de respirar.

<h3>Dá pra recuperar?</h3>

Há um princípio muito importante para que uma empresa entre em RJ: que ela consiga se restabelecer com seus próprios recursos, uma vez aliviadas as condições que a pressionam.

Quando uma companhia entra nesse tipo de processo, precisa apresentar um plano para a Justiça e os credores de como seria possível arcar com suas dívidas –geralmente envolve uma redução, um adiamento do prazo de pagamento, etc.

<h3>Mais alguma coisa?</h3>

O plano da Polishop chocou os financiadores: ela quer um desconto de 90% nas dívidas e uma carência de 20 meses para o pagamento ao longo de dez anos. Indignados, os bancos envolvidos protestaram formalmente contra a proposta.

- Para o Banco Safra, ela é “aviltante, abusiva e ilegal”;

- O Banco do Brasil diz que ela revela a incapacidade da Polishop em se reerguer pelas próprias forças e que o seu envolvimento significa a imposição de um “sacrifício excessivo e injusto”;

- O abatimento de 90%] é uma tentativa de anular o direito de credor em receber por seu crédito, ultrapassando qualquer limite suportável”, na opinião do Bradesco;

- O Pine chamou a medida de “vergonhosa” e “disparatada”.

A companhia responde dizendo que a falência seria pior para todos, uma vez que pode preservar empregos e dar aos credores (algum) retorno financeiro. Se o plano não for aprovado, a Justiça pode decretar a insolvência da Polishop.

<h3>Sem medo de ser feliz</h3>

Talvez você role seu feed do TikTok todos os dias sem se lembrar de que o app está em risco de extinção nos Estados Unidos. Parece notícia velha, não?

Pois bem, a plataforma continua no ar até sexta-feira, e sua existência posterior depende da compra por uma empresa americana.

A Amazon entrou na jogada de supetão e fez uma oferta para adquirir toda a rede social, segundo três pessoas familiarizadas com o negócio.

<h3>Retomando</h3>

O TikTok quase foi banido nos EUA em janeiro. Na verdade, chegou a ficar algumas horas fora do ar. Os americanos determinaram que, para funcionar por lá, o aplicativo teria de ser comprado por uma companhia local.

A gestão Joe Biden, antecessor de Trump, via riscos de espionagem da chinesa ByteDance sobre usuários, e portanto, a rede social não seria segura o suficiente para operar no país.

Ela tinha até o dia 19 de janeiro, um domingo, para arrumar um comprador. Não deu certo e o acordo quase foi para o ralo. Aos 45 minutos do segundo tempo, o recém-empossado Donald Trump assinou uma ordem para adiar por 75 dias a proibição.

<h3>Tic Tac</h3>

O tempo passou e cá estamos, quase no bater dos sinos mais uma vez. O prazo se esgota em 5 de abril, ainda nesta semana. E, assim como você, o aplicativo também gosta de deixar para resolver tudo na última hora.

A lei foi unanimemente aprovada pela Suprema Corte dos EUA, ou seja, não tem volta: vão ter que cumprir.

<h3>Palhaçada (?)</h3>

Diversas partes envolvidas nas negociações não parecem estar levando a sério a oferta da Amazon. A proposta foi feita por meio de uma carta endereçada ao vice-presidente americano, JD Vance, e a Howard Lutnick, o secretário de comércio.

Até o momento, nem a Amazon, nem o TikTok responderam imediatamente a um pedido de comentário.

O negócio, no entanto, faria sentido. A rede de vídeos tem 170 milhões de usuários nos Estados Unidos e boa parte deles faz compras a partir do que vêem ser divulgados por outros –e, claro, acabam usando o e-commerce fundado por Jeff Bezos para tal.

<h3>O que mais você precisa saber</h3>

A saga continua. Depois do anúncio de venda para o BRB, o banco Master diminuiu a taxa dos CDBs –todos os rendimentos pré-fixados caíram três pontos percentuais.

Enfiar a cabeça na areia”...é como Armínio Fraga, ex-presidente do BC, descreve a estratégia de emitir mais títulos de dívida pública.

O pão volta a adoçar. Depois da mudança pedida por acionistas no conselho, os papéis do GPA subiram 20% no pregão de ontem.

Brasil entra na lista do tarifaço de Trump e o que importa no mercado