Após o ministro Paulo Guedes (Economia) manifestar frustração com a agenda de privatizações, sua pasta divulgou um cronograma prevendo a venda de nove empresas federais em 2021. Entre elas, Correios e Eletrobras.O plano foi divulgado pelo Ministério da Economia nesta quarta-feira (2) após reunião do conselho do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). O encontro foi liderado por Guedes, com participação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de outros ministros.O Ministério também prevê leilões ou avanço no processo de outros 106 ativos no ano que vem (como concessões de aeroportos, rodovias, portos e até florestas), o que levantaria ao todo R$ 367 bilhões em investimentos.Apesar do cronograma anunciado pelo Ministério, o andamento dos projetos depende do Congresso (como no caso da venda da Eletrobras) e de órgãos como o TCU (Tribunal de Contas da União). A equipe econômica afirma que o calendário representa uma expectativa viável, mas reconhece que parte dos projetos pode ficar para 2022.O cronograma divulgado prevê até o terceiro trimestre de 2021 os leilões das estatais ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias), da Emgea (Empresa Gestora de Ativos), da Ceasaminas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais), da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados) e do Porto de Vitória.Até o quarto trimestre de 2021, a previsão é vender o controle da Eletrobras e leiloar Correios, Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre) e CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos, de Minas Gerais).Um dos principais desafios do governo é a venda da Eletrobras, algo tentado desde o governo Temer, mas que sofre resistência do Congresso. A União abriria mão do controle da empresa após um aumento de capital de acionistas do qual o Tesouro Nacional não participaria.Diogo Mac Cord, secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, afirmou que a participação do governo na Eletrobras (considerando também a fatia do BNDES) fica hoje entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões, mas que o valor obtido pela União pode representar o dobro disso."É possível chegar a uma valorização de pelo menos 50% pela alienação do controle", afirmou. Somado a uma parcela a ser obtida com a outorga de energia, o processo pode fazer com que o governo obtenha aproximadamente R$ 60 bilhões, segundo ele.Na lista dos demais leilões, estão 24 aeroportos, 16 terminais portuários, 6 rodovias, 3 ferrovias, 8 terminais pesqueiros, 6 parques e florestas, 3 áreas de óleo e gás, 3 contratos de direitos minerários, 2 parcerias em Defesa e Segurança, 1 projeto de irrigação na Bahia, 1 proposta de mobilidade urbana (metrô de Belo Horizonte), o leilão de telecomunicação de 5G e ainda 24 projetos liderados por estados e municípios.Martha Seiller, secretária especial do PPI do Ministério da Economia, respondeu sobre quão realista é o cronograma e sobre a possibilidade de frustrações. Ela reconheceu que parte dos projetos pode ficar para 2022, mas que o importante é leiloar todos os ativos."A agenda de desestatizações passa por etapas que dificultam que o Executivo crave datas de leilão. Primeiro, por toda a complexidade dos estudos de viabilidade. Depois, o período de consulta pública, depois a etapa de avaliação pelo TCU", disse."O que podemos fazer é colocar na linha do tempo o que achamos razoável e possível dentro [da possibilidade] desses outros órgãos, que têm que validar esses processos, e plantar na linha do tempo quando deve acontecer esse leilão", afirmou."Tudo que está nesse slide é viável. Alguns projetos podem escorregar para 2022? Podem", disse. "O importante é que mesmo que você tenha um deslocamento de meses para 2022, o nosso compromisso é entregar todos esses ativos e atrair investidores privados para todos eles", afirmou.A divulgação de um cronograma acelerado de leilões no ano que vem contrasta com declarações recentes de membros do Ministério da Economia sobre frustrações com a agenda de privatizações. "Estou bastante frustrado de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido vender nenhuma estatal. É bastante frustrante", afirmou Guedes há menos de um mês.O secretário de Desestatização anterior da pasta, Salim Mattar, pediu demissão dizendo que seu esforço pelas vendas não traria mais tantos resultados. Após sair do governo, Mattar disse que a responsabilidade pela falta de avanço na agenda é também de Bolsonaro.Entre os projetos mais avançados no cronograma está a concessão de aeroportos, como Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), que estão entre os mais movimentados do país e serão leiloados em blocos de terminais. Também estão previstas a relicitação de Viracopos (em Campinas, SP) e de São Gonçalo do Amarante (na região de Natal, RN).As rodovias integrantes do programa são os trechos das BRs 116, 465 e 101 entre Rio de Janeiro e São Paulo; as BRs 381 e 262 entre Minas Gerais e Espírito Santos; BRs 116 e 493 entre Rio de Janeiro e Minas Gerais; BRs 153, 080 e 414 entre Goiás e Tocantins, BRs 163 e 230 entre Mato Grosso e Pará, além de rodovias no Paraná.Nas ferrovias, está prevista a relicitação da Malha Oeste (sob concessão da Rumo Logística, do grupo Cosan, e em processo de devolução). Também deve ser renovada a concessão da MRS Logística e a Malha Sul (da Rumo). Em terminais portuários, serão disputados ativos nos portos de Santos e Paranaguá.Nos bastidores, o governo decidiu esperar um acordo com governadores para depois retirar do PPI a concessão da transposição do São Francisco. O objetivo é aguardar para não atrapalhar as conversas com governadores neste encerramento de ano. Por isso, o projeto deve sair do PPI, mas não imediatamente.Após reportagem da Folha mostrar que os estudos sobre a concessão estão adiantados e o leilão da obra hídrica foi programado pelo governo para 2021, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) procurou auxiliares e demonstrou insatisfação com a proposta.