O isolamento social da população goiana deve continuar pelos próximos 15 dias. O governo do Estado publica hoje o novo decreto com as novas regras de quarentena que devem ser seguidas pela população para evitar a proliferação do coronavírus. Mas representantes do setor empresarial acreditam que se o decreto não trouxer uma flexibilização das normas em vigor, muitas empresas podem não obedecer e abrir de forma descontrolada. Segundo eles, isso pode gerar uma desordem que pode elevar ainda mais o risco de contaminação.Ontem, durante uma transmissão pelo Instagram, o governador Ronaldo Caiado sinalizou que o decreto será mesmo prorrogado por mais 15 dias, mas não adiantou se haverá alguma flexibilização das regras, como querem os empresários. Segundo ele, o Estado não poderá contar com uma ampliação de leitos de UTI, no caso de um avanço da doença. Isso porque os equipamentos necessários, que seriam importados da China, foram todos enviados para os Estados Unidos.Ele também lembrou que há uma quantidade enorme de testes de pessoas com suspeita da doença à espera do resultado, o que pode fazer a curva de contaminação crescer muito. Ronaldo Caiado disse que o novo decreto está sendo norteado pela cautela, já que a maioria dos municípios goianos não tem estrutura para suportar um atendimento em massa. Ele também conclamou as indústrias a investirem na produção de equipamentos hospitalares, utilizando todo seu pessoal capacitado.O governador citou as medidas que estão sendo anunciadas pelos governos para apoiar, principalmente, as pequenas empresas e os negócios informais e disse que o Estado fornecerá cestas básicas para que ninguém passe fome. “Quando voltar a ter circulação de muitas pessoas, a capacidade de proliferação de contaminados é muito grande. Há a necessidade de irmos devagar e gradualmente, até termos estrutura hospitalar para fazer frente ao aumento dos casos com comprometimento respiratório”, explicou.DescontroleMas, caso as regras de isolamento não sejam flexibilizadas, há um temor de que o desespero fale mais alto e leve muitos empresários a desobedecer o decreto e abrir as portas. O presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Sandro Mabel, alerta para o fato de já haver uma maior movimentação na cidade e de muitas empresas estarem oferecendo seus produtos e serviços pela internet, com agendamento de horário para atendimento. “Na minha opinião, pode haver uma reabertura descontrolada a partir de agora, se o decreto não trouxer nenhuma expectativa positiva para as empresas”, acredita.O setor empresarial promete se posicionar sobre isso hoje, logo depois que o decreto for publicado. Mabel informou que, ontem, os empresários já discutiam as ações que deverão adotar, caso não haja a flexibilização esperada. “Oferecemos ao governador todas as ferramentas necessárias para uma abertura segura, como uma plataforma que possibilitaria o controle do Estado e o comprometimento das empresas em seguir as regras. Fora isso, não estaremos trabalhando em conjunto e poderemos perder o rumo das coisas”, advertiu.Para o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços no Estado (Acieg), Rubens Fileti, o maior problema é que existe uma grande ansiedade e clamor entre os empresários, que não estão gerando receita. “Estamos muito próximos de uma situação de desordem e precisamos ter cautela para não propagar essa chama, que é muito perigosa”, alertou Fileti. Segundo ele, o centro de apoio psicológico da Acieg tem recebido uma grande demanda por parte dos empresários preocupados. “Isso pode matar mais que o vírus”, diz.Também existe a expectativa é de que haja uma enxurrada de pedidos de liminar na Justiça requerendo autorização para abertura. O empresário ainda acredita que o governador possa anunciar uma certa flexibilização das regras, que acalme os empresários, já que as regras atuais geram várias interpretações. Segundo ele, o anúncio do governo federal sobre a possibilidade de redução da jornada e dos salários trouxe um certo alento para as empresas, mas um grande número delas ainda fala em demissões e há uma preocupação com o desemprego. “O problema é que o crédito que tem sido anunciado não está chegando na ponta e as contas estão vencendo”, avisa. O presidente executivo da Associação Pró Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial), Edwal Portilho, o Tchequinho, também adverte para o risco de muitas empresas reabrirem suas portas, mesmo contrariando o decreto estadual, principalmente os micro, pequenos e médios negócios. “É notório que as ruas já estão bem mais cheias, com a população se movimentando bem mais”, destaca. Ele ressalta que isso é uma questão de sobrevivência e, diante disso, a pessoa pode partir para o que der e vier. Tchequinho diz que já existe um projeto do setor em conjunto com a Universidade Federal de Goiás (UFG) em andamento para produção de equipamentos hospitalares.