O contrafilé deu lugar ao frango e ao coxão mole na casa da auxiliar de padaria Maria Xavier, de 34 anos. Desempregada há três meses, ela substituiu as carnes, assim como outros alimentos, pela alta percebida no ano. “A gente não pode ficar preso quando precisa economizar.” Os aumentos passaram pelo hortifrúti até a seção do açúcar e mudaram o prato dos brasileiros em 2021. Reflexo principalmente de problemas climáticos e da variação do câmbio. A inflação dos alimentos acumulou no ano até novembro 6,55% de alta em Goiânia, segundo o que foi medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Apesar da carne bovina não aparecer entre os itens que mais subiram de preço – cortes nobres não foram considerados pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na capital –, o preço salgado levou à troca da proteína, com aumento da demanda por aves. Isso pode, ao menos em parte, justificar a elevação no preço do frango de até 25,13%.Segundo o tecnologista de informações geográficas e estatísticas do IBGE, Alessandro de Siqueira Arantes, pouquíssimos produtos tiveram redução e grande parte das respostas para a alta generalizada está no campo. “As carnes não tiveram variação expressiva, mas quando o quilo passa de R$ 40 o acréscimo de 9,2% no alcatra, por exemplo, faz diferença considerável no bolso. Enquanto o tomate, com 36,18% de aumento, ficou mais caro, mas não passou da faixa de R$ 7 o quilo.”No acumulado do ano, foi o café moído o que mais teve aumento (45,29%) na capital. Quebra de safra com geadas, além do câmbio e até frete marítimo mais elevado justificam o salto. Depois vem o tomate, que tradicionalmente sofre variações influenciadas pelo clima, seguido pelo açúcar cristal (35,76%). Sobre este último, o coordenador técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Alexandro Alves, afirma que a seca severa em 2020 impactou a produtividade em 2021. A demanda internacional foi outra fonte de pressão. Já no caso do frango, o analista de mercado do Ifag, Marcelo Penha, pontua que é preciso considerar o fato de que é a proteína animal mais consumida no mercado interno – o que se intensificou na pandemia com a queda na renda – e também a mais exportada. A maior demanda elevou o preço e, como explica, assim como a carne bovina a produção não pôde se elevar devido aos custos. O que inclui o maior valor do milho. “A carne bovina estava em crescente de exportação forte para China, aí tivemos caso atípico de vaca louca que derrubou os valores”, completou Marcelo ao citar que a arroba passou de R$310 para R$270, redução na faixa de R$5 no quilo da carne de primeira no açougue. Mas com retorno da exportação para China e venda para Rússia, o preço da arroba voltou a elevar.“As chuvas atrasaram o pasto, ração mais cara e a reposição de bezerro também ficou acima, por isso foi difícil ter e manter uma retração no preço”, complementa o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes (Sindiaçougue), Sílvio Carlos Yassunaga Brito.-Imagem (1.2380003)-Imagem (1.2380002)