Proibir excursões de compra na Região da Rua 44 não foi suficiente para manter visitantes de diferentes partes do País afastados. Antes da pandemia, os shoppings e galerias recebiam caravanas em seus próprios estacionamentos e era normal encontrar ônibus estacionados em ruas próximas às lojas. Mesmo com a restrição - em vigor desde a reabertura do comércio, no dia 14 de julho - grupos de compradores usam novas estratégias, como a hospedagem em hotéis afastados, para não serem identificados como caravanas. Além disso, é comum encontrar ônibus com placas de cidades do interior ou outros Estados em ruas ou em estacionamentos localizados próximos ao polo de moda. A reportagem do POPULAR flagrou ontem cinco ônibus com placas de Estados do Nordeste e do Sul do País parados em um estacionamento localizado na Avenida Oeste, distante 180 metros da Rua 44.Guias turísticos e corretores de moda procurados pela reportagem confirmaram que a movimentação de pessoas de outras cidades no local acontece mesmo com a proibição de caravanas. “As excursões para a 44 existem, mas os consumidores param em hotéis e pousadas fora da região e depois os compradores vão para lá. Ninguém pergunta de onde é. Se não vêm de caravana, usam o ônibus comum”, afirmou um guia que preferiu não se identificar.Presidente da Associação Empresarial da Região 44 (AER 44), Chrystiano Câmara afirma que ônibus com consumidores, ou que chegam vazios à capital apenas para buscar mercadorias, não estão entrando no perímetro oficial da 44, mas ficam nas redondezas. “Dentro da 44 não está parando ônibus. O que está acontecendo, e toda vida existiu, são os ônibus que param nas ruas próximas. Não cabe a nós fiscalizar onde não é nossa região. Quando o ônibus para perto do parque agropecuário ou na Vila Nova, nem sabemos como fiscalizar”, afirma o presidente.Chrystiano destaca ainda que a 44 fica localizada ao lado da Rodoviária de Goiânia, por onde os consumidores de diferentes partes do Brasil também chegam. “Os nossos estabelecimentos têm capacidade para receber as caravanas, mas não estão aceitando os pedidos. Já existe reaquecimento da economia, o que está fazendo com que as pessoas procurem mais o comércio. Mas isso foge do nosso controle.” De acordo com o presidente, os hotéis localizados na região têm 5 mil leitos e podem ocupar até 66% destes, conforme regra prevista no protocolo de segurança criado pela AER 44 em parceria com a Prefeitura de Goiânia. No entanto, diz Chrystiano, desde julho, os hotéis chegaram a apenas 12% da capacidade.ReivindicaçãoDados divulgados pela associação também apontam que em agosto as lojas venderam 25% do valor registrado no mesmo período do ano passado. Além disso, 2 mil lojas fecharam definitivamente as portas. A estimativa é que R$ 6 bilhões deixaram de circular desde que o comércio fechou em março por causa da pandemia. Diante do cenário, a AER 44 encaminhou à Prefeitura de Goiânia solicitação para que as caravanas com consumidores voltem a ser autorizadas, cumprindo regras de segurança, como distribuição das excursões ao longo da semana, evitando que a vinda de compradores ocorra só no fim de semana. Lojista na região há quatro anos, Vantuir Pires, 43 anos, defende a volta oficial das caravanas. Apesar de ter aumentado as vendas on-line por causa da pandemia, o empresário afirma que a presença do público de outros Estados e até do exterior é fundamental para a manutenção dos negócios. “Todo mundo tem consciência dos cuidados. É momento de retomar. Enquanto não tiver vacina, as pessoas vão ficar com medo. Não vai voltar tudo de uma vez. Vai demorar a normalizar, então já é preciso permitir as caravanas.”Titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec), Walison Moreira afirma que a prefeitura estudará a proposta apresentada pela associação, que prevê a realização de 60% das caravanas e ampliação do horário de funcionamento das lojas da 44. Em seguida, o pedido será encaminhado para avaliação dos impactos epidemiológicos. Segundo Walison serão levados em consideração impactos econômicos como a fuga de empresários para a Avenida Bernardo Sayão e de caravanas para outros polos de moda do País. Quantos às excursões que acontecem atualmente, o secretário diz que a fiscalização está abordando os ônibus, mas o fato de os veículos não entrarem na Região da 44 dificulta o trabalho dos servidores.